segunda-feira, 17 de outubro de 2011
EM PROL DA LIBERDADE
-CENSURA/CONTROLO DE OPINIÃO DAS PESSOAS E MASSAS
-O LÁPIS AZUL
-UM MITO (a remover) EM QUESTÃO
FLEMING DE OLIVEIRA
(IV)
Ressalta desta reflexão que a censura não é hoje tanto a proibição de dizer o que não se gosta ou convém, mas a obrigação de em certas circunstâncias dizer e fazer o que é conforme às conveniências, ao senso dito comum, o que é banal, e responde às expectativas ou exigências pontuais, é politicamente correto.
Ela está intimamente ligada por contraposição ao mito da objetividade jornalística, uma escrita sem sujeito, ponto cego de todas as subjetivações e conformidades. Um processo de requintada censura nas sociedades democráticas, consiste no mecanismo da sedução e não mais no processo da repressão.
Programando o que alicia, o que diverte, o que distrai, canalizam-se oportunamente os impulsos, sempre carregados de cargas explosivas, desmobilizando-os com a cumplicidade de todos e de cada um. Há de facto uma dimensão de censura/controlo na própria programação das telenovelas, para jovens e não só, e dos concursos televisivos, nas horas deixadas livres pelo trabalho quotidiano.
Um processo particularmente relevante de censura/controlo de opinião, é o processo de redução de tudo e de todos às médias estatísticas das audiências, desviando o olhar de tudo o que não se configura nos espaços da maioria, eliminando o não pertinente ou o desinteressante.
Utilizando o conhecimento e a cumplicidade das ciências humanas inicialmente com um conteúdo muito teórico, mas que têm evoluído rapidamente no seu experimentalismo, este processo assume-se com uma naturalidade aceitável.
Um certo saber técnico e formação profissional específica, servem de maneira acrítica este arsenal de censura/controlo de opinião. Basta ver como os políticos populistas estão empenhados em desviar para estes fins os recursos disponíveis, em detrimento dos projetos de formação crítica e de investigação fundamental. Não se atrevendo a dizê-lo, e invocando sempre as mais nobres e generosas intenções, o que está em jogo é uma autêntica e mal disfarçada estratégia de censura/controlo de opinião para assegurar o poder.
Nos regimes totalitários/autoritários, a censura é una, visível no rosto severo do tirano, legitimada pela sua vontade.
Em democracia, ela é plural, difusa e amorfa, legitimada pelo rosto anónimo das maiorias que se dizem defender, pela categoria moderna do povo, visível e personalizada no corpo dos seus representantes legítimos, constituídos tanto pelo mecanismo estatístico do voto de que são objeto, como sobretudo pelo discurso sedutor de que são sujeito.
A censura apresenta-se, ao mesmo tempo, como componente e como reverso da permissividade, controlo de opinião, enquanto efeito da vontade soberana das supostas maiorias. Não se trata de uma vontade soberana de natureza despótica, outrossim, sedutora e simuladora.
Para o tirano é aquilo que ele diz que é, na medida em que interdita o acesso aos processos de confirmação e de infirmação da sua verdade, assentando no silêncio que impõe ao discurso dos adversários. O tirano relega para as periferias do discurso dominante os restos, a escória, do poder uno e indivisível.
A pretensão empírica dominante nas ciências humanas, não é capaz de deter o processo moderno de censura, por várias ordens de razões.
A limitação grosseira da denúncia humanista à censura do dictum, impede de perceber que preside aos factos de censura uma ordem e um processo nos quais eles se enraízam, ordem e processo que constituem o modus da enunciação.
Esta metodologia, habitual nas ciências humanas sobre os pressupostos constitutivos dos seus objetos de conhecimento, que é responsável, internamente, pela forma tautológica do seu saber e, externamente, pelos usos e abusos tanto humanistas, como tecnológicos a que se prestam.
Por estas razões neste sentido as ciências humanas e o seu estudo, acabam por ser o grande suporte do poder, oferecendo os instrumentos indispensáveis à aceitação de uma nova ordem de censura.
FLEMING DE OLIVEIRA
(TEXTO DE 2007)
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