segunda-feira, 10 de outubro de 2011

A Televisão




-O INÍCIO DA TELEVISÃO EM
PORTUGAL
-A TELEVISÃO EM ALCOBAÇA
-OS “MALEFÍCIOS” DA
TELEVISÃO



Fleming de OLiveira
A televisão, como se sabe, começou a funcionar regularmente em Portugal há 5e tal anos, 1957, com a RTP. Mas já há há algum tempo se falava do início das suas sessões, a preto e branco, e dizia-se que Salazar não era grande entusiasta deste novo meio de comunicação social e de massas.
Aproveitando as facilidades concedidas pelo jornal O Século, que nos jardins da Palhavã, organizava a Feira Popular, a RTP realizou, aí, as primeiras emissões.
Corria o mês de Setembro e a inauguração programou-se para a noite de 4, pelo que vai o povo de Lisboa tomar o primeiro contacto com uma das maiores invenções que até hoje o Mundo viu, vai conhecer os recursos de que a RTP dispõe para, daqui a meses, iniciar, de forma definitiva, o serviço público de radiotelevisão. Vai ter um passatempo agradável e inteiramente gratuito; e, como é natural, sentir o desejo de se apetrechar com receptores para o dia, já tão próximo, em que os cinco emissores, em cadeia, levem à maior parte do País, à maior parte da população, um dos grandes benefícios que lhe podiam ser dados: o de conhecer, pela vista e pelo ouvido, tudo o que no Mundo se passa e pode servir para a elevação do seu nível cultural e educacional e para o seu recreio.
A TV foi, nessa altura, um grande espectáculo de rua. A imagem animou os visores dos poucos aparelhos existentes em Lisboa e arredores. E o povo fez a festa nos passeios, frente às montras. Houve quem se munisse de bancos para melhor espreitar o espectáculo ou subisse às costas de outro. O Jornal de Notícias escreveu que nos vários locais de Lisboa continuaram ontem à noite, as transmissões do programa televisionado que, como no dia anterior, levaram às várias ruas numerosas pessoas.
De acordo com a História da RTP, na Praça dos Restauradores o movimento foi além do que era de esperar e, por isso, parou o trânsito e criaram-se dificuldades que a PSP, requisitada para tal, resolveu ordenando a abertura de um canal-não de TV, mas de caminho para carros e pessoas poderem circular.
Lembramo-nos de ouvir contar em casa, no Porto, ainda nos anos cinquenta, que havia muita gente que não acreditava ser possível ver o que se passava a grandes distâncias, tal como ouvir pela rádio.

Em meios alcobacenses mais conservadores, entendia-se que a televisão põe o mundo perante graves e delicadíssimos problemas de ordem moral, certo como é que pelo desvio da sua finalidade útil, aquilo que é instrumento de maior bem pode tornar-se instrumento de mal maior. Segundo O Alcoa, um pai de família, declarou que desde o dia em que a televisão entrou em casa, fecharam-se os livros (…). Depois de estar umas horas a ver televisão durante a noite, vou para a cama com a sensação que perdi a noite totalmente (…).
Uma mãe de família, muito preocupada, perguntava ao articulista se não haveria maneira de apresentar os cowboys com bons modos, sem que deixassem de ser cowboys?
Interessante é também o depoimento de um professor. Ora, segundo esse professor, cujo nome o articulista não registou, a TV intrometeu-se na vida das crianças, distraindo-as nos seus estudos e nas suas leituras. Estropia-lhes a vista e torna-as preguiçosas.
E querem ainda saber a opinião de um alcobacense, apresentado como marido faminto (seguramente com fome de guloseimas… de mesa), que entendia que seria um desastre que a televisão continuasse em progressos. Já agora minha mulher me deixa, não poucas noites sem ceia, para ver um programa favorito. Imagine-se o que seria se tivéssemos TV a cores ou um sistema desses que dizem que vão criar e, segundo o qual, pagando certa quantia, se pode escolher o programa que mais agrade.
Temos abordado factos e emitido opiniões, admitimos, controversas e mesmo algo arbitrários, agradando a uns e menos a outros. Corremos, assumidamente, esse risco. Não queremos fazer uma História da Censura, nem pelo menos em Portugal, o que seria sempre infindável. Lições de Democracia ou de Cultura, não se dão apenas com palavras ou nos livros de História. O exemplo é o verdadeiramente relevante. Cumpre notar que a abordagem que aqui fazemos, é uma pequena introdução ao estudo da acção política ao longo do tempo do Estado Novo e da nossa terra, através dos processos e dos eventos ocorridos no passado e para que não se esqueça a memória.




Fleming de OLiveira

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