terça-feira, 22 de janeiro de 2019


NO TEMPO DE PESSOAS “IMPORTANTES” COMO NÓS

50 Anos da História de Alcobaça Contada através de Pessoas



Theias, Amílcar Augusto Contel Martins, nasceu em Lisboa em 9 de agosto de 1946, Ministro das Cidades, Ordenamento de Território e Ambiente no XV Governo Constitucional  (sucedeu no cargo a José Sócrates), esteve em 23 de janeiro  de 2004 em São Martinho do Porto, onde se realizou uma reunião de trabalho na sede da Junta de Freguesia, para apreciar o projeto de Requalificação Urbana de São Martinho do Porto, elaborado por Gonçalo Byrne, que compreendia alterações na Avenida Marginal, em termos de sentido de trânsito e estacionamento, bem como a ligação da parte baixa à parte alta da Vila, através de elevador.
Nessa reunião ficou pendente ainda o financiamento deste projeto.
Tibúrcio, Manuel da Costa, (desconhece-se a data de nascimento, falecimento e naturalidade, supondo-se ser de Aljubarrota).
JERO, escreveu sobre este cromo no jornal Região de Cister (13 de dezembro de 2013 e 26 de dezembro de 2013 e reeditado em Arco de Memória’s), nos termos seguintes:
À distância do tempo, recordo um homem feito que dormia na rua e fazia a sua higiene matinal numa fonte situada aos pés da estátua de São Bernardo, na Praça da República. Na então vila de Alcobaça, o Tibúrcio era muito conhecido por variadas razões mas principalmente por estar sempre na rua… e por todo o lado! Na aldeia onde nasceu poucos teriam o que precisavam e o caso dele não foi exceção. Pior do que isso, o Tibúrcio saltara para a vida sem as defesas suficientes e rapidamente se integrou nos desprotegidos da sorte. E deu tanto nas vistas que alguém bem-intencionado o meteu num asilo de mendicidade, ajuda que não resultou. Como ave do campo não quer capoeira logo ao segundo dia fugiu para bem longe. Pelo tempo fora foi vivendo incertamente amigo dos gatos e dos cães com os quais compartilhava escassos pães ou minguadas sopas que algumas almas generosas lhe abonavam. Trabalho ou ofícios fixos nunca teve, porque não aceitava cumprimento de horários, mas não era preguiçoso. Chegou mesmo a montar caixa de engraxador junto à Farmácia Campeão mas por vezes acontecia que um outro cliente saía com peúgas e sapatos engraxados por igual…
Numa noite invernosa foi surpreendido pela chuva e como estava perto do Hospital refugiou-se na Casa Mortuária onde terá entrado por a porta estar mal fechada. Aconchegou-se a um canto e adormeceu. Enfermeiras – cadáver – porta aberta e grito inesperado vindo do fundo da sala: Fechem a porta que está frio! Fugiram esbaforidas.
À distância do tempo já um pouco desvanecido na bruma da distância não o esqueço. É só passar pela fonte situada aos pés da estátua de S. Bernardo…e lá está ele. Não mendigava, limitava-se a oferecer a sua força de trabalho. Tinha alguns clientes certos a quem fazia recados aceitando sempre com um sorriso a retribuição em espécie ou dinheiro, que lhe fosse dada. A estória que se segue é de um desses clientes e amigos do Tibúrcio:
Por vezes em dias de maior generosidade, pedia-lhe que trouxesse um pacote com tabaco e dava-lhe um dos maços numa das suas visitas, que coincidiu com a Véspera de Natal, encomendei-lhe um pacote de SG Gigante. Quando chegou, abri cuidadosamente o pacote, tirei um maço, abri-o, separei dois cigarros, acendi um para mim e dei-lhe o outro acendendo-lhe também. Depois de algumas palavras sobre o tempo, o Natal e a Vida, abri a carteira tirei uma nota de 50 escudos e com palavras de circunstância, que não me recordo, entreguei a nota e o pacote com todos os restantes 19 maços de tabaco. O Tibúrcio não contava com tamanha generosidade e terá sentido ali um pouquinho de amizade de que precisava para respirar. Então, começou a soluçar e de imediato chorou copiosamente sem recear e estragar o contentamento que o invadira. Depois retomando pouco e pouco a tranquilidade, durante uma hora diferente e boa, contou-me a longa história da sua vida, uma vida de gente habituada às pequenas coisas, humildes e silenciosas. Viveu ainda alguns anos. Nunca deixou de ser quem era mas a mim encheu-me de contentamento o convívio com ele até que finalmente chegou o seu dia e descansou. Quando perdi o Tibúrcio também senti que perdia aquele Natal.
