NO
TEMPO DE PESSOAS “IMPORTANTES” COMO NÓS
50
Anos da História de Alcobaça Contada através de Pessoas
Galinha, Luís Tinta, nasceu a 14 de fevereiro de 1937 na
Moita do Poço, filho de Joaquim Ferreira Galinha, proprietário de uma oficina
de sapataria e agricultor mediano, por conta própria.
Fez a
Escola Primária até à 4ª. classe em Lagoa do Frei João, na vulgarmente chamada
Escola Camões. Posteriormente, inscreveu-se no Instituto Industrial de Lisboa,
cujo curso não acabou, pelo que iniciou à noite o Curso de Topografia em
Coimbra, que concluído lhe permitiu começar a efetuar trabalhos na zona de
Alcobaça. Ligada de certo modo a esta atividade, teve uma empresa de construção
civil, aliás a primeira do ramo, legalizada em Turquel.
Pessoa
ativa, conceituada, educada e com interesses variados, teve intervenção na
fundação do Hóquei Clube de Turquel, de que foi Presidente e membro dos corpos
sociais durante 22 anos. Foi fundador de algumas coletividades desportivas da
freguesia.
Tem
muito orgulho em ter sido um fundador da Casa
do Rapaz, instituição de ligada à Igreja, para dar apoio social, desportivo
e religioso aos jovens.
Após
o 25 de abril de 1974, foi o primeiro Presidente eleito para a Junta de
Freguesia (1976/1979), em lista do PPD.
Luís
Galinha considera que a realização mais
importante desse mandato na Junta, consistiu no alargamento e alcatroamento das
ruas, que em geral se encontravam em muito mal estado, e especialmente a que
liga Turquel a Carris de Évora.
Sempre
ligado ao PPD/PSD, é um dos seis militantes mais antigos do núcleo de Alcobaça
com quotas em dia e na plenitude dos direitos e, como tal, já foi homenageado
em cerimónia, com a presença de Marcelo Rebelo de Sousa.
-Luís
Galinha, voltou a concorrer pelo PSD à liderança da JF de Turquel (acompanhando
de certo modo Sapinho que se candidatou a um 3º e último mandato) contra José
Diogo Ribeiro Tóbio (recandidato numa lista de independentes). O PSD esperava
recuperar a Junta de Freguesia de Turquel e assim jogou forte. Turquel é, aliás, uma freguesia onde tradicionalmente
o PSD ganha, mas desta vez isso não se confirmou, o que nada diminuiu este
candidato.
Galvão
de Melo, Carlos,
nasceu na Figueira
da Foz, Buarcos a 4 de Agosto de 1921 e faleceu no Estoril, Alcabideche, a 20 de Março de 2008.
A 4
de Outubro de 1959 foi inaugurada a Base Aérea Nº 5 (Monte Real), de que foi o
1º Comandante.
Em
1974 integrou a Junta de Salvação Nacional,
sendo muito contestado
pela esquerda e excluído da dita Junta, na sequência do 28 de Setembro de
1974 (manifestação da Maioria
Silenciosa e demissão
de Spínola).
Galvão
de Melo foi candidato nas eleições presidenciais de 1980, após ter sido deputado (independente)
pelo CDS, na Assembleia
Constituinte.
Foi
presidente da Associação de Amizade Portugal-Indonésia (em tempo que entre
estes dois países não mantinham relações diplomáticas) e da Associação
Portugal-Iraque.
A
convite de um grupo de amigos/apoiantes esteve em Alcobaça no dia 20 de abril
de 1980 num almoço que terá juntado ao que se disse cerca de 500 pessoas,
realizado na Quinta do Reforteleiro, tendo visitado duas unidades industriais.
Nas
eleições presidenciais de 1980, na freguesia de Alcobaça, Galvão de Melo
recolheu 71 votos e no Concelho 501. A nível nacional obteve 48.468 votos a que
correspondeu 0,84% do total.
Gameiro,
Raúl dos Reis,
nasceu a 26 de julho de 1921, em Argea/Torres Novas, tendo aí completado a
instrução primária.
Começou
a sua vida profissional a trabalhar para a CP, no Entroncamento e, em julho de
1946, veio para Alcobaça a fim de chefiar a central que efetuava a ligação
(transporte de mercadorias) à estação de caminho-de-ferro da CP em Valado de
Frades, propriedade da Sociedade de
Automóveis Cruz de Cristo, Ld.ª.
