terça-feira, 22 de janeiro de 2019



NO TEMPO DE PESSOAS “IMPORTANTES” COMO NÓS

50 Anos da História de Alcobaça Contada através de Pessoas


Trindade, Cristiana, de 21 anos e com uma interessante figura, no dia 28 de maio de 2016 arrecadou o primeiro prémio no desfile de trajes de chita, que decorreu na Praça 25 de Abril, no âmbito da II Mostra de Trajes de Chita de Alcobaça.
A concorrente Sandra Talhão, de 17 anos, conquistou o segundo lugar, ficando o pódio completo com a alcobacense Julieta Aurélio, de 18 anos, que também obtivera o título Miss Chita16, no baile de chita que na semana anterior, havia decorrido em Pataias.
A apresentação do desfile esteve a cargo do ator Ricardo Carriço e da alcobacense Marta Luís, contando com a participação do nazareno Guilherme Azevedo e da cantora Inês Pequicho.
A iniciativa, que mereceu aplausos e elogios, juntou doçaria conventual, música e artesanato, foi organizada pela Associação de Artesanato e Ofícios Tradicionais de Alcobaça, em parceria com a União de Freguesias de Alcobaça e Vestiaria e apoio da CMA.
Trindade, João Alberto, vulgo Coradinho, nasceu em Alcobaça em 1 de maio de 1933 e vítima de doença prolongada faleceu no Hospital de Alcobaça, em 23 de julho de 2007.
O seu funeral realizou-se no dia seguinte para o cemitério da cidade, estando presentes algumas centenas de pessoas. Foi uma grande manifestação de pesar dos familiares e amigos.
-João Alberto Trindade, desde os 14 anos de idade esteve ligado ao comércio. Iniciou-pela mão de seu pai Alberto Domingues Trindade, tendo sido um conceituado comerciante, que primava pela gentileza e cordialidade com que atendia os clientes. Fez parte de algumas associações alcobacences e, integrou durante anos os corpos sociais da Santa Casa da Misericórdia de Alcobaça.
-O seu estabelecimento, dedicado à comercialização de tecidos a metro e vestuário, é um edifício com história. Localiza-se no início da Rua Alexandre Herculano, no local onde existiu a Igreja de Santo António, demolida em 1911. Mais tarde, funcionou nesse local a Casa Bancária de António Couto da Silva, que foi o primeiro emprego de seu sogro João Moura Lourenço. A Rua das Lojas, também se chamou Rua de Santo António, devido à Igreja do mesmo nome, e que existiu no lugar aonde veio a ser construído o estabelecimento comercial de José Alberto Trindade.
-Com o objetivo de dinamizar o Centro Histórico de Alcobaça, teve lugar no dia 12 de abril de 2003 um serão com o tema Coração de uma Terra… Alma de uma Gente, num dos estabelecimentos efetivamente mais conhecidos e emblemáticos, A Loja do  Alberto Coradinho.
Foi um momento agradável em que os presentes foram convidados a partilhar a sua vivência no Centro Histórico. A noite foi inspirada em história, música e sabores, que se perpetuam nas memórias e que tiveram ali um lugar e momento privilegiados.
As realidades económico-sociais têm de ser entendidas conforme os respetivos tempos.
No comércio tradicional ou de bairro, havia uma relação entre o comprador e o vendedor, não limitada apenas à satisfação das necessidades básicas, pois os intervenientes normalmente tinham relações entre si. Os artigos eram frequentemente colocados fora das portas para poderem ser melhor vistos. Não era raro o caso  o cliente levar peças de roupa para casa, para as experimentar com tempo, ouvir a opinião da família e depois decidir-se…não comprando…!!!
A atividade comercial concentrava-se entre a farmácia, o alfaiate, o cabeleireiro, a mercearia.
Em Alcobaça, entre a Pissarra, a Rua das Lojas (Alexandre Herculano), Praça D. Afonso Henriques e Rossio. Muitas alterações tanto nas faixadas como ramos de atividade, alteraram a fisionomia da Rua Alexandre Herculano, não se esqueçam as casas de Raimundo Ferreira Daniel, Cândido Sarmento, Daniel Vicente Raimundo, Adelino André, Alísio Fadigas, Leonardo Taveira Pinto, Manuel Custódio, Belo Marques o Gilberto Magalhães Coutinho.
Nas grandes superfícies, encontra-se hoje o necessário e o supérfluo, tudo é sedutor. As pessoas foram trocando as pequenas lojas pelos grandes centros comerciais que aos fins de semana se enchem de famílias, a fazer compras ou a passear. A multiplicidade de artigos no mesmo estabelecimento era uma característica de há 50 ou 60 anos. Vendia-se um pouco de tudo, lã, algodão, café, açúcar, bacalhau, calçado, alimento para o gado, adubos e chapéus.
Trindade, Tarcísio Vazão de Campos, nasceu em 11 de setembro de 1931 em Alcobaça, no seio de uma família tradicional e de comerciantes, que vivia numa habitação sita no primeiro andar da Ala Sul do Mosteiro de Alcobaça, que havia sido comprada por António dos Santos Vazão, depois da extinção das Ordens Religiosas. Tal como Tarcísio Trindade, os seus dois irmãos (João e António) ali nasceram.
Em Alcobaça, fez o percurso escolar, até ingressar na Faculdade de Direito, em Lisboa, tendo privado com José Pedro Pinto Leite (deputado prematuramente falecido num acidente de helicóptero na Guiné, figura de destaque na Primavera Marcelista e da Ala Liberal), estudos interrompidos para cumprir o serviço militar, os quais não reatou.
Assumiu o negócio da família, sendo antiquário, livreiro, bibliófilo e avaliador de mérito, em Alcobaça e Lisboa. 
Escreveu o livro de poesia Os Meninos e as Quatro Estações (de que muito se orgulhava, tal como a família e que o mandou reeditar recentemente, para oferecer) que obteve o prémio nacional de poesia e mereceu referência numa edição da História da Literatura Portuguesa, de António José Saraiva e Óscar Lopes. Foi sócio correspondente da Sociedade Portuguesa de Belas Artes.
Em Alcobaça, foi Vereador da Câmara Municipal e Presidente Comissão Municipal de Turismo, no mandato do Presidente da Câmara Horácio Junqueiro, e com 37 anos designado Presidente de Câmara de 7 de fevereiro de 1969 a 25 de abril de 1974 (18 de julho de 1974 é porém a data oficial do termo de funções), Presidente de Direção do Ginásio de Alcobaça (durante sete épocas) e dos Bombeiros Voluntários, Diretor e Editor do jornal O Alcoa (de 29 de fevereiro de 1964 a 26 de dezembro de 1970) e Procurador ao Conselho Distrital e à Câmara Corporativa.
Foi homenageado pelo desempenho à frente da Câmara Municipal, perante cerca de um milhar de pessoas numa sessão de propaganda política, com a presença do Secretário de Estado das Obras Públicas José Adolfo Pinto Eliseu, na ante estreia do pavilhão gimnodesportivo de Alcobaça.
Em Abril de 1971, Tarcísio Trindade, fez surgir na vila o semanário Jornal de Alcobaça que pareceu uma dissidência de O Alcoa, dadas as semelhanças do estilo e critério editorial. Mas em breve se revelou um jornal de propaganda do Diretor, Editor e Proprietário, dando destaque às suas iniciativas municipais. Beneficiava de publicidade institucional, nomeadamente municipal, bem como de entidades privadas com interesses no Município. O chefe da redação, era José Luís Machado (Zito), que também colaborara com O Alcoa, tendo um corpo de colaboradores/redatores reduzido, onde se destacava o Juiz Silvino Villa-Nova. Em novembro desse ano, Trindade foi buscar a O Alcoa, António Sousa Coelho para Administrador. Cumpre registar que desde Junho, Manuel da Bernarda, que viria a ser vereador municipal no período final do marcelismo a convite de Tarcísio Trindade, assumira as funções de Editor, que irá manter até ao 25 de Abril, substituído por António de Sousa Coelho. Com o fim do marcelismo, e um ano após o 25 de Abril, o jornal deixou de ter espaço e encerrou a publicação.
Tarcísio Trindade foi preso (com mandato em branco) por ordem do COPCON no mesmo dia que Luís do Couto Serrenho Capador, Carlos Leão da Silva Caranguejo e Hernâni Bastos (22 de Julho de 1975), numa ação comandada no terreno por João Salgueiro, mais tarde e atualmente Presidente da Câmara de Porto de Mós, como de referiu supra.
Leia-se com detalhe Fleming de Oliveira em  No Tempo de Soares, Cunhal  e Outros.
-No início de 1976, Tarcísio Trindade partiu para Lisboa onde fundou a Livraria Alfarrabista Campos Trindade, que ainda existe, gerida por um filho.
