NO
TEMPO DE PESSOAS “IMPORTANTES” COMO NÓS
50
Anos da História de Alcobaça Contada através de Pessoas
Trindade, Cristiana, de 21 anos e com uma interessante
figura, no dia 28 de maio de 2016 arrecadou o primeiro prémio no desfile de
trajes de chita, que decorreu na Praça 25 de Abril, no âmbito da II Mostra de Trajes de Chita de Alcobaça.
A
concorrente Sandra Talhão, de 17 anos, conquistou o segundo lugar, ficando o
pódio completo com a alcobacense Julieta Aurélio, de 18 anos, que também
obtivera o título Miss Chita16, no
baile de chita que na semana anterior, havia decorrido em Pataias.
A
apresentação do desfile esteve a cargo do ator Ricardo Carriço e da alcobacense
Marta Luís, contando com a participação do nazareno Guilherme Azevedo e da
cantora Inês Pequicho.
A
iniciativa, que mereceu aplausos e elogios, juntou doçaria conventual, música e
artesanato, foi organizada pela Associação
de Artesanato e Ofícios Tradicionais de Alcobaça, em parceria com a União de Freguesias de Alcobaça e Vestiaria
e apoio da CMA.
Trindade, João
Alberto, vulgo Coradinho, nasceu em Alcobaça em 1 de
maio de 1933 e vítima de doença prolongada faleceu no Hospital de Alcobaça, em
23 de julho de 2007.
O seu
funeral realizou-se no dia seguinte para o cemitério da cidade, estando
presentes algumas centenas de pessoas. Foi uma grande manifestação de pesar dos
familiares e amigos.
-João
Alberto Trindade, desde os 14 anos de idade esteve ligado ao comércio. Iniciou-pela
mão de seu pai Alberto Domingues Trindade, tendo sido um conceituado
comerciante, que primava pela gentileza e cordialidade com que atendia os
clientes. Fez parte de algumas associações alcobacences e, integrou durante
anos os corpos sociais da Santa Casa da Misericórdia de Alcobaça.
-O
seu estabelecimento, dedicado à comercialização de tecidos a metro e vestuário,
é um edifício com história. Localiza-se no início da Rua Alexandre Herculano,
no local onde existiu a Igreja de Santo António, demolida em 1911. Mais tarde,
funcionou nesse local a Casa Bancária de António Couto da Silva, que foi o
primeiro emprego de seu sogro João Moura Lourenço. A Rua das Lojas, também se chamou Rua de Santo António, devido à Igreja do mesmo nome, e que existiu
no lugar aonde veio a ser construído o estabelecimento comercial de José
Alberto Trindade.
-Com
o objetivo de dinamizar o Centro Histórico de Alcobaça, teve lugar no dia 12 de
abril de 2003 um serão com o tema Coração
de uma Terra… Alma de uma Gente, num dos estabelecimentos efetivamente mais
conhecidos e emblemáticos, A Loja do
Alberto Coradinho.
Foi
um momento agradável em que os presentes foram convidados a partilhar a sua
vivência no Centro Histórico. A noite foi inspirada em história, música e
sabores, que se perpetuam nas memórias e que tiveram ali um lugar e momento privilegiados.
As
realidades económico-sociais têm de ser entendidas conforme os respetivos
tempos.
No
comércio tradicional ou de bairro, havia uma relação entre o comprador e o
vendedor, não limitada apenas à satisfação das necessidades básicas, pois os
intervenientes normalmente tinham relações entre si. Os artigos eram frequentemente
colocados fora das portas para poderem ser melhor vistos. Não era raro o caso o cliente levar peças de roupa para casa, para
as experimentar com tempo, ouvir a opinião da família e depois decidir-se…não
comprando…!!!
A
atividade comercial concentrava-se entre a farmácia, o alfaiate, o
cabeleireiro, a mercearia.
Em
Alcobaça, entre a Pissarra, a Rua das Lojas (Alexandre Herculano), Praça D.
Afonso Henriques e Rossio. Muitas alterações tanto nas faixadas como ramos de
atividade, alteraram a fisionomia da Rua Alexandre Herculano, não se esqueçam
as casas de Raimundo Ferreira Daniel, Cândido Sarmento, Daniel Vicente
Raimundo, Adelino André, Alísio Fadigas, Leonardo Taveira Pinto, Manuel
Custódio, Belo Marques o Gilberto Magalhães Coutinho.
