NO
TEMPO DE PESSOAS “IMPORTANTES” COMO NÓS
50
Anos da História de Alcobaça Contada através de Pessoas
Machado, Ana Isa, de 14 anos, foi eleita no dia 27 de
novembro de 1999, Rainha do Carnaval.
de Turquel de 2000, num espetáculo marcado por uma interessante coreografia,
onde não faltou luz e música a condizer.
Esta
jovem que mereceu ainda o título de Miss
Simpatia, foi secundada por Fátima Dias, como 1ª Dama de Honor e Ana Paula Gonçalves, a quem coube o título de 2ª Dama de Honor.
O evento
que foi organizado pela Associação de Jovens de Turquel, contou com a participação
de 17 candidatas ao título, ficando a decisão final a cargo de um júri
composto, entre outros, por Teresa Salvador, Afonso Vicente, Vice-presidente do
Hóquei clube de Turquel, Herminio Rodrigues, vereador da Câmara de Alcobaça, e
de Mário Jordão, bailarino e manequim profissional.
A
tarefa do Júri não foi fácil, dada a beleza, graciosidade e e jovialidade das
candidatas, que desfilaram em três quadros diferentes.
O
ponto alto do espetáculo, foi a peça coreografada por Isabel Cristina e levada
a palco pelas 17 candidatas, que dançaram dois temas, mostrando os dotes
físicos e artísticos.
Animou
o evento, um grupo de alunos do Dino’s Health Club, de Turquel, que efetuou
demonstrações de aeróbica, step e spent.
Machado, Francisco
Ascenso, nasceu
no dia 2 de janeiro de 1946, no lugar de Montes.
Sou natural de Montes, onde nasci em
1946, pouco depois do fim da 2ª Guerra, quando ainda se fazia sentir o
racionamento de alguns produtos nomeadamente o açúcar. A angústia provocada por
uma tal medida em fase tão precoce, dois a três anitos, ter-me há levado a
criar pequeno aprovisionamento para possível consumo ulterior, rapidamente
esquecido. Resolvi, durante breve ausência da minha mãe, pôr uma ou duas
colheres do dito no fundo de um prato e escondê-lo num pequeno recanto fechado,
onde se guardava provisoriamente a roupa suja. Antes mesmo de a roupa ir para lavar,
a minha mãe só teve que seguir o carreirinho das formigas entretanto
estabelecido até descobrir o saboroso troféu e pôr em causa uma tal postura
preventiva. Os psicólogos lá saberão, mas não me surpreenderia que fracassos
quejandos possam ter convergido no estabelecimento do meu perfil mais
observador e menos interventivo.
A infância foi passada nos Montes, onde
a esforçada D.ª Ester conseguiu viabilizar a minha instrução primária.
Nesses tempos, era o improviso que
supria as carências mediáticas. Mas, mesmo somando as inesquecíveis festas da
Ribeira no tempo das amêndoas, o Corpo de Deus em Cós por altura das cerejas, a
Nossa Sr.ª da Luz, que apareceu em 1603 no sítio onde brota a Fonte Santa,
celebrada na Castanheira no tempo das castanhas, S. Vicente e Stª Marta
padroeiros dos Montes e uns poucos mais de santos votados na corda de aldeias
em redor, sobrava muito calendário.
Salões festivos e abrilhantadores de
bailes, para além dos Sequeiras, também escasseavam ao tempo.
Uma vez por outra, dava-se arrumo a uma
adega, limpava-se a preceito lagar e chão térreo, um “petromax a carbureto” e
mais alguns improvisos ad hoc e estava quebrada a rotina.
Dessa vez foi o Salazar a abrilhantar o
baile. O Salazar tocava, é uma maneira de dizer, concertina. Os anos já pesavam
o suficiente para lhe fazer pender a cabeça depois das onze. Ficou sentado numa
cadeira, que o não segurava dos lados, dentro do lagar que fazia de palco. A
concertina devia, por certo, ter sido herdada em novo dum qualquer antepassado
com ouvido mais duro.
Ajudado por um copito entre duas modas,
lá ia trazendo de volta o fole da concertina que a cabeça tinha acompanhado na
descida, contornando a coxa. Havia algum alívio nestas recuperações. Adivinhar
os ritmos desafiava os mais dotados melómanos. Era custoso.