Livreiro, antiquário e avaliador oficial, possuidor de conhecimento da introdução e difusão da tipografia das espécies bibliográficas dos séculos XV e XVI, em coleções públicas e privadas de Portugal e do estrangeiro, deve-se a ele a localização e a primeira informação em 1965, acerca do mais antigo livro impresso em português Tratado de Confisson. A partir desta revelação surgiram estudos e teses universitárias que alteraram as referências e conclusões até então existentes.
-Nas eleições autárquicas de 1982, foi eleito Presidente da Assembleia Municipal (AD/CDS), sucedendo a Fleming de Oliveira (que não concorreu), cargo de que se demitiu, antes de cumprir a totalidade do mandato, substituído por Joaquim André Júnior (AD/CDS).
A Assembleia Municipal que se realizou no dia 22 de julho, se não atingiu os fins em vista por motivos circunstanciais, não deixou de ter pontos de interesse, até, um desfecho inesperado, a demissão de Tarcísio Trindade, que abandonou a Presidência, mas não a presença no órgão autárquico.
Ao iniciar-se os trabalhos, Tarcísio Trindade justificou a convocação da reunião extraordinária, dados os graves problemas que afetam os setores de urbanização e construção urbana no concelho e tentou arredar qualquer interpretação de confronto entre a Assembleia Municipal e a Câmara Municipal (Presidente Rui Coelho).
Pretende-se um diálogo aberto e construtivo entre todos, para que dele saia, recomendado pela Assembleia, uma orientação a ter em conta pelo executivo camarário, referiu Tarcísio Trindade, numa alegada manifestação de boa vontade que todavia viria a ser mal sucedida e compreendida, em vários  setores da Assembleia.
Tarcísio Trindade (traumatizado com o fim do regime e incidentes no PREC) nunca coexistiu bem com o 25 de abril, nem depois do golpe de 25 de novembro de 1975.
-Assumiu a 30 de setembro 1987, funções de Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Alcobaça, aí se mantendo-se até 2010, ou seja, durante cerca de 23 anos. No seu mandato, pôs em atividade a SAD normal (serviço de assistência domiciliária) e a SAD alargada que previa, inicialmente, o apoio domiciliário 24 horas por dia, prestando em função das necessidades específicas do utente, o que se veio a revelar inviável. Criou o RSI (rendimento social de inserção) que consiste em prestar apoio a famílias carenciadas, em dinheiro e/ou géneros, o qual abrangia cerca de 250 famílias num universo de cerca de 800 pessoas dos Concelhos de Alcobaça, Nazaré e parte de Porto de Mós. A Misericórdia com este serviço informava a Segurança Social das famílias que necessitam de apoio, sendo a Segurança Social que disponibiliza as verbas necessárias.
Foi condecorado em 2003 pelo Presidente da República, Jorge Sampaio com a Comenda da Ordem de Mérito e casado com Ana Mafalda Oriol Pena de Campos e Trindade, já falecida, mas que lhe sobreviveu.
Pertenceu em 1980 aos corpos diretivos da ADEPA. 
Faleceu em Lisboa, aonde vivia, a 15 de Março de 2011 perto de perfazer 80 anos, tendo nascido em Alcobaça a 11 de setembro de 1931.
-Em 1976, aquando da campanha para a eleição da Presidência da República, Ramalho Eanes disse, perante milhões de telespectadores, que se Otelo Saraiva de Carvalho, ganhasse as eleições, ele, Ramalho Eanes, não mais viveria em Portugal.
No entanto, foi anunciado tempos depois que Otelo iria receber, das mãos de Ramalho Eanes, a Ordem da Liberdade !!!
A esse propósito, o jornal O Dia publicou, no dia 2 de julho de 1983, em lugar de destaque, a seguinte notícia: O Presidente da Assembleia Municipal de Alcobaça, Tarsício Trindade, que foi um dos milhares de portugueses perseguidos durante o PREC pelo MFA e pelas brigadas comunistas, enviou ao Presidente da República um telegrama em que protesta energicamente contra a condecoração do ex-general Otelo Saraiva de Carvalho, um dos responsáveis pelas perseguições que sofreram tantos patriotas e suas famílias.