De facto, desde 15 de abril de 1929, havia carreiras de camionetas para
transporte de mercadorias entre o Valado de Frades e Alcobaça, fazendo o
serviço combinado com a CP e entre a Vila (Alcobaça) e a Benedita. Mais
tarde, por causa das dificuldades do tempo da guerra, a Cruz de Cristo
vendeu a concessão das carreiras.
Francelina
Canha Piedade (mulher de negócios, com boné e por vezes de gravata posta, ar
encorpado, andava sempre atarefada. Já pela década de 1920 ganhava a vida, em
Alcobaça, a conduzir automóveis de aluguer), dona da Cruz de Cristo, Ld.ª,
convidou Gameiro para sócio e gerente, numa altura em que esta empresa se
passou a dedicar à distribuição de gás em botija e canalizado, bem como à venda
de eletrodomésticos, pesticidas e outros.
No
ano de 1968, após a saída de dois sócios, entrou para a sociedade Fernando
Raposo Magalhães e depois os empregados Mário Sineiro e António Rocha (sendo
que este embora reformado continua a trabalhar). A Cruz de Cristo foi
parcialmente adquirida em abril de 1993 por Antero de Campos, mas António
Rocha, permaneceu sócio. A empresa que durante muitos anos esteve sediada no
Rossio de Alcobaça, veio a ser transferida para um espaço desafogado na Av.
Vieira Natividade.
Sempre
muito ativo, Raúl Gameiro pertenceu aos corpos sociais de quase todas as
instituições de Alcobaça, como o Ginásio, Grémio de Comércio, CEERIA, Hospital
da Misericórdia, Orquestra Típica, ADEPA, Banda de Alcobaça, Associação de
Chiqueda, Associação para o Desenvolvimento de Alcobaça, Clube Rotário
(refundado) e Bombeiros Voluntários.
Também
participou nas comissões organizadoras de várias edições da Feira de S.
Bernardo, na Homenagem ao Maestro Belo Marques e à cantora Maria de Lurdes
Resende, na Comissão Promotora da Elevação de Alcobaça a Cidade.
Pessoa
de temperamento e discurso, por vezes muito inflamados, foi homenageado em 1995
por amigos com um jantar de reconhecimento profissional.
-Faleceu
em 10 de junho de 2016.
Gaspar,
Ana Margarida,
com 16 anos de idade, natural de Pataias, foi eleita no sábado, dia 30 de
novembro de 1966, Miss Pataias 96, em desfile que teve lugar na sede do Clube
Desportivo Pataiense.
A
sede do Clube encheu para ver desfilar as dezasseis jovens concorrentes,
oriundas dos diversos lugares da freguesia e todas com idades compreendidas
entre os 15 e os 21 anos.
Lara
João, de 17 anos, residente nos Pisões, foi eleita Primeira-dama de Honor e
Nélia Augusto, de 21 anos, natural de Pataias foi eleita Segunda Dama de Honor.
Como Miss Simpatia foi eleita Sónia
de 18 anos, residente na Burinhosa e Ana Margarida Gaspar acumulou o título de
Miss Freguesia de Pataias com o
título de Miss Fotogenia.
Tendo
como pano de fundo o Rossio de Pataias, as aspirantes ao título da noite,
apresentaram-se em três momentos distintos. Desfilaram, num primeiro contacto
em roupa desportiva. Seguiu-se um intervalo, durante o qual atuaram Os Mareantes, grupo recém-formado de
música popular portuguesa. Sempre ao som do DJ Sérgio Ribeiro, o espetáculo
prosseguiu, com um segundo desfile, desta vez em fato de banho. Seguiu-se mais
um intervalo que contou com uma demonstração de aeróbica pelo Ginásio Kulto.
-Miss
Pataias 96, classificou a deslocação ao Palácio de Belém e à Assembleia da
República, proporcionada no dia 9 de abril de 1997, a todas as concorrentes a
Miss Pataias 96 como um prémio original diferente.
O
prémio cultural prometido pela Junta de Freguesia no desfile que teve lugar em
finais de novembro de 1996 concretizou-se agora, aproveitando-se as férias da Páscoa pelo que quase todas as
concorrentes a misses participaram no passeio. O objetivo, era segundo António Ascenso, Presidente da Junta de
Freguesia, levar as concorrentes a
conhecer os locais onde funcionam estes dois órgãos de soberania.
De
acordo com o prometido, a visita começou com uma deslocação ao Palácio de
Belém, residência oficial do Presidente da República, onde as visitantes
puderam conhecer ao vivo alguns dos espaços frequentemente mostrados pela
televisão. Seguiu-se um almoço convívio oferecido pela Junta de Freguesia num
restaurante da capital, findo o que a comitiva se deslocou até Assembleia da
República, onde era aguardada pelo deputado alcobacense Arnaldo Homem Rebelo.
A
comitiva, composta pelas participantes no
desfile, elementos da Direção do Clube Desportivo Pataiense e Junta de
Freguesia, visitou depois a Assembleia da República e puderam assistir ao
início de uma sessão do Plenário.
Gaspar,
Luís Nuno Ferreira Pessoa, nasceu na Figueira da Foz em 30 de junho de
1971, no seio de uma família conhecida e respeitada, tendo aí feito os estudos
não universitários.
Licenciado pela FDUL Lisboa em 1994, efetuou
pós graduação em Direito do Trabalho, pelo IDET/FDUC, em 2013. Encontra-se
inscrito na Ordem dos Advogados, desde 04.11.1996.
Exerce advocacia, preferencialmente na
Figueira da Foz, embora também tenha escritório em Alcobaça.
Advogou 5 anos em Lisboa com Veiga Gomes,
Bessa Monteiro, Marques Bom, Vítor Cruz e Associados.
Em 2000, abriu escritório na Figueira da Foz e
em Alcobaça, neste último caso com Fleming de Oliveira, seu sogro.
Foi presidente de diversas assembleias gerais
de sociedades anónimas, das quais salineta, Saprogal Portugal, S.A., Sapropor,
S.A.,Thanda Vantu SGPS, S.A., Sintagma, S.A., Alberto Gaspar, S.A., neste
último caso de que foi, igualmente, administrador por 3 anos.
É Presidente da Assembleia Geral de DSP, S.A.
A advocacia que exerce, aliás de forma muito
distinta, destina-se, essencialmente, à
assessoria preventiva a empresas nas áreas do direito de trabalho e comercial.
É vogal do Conselho de Deontologia do Conselho
Regional da Ordem dos Advogados de Coimbra e foi reeleito para o triénio
(2017/2019).
O
ténis tem sido o desporto favorito, sendo que desde 2014 é federado. Em
2016 ocupa o nº 15 nacional de mais de
40 anos. É campeão regional de mais 45 anos, nas modalidades de singulares,
pares mistos e inter-equipas.
O
runing e a participação em meias e minis maratonas (como a de São Silvestre), são a segunda paixão
desportiva.
Não substitui uma boa tarde de campo,
por uma vida citadina. Gosta
de boa companhia dos amigos.
-Aprecio um espumante e bom vinho tinto e acredito
que a juventude é um estado de espirito.
Gedeão,
Aníbal Franco, filho de Manuel Gedeão e de Joaquina Franco Gedeão, casou
com Graciette da Silva Figueiredo.
Graças
à profissão do pai, militar profissional do Exército, estudou e viveu em localidades
como Leiria, Figueira da Foz e Coimbra, tendo terminado o curso do liceu no
Colégio Correia Mateus, em Leiria. Licenciou-se em Medicina e Cirurgia pela
Universidade de Coimbra, em 1951. Exerceu clínica geral em consultório
particular, de 1952 a 2004, sito na Rua Alexandre Herculano, Alcobaça, fez
estágio de pneumo-tisiologia no Sanatório de ANT/Coimbra e o Curso de
Ciências Pedagógicas na Universidade de Coimbra nos anos de 1963/1964.
Foi
médico da Santa Casa da Misericórdia de Aljubarrota de 1953 a 1966, do Hospital
de Nossa Senhora da Nazaré de 1955 a 1969, da Clínica D. Dinis, na Marinha
Grande, de 1969 a 1978, do Hospital Concelhio de Alcobaça de 1967 a 1976,
serviço que interrompeu de 1972 a 1974.
Em
todos estes hospitais, teve funções de clínica geral, pequena cirurgia,
ajudante de cirurgião, obstetrícia e traumatologia.
Foi
instrutor dos Cursos de Socorrista da DCT, médico escolar na Escola Técnica de
Alcobaça /E.T.A. de 1963 a 1967, legista e perito de exames forenses do
Tribunal de Alcobaça de 1969 a 1985 e especialista de Medicina Interna do Lar
Residencial de Alcobaça de 1981 a 1997.
Aníbal
Gedeão foi incorporado a 10 de agosto de 1952 e passou à disponibilidade em
novembro de 1974. Fez recruta na Escola Prática de Infantaria, foi médico
interno no Hospital Militar Regional nº.2/Coimbra e durante 13 anos médico
militar como Capitão miliciano/Chefe dos Serviços de Saúde do Regimento de
Infantaria nº 5, onde foi alvo de 4 louvores, Tenente Coronel miliciano/Chefe
dos Serviços de Saúde dos Serviços de Saúde do Setor A de Moçambique/Niassa e
Diretor da 1ª. Enfermaria Regional, também do Setor A, alvo de louvor pelos
serviços prestados aos militares e à população do distrito de Vila Cabral.
Faleceu
no Hospital da Universidade de Coimbra a 15 de junho de 2006, tendo nascido em
Leiria a 30 de janeiro de 1927.
-Gedeão,
nasceu em janeiro de 1927 em Leiria, dois dias antes do tempo previsto.
Segundo
contou ao Região de Cister, a mãe preparava-se para ir ter o bébé em
casa da avó, na Cela. Ao entrar no carro tropeçou e bateu com a barriguita e eu
nasci nessa noite, em Leiria, acidentalmente.
No entanto, fui batizado na Cela, como
várias gerações de antepassados.
O pai
era militar, o que fez com que a família tivesse vivido nos locais para onde
era deslocado. Assim, esteve em Leiria até à 2ª classe da instrução primária,
depois na Figueira da Foz e daí seguiu para Coimbra.
Da
cidade universitária, só partiu após concluir o curso de medicina
contrariamente ao que tinha pensado em rapaz, para a sua carreira profissional.
Efetivamente sempre tinha estudado no sentido de seguir engenharia, mas ao
efetuar o exame de aptidão à Universidade, reprovou.
Dois
dias depois fez o exame de recurso para entrar em medicina. Disciplinas eram
idênticas como física, química, matemática e ciências que contribuíram, assim,
para a passagem do exame. Medicina seria o curso que o acompanharia ao longo da
vida. Em 1951, terminou a Licenciatura de Medicina Cirúrgica. Mais não escapou ao Ultramar
(Moçambique), onde a Frelimo lhe atribuiu um louvor, pela maneira como tratou a
população.
-Gedeão
dizia que não gostav de política,
considerando-se apartidário. Futebol também não apreciava especialmente,
embora tenha jogado, na Académica de Coimbra, enquanto júnior.
Com origens rurais, sentia-me muito
ligado à terra tendo havido uma altura em que fui mesmo lavrador.
Quanto
aos amigos, dizia que não s«era capaz de os consultar/medicar, enquanto médico.
Reformado
da função pública continuou a exercer no consultório privado na Rua Alexandre
Herculano, Alcobaça.
-Espingardas,
pistolas, punhais e outros tipos de armas, fazem parte da coleção de Aníbal
Gedeão, que afirmava que tenho aqui peças
que contam a história da evolução das armas.
Colecionador
apaixonado, Aníbal Gedeão, reuniu exemplares, entre os quais um bacamarte do
tempo das invasões napoleónicas, uma clavina do Zé do Telhado, uma pistola de
João Brandão, outra do Remexido, um trabuco espanhol, uma espingarda de
pederneira. Só não tenho uma G3 porque
não quero.
A
coleção, cuja visita era inicialmente reservada a amigos, abriu-se em 1996 ao
público. Aníbal Gedeão, ao pegar em cada uma das armas fornecia explicações
pormenorizadas, mostrando que para além da medicina, também tinha conhecimentos
em instrumentos bélicos e da história de cada um. Dizia que começou a
colecionar armas, sem nunca ter comprado alguma.
Muitas
das que estão em seu poder, são do tempo das invasões francesas. Afirmava que
as pessoas que as tinham escondiam-nas, por exemplo, entre os barrotes dos
telhados e se esqueciam delas. Só mais tarde começaram a aparecer. Depois, tudo
foi uma questão de gosto por preservar, recuperar e guardar as armas, todas sem
munições e desativadas, como determina a lei.
Assim
formou uma coleção, que ocupa duas salas do piso térreo e que daria um
interessante museu.
Gerardo,
António Carvalho, conhecido como Cuco, nasceu em Chiqueda a 15 de junho
de 1937 e faleceu a 30 de janeiro de 2012.
Cuco é uma alcunha muito antiga e de família, que vem do tempo
de seu pai José. Cuco, porque este
quando apascentava cabras em Chiqueda e ouvia cantar um cuco, imitava-o muito
razoavelmente passando a ser conhecido desta maneira.
Foi uma pessoa consensual e especialmente
estimada em Alcobaça, transversal a idades, políticas e meio social.
Aquando
do falecimento, a imprensa de Alcobaça não deixou de lhe dar o devido destaque,
pelo que se irá aqui invocar os depoimentos de JERO (in O Alcoa) e Jorge Barros
(in Voz de Alcobaça).
Não é fácil falar
deste homem sem esconder emoção. Visitámos a sua última casa em vida, há cerca
de mês e meio.