Por vezes o petromax ia abaixo. Havia
velas, recuperava-se o petromax.
A concertina sabia do dono como cão de
cego. Foi a vez de colaborar e pfff..... Rompeu-se o fole, não botava som. O
Salazar abriu as mãos em leque de ambos os lados da concertina e encolheu os
ombros com ar resignado e ensonado.
O adesivo venceu sobre as demais
soluções sonoplásticas rapidamente avançadas por largo espectro de técnicos
voluntários e diligentes. Resultou mais alguns compassos e pfff.... e mais adesivo e mais umas notas e
pfff... até esgotar o adesivo e
pfff.....
Nova consulta generalizada e a
criatividade esgotou-se num sugerido emprego de pingos de estearina de vela
logo recusados pelo Salazar, concertina às costas, que a soneca não podia
esperar mais.
“O Salazar é que estava podre de sono! “
quando não a concertina saía dali como nova, cosida ou colada, ou fosse lá como
fosse. Os pingos de vela talvez durassem menos que sebo em nariz de cão, mas
muito mais difícil era transformar o palheiro do Veneno em sala de cinema
gabinete de projeção e tudo, e não falhava.
O monte dos fardos do palheiro podia
distribuir espectadores, sentados, até ao telhado. O écran era um lençol na
outra parede, de viés. A parede em frente não servia, era de tábuas com
“frinchas” por onde entrava a luz que perturbava a acção. Tipo código de
barras.
A máquina de projeção era de
desenvolvimento vertical e havia lá fora um antigo motor de camião que
alimentava um gerador para pôr aquilo a funcionar.
Ao lado da máquina de projeção havia um
microfone com função decorativa. Uma senhora de meia-idade, anafada, queixo
apontado ao microfone, substituía de viva voz a banda sonora. Antecipava o
desenrolar da acção, tomava partido, profetizava a punição dos maus,
incentivava a vingança dos bons, acalmava a ansiedade dos espectadores, - era
assim um António Lopes Ribeiro muito mais prolixo, sem António Melo para
cumprimentar os senhores espectadores e acompanhar ao piano.
O “Zé do Telhado” reunia as
preferências. As duas quadrilhas montadas, a do João Pequeno, maus até à
indignação, e a do Zé do Telhado, eram irreconciliáveis até aos cavalos. Por
tudo e por nada era tiroteio bravio. Cada disparo era nitidamente referenciado
por gigantesca nuvem de fumo de fazer tossir.
A máquina de projeção engasgava
indistintamente a meio da cavalgada, do tiroteio, da elaboração dos planos. Os
bonecos esperavam um pouco, um senhor alto e forte desligava a máquina, pedia
luz, velas, pilha, petromax, puxava as pontas da fita, cortava bocadinhos de
filme que os miúdos avidamente arrecadavam para mirar de contra luz no dia
seguinte, a locutora aproveitava para explicar cenas seguintes ou detalhar
episódios passados, tudo explicadinho, a assistência não desarmava. Era fifty /
fifty, tempo útil / empanque.
Retomada a projeção, andava um
bocadinho para trás, as perninhas dos cavalos a trote pareciam um cruzar rápido
de palitos trrrr ..... e era reposta a acção.
As cavalgadas tinham o seu quê de
estranho. O galope era por vezes lento e com tremeliques para de imediato adquirir
o ritmo de coelho na carreira.
A cena capital já está próxima. A
câmara faz um grande plano dum capanga do João Pequeno; mau aspeto, barba por
fazer, pontaria cínica, prolongada. O Zé do Telhado está em pose distraída, heroico,
olhos postos no firmamento. A locutora explicou em que é que estava a pensar.
Vê-se a fumarada do disparo certeiro. Tudo parece estar perdido mas, abnegação
extrema, um dedicado companheiro do Zé apercebe-se da trajetória certeira da
bala, lança-se em voo e, com sacrifício da própria vida, salva a vida do Zé do
Telhado. Intersectou a trajetória da bala com o próprio corpo! A locutora
anuncia a vingança do Zé logo após a exéquias e mais duas ou três reposições da
fita .... FIM.
Depois fui estudante. Primeiro em
Leiria onde fiz o liceu e depois na Faculdade de Ciências da Universidade de
Lisboa onde fui a geólogo.
