quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A CENSURA EM PORTUGAL

-Um transmontano seco, áspero e telúrico.
-Um beirão de Terras do Demo, com lugar no Panteão Nacional.
-Ferreira de Castro, Alves Redol, Os homens que nunca foram meninos,
Vitorino Nemésio, Fernando Namora e mais algumas estrelas das letras
nacionais.
-Bento de Jesus Caraça e o ISCEF.

Fleming de OLiveira










(III)




Não é possível esquecer, uma personalidade como Ferreira de Castro.
Senhor de espírito crítico e independente, tanto na vida como na literatura, Ferreira de Castro emigrou com doze anos para o Brasil, tendo trabalhado como seringueiro na Amazónia, e depois como periodista. Porque escreveu sobre muito sobre o que viveu, fez em A Selva uma descrição pormenorizada das duras condições de vida dos trabalhadores rurais, sendo por isso considerado um arauto do neo-realismo português. A nível ideológico, alguns entenderam que lhe faltou militância política, para melhor fundamentar a sua oposição ao Regime.

Além de Ferreira de Castro, impõe-se referir escritores como Alves Redol, autor de Esteiros, dedicado aos homens que nunca foram meninos, Gaibéus e Barranco de Cegos, bem como Manuel da Fonseca, que escreveu Cerromaior e Seara de Vento, empenhados em transmitir uma visão marxista da vida e entrar na discussão de problemas próprios dos extractos sociais portugueses mais desfavorecidos, o que não colhia os favores do Regime. Mas, claro, há mais autores que merecem destaque!

O desenvolvimento rápido de vias de comunicação (que não o caminho de ferro ou as estradas) ao longo do século XX, tornou alguns escritores familiares do grande público, o que não ficou directamente associado ao aumento da produção literária e hábitos nacionais de leitura.
Vitorino Nemésio foi um caso exemplar, com as suas intervenções televisivas a partir de 1969, no Se Bem Me Lembro, um programa de muitas e variadas conversas, por um apaixonado da palavra e da memória. A TV popularizou-o mais do que a literatura. Poeta, romancista e ensaísta, deixou vincado na sua obra, a origem açoriana e um grande sentido de valoração das tradições populares. Mau Tempo no Canal, reflecte a consciência de um escritor fisicamente ausente da terra natal, mas que recorre a ela como tema inesgotável da verve. Compreendemos esta necessidade! Mas não foi apenas a televisão que divulgou obras literárias de referência. O cinema também.

Fernando Namora, médico de formação académica e profissão, escreveu Retalhos da Vida de um Médico, relatando dentro de um espírito neo-realista, as experiências sofridas, dramáticas e até poéticas vividas no interior (muito atrasado) do País. A RTP, depois do 25 de Abril, produziu uma série com base nesta obra literária.

A reflexão sobre a natureza humana, foi seguramente o grande tema da produção de Vergílio Ferreira, exemplo claro do existencialismo português. Graças a uma interessante adaptação ao cinema, Manhã Submersa, veio a tornar-se, talvez por isso, um êxito editorial, muito depois da sua publicação 1944. Em Conta-Corrente, Vergílio Ferreira legou um contributo para o entendimento das mudanças sociais em Portugal, no pós 25 de Abril.

Particularmente associado a Lisboa, encontra-se J. Cardoso Pires, que deixou patente as suas preocupações sociais e políticas, muito críticas do salazarismo, numa literatura influenciada, pelos grandes mestres contistas norte-americanos, como E. A. Poe, E. Hemingway ou Mellville, sendo considerado um dos melhores prosadores e contadores de histórias da literatura portuguesa contemporânea. O Delfim e O Dinossauro Excelentíssimo revelam uma oposição manifesta e acutilante ao Estado Novo, obtendo grande sucesso literário a Balada da Praia dos Cães, Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, a propósito de um caso ocorrido no seio da oposição, nos anos 60, que depois deu origem a um filme realizado por José Fonseca e Costa. Corpo de Delito na Sala de Espelhos, uma análise ao submundo da polícia política e do tecido psicológico da sua identificação como corpo de terror, foi levada à cena em 1979 pelo Teatro Aberto, com interpretações, entre outros, de Mário Jacques, Rui Mendes e Lia Gama.

CONTINUA



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