terça-feira, 22 de janeiro de 2019



NO TEMPO DE PESSOAS “IMPORTANTES” COMO NÓS

50 Anos da História de Alcobaça Contada através de Pessoas


Veigas Alexandre, Joaquim, nasceu a 1 de junho de 1938 no Bárrio, aonde vive e trabalha, no seio de família de seis filhos, cujos pais eram pequenos agricultores e a mãe fazia costura.
Estudou até à quarta classe numa escola que funcionava no espaço atualmente ocupado pela Junta de Freguesia, tendo tido como professoras Dª. Júlia e Dª. Joaninha, que recorda com saudade e respeito.
J. Veigas Alexandre cumpriu apenas dois meses de serviço militar, ao fim dos quais passou à disponibilidade por incapacidade física, que aliás, não o afetou ao longo da vida. Depois de ter trabalhado algum tempo na agricultura, empregou-se na Crisal durante 44 anos. Quando trabalhava nesta empresa era autarca autorizado a tratar de problemas da Junta, nomeadamente na Câmara Municipal, pelo que tinha licença para se deslocar lá pelo tempo necessário.
Diz que desde pequeno sempre se interessou pelos problemas da sua Terra, pelo que pode concluir que é um autarca nato, dado haver desempenhado todos os cargos no Executivo da Junta (Presidente, Secretário e Tesoureiro), bem como Presidente da Assembleia de Freguesia durante vários mandatos. Mas não só. Esteve na Direção do Centro Paroquial durante mais de 30 anos tendo ocupado a Vice-Presidência e o lugar de Secretário.
Veigas Alexandre entende o serviço público no enquadramento da sua preocupação de poder conceder aos conterrâneos o maior número possível de benefícios. Diz que nunca se deixou ir abaixo, nunca se sentiu desmoralizado definitivamente com os problemas que lhe iam surgindo, pois sabia que podia contar com a colaboração dos seus conterrâneos se tal se revelasse necessário. Há trinta ou quarenta anos no Bárrio ainda faltava muita coisa, havia incontáveis necessidades, e graças ao empenho da autarquia algumas delas foram supridas.  Hoje em dia já não sendo rapaz, ainda sente disponibilidade e vontade de colaborar com a comunidade, limitando-se a ser vogal da Assembleia de Freguesia e depois de ter passado algumas funções que desempenhava, como por exemplo, no Centro Paroquial.
-Nos tempos disponíveis dedica-se a uma agricultura familiar, bem como à criação de animais para consumo doméstico. Os seus cinco netos são o seu grande orgulho e alegria, e pode dizer que vai frequentemente levar e buscar à escola um deles. Veigas Alexandre está habituado a lidar com pessoas e lembra que na Crisal foi encarregado da secção de acabamentos, aonde lidava com cerca de 40 pessoas, na maioria mulheres. No Centro Paroquial também tinha sobre a sua direção umas dezenas de pessoas. Tem por isso, paciência, capacidade de encaixe perante as reclamações que por vezes são complicadas e nem sempre muito apropriadas ou mesmo justas. Sem dar ares de se estat a gabar, reconhece que os autarcas do Bárrio frequentemente lhe pedem opinião sobre assuntos de interesse coletivo antes de decidirem. Quando, muito concretamente trabalhava com o Presidente da Junta Orlando Marques, sabia normalmente quais as questões que ele iria apresentar, mesmo que fossem além da ordem de trabalhos.
-Ventura, António Rodrigues, nasceu na freguesia do Juncal, a 24 de agosto de 1939.
Aos 12 anos, ingressou no Seminário de Leiria onde estudou durante 9 anos. Querendo continuar a estudar, foi para Salamanca, e durante 5 anos, estudou Filosofia na Universidade Pontifícia (que abriu as portas aos leigos) e fez a respetiva licenciatura. Porque os pais não lhe podiam pagar os estudos, durante as férias do Verão ia trabalhar para a Alemanha, a lavar loiça em restaurante. Regressado a Portugal, entrou como professor no Colégio de S. Miguel, em Fátima, mas foi chamado cumprir o serviço militar durante 3 anos, como Psicólogo, em Caxias, sem prejuízo de dar aulas ao Colégio Salesiano, no Estoril. Terminado o serviço militar, conseguiu lugar de Professor de Religião e Moral na Escola Técnica de Alcobaça. Quando passou a ser Escola Secundária D. Inês de Castro lecionou História, Filosofia, Psicologia e Alemão, durante 36 anos.
Em 1974, foi eleito Presidente do Conselho Diretivo.
-António Ventura, diz que é por natureza e formação um idealista que entrou com entusiasmo para o ensino, ainda antes do 25 de abril.
Sendo a sua área de interesse, a Filosofia e esta intrínseca da liberdade, o 25 de Abril surgiu-lhe como um rasgar de horizontes, sentindo que podia daí em diante transmitir aos alunos, valores que trouxera aprisionados. Com o passar dos meses, esse entusiasmo foi arrefecendo, pois viu entrar na escola, não uma lufada de ar puro, mas uma tendência para o facilitismo, o desprezo pela disciplina e exigência. Os professores eram incentivados a explicar os quarenta anos da governação salazarista e a necessidade de acabar com o capitalismo, explorador das massas e especialmente do operariado. Sentia ódio no ar, dirá mais tarde. Apesar de permitir, nas aulas, liberdade de expressão, António Ventura não condescendia com a falta de respeito ou indisciplina, e punha na rua quem as quisesse perturbar.
Os meus alunos aprendiam que, juntamente com a liberdade, tem que existir o respeito e que não há liberdade sem esse respeito mútuo, acrescenta. É casado com Maria Teresa Figueiredo.
António Ventura dividia o tempo a lecionar Filosofia, Psicologia, História  e a ser Presidente  do Conselho Diretivo da Escola D. Inês de Castro. O tempo que lhe sobrava era para ajudar a esposa e explicar aos hóspedes, os locais mais importantes  a visitar no Concelho de Alcobaça. Os 18 anos na Casa da Padeira foi tempo de muitos contactos, de muito ensino e de muita aprendizagem que jamais esquecerei.
António Ventura logo que se reformou começou a dar aulas das suas disciplinas preferidas na Universidade Sénior de Alcobaça como Filosofia, Cultura Geral e Alemão e, como inscrito no Voluntariado da Câmara Municipal de Alcobaça, dá aulas de Alemão a jovens e menos jovens.E como manter-se ativo é a sua prioridade, ainda faz as figuras de Pedro e Inês, em barro, que se vendem no Mosteiro de Alcobaça e escreve crónicas para o Região de Cister.
Vergas Alexandre, António, nasceu a 21 de novembro de 1932 em Casal Fanheiro.
Fez a Instrução Primária no Bárrio e o Liceu nos Seminários de Santarém e Almada. Dado não ter vocação para o sacerdócio (embora fosse muito religioso) abandonou o seminário, mas teve de fazer os exames do 2º. e 5º. Anos, para obter equivalência ao ensino oficial, frequentando para esse efeito o Externato Alcobacense.
Casou com Antonieta Lorvão Agostinho, em 8 de setembro de 1957, que dele mantém uma saudosa recordação.
Matriculou-se na Faculdade de Direito de Coimbra em 1975, terminando o curso em 6 de outubro de 1981, e depois de ter feito o estágio com o Dr. João Meca Zarro, passou a partir daí a dedicar-se exclusivamente à advocacia (inscrição na OA em 19 de dezembro de 1983 e ced. prof. nº.1897c) em Alcobaça com escritório na Rua Alexandre Herculano, 42-1º, durante cerca de 30 anos. Antes disso foi funcionário judicial em Alcobaça, Torres Vedras, Lisboa, Lousada e de novo Alcobaça (Escrivão de Direito).
Fez parte da administração do Hospital, dos corpos sociais da Banda de Música, foi Presidente da Assembleia Geral do Ginásio de Alcobaça e duas vezes vereador, uma das quais em consequência de uma desinteressante candidatura à Presidência da Câmara, que não logrou vencer.
Foi um advogado conceituado.
-Faleceu, subitamente, a 25 de março de 2011.
Verrill, Concepcion Citron, mais conhecida no meio taurino como Conchita Citron, nascida no Chile a 9 de agosto de 1922, embora por muitos considerada peruana, dado neste país ter vivido desde muito nova, e que na década de 1950 atingiu alguma notoriedade em Portugal, frequentou em Alfeizerão com assiduidade e regularidade, a quinta que pertenceu a Vitorino Fróis.
Conchita Citron veio para a Europa para tourear em Espanha, o que lhe não foi permitido pelo franquismo (receio que uma cornada a pudesse desnudar em plena praça). Impedida, portanto, pelas leis espanholas de ser matadora de touros, tornou-se cavaleira tauromáquica, vindo para Portugal. O preparador dos seus cavalos, foi o cavaleiro José Tanganho, de Caldas da Rainha, mas que também trabalhava em Alfeizerão.
-Conchita Citron deixou marca, em Portugal, como a criadora do cão de água português, raça em vias de extinção, através de Vasco Bensaúde, homem muito rico, e criador de cães, registados todavia em nome do filho Filipe e, como tal apresentados em exposições. Bensaúde tomou conhecimento da existência de uma bem-sucedida criadora de perdigueiros portugueses, Conchita Citron, casada com o português, D. Francisco Castelo Branco e que os criava numa quinta situada perto de Setúbal, a Quinta do Índio,  onde também se dedicava à escrita das memórias, ao jornalismo como correspondente de jornais latino-americanos e à criação do Perdigueiro Português. Um dia Bensaúde, convidou Conchita Citron e marido para almoçar, onde lhe fez a proposta de ficar com o seu canil, como herança, pois não tinha herdeiros interessados. Conchita nunca mais viu Vasco Bensaúde, nem os seus cães e este veio a morrer em Agosto de 1967, pelo que a família contactou-a para vir reclamar a herança. Conchita Citron, levou os 14 cães do canil Algarbiorum, de Bensaúde, para a Quinta do Índio, juntamente com os respetivos ficheiros.
Registou o seu novo canil, com o nome Al-Gharb e iniciou a criação e a apresentação dos cães de água, em exposições e concursos.
Achava que os esforços de Vasco Bensáude na seleção, recuperação e preservação da raça, mereciam ser reconhecidos mas, considerando Portugal um país de gente sem recursos para manter tão maravilhosos cães, recusava-se a vende-los para o mercado nacional, sendo apenas alguns oferecidos a pessoas de extrema confiança e jamais fêmeas, pelo que poucos fugiram ao seu controle.
Com o 25 de Abril de 1974, algumas pessoas saíram do país e abandonaram propriedades ocupadas por trabalhadores com o apoio dos sindicatos e do Partido Comunista. Foi o caso da Quinta do Índio em 1975, então com 32 cães de água, muitos dos quais foram soltos ou fugiram pelo que quando, D. Francisco de Castelo Branco conseguiu ir à propriedade, apenas restavam 15 cães, a maioria gravemente doentes. Levou-os ao Canil Municipal de Lisboa para abate, mas segundo o enfermeiro de serviço, alguns poderiam ser salvos, tendo-se assim recusado a abater 3 animais.
Francisco Castelo Branco levou de volta esses 3 cães, mas nunca mais ninguém soube deles.
Conchita Citron, portuguesa por casamento, pouco depois saiu do país com a família rumo ao México, aonde esteve até finais da década de 1980, não mais tendo voltado, ao que consta, a Alfeizerão.
Conchita Citron continuou a ser uma referência para as mulheres que tentaram singrar no mundo taurino e apesar de já não poder atuar, foi madrinha de alternativa de Ana Batista.
Em Agosto de 1995, o Governo Português atribui-lhe a Medalha de Mérito Cultural.
-Conchita Citron faleceu em Lisboa, a 17 de fevereiro de 2009.
Leia-se Fleming de Oliveira em No Tempo de Salazar, Caetano e Outros e aqui Cavaleiros Tauromáquicos.
Vicente, David Marques, Marine norte-americano, filho de emigrantes portugueses, naturais de Alfeizerão, faleceu com 25 anos de idade no Iraque no dia 19 de março de 2004, depois do veículo onde seguia ter sido atingido por um engenho explosivo.
Este luso-americano nascido em Methuen/Mass., especialista em metralhadoras e helicópteros de guerra, estava a prestar serviço no Iraque há um mês e oito dias. David Vicente tinha fortes raízes no concelho de Alcobaça e um dos seus destinos preferidos de férias era a freguesia de Alfeizerão, pois os seus pais são naturais de Cadarroeira e Casal do Aguiar. Antes de partir para o Iraque terá dito aos familiares que nas férias viria até Portugal na companhia da namorada. Quando visitava Portugal gostava de caminhar pelos terrenos agrícolas e desde pequeno se interessava por armas e roupas camufladas, o que de certo modo terá sido decisivo para vir a ser um orgulhoso Marine. O pai exibia em casa dos Estados Unidos uma tarja que dizia sinto-me orgulhoso de ser pai de um marine.
Segundo a imprensa norte-americana David M. Vicente foi o primeiro soldado de Methuen (terra onde vivem os pais e onde nasceu) a falecer em combate no Iraque.
Vicente dos Santos, Marta Alexandra do Rosário Luís, que usa normalmente Marta Luís, nasceu na Nazaré, em 30 de novembro de 1972, filha de Gracinda do Rosário Luís e de Joaquim Francisco Vicente dos Santos. 
Viveu até aos 22 anos em casa dos pais em Vale Conqueiro, antigo lugar das Covas de Mendalvo, onde aprendeu a pintar loiça, e entrou no mercado de trabalho com 14 anos, como decoradora artística de faiança. Estudou em Alcobaça desde a pré escola no Jardim Escola João de Deus, passando pela Escola Primária, a Escola Frei Estevão Martins, e a Escola Secundária Dona Inês de Castro, aí concluindo o ensino secundário. Tem formação profissional nas áreas de jornalismo, animação e rádio, fiscalização e segurança em obras, em engenharia humana, coaching e desenvolvimento pessoal, além de formação em terapias alternativas como o reiki. É voluntária de reiki, sendo associada da Associação Portuguesa de Reiki. Aos 22 anos mudou-se para a sede de concelho. Fruto do casamento (embora se tenha entretanto divorciado), tem o filho Rafael Santos Coelho, e a  sobrinha Ana Sofia, que vivem consigo e com o seu companheiro Óscar Santos.
Marta Luís, formou-se jornalista e animadora, ao serviço da Rádio Cister, onde é colaboradora desde 1990, e continua a animar o auditório com o programa Discos Pedidos Linha Aberta, dando ainda voz à publicidade da estação. Foi durante quase 20 anos Técnica da Divisão de Obras Municipais da Câmara de Alcobaça, como  Fiscal. Atualmente a sua atividade profissional principal desenvolve-se na Biblioteca Municipal onde integra a equipa de animação cultural, desde Setembro de 2016.  
Desde 2013, faz parte do grupo Amigos das Letras,  que se constituiu em associação em finais de 2016. Trata-se de um grupo que percorre o concelho com serões,  tertúlias, e leituras, e reúne autores de Alcobaça e arredores, editados ou inéditos.
Em 2014 e 2015 Marta integrou o movimento Al.creative, que revelou e dinamizou autores de Alcobaça, nas áreas literária, plástica, fotografia, escultura, música e outras expressões artísticas. 
Marta Luís, sempre escreveu. Primeiro as cartas, depois crónicas e desabafos, e entre divagações e pensamentos, surgiram por fim os poemas. Em 1991, venceu o seu primeiro concurso de poesia, com o texto Ilusões.  
Por três anos consecutivos (2013, 2014 e 2015), fez parte dos autores contemporâneos, selecionados a participar da antologia poética da Chiado Editora Entre o Sono e o Sonho. Inclui-se também na antologia de autores locais, Poesia Alcobaça, de Edições Escafandro, e em outras edições coletivas, de várias editoras como A Lua de Marfim, a Orquídea Edições e a Pastelaria Studios Editora.
Apresentou a primeira publicação individual, o seu primeiro livro de poesia,  Poesia Fora de Mão, a 19 de dezembro de 2014 no Armazém das Artes. E é na escrita, que encontra forma de se dirigir a si própria. Diz que, há quem disfarce com uma espécie de ficção o que lhe vai no coração. Mas está tudo lá, senão não sairia cá para fora. Até as luzes necessitam da escuridão para brilhar.
Marta Luís venceu em Abril de 2016 um prémio literário. Com este prémio, editou em o segundo livro de poesia, o Poço das Flores, apresentado a 30 de Novembro de 2016 no auditório da Biblioteca de Alcobaça.
No dia do seu 44º aniversário, apresentou um livro, prefaciado pela professora Piedade Neto, sua amiga de vida e da rádio. 
-Embora também escreva contos, Marta Luís ainda não decidiu explorar essa vertente, e continua a escrever e a publicar, poesia.

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