Nas
grandes superfícies, encontra-se hoje o necessário e o supérfluo, tudo é
sedutor. As pessoas foram trocando as pequenas lojas pelos grandes centros
comerciais que aos fins de semana se enchem de famílias, a fazer compras ou a
passear. A multiplicidade de artigos no mesmo estabelecimento era uma
característica de há 50 ou 60 anos. Vendia-se um pouco de tudo, lã, algodão,
café, açúcar, bacalhau, calçado, alimento para o gado, adubos e chapéus.
Trindade, Tarcísio Vazão de Campos, nasceu em 11 de setembro de 1931 em
Alcobaça, no seio de uma família tradicional e de comerciantes, que vivia numa
habitação sita no primeiro andar da Ala Sul do Mosteiro de Alcobaça, que havia
sido comprada por António dos Santos Vazão, depois da extinção das Ordens
Religiosas. Tal como Tarcísio Trindade, os seus dois irmãos (João e António)
ali nasceram.
Em Alcobaça, fez o percurso
escolar, até ingressar na Faculdade de Direito, em Lisboa, tendo privado com José Pedro Pinto
Leite (deputado prematuramente falecido num acidente de helicóptero na Guiné,
figura de destaque na Primavera Marcelista e da Ala Liberal), estudos interrompidos para cumprir o serviço militar, os quais não
reatou.
Assumiu o
negócio da família, sendo antiquário, livreiro, bibliófilo e avaliador de
mérito, em Alcobaça e Lisboa. Escreveu o livro de poesia Os Meninos e as Quatro Estações (de que muito se orgulhava, tal como a família e que o mandou reeditar recentemente, para oferecer) que obteve o prémio nacional de poesia e mereceu referência numa edição da História da Literatura Portuguesa, de António José Saraiva e Óscar Lopes. Foi sócio correspondente da Sociedade Portuguesa de Belas Artes.
Em Alcobaça, foi Vereador da Câmara Municipal e Presidente Comissão Municipal de Turismo, no mandato do Presidente da Câmara Horácio Junqueiro, e com 37 anos designado Presidente de Câmara de 7 de fevereiro de 1969 a 25 de abril de 1974 (18 de julho de 1974 é porém a data oficial do termo de funções), Presidente de Direção do Ginásio de Alcobaça (durante sete épocas) e dos Bombeiros Voluntários, Diretor e Editor do jornal O Alcoa (de 29 de fevereiro de 1964 a 26 de dezembro de 1970) e Procurador ao Conselho Distrital e à Câmara Corporativa.
Foi homenageado pelo desempenho à frente da Câmara Municipal, perante cerca de um milhar de pessoas numa sessão de propaganda política, com a presença do Secretário de Estado das Obras Públicas José Adolfo Pinto Eliseu, na ante estreia do pavilhão gimnodesportivo de Alcobaça.
Em Abril de 1971, Tarcísio Trindade, fez surgir na vila o semanário Jornal de Alcobaça que pareceu uma dissidência de O Alcoa, dadas as semelhanças do estilo e critério editorial. Mas em breve se revelou um jornal de propaganda do Diretor, Editor e Proprietário, dando destaque às suas iniciativas municipais. Beneficiava de publicidade institucional, nomeadamente municipal, bem como de entidades privadas com interesses no Município. O chefe da redação, era José Luís Machado (Zito), que também colaborara com O Alcoa, tendo um corpo de colaboradores/redatores reduzido, onde se destacava o Juiz Silvino Villa-Nova. Em novembro desse ano, Trindade foi buscar a O Alcoa, António Sousa Coelho para Administrador. Cumpre registar que desde Junho, Manuel da Bernarda, que viria a ser vereador municipal no período final do marcelismo a convite de Tarcísio Trindade, assumira as funções de Editor, que irá manter até ao 25 de Abril, substituído por António de Sousa Coelho. Com o fim do marcelismo, e um ano após o 25 de Abril, o jornal deixou de ter espaço e encerrou a publicação.
Tarcísio
Trindade foi preso (com mandato em branco)
por ordem do COPCON no mesmo dia que Luís do Couto Serrenho Capador, Carlos Leão da Silva Caranguejo e Hernâni Bastos (22 de Julho
de 1975), numa ação comandada no terreno por João Salgueiro, mais tarde e
atualmente Presidente da Câmara de Porto de Mós, como de referiu supra.
Leia-se com detalhe Fleming de Oliveira em
No Tempo de Soares, Cunhal e Outros.
-No
início de 1976, Tarcísio Trindade partiu para Lisboa onde fundou a Livraria Alfarrabista Campos Trindade, que
ainda existe, gerida por um filho.