Nesse telegrama, Tarcísio Trindade, encarcerado pelo COPCON por ocasião do 11 de março, precisa que, ao tomar conhecimento da atribuição da Ordem da Liberdade a Otelo e pertencendo ao número dos portugueses que estiveram iniquamente detidos em Caxias com mandados de captura assinados por aquele militar abrilino, não podia deixar de manifestar junto do Presidente da República, com o devido respeito, profundo desgosto e estranheza, sentimentos compartilhados por muitos patriotas que vivem neste Portugal hoje aviltado e sem futuro.
-Aproximava-se o décimo aniversário do 25 de Abril e o facto não poderia deixar de ser assinalado na Assembleia Municipal.
Leonel Fadigas, propôs que as comemorações em Alcobaça, se centralizassem numa homenagem pública ao Gen. Delgado e àqueles que, no concelho lutaram pela democracia antes do 25 de Abril, o que foi aprovado.
Marques Subtil, propôs um extenso programa de comemorações, que foi recusado por maioria.
Tarcísio Trindade, fez notar que não deveriam ser esquecidos aqueles que no concelho, depois do 25 de Abril, lutaram e sofreram para que o totalitarismo comunista não tivesse vingado, depois do desvio marxista que durou marcadamente até 25 de novembro. Salientou que muitos homens do concelho de Alcobaça, assim como de Rio Maior, numa frente até à Lourinhã estiveram na primeira linha, arriscando a liberdade a até a vida, numa atitude patriótica que foi fundamental para a evolução democrática do país. No entanto, o desvio comunista-marxista do 25 de Abril deixou marcas indeléveis que os atuais regime e sistema não pareceram ser capazes de superar. falado de progresso, desenvolvimento, trabalho, futuro risonho para os portugueses.
Leia-se aqui Fleming de Oliveira in No Tempo de Salazar, Caetano e Outros e No Tempo de Soares, Cunhal e Outros.
Trindade Ferreira, Henrique, nasceu em Alcobaça em 1911, aí tendo efetuado os primeiros estudos.
Cursou medicina, inicialmente em Lisboa, indo acabar na Faculdade de Coimbra, alojado numa casa de estudantes dos pais de Amílcar Pereira de Magalhães. Casado com Maria Isabel Natividade, de quem teve apenas a filha Maria Helena, o seu exercício da medicina decorreu nos primeiros tempos (década de 1930) em Valado de Frades e Alcobaça, até se radicar exclusivamente no 1º. andar do consultório, sito na Rua Alexandre Herculano, em prédio que já não existe.
Não chegou a tomar posse na década de 1960, do lugar nos Serviços Médico-Sociais, ao que se disse, por informações desabonatórias da PIDE. Para o lugar, foi nomeado o Dr. Vítor Martins da Conceição (natural de Mira de Aire), que viera exercer clínica em Alcobaça, em detrimento de Alvaiázere, onde também tinha conseguido lugar.
Henrique Ferreira, manteve um esforço enorme de atualização e a ele se deveu o início da realização regular de eletrocardiogramas em Alcobaça, pois os doentes deslocavam-se a Leiria e Caldas da Rainha, quando não a Coimbra e Lisboa. Se tinha dúvidas sobre um diagnóstico ou terapia, era relativamente usual pedir a opinião do seu colega e amigo Fernando Fonseca (médico pessoal de Calouste Gulbenkian).
Humanista, encarou a profissão como um serviço ao homem e à comunidade, sempre com grande dignidade e competência, pelo que os colegas lhe reconheciam o mérito de ser o elo de ligação entre eles. Arguto, observador exímio por trás de um ar aparentemente reservado, havia nele um grande coração e uma bondade, o que foi determinante para ser tido como um cidadão exemplar, moral e eticamente irrepreensível. Politicamente não alinhado com o Estado Novo, colaborou com algumas iniciativas de oposição democrática.
Colegas que com ele trabalharam e ainda hoje o recordam, referem que ele entendia a medicina exige para ser medicina, além da indiscutível competência técnica e científica, seriedade, honestidade e humanismo na sua atividade.
-Quando o Hospital de Alcobaça comemorou os 100 anos de existência, numa cerimónia com a presença do Ministro da Saúde, Arlindo de Carvalho, foi descerrada uma lápide qe homenagem a alguns médicos que lá trabalharam, Francisco Pereira Zagalo, José Barreto Perdigão, António de Sousa Neves, João José Ferro, José do Nascimento e Sousa, Domingues Pereira Arinto, João Lameiras de Figueiredo, Henrique Trindade Ferreira, José Nunes Franco, Francisco Monteiro Barbosa e João D’Oliva Monteiro.

Sem comentários: