segunda-feira, 10 de outubro de 2011
CORETO DA VILA
-UMA BOA CENA DE
PANCADARIA NA FEIRA DE S.
BERNARDO
-O POÇO DA MORTE
-PORTUGUESES VALENTES
Fleming de OLiveira
Ouvimos contar a seguinte história que se terá passado na Feira de S. Bernardo, em meados dos anos cinquenta.
O GNR reformado Joaquim Meneses tinha uma vaga ideia de a ouvir a colegas mais velhos, quando muitos anos depois foi colocado no Posto de Alcobaça.
Ainda música entoava no ar quando no sábado, por volta da meia noite, várias pessoas se envolveram em confrontos físicos. A principal vítima da sessão de pancadaria foi o Luís da Horta, da Moita do Poço, que garantiu ter sido agredido pelo Secretário da Junta de Freguesia de Turquel, com um pau de eucalipto com 2 metros de comprimento e mais de dois centímetros de diâmetro…
-Deu-me com o pau nas costas umas cinco vezes, contou Luís. Um gesto que foi seguido por mais dois conterrâneos do Secretário da Junta.
-Os paus destes eram mais pequenos, mas mais grossos, afirmou o agredido, tão grossos que acabaram por lhe abrir a cabeça, que foi suturada com sete pontos no Hospital de Alcobaça, onde chegou bastante atordoado.
O jovem apresentou queixa por agressão contra o Secretário da Junta e os dois amigos, na Guarda Nacional Republicana. De acordo com as informações colhidas junto Chefe do Posto da GNR, uma patrulha foi chamada por volta da uma da madrugada de sábado, com a informação de que estariam a decorrer desacatos no recinto da Feira. Chegada ao local, a patrulha (3 homens) deparou com o facto consumado, pois o Luís da Horta já teria levado as pauladas, estava no chão, com a cara ensanguentada e a gemer.
-Só sei que ainda havia gente a bater-me, a dar-me pontapés nas costas e na barriga, garantiu depois.
O caricato da situação é que o assunto que terá dado iniciou a zaragata, nada tinha a ver com o Secretário da Junta, com esta ou mesmo com o Luís da Horta. Mas sim, com um irmão deste e um rapaz do Carvalhal, que terá sido apanhado, algum tempo antes, a roubar um cabrito.
O Secretário da Junta mostrou-se muito espantado pelo facto do seu nome estar envolvido na questão.
-Não tenho nada a ver com o assunto. Na altura dos acontecimentos até estava sentado a beber um copo e a petiscar com uns amigos.
Referindo nunca se ter metido em zaragatas (não se esqueça que faço parte da Junta…), salientou que até andava de muletas por ter um problema numa perna, que o obrigou a fazer uma cirurgia em Leiria.
-Acha que com a perna assim eu estava em condições de bater em alguém?, perguntou ao Comandante do Posto da G.N.R, adiantando que se o Luis apresentou queixa contra si irá também fazer outra por difamação.
Falar de uma festa popular portuguesa e esquecer o Poço da Morte seria uma falta grave.
O primitivo Poço da Morte, era em madeira, e nele pontificavam os motoqueiros pai, mãe e um filho, já que no cartaz aparecia a imagem dos três, como recorda Matias. Circulavam numa estrutura cilíndrica, a girar sempre à volta até ficarem paralelos ao chão. Era um trio de fascinantes corajosos aventureiros que, com os palhaços, ilusionistas e acrobatas do circo, preenchia o imaginário de muita gente que ia à Feira. O público ficava a ver na parte superior, tendo apenas uns cabos de aço como limite, para que numa manobra imprevista (e possível) não levasse com eles.
Desafiavam a morte, no dizer do apresentador, cruzando-se com arrojo, audácia e emoção a alta velocidade de olhos vendados pela bandeira portuguesa, que depois era desfraldada triunfantemente, para gáudio da assistência e vibrantes aplausos. Especialmente emocionantes eram as voltas de moto, com o artista (filho) sentado de lado virado para o fundo do Poço, sem mãos no volante e de braços cruzados. Suscitavam emoções fortes em João Matias, que ia acompanhado pelo pai, espalhando entre os demais espectadores um clima de euforia e ansiedade, apimentado pelo ruído ensurdecedor das motos sem escape e o cheiro de gasolina mal queimada.
Fleming de OLiveira
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