FLEMING DE OLIVEIRA
Em 25 de Junho de 1891, visitaram Alcobaça o Rei D. Carlos e Esposa, D. Amélia, tendo sido festivamente recebidos pela população e pelas forças vivas.
Segundo Bernardo Villa-Nova, no Livro de Honra do Hospital de Alcobaça, então recentemente inaugurado, D. Carlos escreveu com o seu punho:
APROVEITO A OCASIÃO DESTA VISITA PARA FELICITAR A MESA DA MISERICÓRDIA PELA PERFEIÇÃO DE ARRANJO E DE ASSEIO EM QUE TEM O HOSPITAL.
EL-REI D. CARLOS
D. AMÉLIA-RAINHA
Em 29 de Abril de 1907, de novo o Rei D. Carlos visitou Alcobaça, acompanhado do príncipe alemão Guilherme de Hohenlern.
A Rainha D. Amélia havia feito uma visita particular ao Mosteiro em Agosto de 1892. De origem francesa, filha do Conde de Paris, pretendente ao trono de França, era pessoa culta e artista e que, não obstante os tempos conturbados do fim da monarquia e do exílio que cumpriu, assumiu sempre postura digna e respeitável. D. Amélia era distinta pintora e desenhadora, sendo a sua obra mais conhecida, a colecção de desenhos do Paço de Sintra, destinados a ilustrar o estudo do Conde de Sabugosa, sobre esse palácio nacional. Já no exílio, em França, manifestou para com os desprotegidos de Portugal, o seu espírito beneficente. Note-se, por mero exemplo, que o produto da venda da edição em dois volumes fac-similados de Mes Dessins, reverteu a favor da Associação Nacional aos Tuberculosos.
D. Amélia dedicou parte da sua vida a fundar instituições de beneficência, ligadas à saúde, à ciência e também à cultura. Entre estas, destacam-se dispensários e sanatórios, lactários, cozinhas económicas bem como as creches que davam assistência às crianças pobres. Em 1899, fundou Assistência Nacional aos Tuberculosos e criou em Portugal, o primeiro Instituto Pasteur, com o nome de Instituto Câmara Pestana.
Também o interesse pelos bens e cultura portugueses, levou-a a fundar o Museu Nacional dos Coches. Voltando todavia, à referida visita, diremos que nesse mês de Agosto de 1892, D. Amélia veio a Alcobaça acompanhada dos seus amigos Conde de Sabugosa e esposa, para desenhar alguns temas do Mosteiro, na altura em fase de nítida degradação, por incúria dos governantes e também de pessoas da terra. Segundo rezam as crónicas locais (imprensa), eivadas de algumas pinceladas poéticas, naquela mansão de luto que arte tornou tão bela, a presença da Rainha, sentada num tosco escadote, desenhando o túmulo de outra rainha que a precedeu no mesmo trono e cuja existência custou tantas lágrimas a uma pobre repudiada, tomou a nossos olhos um vulto especial, uma especial feição. Não víamos nela somente a mulher coroada, víamos uma artista modestamente vestida, extasiada ante um modelo que foi um primor na arte. (...) Vimos a arqueóloga seguindo a evolução da arte, não se importando com os dramas e os idílios que cada um daqueles monumentos representa.
Não constitui exagero, afirmar que o Mosteiro de Alcobaça, sintetiza alguns dos aspectos que nos identificam como Povo e Nação centenários. Talvez, por isso, uma mulher de origem francesa tentou em Alcobaça compreender o verdadeiro e profundo ser e sentir de um povo, que já não nutria simpatia especial pela Monarquia, mas que nunca deixou de considerar a Rainha D. Amélia, segundo o jornal semanal que então se publicava na vila, denominado De Alcobaça, após ter almoçado no Claustro de D. Dinis, sentada nuns degraus arruinados, demorou-se seis horas em trabalho delicado e paciente e, ao despedir-se, disse que voltaria muitas vezes, porque tinha muito que desenhar ali.
D. Amélia não chegou a voltar a Alcobaça, nem mesmo quando terminada a Guerra, foi em Junho de 1945 autorizada por Salazar, tal como a demais família real, a visitar Portugal. No início da Guerra, Salazar ofereceu-lhe asilo, que foi recusado.
Faleceu em França, a 25 de Outubro de 1951 e encontra-se sepultada no Panteão Nacional, de Lisboa.
Depois de Isabel de Inglaterra, os jovens Príncipes de Mónaco, Rainier e a charmosa Grace acompanhados dos filhos, visitaram Alcobaça em 1964, no seguimento de uma ida a Fátima, tendo estes almoçado na Estalagem do Cruzeiro, em Aljubarrota. Há quem conte, como Luísa Pescadinha, ter assistido na Nazaré, a Princesa Grace, a contar e confirmar pessoalmente, as suas sete saias, típicas de peixeira.
Em 1959, o Rei dos Reis, O Senhor dos Senhores, O Conquistador Leão da Tribo de Judah, O Supremo Defensor da Fé e Poder da Santíssima Trindade, o Imperador Etíope, Hailé Selassié, que havia sido coroado em 2 de Novembro de 1930 (o salmo 87:4-6 foi também interpretado como a previsão da coroação de Hail Selassié), efectuou uma visita oficial a Portugal, e obviamente a Alcobaça, atirando aquando do acesso ao Mosteiro, moedas de ouro aos populares que corriam e se debatiam histericamente atrás delas. Hailé Selassié era, de acordo com a tradição, o ducentésimo vigésimo quinto da linhagem de imperadores etíopes descendentes do bíblico Rei Salomão e a Rainha de Sheba.. Nos discursos da praxe, o Chefe de Estado africano e os responsáveis portugueses, fizeram referências aos laços históricos que uniam os dois países desde o século XVI.
Na evocação da amizade luso-etíope, um episódio parece ter sido deliberadamente omitido, isto é, o papel desempenhado por Portugal na Sociedade das Nações, aquando da agressão da Itália fascista à Abissínia. Porque é que até determinada altura a defesa da independência da Abissinia mereceu o apoio do governo de Lisboa?
E quais os motivos do volte-face operado por Portugal em 1936, quando chegou internacionalmente a altura de endurecer o regime de sanções imposto à Itália?
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