Machado, José Luís, com o pseudónimo de Zito, nasceu na Benedita em 15 de abril de 1933.
Personalidade
muito ativa e eclética, carpinteiro e industrial de profissão, exerceu ainda
ocupações e cargos como correspondente dos jornais Distrito de Leiria, Gazeta
da Nazaré, O Alcoa, A Voz de Alcobaça, O Século, Diário de Noticias, Diário
Ilustrado, Correio da Manhã, Notícias das Caldas, Região de Leiria, Jornal
Poetas e Trovadores, Diário do Ribatejo, Região de Rio Maior, Chefe da redação
do Jornal de Alcobaça, Secretário da Junta Cadastral da Benedita, funcionário
da Junta de Freguesia da Benedita, Presidente da Direção da ABCD, Secretário do
Ginásio Clube de Alcobaça e correspondente bancário.
Pertenceu
a Comissão de Rapazes para a Construção da Nova Igreja Paroquial da Benedita, à
Comissão do Salão Paroquial, foi Secretário do Conselho Paroquial, Animador de
Teatro e Cinema, Criador do projeto para o Brasão da Vila de Benedita, sócio
fundador do Externato da Benedita, sócio nº. 1 da Associação Portuguesa de
Ilusionismo de Lisboa, sócio do Clube Ilusionista Fenianos do Porto, sócio
protetor do Clube Artes Mágicas/Barcelona, sócio do Grupo Cultural e
Filantrópico os José, repórter de corridas de bicicleta, sócio fundador e nº1
da ABCD, sócio nº. 1 Fundador da ADESO, sócio fundador da Rádio Voz da
Benedita, fundador da Associação de Damas de Leiria (sediada então na Benedita)
e Seccionista de damas da ABCD.
Foi
autor da monografia regional Tempo Imemorial, do livro de poemas Voz do tempo e
do opúsculo Tempo de Ser Vila. Compilou Tempo de Sempre e Tempo de Progresso,
versando, além de outros, temas de cariz religioso.
-José
Luís Machado, contou que em 1983, aconteceu um caso invulgar, senão único no
País, um avião de treino, por avaria no motor, depois de sobrevoar a zona,
viu-se forçado a aterrar na EN 1, próximo de Cadeeiros/Benedita. E foi vê-lo ao
local.
Mas
eis como o Diário de Notícias, relatou o acontecimento:
Um piloto da Força Aérea Portuguesa,
fez o milagre de descer com o seu avião na principal estrada do território do
continente, num local onde os desastres de viação são constantes e mortais, sem
sofrer uma beliscadura, mantendo o aparelho incólume e sem esbarrar em nenhuma
das viaturas que percorriam naquele momento a via rápida. Um avião de treino da
FAP – um shipmunk da Base da Ota - perdera o motor, o que na gíria da Força
Aérea significa que o motor deixou de funcionar, ao sobrevoar a zona da Venda
das Raparigas, da EN nº1, nas imediações de Rio Maior. A manhã chegava ao fim.
O trânsito era nessa altura menos intenso do que o normal. O piloto não hesitou
entre aterrar num campo lavrado, em que o aparelho muito sofreria, e a pista
que a estrada Lisboa-Porto lhe oferecia: escolheu esta. Aproveitou uma clareira
no trânsito e oi poisar, suavemente, num local a cerca de três quilómetros do
entroncamento para Alcobaça.
Testemunhas
oculares disseram que o piloto mostrou grande coragem e sangue-frio ao aterrar
na estrada e desviar o avião para a erma, como se estivesse a arrumar um
automóvel na Avenida da Liberdade.
Alguns
condutores que no momento se aproximavam do local, surpreendidos por um objeto desconhecido que rolava na
estrada e faiscava reflexos do sol do meio-dia, pisaram o acelerador e
afastaram-se. E quando o avião se imobilizou e o piloto saiu lesto da carlinga
para se pôr de pé sobre uma das asas, tentando identificar a paisagem que o
cercava, poucos se afoitaram a acercar-se dele.
Centenas
de pessoas, entre as quais José Luís Machado, acorreram ao local, além das
muitas outras que durante a tarde ali circularam em automóveis, cada um
comentando o caso a seu modo.
O
avião seguiu depois num camião próprio da Base de Ota, após desmontadas as
asas. -Machado,
pôs termo à vida, em 1 de março de 1994.
