NO
TEMPO DE PESSOAS “IMPORTANTES” COMO NÓS
50
Anos da História de Alcobaça Contada através de Pessoas
Veigas Alexandre,
Joaquim, nasceu a 1 de junho de 1938 no Bárrio, aonde vive e
trabalha, no seio de família de seis filhos, cujos pais eram pequenos
agricultores e a mãe fazia costura.
Estudou
até à quarta classe numa escola que funcionava no espaço atualmente ocupado
pela Junta de Freguesia, tendo tido como professoras Dª. Júlia e Dª. Joaninha,
que recorda com saudade e respeito.
J. Veigas
Alexandre cumpriu apenas dois meses de serviço militar, ao fim dos quais passou
à disponibilidade por incapacidade física, que aliás, não o afetou ao longo da
vida. Depois de ter trabalhado algum tempo na agricultura, empregou-se na
Crisal durante 44 anos. Quando trabalhava nesta empresa era autarca autorizado
a tratar de problemas da Junta, nomeadamente na Câmara Municipal, pelo que
tinha licença para se deslocar lá pelo tempo necessário.
Diz
que desde pequeno sempre se interessou
pelos problemas da sua Terra, pelo que pode concluir que é um autarca nato, dado haver desempenhado
todos os cargos no Executivo da Junta (Presidente, Secretário e Tesoureiro),
bem como Presidente da Assembleia de Freguesia durante vários mandatos. Mas não
só. Esteve na Direção do Centro Paroquial durante mais de 30 anos tendo ocupado
a Vice-Presidência e o lugar de Secretário.
Veigas
Alexandre entende o serviço público no
enquadramento da sua preocupação de poder conceder aos conterrâneos o maior
número possível de benefícios. Diz que nunca
se deixou ir abaixo, nunca se sentiu desmoralizado
definitivamente com os problemas que lhe iam surgindo, pois sabia que podia
contar com a colaboração dos seus conterrâneos se tal se revelasse necessário.
Há trinta ou quarenta anos no Bárrio ainda faltava muita coisa, havia
incontáveis necessidades, e graças ao empenho da autarquia algumas delas foram supridas.
Hoje
em dia já não sendo rapaz, ainda sente disponibilidade e vontade de colaborar
com a comunidade, limitando-se a ser vogal da Assembleia de Freguesia e depois
de ter passado algumas funções que desempenhava, como por exemplo, no Centro
Paroquial.
-Nos
tempos disponíveis dedica-se a uma agricultura familiar, bem como à criação de
animais para consumo doméstico. Os seus
cinco netos são o seu grande orgulho e alegria, e pode dizer que vai
frequentemente levar e buscar à escola um deles. Veigas Alexandre está habituado a lidar com pessoas e lembra
que na Crisal foi encarregado da secção
de acabamentos, aonde lidava com cerca de 40 pessoas, na maioria mulheres.
No Centro Paroquial também tinha sobre a sua direção umas dezenas de pessoas.
Tem por isso, paciência, capacidade de encaixe perante as reclamações que por
vezes são complicadas e nem sempre muito apropriadas ou mesmo justas. Sem dar ares de se estat a gabar, reconhece que
os autarcas do Bárrio frequentemente lhe pedem opinião sobre assuntos de
interesse coletivo antes de decidirem. Quando, muito concretamente trabalhava
com o Presidente da Junta Orlando Marques, sabia normalmente quais as questões
que ele iria apresentar, mesmo que fossem além da ordem de trabalhos.
-Ventura, António
Rodrigues, nasceu na freguesia do Juncal, a 24 de
agosto de 1939.
Aos
12 anos, ingressou no Seminário de Leiria onde estudou durante 9 anos. Querendo
continuar a estudar, foi para Salamanca, e durante 5 anos, estudou Filosofia na
Universidade Pontifícia (que abriu as portas aos leigos) e fez a respetiva
licenciatura. Porque os pais não lhe podiam pagar os estudos, durante as férias
do Verão ia trabalhar para a Alemanha, a lavar loiça em restaurante. Regressado
a Portugal, entrou como professor no Colégio de S. Miguel, em Fátima, mas foi
chamado cumprir o serviço militar durante 3 anos, como Psicólogo, em Caxias,
sem prejuízo de dar aulas ao Colégio Salesiano, no Estoril. Terminado o serviço
militar, conseguiu lugar de Professor de Religião e Moral na Escola Técnica de
Alcobaça. Quando passou a ser Escola Secundária D. Inês de Castro lecionou
História, Filosofia, Psicologia e Alemão, durante 36 anos.