Livreiro,
antiquário e avaliador oficial, possuidor de conhecimento da introdução e
difusão da tipografia das espécies bibliográficas dos séculos XV e XVI, em
coleções públicas e privadas de Portugal e do estrangeiro, deve-se a ele a
localização e a primeira informação em 1965, acerca do mais antigo livro
impresso em português Tratado de
Confisson. A partir desta revelação surgiram estudos e teses universitárias
que alteraram as referências e conclusões até então existentes.
-Nas eleições
autárquicas de 1982, foi eleito Presidente da Assembleia Municipal (AD/CDS), sucedendo a Fleming de Oliveira
(que não concorreu), cargo de que se demitiu, antes de cumprir a totalidade do
mandato, substituído por Joaquim André Júnior (AD/CDS).
A
Assembleia Municipal que se realizou no dia 22 de julho, se não atingiu os fins
em vista por motivos circunstanciais, não deixou de ter pontos de interesse,
até, um desfecho inesperado, a demissão de Tarcísio Trindade, que abandonou a
Presidência, mas não a presença no órgão autárquico.
Ao
iniciar-se os trabalhos, Tarcísio Trindade justificou a convocação da reunião
extraordinária, dados os graves problemas
que afetam os setores de urbanização e construção urbana no concelho e
tentou arredar qualquer interpretação
de confronto entre a Assembleia Municipal e a Câmara Municipal (Presidente Rui
Coelho).
Pretende-se um diálogo aberto e
construtivo entre todos, para que dele saia, recomendado pela Assembleia, uma
orientação a ter em conta pelo executivo camarário, referiu Tarcísio Trindade, numa
alegada manifestação de boa vontade que todavia viria a ser mal sucedida e
compreendida, em vários setores da
Assembleia.
Tarcísio
Trindade (traumatizado com o fim do
regime e incidentes no PREC) nunca coexistiu bem com o 25 de abril, nem
depois do golpe de 25 de novembro de 1975.
-Assumiu a 30 de setembro 1987,
funções de Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Alcobaça, aí se
mantendo-se até 2010, ou seja, durante cerca de 23 anos. No seu mandato, pôs em atividade a SAD
normal (serviço de assistência domiciliária) e a SAD alargada que previa,
inicialmente, o apoio domiciliário 24 horas por dia, prestando em função das
necessidades específicas do utente, o que se veio a revelar inviável. Criou o
RSI (rendimento social de inserção) que consiste em prestar apoio a famílias
carenciadas, em dinheiro e/ou géneros, o qual abrangia cerca de 250 famílias
num universo de cerca de 800 pessoas dos Concelhos de Alcobaça, Nazaré e parte
de Porto de Mós. A Misericórdia com este serviço informava a Segurança Social
das famílias que necessitam de apoio, sendo a Segurança Social que
disponibiliza as verbas necessárias.
Foi condecorado
em 2003 pelo Presidente da República, Jorge Sampaio com a Comenda da Ordem de
Mérito e casado com Ana Mafalda Oriol Pena de Campos e Trindade, já falecida,
mas que lhe sobreviveu. Pertenceu em 1980 aos corpos diretivos da ADEPA.
Faleceu em Lisboa, aonde vivia, a 15 de Março de 2011 perto de perfazer 80 anos, tendo nascido em Alcobaça a 11 de setembro de 1931.
-Em
1976, aquando da campanha para a eleição da Presidência da República, Ramalho
Eanes disse, perante milhões de telespectadores, que se Otelo Saraiva de Carvalho, ganhasse as eleições, ele, Ramalho Eanes,
não mais viveria em Portugal.
No
entanto, foi anunciado tempos depois que Otelo iria receber, das mãos de
Ramalho Eanes, a Ordem da Liberdade !!!
A
esse propósito, o jornal O Dia
publicou, no dia 2 de julho de 1983, em lugar de destaque, a seguinte notícia: O Presidente da Assembleia Municipal de
Alcobaça, Tarsício Trindade, que foi um dos milhares de portugueses perseguidos
durante o PREC pelo MFA e pelas brigadas comunistas, enviou ao Presidente da
República um telegrama em que protesta energicamente contra a condecoração do
ex-general Otelo Saraiva de Carvalho, um dos responsáveis pelas perseguições
que sofreram tantos patriotas e suas famílias.
Nesse telegrama, Tarcísio Trindade,
encarcerado pelo COPCON por ocasião do 11 de março, precisa que, ao tomar
conhecimento da atribuição da Ordem da Liberdade a Otelo e pertencendo ao
número dos portugueses que estiveram iniquamente detidos em Caxias com mandados
de captura assinados por aquele militar abrilino, não podia deixar de
manifestar junto do Presidente da República, com o devido respeito, profundo
desgosto e estranheza, sentimentos compartilhados por muitos patriotas que
vivem neste Portugal hoje aviltado e sem futuro.
-Aproximava-se
o décimo aniversário do 25 de Abril e o facto não poderia deixar de ser
assinalado na Assembleia Municipal.
Leonel
Fadigas, propôs que as comemorações em Alcobaça, se centralizassem numa
homenagem pública ao Gen. Delgado e àqueles que, no concelho lutaram pela
democracia antes do 25 de Abril, o que foi aprovado.
Marques
Subtil, propôs um extenso programa de comemorações, que foi recusado por
maioria.
Tarcísio
Trindade, fez notar que não deveriam ser
esquecidos aqueles que no concelho, depois do 25 de Abril, lutaram e sofreram
para que o totalitarismo comunista não tivesse vingado, depois do desvio
marxista que durou marcadamente até 25 de novembro. Salientou que muitos homens
do concelho de Alcobaça, assim como de Rio Maior, numa frente até à Lourinhã
estiveram na primeira linha, arriscando a liberdade a até a vida, numa atitude
patriótica que foi fundamental para a evolução democrática do país. No entanto,
o desvio comunista-marxista do 25 de Abril deixou marcas indeléveis que os
atuais regime e sistema não pareceram ser capazes de superar. falado de
progresso, desenvolvimento, trabalho, futuro risonho para os portugueses.
Leia-se aqui Fleming de Oliveira in No
Tempo de Salazar, Caetano e Outros e No
Tempo de Soares, Cunhal e Outros.
Trindade Ferreira,
Henrique, nasceu em Alcobaça em 1911, aí tendo
efetuado os primeiros estudos.
Cursou
medicina, inicialmente em Lisboa, indo acabar na Faculdade de Coimbra, alojado
numa casa de estudantes dos pais de Amílcar Pereira de Magalhães. Casado com
Maria Isabel Natividade, de quem teve apenas a filha Maria Helena, o seu
exercício da medicina decorreu nos primeiros tempos (década de 1930) em Valado
de Frades e Alcobaça, até se radicar exclusivamente no 1º. andar do
consultório, sito na Rua Alexandre Herculano, em prédio que já não existe.
Não
chegou a tomar posse na década de 1960, do lugar nos Serviços Médico-Sociais,
ao que se disse, por informações desabonatórias da PIDE. Para o lugar, foi
nomeado o Dr. Vítor Martins da Conceição (natural de Mira de Aire), que viera
exercer clínica em Alcobaça, em detrimento de Alvaiázere, onde também tinha
conseguido lugar.
Henrique
Ferreira, manteve um esforço enorme de atualização e a ele se deveu o início da
realização regular de eletrocardiogramas em Alcobaça, pois os doentes
deslocavam-se a Leiria e Caldas da Rainha, quando não a Coimbra e Lisboa. Se
tinha dúvidas sobre um diagnóstico ou terapia, era relativamente usual pedir a
opinião do seu colega e amigo Fernando Fonseca (médico pessoal de Calouste
Gulbenkian).
Humanista,
encarou a profissão como um serviço ao homem e à comunidade, sempre com grande
dignidade e competência, pelo que os colegas lhe reconheciam o mérito de ser o elo de ligação entre eles.
Arguto, observador exímio por trás de um ar aparentemente reservado, havia nele
um grande coração e uma bondade, o que foi determinante para ser tido como um
cidadão exemplar, moral e eticamente irrepreensível. Politicamente não alinhado
com o Estado Novo, colaborou com algumas iniciativas de oposição democrática.
Colegas
que com ele trabalharam e ainda hoje o recordam, referem que ele entendia a medicina exige para ser medicina, além da
indiscutível competência técnica e científica, seriedade, honestidade e
humanismo na sua atividade.
-Quando
o Hospital de Alcobaça comemorou os 100 anos de existência, numa cerimónia com
a presença do Ministro da Saúde, Arlindo de Carvalho, foi descerrada uma lápide
qe homenagem a alguns médicos que lá trabalharam, Francisco Pereira Zagalo,
José Barreto Perdigão, António de Sousa Neves, João José Ferro, José do
Nascimento e Sousa, Domingues Pereira Arinto, João Lameiras de Figueiredo,
Henrique Trindade Ferreira, José Nunes Franco, Francisco Monteiro Barbosa e
João D’Oliva Monteiro.
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