terça-feira, 22 de janeiro de 2019



NO TEMPO DE PESSOAS “IMPORTANTES” COMO NÓS

50 Anos da História de Alcobaça Contada através de Pessoas


Silva, Luís Manuel Henriques da, mais conhecido entre os amigos como Luisinho, é casado, e tem dois filhos.
Natural de Porto de Mós, veio residir em Alcobaça com 12 anos, para trabalhar na Pensão /Restaurante Corações Unidos, com Celeste Soares e José Pires.
D. Celeste foi uma Senhora que fez muito pela indústria hoteleira ao nível nacional. Tenho muito orgulho em ter trabalhado e aprendido com ela, afirma.
Quando saiu dos Corações Unidos, foi trabalhar para o Café Roma, antes de ser sócio durante 12 anos do Café/Restaurante Trindade.
Posteriormente, abriu o Restaurante O Telheiro, casa afamada e que, no seu entender, foi uma dos melhores restaurantes de Alcobaça.
O Telheiro não era propriamente para todas as classes sociais, mas não para o Jet-Set, como se dizia. As pessoas é que o qualificavam como tal.
No Restaurante O Telheiro um dos pratos típicos era o Frango na Púcara, feito durante cerca de 40 anos pela cozinheira Maria Agripina.
Silva Jr., Luís Salvador Marques da, conhecido como Luís Salvador, Jr., nasceu em Lisboa em 21 de julho de 1896.
Pertenceu a uma dinastia de artistas, pois seu avô, João Salvador Marques da Silva, foi jornalista, autor teatral (entre outras escreveu a peça Os Campinos) e empresário teatral em Lisboa.
Seu pai, Luís Salvador Marques da Silva, dedicou-se inteiramente à cenografia, seu irmão Mário Salvador Marques da Silva foi aguarelista de renome, e o irmão Eugénio Salvador Marques da Silva, ganhou popularidade no teatro de revista (como muitos ainda se lembrarão), mas também tinha vocação para as artes plásticas.
Dois dos seus filhos, Luís e Fernando Salvador Marques da Silva, o primeiro arquiteto e o segundo Pintor e Professor de Desenho, continuaram a dinastia.
-Luís Salvador Jr, trabalhou desde os 12 anos ao lado do pai em cenografia, o que lhe valeu mais tarde idealizar duas cenas, uma para a representação de A Ceia dos Cardeais, e outra para a Soror Mariana, e em Évora pintar o claustro do liceu, para com vista a uma récita de estudantes.
Frequentou a Escola de Belas Artes de Lisboa de 1912 a 1919, tendo como mestre Veloso Salgado, que o estimava, considerava e que o convidaria, no final do curso, para o ajudar a executar a tela de grandes proporções As constituintes de 1820, que figura na Sala das Sessões da Assembleia da República (Luís Salvador terá executado ao que se diz cerca de 2/3 do fresco, sem ficar com a respetiva fama).
Foi companheiro de João Reis Varela Aldemira, Fernando Santos, Carlos Bonvalot, Helena Bourbon e Menezes, Cotinelli Telmo, Leopoldo de Almeida, Raúl Xavier, Leitão de Barros e Pardal Monteiro.
Como professor do Ensino Técnico, esteve nas escolas de Mirandela, Alcobaça (onde foi professor entre 1924 e 1930, na Escola de Artes e Ofícios Bordalo Pinheiro, que funcionou para as bandas da Rua Costa Veiga, e realizou a tela o Sacristão do Mosteiro de Alcobaça e nasceram dois dos três filhos, o mais velho no próprio mosteiro, em cujos anexos viviam pessoas), Évora e Lisboa (Marquês de Pombal e Francisco de Arruda). Em Alcobaça, foi muito bem acolhido tendo criado uma forte relação afetiva e alimentado o sonho de se criar o Museu de Pintura. Luís Salvador teve intenção (confirmada por um filho) de por morte, doar parte da sua obra de pintura a Alcobaça. Todavia, quer pelo lado do Estado, como pelo da Autarquia, nunca se chegou a acordo com os herdeiros e o projeto gorou-se.
Está representado, no Museu Nacional de Arte Contemporânea (Lisboa), Soares dos Reis (Porto) José Malhoa (Caldas da Rainha), Museu Cidade da Figueira da Foz, Museu Grão-Vasco (Viseu).
É detentor da Medalha de Honra da Sociedade Nacional de Belas Artes, 1º e 2º prémios Roque Gameiro, em Aguarela, e 1ª medalha do Salão do Estoril, em cujo Museu está  representado com a aguarela A Fonte da Maruja.
É caso raro, senão único, um artista atingir as mais altas distinções nas duas modalidades, óleo e aguarela.
Foi Mestre de Aula de Aguarela, na Sociedade Nacional de Belas Artes.
É simultaneamente grande retratista, paisagista, pintor de costumes, pintor de interiores, pintor de natureza mortas, pintor de marinhas, em ambas as modalidades e talvez, como nenhum outro, da sua geração.
-Luís Salvador Jr. faleceu em 1986.
Silva, Manuel Ângelo da, foi durante cerca de 40 anos Regedor da Freguesia de S. Vicente de Aljubarrota e 13 anos vereador da Câmara de Alcobaça.
Conhecido, em certos meios, como Governador Civil de Aljubarrota, dada a influência ou suposta influência política, a proximidade com o poder e o regime do Estado Novo, tinha a fama de usar, abusar e até, se necessário, inventar influência, para daí retirar algumas benesses.
Com um chapeuzinho preto no alto da cabeça, de fato escuro completo e sapatos engraxados, dava ares de ser pessoa de posses e influente, tanto mais que era o Comandante da Legião Portuguesa, em Aljubarrota, instituição a que se dedicava com muito empenho e que gostava de invocar. Foi no seu tempo que esta foi equipada com espingardas Mauser, substituindo as extravagantes e pitorescas armas de madeira, utilizadas em exercícios.
Como louvado da Repartição de Finanças e perito do Tribunal, era vulgar vê-lo entrar nos serviços com à vontade e perante a complacência dos funcionários, começar a folhear processos, solicitar informações e até dar opimiões.
-O Voz de Alcobaça, de 31 de janeiro de 1975, pela pena do impenitente, truculento anticlerical e prolixo correspondente de Coz, Barbosa Rodrigues, pediu o saneamento do pároco de Coz, que continua mistificando as pessoas e a própria religião.
Não era este a única pessoa que os antifascistas de Coz e Alcobaça pretendiam sanear, alegadamente incapazes de viver os novos tempos revolucionários.  A atenção do jornal incidiu ainda sobre Manuel Ângelo da Silva, qualificado como cacique da borda da serra e ex-comandante da Legião Portuguesa de Aljubarrota, que não obstante se encontrar em estado de falência, continuava a exercer o cargo de Provedor da Misericórdia de Aljubarrota e de Louvado, inscrito na Repartição de Finanças.
De acordo com o mesmo jornal, Manuel Ângelo da Silva serviu durante largos anos o regime fascista, pressionando as pessoas dos lugares onde preponderava e o seu domínio foi tão nítido e demorado que jocosamente o alcunhavam de Governador Civil de Aljubarrota.
-De facto,Manuel  Ângelo da Silva  foi pessoa ligada ao regime, o que nunca escondeu, mas não consta que fosse muito mais que isso.
Silva, Manuel Lemos Pereira da, com o pseudónimoSomel, nasceu a 27 de setembro de 1924 em Albergaria-a-Velha.
-Tendo chegado a Alcobaça em tenra idade, sentia-se alcobacense de alma e coração, sendo esta definitivamente a terra que era tudo para ele.
Trabalhou na Cruz de Cristo Ld.ª, desempenhando todas as funções, embora fosse especialista na reparação de esquentadores a gás.
Em rapaz, fez parte do Rancho O Alcoa e ao longo de algumas dezenas de anos colaborou graciosamente com o Jornal O Alcoa (era amigo pessoal de Mário Vazão), através de pequenos apontamentos em que sob o anagrama de Somel chamava a atenção, em termos alegadamente construtivos, para os pequenos problemas da vila. Era a rubrica Passeando pela Cidade – Crítica Construtiva, com a última publicação a 4 de maio de 2011.
Pessoa de esmerada educação, incapaz de se incompatibilizar com alguém, Manuel Lemos deixou saudade entre os amigos, como realçou Mário Vazão.
A partir de 25 de abril, começou a estar presente, discreta e pacientemente,  em todas as sessões (à segunda-feira de tarde) da Câmara Municipal, inicialmente sentado no espaço reservado ao público (de vez em quando tomando breves apontamentos em papeis avulsos) e depois a aproximar-se do executivo (Miguel Guerra, Fleming de Oliveira, José Rafael Serralheiro, Mário Tanqueiro, Eduardo Vieira Coelho, Martiniano Rodrigues e Manuel Ferreira Castelhano) e a emitir benevolamente, como que inadvertidamente, pequenas opiniões (benevolamente também e com um sorriso censuradas pelo Presidente Miguel Guerra).
Com o tempo, foi criando alguma familiaridade com a vereação, passando a ser conhecido pelo Sétimo Vereador (a vereação tinha 7 elemento…) que raramente faltava e, que por vezes, levava algumas bolachinhas ou rebuçados, que distribuía sub-repticiamente quando havia uma pausa.
Com Gonçalves Sapinho, Manuel Lemos passou a ter presença autorizada, apenas nas sessões abertas ao público (decisão tecnicamente correta), ou seja, quinzenalmente.
Manuel Lemos representou o Alcobaça Futebol Clube, foi atleta e dirigente do Ginásio Clube de Alcobaça, integrou os órgãos diretivos da Banda de Alcobaça (antes e depois do seu ressurgimento) e da inicial Orquestra Típica e Coral.
-Faleceu no dia 24 de agosto de 2014, no Hospital de Alcobaça.

Sem comentários: