NO
TEMPO DE PESSOAS “IMPORTANTES” COMO NÓS
50
Anos da História de Alcobaça Contada através de Pessoas
Guerra,
Vítor Amorim, começou
por dizer, a partir de Angola aonde vive e tem família, que foi convidado a
participar neste Dicionário não obstante ser a pessoa mais desinteressante que passou por
Alcobaça.
Todavia, depois de alguma insistência anuiu com o seguinte
depoimento, que se transcreve integralmente.
Sou um luso-angolano, nascido em
Benguela em 1970, Angola, fruto de descendência da Figueira da Foz e Montemor.
O meu avô paterno faleceu quando o meu pai tinha 17 anos. Preso pela PIDE e
destituído do seu valor académico. Morreu. O meu avô materno, branco de olhos
claros e voz poderosa, foi homem rico e influente na Angola colonial. Morreu. O
meu pai foi um cidadão de grande bravura e discrição. Apesar da sua forma
relativamente honesta de se exprimir, tinha um carisma que acalentou amizades.
Em Portugal, penso que foi desde 1981, consolidou amizades com ilustres alcobacenses.
Sei que nenhum deles faz questão de ver o seu nome neste texto. Cavalheiros,
todos eles. O meu pai morreu em 1988. Morreu de morte matada em Angola. Eu
estava em Alcobaça nesse dia de 27 de Março de 1988.A minha vida começou no dia
da morte do meu pai. Alcobaça é um porto seguro para mim. O luto do meu pai foi
mais simples por ter sido sofrido em Alcobaça. O mosteiro foi determinante para
o meu percurso académico. Humberto Eco, o Pêndulo de Foucault e outras obras
deram o detalhe necessário para ler Dostoevsky, Edgar Allan Poe, Conan Doyle,
Fernando Pessoa, Virgílio Ferreira, todos os clássicos que eram exigidos para
uma juventude partida ao meio. Ridícula e desprezada. Alcobaça fez de mim um
poeta por estar longe da minha família e da minha terra. Alcobaça fez de mim um
cínico por viver com sorrisos entre gente que me martirizou pela cor da minha
pele, pela angústia da distância da minha pátria. "Ó preto, vai para a tua
terra!" - e eu, criança, não ía, não podia ir. Estávamos sem dinheiro
sequer para ligar para o nosso pai que estava em Luanda.
-Ó preto, gostas de mandioca?
Não sabia se gostava ou não. Quando saí
de Benguela eram tantas as bombas e os tiros que não me lembro de nada. Tinha 4
anos de idade.
Alcobaça acolheu-me como um refugiado.
Um refugiado preto. Tenho tanto amor por Alcobaça, como o amor por aqueles que
me abraçaram e foram amigos... Até hoje, os meus melhores amigos.
O resto de Alcobaça que recordo é
desdém e burrice. Burros de todo, nem sequer acima da colina da Vestiaria eles
conseguem ver. Cegos.
Alcobaça produz tantos magníficos
artistas, pintores, escritores e não respeita nenhum. A prova disso é que todos
fogem e não pretendem voltar. Eu tenho de voltar. O meu pai está sepultado em
Alcobaça e eu tenho de arranjar maneira de o transladar para a Figueira da Foz,
onde nasceu.
Guerreiro,
Alberto Jorge Damas, nascido em
Luanda em 1969, é
Museólogo, Técnico Superior da Câmara Municipal de Alcobaça, em funções desde
2001.
É
licenciado em Antropologia pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da
Universidade Nova de Lisboa (1998) e pós-graduado em Museologia e Património
pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa
(2005).
As
suas áreas de especialização académica e profissional são a antropologia
(tecnologia tradicional e industrial) e a museologia (programação e gestão de
museus). Em 1998, concluída a licenciatura em antropologia, foi convidado como
investigador a integrar a área da museologia das Comemorações do Grande Jubileu do Ano 2000 da Universidade Católica
Portuguesa, sendo autor de três relatórios científicos (Fátima, Lisboa e Beja).
Em 1999, integrou a equipa constituída pelo Instituto da Vinha e do Vinho /IVV
para a reprogramação do Museu do Vinho de
Alcobaça, ficando encarregue do estudo da coleção, trabalho que desenvolveu
ainda com Paixão Marques, fundador do museu, durante nove meses. Entre 2001 e
2009, integrou como investigador permanente a equipa da Comissão Instaladora do Museu dos Coutos de Alcobaça, com
particular ocorrência na programação dos moinhos de Chiqueda. Em 2010,
coordenou a reabertura do Museu Raul da
Bernarda. No âmbito da cerâmica, não deixou de produzir trabalho de terreno
juntamente com Manuel da Bernarda, tendo em vista a concretização de um
programa que conduza a um futuro e redimensionando o Museu da Cerâmica de Alcobaça. Em 2012, com a passagem de tutela do
Museu do Vinho de Alcobaça, do Instituto da Vinha e do Vinho para a autarquia,
assumiu a sua direção técnica e científica, conduzindo-o à reabertura em junho
de 2013. Nesse mesmo ano, foi instituída a Comissão Instaladora do Museu do
Vinho de Alcobaça de que é, desde então, membro vogal. Paralelamente, concebeu
os programas museológicos que em 2013 levaram à abertura do Núcleo de Arte Sacra de Aljubarrota e em
2015 à Central da Confluência dos Rios
Alcoa e Baça. Para além do programa museológico do Museu do Vinho de
Alcobaça, em desenvolvimento pela respetiva Comissão Instaladora, iniciou os
trabalhos de programação para a constituição do Museu das Máquinas Falantes,
património sonoro e telecomunicações adquirido pela Autarquia de Alcobaça, à
família do colecionador Madeira Neves, a instalar no centro de Alcobaça.
Tem
comissariado e projetadas exposições temporárias de relevo.
No plano académico, é investigador associado do Centro Interdisciplinar de História, Culturas e
Sociedades da Universidade
de Évora/CIDEHUS-EU, e colaborador do Instituto de História Contemporânea
/Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, e do
Instituto Universitário da Maia/CEDTUR-Centro
de Estudos e Desenvolvimento Turístico. No âmbito do seu
doutoramento, desenvolveu uma investigação nacional detendo como tema a dicotomia tutela
vs. museu, centrada no estudo dos modelos de gestão dos museus em Portugal,
tendo como objeto de análise a problemática associada à autonomia dos museus
portugueses.
Desde
1998, como autor e editor, tem participado regularmente em publicações
científicas, nacionais e internacionais, na área das Ciências Sociais,
particularmente, no âmbito da antropologia e da museologia. Neste contexto,
ganhou relevo a sua participação na obra Public Policies Toward Museums in Time
of Crisis publicado em 2013 pelo ICOM-Europe.
No
decorrer da carreira, coadjuvou com algumas das mais proeminentes figuras na
sua esfera de trabalho, Henrique Coutinho Gouveia (museologia), Maria Olímpia
Lameiras Campagnolo (antropologia e museologia), Benjamin Enes Pereira
(etnologia), Jorge Custódio (património industrial), Carlos Mendonça
(arqueologia e património ambiental), João d’Oliva Monteiro (património
cisterciense), António Maduro (património cisterciense), Rui Rasquilho
(património cisterciense), Manuel da Bernarda (cerâmica), Fernando Pessoa
(arquitetura paisagista), Carlos Gil Moreira (arquitetura), José Aurélio (arte
contemporânea), Thierry Ferreira (arte contemporânea) e Vítor Mestre
(arquitetura).
É
membro do Comité Internacional de Museus/ICOM
e da Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial como Secretário do
Conselho Fiscal.
Figura
destacada no mundo da música local, professor na Banda de Alcobaça e outras
escolas e ranchos do concelho, nasceu em Moçambique em 1915 e veio a ingressar
na Casa Pia ainda muito novo.
Aos
18 anos, veio para o Asilo da Mendicidade de Lisboa, em Alcobaça, onde se
iniciou no estudo da música na banda, recém-formada, no Asilo.
Em
1984, com a formação da Banda de Alcobaça, entrou como professor e formou
muitos dos músicos que a integraram, assim como outros que fazem parte de
Bandas e Orquestras.
-A
Banda de Alcobaça acompanhou o Sr.
Guimarães ao cemitério, em marcha fúnebre.
Contabilista
e lavrador, foi dirigente durante quase meio século de várias associações
agrícolas (Sindicato Agrícola de Alcobaça, 1917/1932, Cooperativa Agrícola de
Alcobaça, que sucedeu ao referido Sindicato, 1932/1964, Caixa de Crédito
Agrícola Mútuo de Alcobaça, 1932/1964 e Grémio da Lavoura de Alcobaça,
1940/1964) e no exercício dessas funções, através de múltiplas iniciativas
empenhou-se com inteligência, perseverança e dinamismo no progresso e na
dignificação da lavoura do concelho de Alcobaça.
Joaquim
Guimarães pertenceu a múltiplas e variadas comissões.
No
campo da fruticultura, registe-se uma ação
notável e precursora, prestigiando as tradições pomareiras de Alcobaça. Introduziu
algumas castas de fruteiras de origem americana e foi o primeiro fruticultor a
apresentar fruta dos seus pomares de forma escolhida e acondicionada em
embalagens de madeira, devidamente rotuladas.
