segunda-feira, 3 de outubro de 2011
-UM EMPRESÁRIO EXPLORADOR DA CLASSE OPERÁRIA (1974) -AQUI JÁ NÃO SE EXPLORAM OS TRABALHADORES, DIGA LÁ ISSO AO PATRÃO !!!
Altino do Couto Ribeiro, de que já tenho falado por várias vezes, fazia a distribuição das encomendas da sua fábrica em Alpedriz, em qualquer parte do País, de Norte a Sul e, muito especialmente em Lisboa, onde ia muitas vezes e tinha bons clientes, com destaque para a Brás & Brás, dadas as cordiais relações com o dono, António Brás. Por alturas de Setembro de 1974, Altino deslocou-se numa tarde a Lisboa para entregar mercadoria a um novo cliente, com loja de decoração e artigos para casa, na Rua Forno do Tijolo. Ao chegar, foi recebido por alguém que se apresentou como o dono e que muito democraticamente lhe referiu que, em Lisboa, já não se exploram os trabalhadores como antes, pelo que não compreendia como o patrão obrigava que o motorista fizesse a distribuição, sem ajudante.
Sem se desmanchar, Altino respondeu que o patrão da sua empresa, era um gajo de gancho, expressão que fez acompanhar, com o expressivo e popular gesto do dedo. Assim, avisou que quando o viajante por lá passasse, haveria de lhe chamar a atenção para tal prepotência e dizer-lhe das boas. Com a entrega da mercadoria, recebeu a gratificação de 10$00 para uma cerveja, o que não rejeitou e intimamente divertido meteu no porta-moedas. Dias depois, o viajante passou pelo estabelecimento, tendo-lhe sido feita a queixa anunciada. O viajante esclareceu que, na fábrica de Altino, a distribuição foi sempre feita pelo patrão, sem qualquer ajudante e nunca se deu mal com o processo.
Mais tarde, Altino Ribeiro voltou à Rua Forno do Tijolo para entregar mercadoria, e no meio de risota, o cliente disse-lhe que você saiu-me cá uma boa prenda.
Com o tempo tornaram-se amigos e fizeram muitos negócios.
Em Outubro ou Novembro de 1974, Altino do Couto Ribeiro recebeu mais um aviso para se deslocar à Delegação do Ministério do Trabalho, em Leiria, a fim de tratar de um assunto do seu interesse. Não foi a primeira, nem a última vez que recebeu avisos semelhantes, pois não obstante ser pequeno empresário de louça, estava sob a mira atenta dos sindicatos, sem que estes se identificassem, propriamente, com os trabalhadores ao serviço da empresa.
O assunto que, afinal, tinha a tratar em Leiria era relativamente insignificante, pelo que a deslocação aborreceu-o muito mais que a sua importância. Todavia, sem que nada o justificasse, à falta de melhor argumento, um sindicalista do Valado de Frades, trabalhador da SPAL, com que não tinha de há muito boas relações, rotulou-o publicamente e em voz alta de explorador dos trabalhadores.
Altino sentindo a injúria no corpo e alma, irritou-se de imediato e tentou agarrar pelo colarinho o provocador, só não conseguindo o seu intento, porque este era bastante corpulento e foram separados pelo Delegado do Ministério do Trabalho, de Leiria.
Ao chegar à fábrica, resolveu telefonar ao Delegado do MT, para dar-lhe uma satisfação e pedir desculpa pela atitude. Ficou bastante reconfortado ao ouvir do outro lado da linha, assegurar-lhe que compreendi muito bem a reação. Comigo não sei como reagiria.
FLEMING DE OLIVEIRA
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