segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O PIREZA

-O REVIRALHO E AS INTENTONAS FALHADAS
-O PIREZA É ASSALTADO EM PATAIAS POR
FUNCIONÁRIOS DO FISCO !!!
-A HONRA DO PARTIDO DEMOCRÁTICO

FLEMING DE OLIVEIRA
Ao privilegiar a estratégia insurreccional, a acção do Reviralhismo ficou aliada à instrumentalização das unidades militares especialmente sediadas em zonas mais urbanas. Para tal, tentou constituir no seio dessas unidades núcleos clandestinos, os quais eram enquadrados politicamente por civis, provenientes maioritariamente, do funcionalismo público, comércio e profissões liberais, onde normalmente se integravam alguns advogados.

Neste aspecto, o Reviralhismo manteve e reproduziu algumas semelhanças com formas organizativas e as tácticas que caracterizaram os movimentos revolucionários da fase final da Monarquia e da I República, fiel à que tinha sido a base político-social do republicanismo. Na selecção de operacionais foi dado relevo aos ferroviários, motoristas, empregados dos telefones e telégrafos e muto especialmente os que possuíssem experiência na manipulação de material bélico e explosivo, instrumentos indispensáveis nas intentonas. Estes operacionais, eram em geral arredados do conhecimento do plano de acção, até pouco antes da sua prevista eclosão do movimento.
Face às perturbações que as suas acções provocavam na vida das populações, pelo cansaço e repúdio ao golpismo que décadas de instabilidade republicana tinham inevitavelmente trazido à generalidade da população portuguesa, este reviralho teve fraco apoio na opinião pública, sendo-lhe naturalmente adversos a Igreja, as famílias e os grandes meios de comunicação social, sujeitos a censura. As dificuldades de comunicação e de imagem do Reviralhismo eram grandes, nunca tendo conseguido fazer chegar uma mensagem forte junto do grande público, especialmente o rural. Muitas das características da ditadura, e depois do salazarismo, resultaram da sua propagada intenção de conter a restauração do republicanismo democrático, parlamentarista e anticlerical. Embora algum republicanismo conservador tenha consentido tácita e inicialmente a ditadura como referimos, e os salazaristas tivessem procurado integrar no seu projecto esta corrente, por razões de oportunismo e sedimentação, mas não de convicção, o que aliás foi recíproco, as arremetidas conspiratórias do republicanismo de esquerda e das suas adjacências comunista e anarquista, exerceram uma profunda influência sobre a estruturação e consolidação do novo regime, com destaque para a instauração em breve da censura e a criação da polícia política.

A criação da União Nacional, em 1930, surge no contexto da resposta da ditadura e das forças que a apoiavam, à pressão do reviralho, procurando, através do enquadramento das elites a que apelava e dos quadros do funcionalismo público conservador, até aí com forte influência republicano-democrática, reduzir a influência revolucionária e introduzir mecanismos de controlo e de redução das tensões. Assim se criava um espaço controlado onde, pelo menos formalmente, era permitida a participação cívica.
Na prática, este objectivo era pouco consensual, não era bem assim em 1930, pelo menos em Alcobaça.

Registe-se que um grupo de 4 indivíduos que se supõe serem funcionários do Fisco, surpeenderam na estrada de Pataias uns carreiros que vinham buscar cal, saqueando-lhes os bolsos; o mesmo aconteceu a vários trabalhadores que andavam nos seus trabalhos ali próximos, que foram intimados a mostrar os seus fatos; nada foi encontrado a uns e outros, apenas a um pobre homem de Fanhais, a quem chamam O Pireza, foi aplicado uma multa por lhe ser encontrado na algibeira um canudo de fazer isca.
Não obstante esses lamentáveis acidentes de percurso, a que as novas autoridades político-policiais não davam expressa cobertura, a ditadura consolidou-se e anular em parte o reviralhismo, fazendo uso das condições sociais e do enquadramento externo que a vitória franquista em Espanha, lhe potenciou.
Numa atitude que não terá sido comum entre os reviralhistas, o capitão Nuno Cruz, vagamente aparentado com a nossa família portuense pelo lado materno, que viria a morrer no exílio em Madrid, depois de uma acidentada fuga da prisão, por participação numa intentona, reconheceu que, apesar do grande empenhamento de todos os participantes, nunca fora possível juntar forças militares bastantes para vencer e apontava como causa do fracasso a dolorosa verdade em que muitos se recusam a crer, sendo sempre mais fácil procurar as causas do insucesso nas fraquezas do nosso campo, que gostosamente se espiolham, do que na força do inimigo, que sempre ao nosso orgulho custam a reconhecer.

O fracasso da oposição à ditadura em que se traduziu o ano de 1931, em particular o insucesso do movimento de 26 de Agosto e a eficácia da repressão que se lhe seguiu, marcou o Reviralhismo. É portanto, por esta altura, que se vão desnudando alguns factos do tempo da República.
Assim nos relata, por exemplo, o Ecos do Alcoa, de 10 de Setembro de 1931, sob a epígrafe-
A Honra… do Partido Democrático-

Meu Ilustre e Querido Amigo Pimenta, não conseguimos apurar quem seria este senhor Pimenta: Não se esqueça de me recomendar o assunto que sabe e além disso receber o portador, nosso querido amigo e cooreligionário João Branco que tratará junto de si dum assunto que muito me interessa e pelo qual tenho o maior dos empenhos. Um amigo nosso, (não conseguimos também apurar a sua identidade), foi condenado pela Boa Hora em dois meses de cadeia por um assunto que ele lhe contará. É necessário que pelo Ministério da Justiça seja deferido um requerimento que se deve fazer, a fim de a pena ser cumprida na Cadeia de Alcobaça, onde se arranjarão as coisas de forma a ele nem sequer lá dar entrada. É um caso de menos importância e pelo qual a política que defendemos e apoiamos se interessa e faz caso de honra. Já vê por isso, o meu amigo, o quanto é urgente e preciso que isto se consiga e faça.

Mande no seu afeiçoado e Amgº Obgº

José Henriques Barreto
(Admnistrador)


FLEMING DE OLIVEIRA

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