Em
1974, foi eleito Presidente do Conselho Diretivo.
-António
Ventura, diz que é por natureza e
formação um idealista que entrou com entusiasmo para o ensino, ainda antes do
25 de abril.
Sendo
a sua área de interesse, a Filosofia e esta intrínseca da liberdade, o 25 de Abril surgiu-lhe como um rasgar de
horizontes, sentindo que podia daí em diante transmitir aos alunos, valores que
trouxera aprisionados. Com o passar dos meses, esse entusiasmo foi
arrefecendo, pois viu entrar na escola, não uma lufada de ar puro, mas uma
tendência para o facilitismo, o desprezo pela disciplina e exigência. Os professores eram incentivados a explicar
os quarenta anos da governação salazarista e a necessidade de acabar com o
capitalismo, explorador das massas e especialmente do operariado. Sentia ódio
no ar, dirá mais tarde. Apesar de permitir, nas aulas, liberdade de
expressão, António Ventura não
condescendia com a falta de respeito ou indisciplina, e punha na rua quem as
quisesse perturbar.
Os meus alunos aprendiam que,
juntamente com a liberdade, tem que existir o respeito e que não há liberdade
sem esse respeito mútuo, acrescenta.
É casado com Maria Teresa Figueiredo.
António Ventura dividia o tempo a lecionar Filosofia,
Psicologia, História e a ser Presidente do Conselho Diretivo da
Escola D. Inês de Castro. O tempo que lhe
sobrava era para ajudar a esposa e explicar aos hóspedes, os locais mais
importantes a visitar no Concelho de Alcobaça. Os 18 anos na Casa da
Padeira foi tempo de muitos contactos, de muito ensino e de muita aprendizagem
que jamais esquecerei.
António Ventura logo que se reformou começou a dar aulas das
suas disciplinas preferidas na Universidade Sénior de Alcobaça como Filosofia,
Cultura Geral e Alemão e, como inscrito no Voluntariado da Câmara Municipal de
Alcobaça, dá aulas de Alemão a jovens e menos jovens.E como manter-se ativo é a
sua prioridade, ainda faz as figuras de Pedro e Inês, em barro, que se vendem
no Mosteiro de Alcobaça e escreve crónicas para o Região de Cister.
Vergas Alexandre,
António, nasceu a 21
de novembro de 1932 em Casal Fanheiro.
Fez a
Instrução Primária no Bárrio e o Liceu nos Seminários de Santarém e Almada.
Dado não ter vocação para o sacerdócio (embora fosse muito religioso) abandonou
o seminário, mas teve de fazer os exames do 2º. e 5º. Anos, para obter
equivalência ao ensino oficial, frequentando para esse efeito o Externato
Alcobacense.
Casou
com Antonieta Lorvão Agostinho, em 8 de setembro de 1957, que dele mantém uma
saudosa recordação.
Matriculou-se
na Faculdade de Direito de Coimbra em 1975, terminando o curso em 6 de outubro
de 1981, e depois de ter feito o estágio com o Dr. João Meca Zarro, passou a
partir daí a dedicar-se exclusivamente à advocacia (inscrição na OA em 19 de
dezembro de 1983 e ced. prof. nº.1897c) em Alcobaça com escritório na Rua
Alexandre Herculano, 42-1º, durante cerca de 30 anos. Antes disso foi
funcionário judicial em Alcobaça, Torres Vedras, Lisboa, Lousada e de novo
Alcobaça (Escrivão de Direito).
Fez
parte da administração do Hospital, dos corpos sociais da Banda de Música, foi
Presidente da Assembleia Geral do Ginásio de Alcobaça e duas vezes vereador,
uma das quais em consequência de uma desinteressante candidatura à Presidência
da Câmara, que não logrou vencer.
Foi
um advogado conceituado.
-Faleceu,
subitamente, a 25 de março de 2011.
Verrill, Concepcion
Citron, mais conhecida no meio taurino como Conchita Citron, nascida no Chile a 9 de agosto de
1922, embora por muitos considerada peruana, dado neste país ter vivido desde
muito nova, e que na década de 1950 atingiu alguma notoriedade em Portugal,
frequentou em Alfeizerão com assiduidade e regularidade, a quinta que pertenceu
a Vitorino Fróis.
Conchita Citron veio para a Europa para tourear em
Espanha, o que lhe não foi permitido pelo franquismo (receio que uma cornada a pudesse desnudar em plena praça).
Impedida, portanto, pelas leis espanholas de ser matadora de touros, tornou-se
cavaleira tauromáquica, vindo para Portugal. O preparador dos seus cavalos, foi
o cavaleiro José Tanganho, de Caldas
da Rainha, mas que também trabalhava em Alfeizerão.
-Conchita Citron deixou marca, em Portugal, como a
criadora do cão de água português, raça em vias de extinção, através de Vasco
Bensaúde, homem muito rico, e criador de cães, registados todavia em nome do
filho Filipe e, como tal apresentados em exposições. Bensaúde tomou
conhecimento da existência de uma bem-sucedida criadora de perdigueiros
portugueses, Conchita Citron, casada
com o português, D. Francisco Castelo Branco e que os criava numa quinta
situada perto de Setúbal, a Quinta do Índio, onde também se dedicava à escrita das
memórias, ao jornalismo como correspondente de jornais latino-americanos e à
criação do Perdigueiro Português. Um dia Bensaúde, convidou Conchita Citron e marido para almoçar,
onde lhe fez a proposta de ficar com o seu canil, como herança, pois não tinha
herdeiros interessados. Conchita nunca mais viu Vasco Bensaúde, nem os seus
cães e este veio a morrer em Agosto de 1967, pelo que a família contactou-a
para vir reclamar a herança. Conchita
Citron, levou os 14 cães do canil Algarbiorum,
de Bensaúde, para a Quinta do Índio, juntamente com os respetivos ficheiros.
Registou
o seu novo canil, com o nome Al-Gharb e iniciou a criação e a apresentação dos
cães de água, em exposições e concursos.
Achava
que os esforços de Vasco Bensáude na seleção, recuperação e preservação da
raça, mereciam ser reconhecidos mas, considerando Portugal um país de gente sem
recursos para manter tão maravilhosos cães, recusava-se a vende-los para o
mercado nacional, sendo apenas alguns oferecidos a pessoas de extrema confiança
e jamais fêmeas, pelo que poucos fugiram ao seu controle.
Com o
25 de Abril de 1974, algumas pessoas saíram do país e abandonaram propriedades
ocupadas por trabalhadores com o apoio dos sindicatos e do Partido Comunista.
Foi o caso da Quinta do Índio em 1975, então com 32 cães de água, muitos dos
quais foram soltos ou fugiram pelo que quando, D. Francisco de Castelo Branco
conseguiu ir à propriedade, apenas restavam 15 cães, a maioria gravemente
doentes. Levou-os ao Canil Municipal de Lisboa para abate, mas segundo o
enfermeiro de serviço, alguns poderiam ser salvos, tendo-se assim recusado a
abater 3 animais.
Francisco
Castelo Branco levou de volta esses 3 cães, mas nunca mais ninguém soube deles.
Conchita Citron, portuguesa por casamento, pouco
depois saiu do país com a família rumo ao México, aonde esteve até finais da
década de 1980, não mais tendo voltado, ao que consta, a Alfeizerão.
Conchita Citron continuou a ser uma referência para as
mulheres que tentaram singrar no mundo taurino e apesar de já não poder atuar,
foi madrinha de alternativa de Ana
Batista.
Em
Agosto de 1995, o Governo Português atribui-lhe a Medalha
de Mérito Cultural.
-Conchita Citron faleceu em Lisboa, a 17 de fevereiro
de 2009.
Leia-se Fleming de Oliveira em No
Tempo de Salazar, Caetano e Outros e aqui Cavaleiros Tauromáquicos.
Vicente, David
Marques, Marine norte-americano, filho de emigrantes portugueses,
naturais de Alfeizerão, faleceu com 25 anos de idade no Iraque no dia 19 de março
de 2004, depois do veículo onde seguia ter sido atingido por um engenho
explosivo.
Este
luso-americano nascido em Methuen/Mass., especialista em metralhadoras e
helicópteros de guerra, estava a prestar serviço no Iraque há um mês e oito
dias. David Vicente tinha fortes raízes no concelho de Alcobaça e um dos seus
destinos preferidos de férias era a freguesia de Alfeizerão, pois os seus pais
são naturais de Cadarroeira e Casal do Aguiar. Antes de partir para o Iraque
terá dito aos familiares que nas férias viria até Portugal na companhia da
namorada. Quando visitava Portugal gostava de caminhar pelos terrenos agrícolas
e desde pequeno se interessava por armas e roupas camufladas, o que de certo
modo terá sido decisivo para vir a ser um orgulhoso Marine. O pai exibia em casa
dos Estados Unidos uma tarja que dizia sinto-me
orgulhoso de ser pai de um marine.