Este antigo “cliente” do Tibúrcio, chamava-se Timóteo de Matos, amigo que muito prezo.
-Timóteo de Matos faleceu em 2016 e leia-se aqui infra.
Timóteo de Matos, José, nasceu em 1949, no lugar da Charneca do Carvalhal/Turquel.
Com quatro anos, mudou-se para os Ganilhos, localidade junto a Alcobaça. Frequentou a Escola de Chiqueda, onde foi um bom aluno, ao ponto de a professora ter requerido a passagem imediata da primeira para a terceira classe, o que todavia foi indeferido.
Concluída a instrução primária, ingressou no Seminário de Leiria, que no 4º. ano veio abandonar.
Frequentou Direito na Universidade de Coimbra, sem terminar o curso. Cumprido o serviço militar, foi Professor de Português, e durante dois anos, Presidente do Conselho Diretivo da Escola Preparatória da Benedita.
Concluiu o Estágio de Solicitadoria em 1988, tendo, a partir dessa data, exercido a profissão em Alcobaça.
Foi Presidente da Delegação de Círculo de Alcobaça, eleito vogal do Conselho Regional do Norte para os triénios de 2008 a 2010 e 2011 a 2013. Deixou de exercer a profissão, no início de 2012, por motivo de doença.
Desde jovem ligado ao ciclismo (embora não praticante), ajudou a fundar em 1979 a equipa da Nutrigado (clube da há muito falida fábrica de rações do mesmo nome que pertencia a Manuel Nogueira Silvestre), com a qual deu início à prática do ciclismo em Alcobaça e da qual foi Presidente. Em 2003, extinta a equipa, foi cofundador do Alcobaça Clube de Ciclismo que obteve já, dezenas de títulos nacionais em todos os escalões do ciclismo. Deste clube foi Presidente da Assembleia Geral e, durante seis anos, Presidente da Direção, cargo que abandonou em Dezembro de 2012, também por doença.
-A noite do sábado, dia 4 de novembro de 2006, foi porventura memorável para os 52 ciclistas e as duas dezenas de ex-dirigentes, treinadores e jornalistas que marcaram o último meio século do ciclismo português, alvo de uma homenagem pelo Alcobaça Clube de Ciclismo.
A semana do ciclismo terminou com um jantar no Mosteiro, abrilhantado pela presença de muitos antigos campeões e velhas glórias da modalidade que disputa com o futebol o estatuto de maior popularidade.
A ocasião foi aproveitada por Laurentino Dias (Secretário de Estado PS), para anunciar o apoio do Governo à construção de um velódromo em Sangalhos, o que levou ao rubro os amantes da modalidade, entre os quais Artur Agostinho, também ele homenageado, autor de um discurso emocionado. O antigo diretor do Record e jornalista da RTP, falou em nome dos agentes ligados a modalidade para reiterar a importância do ciclismo para o povo português e recebeu uma das maiores ovações da noite.
Antigos campeões como Alves Barbosa, Fernando Vieira e Marco Chagas fizeram questão de marcar a presença em Alcobaça. Alguns deslocaram-se propositadamente do estrangeiro, como Acácio da Silva, há muit radicado em França.
Timóteo de Matos, o rosto da organização, sublinhou a presença de tantos campeões e heróis do ciclismo, para voltar a solicitar mais espaço para o ciclismo na imprensa e especialmente, na televisão.
Mas nem só de homens se fez uma festa do ciclismo em Alcobaça. Com 93 anos de idade, a campeoníssima Oceana Zarco, pioneira do ciclismo em Portugal, foi muito aplaudida.
Outro nome grande do ciclismo presente em Alcobaça foi Fulgencio Sanchez, antigo ciclista do Benfica e presidente da Real Federação Espanhola de Ciclismo, que reencontrou, entre outros, Fernando Vieira, presidente do Alcobaça Clube de Ciclismo e antigo atleta das águias.
A organização recebeu os mais rasgados elogios de Gonçalves Sapinho, a considerar que ultrapassou todas as expetativas.
-O Clube de Ciclismo de Alcobaça prestou homenagem ao já doente Presidente Honorário, Timóteo de Matos, no dia 22 de junho de 2013.
Os elogios sucederam-se, mas o distinguido fez questão de sublinhar pessoas que considerou importantes na área do ciclismo. Numa sala repleta que contou com a presença de antigos campeões como Joaquim Gomes e Marco Chagas, Delmino Pereira, Presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo e antigo ciclista referiu que ao homenagear-se Timóteo de Matos se estava a homenagear os dirigentes da modalidade.
Timóteo de Matos agradeceu, voltando a denotar a sua enorme dimensão, pois compartilhou  o palco com atletas, treinadores e dirigentes importantes na história do Alcobaça Clube de Ciclismo.
Referindo-se a Fernando Vieira, que não esteve presente, considerou que a ele, muito especialmente, se deve a importância que o ciclismo veio a ter em Alcobaça. 
-Timóteo de Matos foi homenageado ainda por outras entidades, entre as quais, a Câmara dos Solicitadores (atual Ordem dos Solicitadores e dos Agentes de Execução), através do Conselho Regional do Norte e a Delegação de Círculo de Alcobaça, a Federação Portuguesa de Ciclismo, o Alcobaça Clube de Ciclismo, os Veteranos do Ginásio, a Câmara Municipal de Alcobaça e as Juntas de Freguesia de Aljubarrota, Alcobaça, Maiorga e Pataias. A uma rua de Lagoa do Cão foi atribuído o seu nome.
-Foi militante do PCP, tendo sido nas eleições autárquicas de 1976 candidato à Presidência da Câmara Municipal, mas não eleito, nem vereador. Posteriormente, veio a abandonar militância partido, embora tenha continuado a pagar as quotas, como fazia questão de notar.
Sobre este assunto leia-se No Tempo de Soares. Cunhal e Outros, de Fleming de Oliveira.
-Nada a Temer Excepto as Palavras, foi o título que Timóteo de Matos deu ao livro (uma edição do Conselho Regional do Norte da Câmara dos Solicitadores) que apresentou num evento que reuniu centenas de amigos. Cada um comprou a obra de J. Timóteo de Matos e em troca deixou um livro que levou de casa, e que seguiu para as prateleiras da Biblioteca do Conselho Regional do Norte da Câmara dos Solicitadores, justamente chamada de Biblioteca Timóteo de Matos.
-Sobre si próprio diz que desde a primeira classe da instrução primária, que a leitura passou a fazer parte dos meus hábitos diários. Ao longo de toda a vida fui devorando livros. De início, sem qualquer critério, que não o da disponibilidade de livros ou jornais, mais tarde sabendo distinguir melhor necessidades, gostos e interesses pessoais. Lendo, é verdade, muitos livros emprestados, quer por amigos, quer por bibliotecas, como gostava de livros, fui, a pouco e pouco construindo uma biblioteca que consta, atualmente, de cerca de seis mil volumes. Romance, poesia, história e arte, são os temas por que mais me tenho interessado. Embora tenha escrito, para jornais também, mas sobretudo para revistas e boletins, sempre me achei melhor a ler do que a escrever. 
A música foi outro dos meus grandes prazeres ao longo da vida. A chamada música clássica e o jazz são os géneros que mais aprecio. Tendo deixado de fumar e utilizando, na aquisição de cd, o dinheiro poupado, juntei cerca de quatro mil cd que continuo a escutar com redobrado prazer. 
Fraco jogador de xadrez, interessei-me por este jogo a ponto de ter sido jogador inscrito na Federação Portuguesa de Xadrez. Este interesse motivou o início de uma pequena coleção de cerca de duas dúzias de tabuleiros e peças, alguns deles bem interessantes. 
Fui também jogador de futebol até aos juniores, nos Nazarenos. Ping-pong e bilhar foram desportos que gostei de praticar mas a minha grande paixão foi o ciclismo que, ironicamente, nunca pratiquei, a nível federado. Hoje são meus amigos a maior parte dos ciclistas do nosso pelotão e alguns do pelotão internacional, bem como as grandes figuras do tempo em que Sporting, F. C. do Porto e Benfica ainda andavam de bicicleta, alguns dos quais me tratam como irmão. 
A paixão pelo ciclismo levou-me à fundação de dois clubes dedicados a esta modalidade. Tenho também uma coleção de camisolas oferta de desportistas amigos.
-Timóteo de Matos faleceu a 2 de junho de 2016, vítima de doença prolongada.
Em 2012, foi-lhe diagnosticada esclorese lateral amiotrófica, uma doença grave e incapacitante. Apesar disso, é relembrado como alguém que nunca perdeu a boa disposição.
Por vontade do próprio, as celebrações religiosas foram substituídas por uma ação evocativa que o Alcobaça Clube de Ciclismo preparou, seguindo-se o funeral para o crematório da Figueira da Foz.

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