O Gerardo, que foi
toda a vida um homem pacífico e bom, vivia revoltado nos meses que antecederam
a sua partida.
Com a ajuda da Diretora
Maria da Luz conseguimos estar à conversa com o António durante uns minutos.
Oferecemos-lhe um livro que, entre várias histórias, recordava os jogos do
Cabeço. Quando lhe recordámos que ele jogava a avançado-centro em cima da linha
de baliza do adversário, de imediato se lembrou do Palma Rodrigues, o
guarda-redes. Juntamente com o Provedor João Carreira falámos de outros tempos
e o Gerardo deu resposta certa e imediata a vários temas: "Paguei 12
contos para o Carlos Lopes correr em Alcobaça", foi uma das suas
"tiradas".
Saímos do seu quarto
sentindo que toda aquela gente que o rodeava, o estimava e o tratava o melhor
possível.
Foi uma
"despedida".
Até sairmos da
Misericórdia não nos foi possível deixar de lamentar, com quem nos acompanhou
na visita, como a vida estava a ser cruel para um homem tão bom.
A história de vida do
António Carvalho Gerardo atingiu alguns patamares invulgares.
Nasceu em Chiqueda de
origens humildes e 3 décadas depois de ter ingressado na Resinagem
Nacional, como moço de recados, sentava-se à mesa de reuniões da empresa como
adjunto da administração!
Em 12 de fevereiro de
1982 foi organizado em sua honra um almoço de homenagem. Em Santo Antão, na
Batalha, 125 amigos elegeram-no como o carola nº. 1 de Alcobaça.
O Alcoa publicou então
3 artigos onde se referia a presença imprescindível de António Gerardo em
comissões organizadoras das Feiras de São Bernardo, no Carnaval, nas festas dos
Santos Populares, na Volta à Portugal em Bicicleta, nos Grandes Prémios de
Atletismo, nos jogos de Andebol, no Futebol de Salão, no Tiro aos Pratos, etc,
etc..
Durante anos e anos
pertenceu a direções dos Bombeiros Voluntários de Alcobaça. Era carinhosamente
tratado pelo Bombeiro "18A".Também aí foi distinguido e homenageado
como Bombeiro Honorário.
Permaneceu solteiro e
pode-se dizer que dedicou a sua vida a causas sociais da sua Alcobaça.
O Carola nº. 1 deixou
em aberto um lugar muito difícil de preencher.
Alcobaça fica-lhe a
dever muito.
Adeus Amigo.
E mais uma vez muito obrigado por tudo quanto fizeste pela nossa
Alcobaça.
-No referido almoço, a esse digno e
exemplar cidadão, foi oferecido um trofeu com a legenda Ao Carola nº1-Alcobaça agradecida, trofeu instituído pela primeira (e
única) vez.
-Jorge
Barros, no Voz de Alcobaça, de 27 de dezembro de 2012 (aliás o último número do
jornal que a seguir encerrou) contou que na
manhã de um de julho de 1958 iniciei o meu primeiro emprego apadrinhado pelo
António para o substituir como paquete na Resinagem Nacional em virtude de ele
ter sido apurado nas sortes para ingressar na tropa. “Oh pá não te esqueças de
entrar aqui com o pé direito”, aconselhou-me precisamente quando se ouviam as
nove badaladas nos melodiosos sinos das torres do Mosteiro. Na minha
irreverência de cachopo, saltei a soleira da porta a pés juntos, o que o deixou
desagradado e talvez desconfiado. Felizmente a tropa não o quis e voltou ao
escritório. Trabalhámos juntos vários anos, com a particularidade de mantermos
essa ligação no curso noturno da Escola Técnica que frequentávamos. Chegámos
mesmo a atuar juntos numa récita, interpretando o papel dos diabos no Auto da
Alma, de Gil Vicente. Essas festas proporcionavam uma convivência saudável
entre professores e alunos de que nos ficou uma memória infinita. O António
Gerardo foi conselheiro e confidente, protegendo-me de muitas diabruras de
adolescente. Depois ainda que geograficamente distantes, mantivemos
inalteráveis os laços da nossa ligação de sempre. Para a sociedade alcobacense
e para as gentes da sua terra natal – Chiqueda – ele foi um cidadão dinâmico,
dedicado e altruísta, nunca regateando o fervilhante entusiasmo, o vasto saber,
a disponibilidade permanente e discreta, bem patentes do contributo dado a
várias coletividades e iniciativas. Viveu amargurado uma doença que se recusou
a aceitar, quase parecendo cultivar uma solidão interior que muitas vezes nem a
companhia de familiares e amigos conseguia vencer.
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