Segundo
a imprensa norte-americana David M. Vicente foi o primeiro soldado de Methuen
(terra onde vivem os pais e onde nasceu) a falecer em combate no Iraque.
Vicente dos Santos, Marta Alexandra do Rosário Luís, que usa normalmente Marta Luís, nasceu na Nazaré, em 30 de
novembro de 1972, filha de Gracinda do Rosário Luís e de Joaquim Francisco
Vicente dos Santos.
Viveu
até aos 22 anos em casa dos pais em Vale Conqueiro, antigo lugar das Covas de
Mendalvo, onde aprendeu a pintar loiça, e entrou no mercado de trabalho
com 14 anos, como decoradora artística de faiança. Estudou em Alcobaça desde a
pré escola no Jardim Escola João de Deus, passando pela Escola Primária, a
Escola Frei Estevão Martins, e a Escola Secundária Dona Inês de Castro, aí
concluindo o ensino secundário. Tem formação profissional nas áreas de
jornalismo, animação e rádio, fiscalização e segurança em obras, em engenharia
humana, coaching e desenvolvimento pessoal, além de formação em terapias
alternativas como o reiki. É voluntária de reiki, sendo associada da Associação Portuguesa de Reiki. Aos
22 anos mudou-se para a sede de concelho. Fruto do casamento (embora se tenha
entretanto divorciado), tem o filho Rafael Santos Coelho, e a sobrinha Ana Sofia, que vivem consigo e com o
seu companheiro Óscar Santos.
Marta
Luís, formou-se jornalista e animadora, ao serviço da Rádio Cister, onde é
colaboradora desde 1990, e continua a animar o auditório com o programa Discos Pedidos Linha Aberta, dando ainda
voz à publicidade da estação. Foi durante quase 20 anos Técnica da
Divisão de Obras Municipais da Câmara de Alcobaça, como Fiscal. Atualmente a sua atividade
profissional principal desenvolve-se na Biblioteca Municipal onde integra a
equipa de animação cultural, desde Setembro de 2016.
Desde 2013, faz
parte do grupo Amigos das Letras,
que se constituiu em associação em finais de 2016. Trata-se de um
grupo que percorre o concelho com serões,
tertúlias, e leituras, e reúne autores de Alcobaça e arredores, editados
ou inéditos.
Em 2014
e 2015 Marta integrou o movimento Al.creative, que
revelou e dinamizou autores de Alcobaça, nas áreas literária,
plástica, fotografia, escultura, música e outras expressões
artísticas.
Marta
Luís, sempre escreveu. Primeiro as
cartas, depois crónicas e desabafos, e entre divagações e pensamentos, surgiram
por fim os poemas. Em 1991, venceu o seu primeiro concurso de poesia, com o
texto Ilusões.
Por
três anos consecutivos (2013, 2014 e 2015), fez parte dos autores
contemporâneos, selecionados a participar da antologia poética da Chiado
Editora Entre o Sono e o Sonho.
Inclui-se também na antologia de autores locais, Poesia Alcobaça, de Edições Escafandro, e em outras edições coletivas,
de várias editoras como A Lua de Marfim,
a Orquídea Edições e a Pastelaria Studios Editora.
Apresentou
a primeira publicação individual, o seu primeiro livro de poesia, Poesia Fora de Mão, a 19 de dezembro de
2014 no Armazém das Artes. E é na escrita, que encontra forma de se dirigir a
si própria. Diz que, há quem
disfarce com uma espécie de ficção o que lhe vai no coração. Mas está tudo lá,
senão não sairia cá para fora. Até as luzes necessitam da escuridão para
brilhar.
Marta
Luís venceu em Abril de 2016 um prémio literário. Com este prémio,
editou em o segundo livro de poesia, o Poço
das Flores, apresentado a 30 de Novembro de 2016 no auditório da Biblioteca
de Alcobaça.
No
dia do seu 44º aniversário, apresentou um livro, prefaciado pela professora
Piedade Neto, sua amiga de vida e da rádio.
-Embora também escreva
contos, Marta Luís ainda não decidiu
explorar essa vertente, e continua a escrever e a publicar, poesia.
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