Gusmão, Artur Nobre, foi um conceituado Professor de História de Arte em
Portugal, exercendo na Faculdade de Letras de Lisboa, na Escola Superior de
Belas Artes de Lisboa e na Escola de Belas Artes do Porto. É extensa a sua
Bibliografia, onde se destaca a excelente
Real Abadia de Alcobaça-Estudo
Histórico-Arqueológico,
dedicado à memoria de Manuel Vieira Natividade, Mário Tavares Chicó e EUE
Lambert, com uma primeira edição em 1948 e outra em 1992 (esta patrocinada pela
CMA).-Nasceu em Mourão em 1920 e faleceu em 2001.
Guterres,
António Manuel de Oliveira, eleito secretário-geral do PS em 1992,
venceu as eleições legislativas de 1995 e de 1999,
passando a chefiar os XIII e XIV Governos Constitucionais, ambos
minoritários e formados exclusivamente pelo PS. Presidiu à Internacional
Socialista, entre 1995 e 2000.
Exercia
o cargo de primeiro-ministro quando se demitiu, na sequência das eleições
autárquicas de dezembro de 2001,
em que o PS sofreu um desaire significativo. No ato
(inesperado) da demissão, justificou a demissão para evitar que o País caísse
num pântano democrático, dada a falta de apoio ao governo que os resultados
autárquicos indicavam.
Entre 2005 e 2015, António
Guterres exerceu o cargo de Alto Comissário da ONU para os
Refugiados e, em 6 de
Outubro de 2016 foi designado Secretário-Geral da ONU.
-O
Secretário-geral do Partido Socialista, António Guterres, visitou no dia 23 de
agosto de 1993, as secções da Nazaré e de Alcobaça do Partido Socialista.
Depois
de uma visita à Nazaré, Guterres deslocou-se a Alcobaça onde foi recebido as 12
horas, frente à Câmara Municipal.
Depois
do almoço num restaurante da vila, Guterres visitou o Mercoalcobaça onde deu
uma conferência de imprensa e teceu várias considerações políticas.
Após a
visita ao Mercoalcobaça, o Secretário-geral do PS acompanhado por um grupo de
militantes, visitou a Feira de São Bernardo, seguindo-se uma visita a algumas
localidades do concelho de Alcobaça.
-O
Primeiro-Ministro António Guterres, na companhia do Ministro da Cultura, Manuel
Maria Carilho e do Ministro do Equipamento, João Cravinho visitou Alcobaça na
abertura das Jornadas Europeias do Património, subordinadas ao lema Sete dias com o Património.
A
comitiva governamental era aguardada pelo presidente da Câmara Miguel Guerra e
alguns vereadores (PS), presidente da Assembleia Municipal, presidentes de
junta e outros autarcas, bem como algumas pessoas que quiseram receber os
membros do governo.
A comitiva
visitou o Mosteiro de Alcobaça e alguns trabalhos que ali decorriam para a
instalação do Museu. António Guterres inteirou-se dos trabalhos de restauro que
ali estavam a ser efetuados em peças escultóricas e as escavações
arqueológicas, e que já levaram a que algumas páginas da história de Alcobaça
tivessem que ser reescritas. A par disso encontravam-se decorrer trabalhos de
substituição das coberturas do Mosteiro.
O Lar
Residencial, instalado no período do Estado Novo, numa parte do edifício
outrora ocupado pelo Mosteiro, era problema a aguardar solução.
Ribeiro
Mendes, Secretário de Estado da Segurança Social prometeu que o Ministério da Solidariedade Social, iria
desmantelar aquele lar progressivamente em 1998 e 1999, para devolver o espaço
de acordo com a vontade de Alcobaça e uma exigência da UNESCO. Contudo
reconheceu que não é fácil resolver os
problemas dos quase 300 internados, provenientes de vários pontos do país e
muitos deles inutilizados.
As Jornadas do Património de 1997, prosseguiram até ao dia 28 de
setembro de 1997 com um conjunto de atividades que decorreram nos principais
monumentos nacionais.
No
Mosteiro de Alcobaça, as jornadas decorreram até ao dia 26, não havendo
qualquer atividade prevista para os dias 27 e 28, pois no dia 28 teve lugar no
Mosteiro a ordenação de três sacerdotes.
No
dia 24, a partir das 10.30h houve visitas às coberturas da nave igreja e
dormitório, guiadas pela diretora do Mosteiro e pelo arquiteto João Teixeira,
que prestaram os necessários esclarecimentos sobre as obras que estão a
decorrer nas referidas coberturas. Nos dias 25 e 26, a partir das 15h
decorreram visitas às escavações arqueológicas a ser efetuadas no Claustro D.
Afonso VI e na prisão. No dia 26 pelas 15 horas decorreram visitas guiadas aos
arcobotantes e à Capela do Desterro.
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