Machado, José Pereira, em 1946, quando se começou a construir a fábrica da
Cibra/Cimentos Brancos, em Pataias, foi para lá trabalhar, como jornaleiro
rural a ganhar 28$00 por dia (não 20$00 por dia, que era a jorna corrente na
agricultura), tendo como instrumento de trabalho a pá, picareta e carro de mão,
que tão bem conhecia da terra.
O
trabalho começou nas obras de terraplanagem, que prolongaram por um longo ano.
Terminadas estas, e pelo mesmo ordenado, foi transferido para o armazém, o que
para ele foi como uma promoção, o reconhecimento do mérito, pois como dizia deixou de ficar à chuva ou ao vento, e
criou-lhe condições para pensar em casar-se. No serviço do armazém, ficou até
se reformar, atingindo as funções de Encarregado Geral.
José
Machado, louvava-se nunca ter tido qualquer sanção, repreensão ou cometido
qualquer erro digno de nota, não obstante fazer a contabilidade e o registo das
entradas e saídas do armazém, que aliás tinha muito movimento, de uma forma
exclusivamente manual. Os computadores só chegaram à Cibra depois de se ter
reformado.
-Faleceu
em 2014 em Coz, onde residia e detinha a chave do Mosteiro, de que era o guardião
(voluntário, disponível e gracioso).
Machado, Turíbio da
Encarnação, nasceu a 20 de novembro de 1947, em Pataias.
Figura
respeitada pela população local, começou a trabalhar aos 10 anos e assegura que
teve muitas profissões ao longo da vida. Foi barbeiro, escriturário,
guarda-livros e Técnico Oficial de Contas, que exerceu até 2009. Sempre ligado
à sua terra, fez parte da Direcção de várias associações culturais, entre as
quais a Casa da Cultura e o Jornal de
Pataias. Técnico de Contas, foi Presidente da Junta de Freguesia de Pataias
de 22 de janeiro de 1983 a 3 de janeiro de 1986, eleito como independente em
lista do PS, tendo como Secretário José Rui André Custódio, empresário, natural
de Burinhosa e Fernando Custódio Vitorino, empresário, natural de Martingança
Gare (que veio a ser o primeiro presidente da Junta de Freguesia de
Martingança, após a desanexação da Freguesia de Pataias).
O pai
de Turíbio, foi funcionário da Junta de Freguesia, o que de certo modo terá
iniciado o gosto do filho pela questão autárquica. Turíbio Machado foi
Presidente da Casa da Cultura de Pataias.
Segundo
se diz, este militante do PS, por ter aceite a desanexação da Moita e
Martingança da Freguesia de Pataias, o partido não o reconduziu nas eleições
seguintes para a Junta de Freguesia.
Enquanto
Presidente da Junta assumiu, normalmente, uma postura muito reivindicativa,
alegadamente na defesa dos interesses de Pataias, o que acarretou alguns
conflitos, nomeadamente com o Presidente da Câmara, J. Rui Coelho. Servimos para dar receitas à Câmara mas
pouco recebemos.
É
pois muito crítico em relação ao papel
da Câmara de Alcobaça no desenvolvimento daquela que é a sua freguesia. Foi a
única experiência autárquica e política, finda a qual se afastou,
manifestando-se desiludido com a forma como funcionam a política e as máquinas
partidárias.
Cansei-me de andar a lutar contra
moinhos de vento,
justificou.
-Abriu
em novembro de 1985, a Escola Preparatório/Secundária de Pataias, com algum
atraso é verdade, pois o edifício já tinha ficado pronto a ser utilizado em
novembro de 1984, mas por falta de mobiliário não pode funcionar nesse ano
escolar, como a Junta reclamava.
-Turíbio
Machado escreveu entre 1998 e 2000 o livro Deserdados,
que publicou em edição de autor.
Ao trazer à estampa este livro, faço-o
sem ter a pretensão de me arvorar em escritor, muito menos em qualquer
intelectual ou erudito da Língua Portuguesa, da qual, por dificuldades de
percurso não tive a adequada formação académica. Faço-o dentro das minhas
limitações e tão só, porque achei do maior interesse transmitir para a
posteridade boa parte da cultura e sentimentos de um povo que, muitas vezes sem
saber ler nem escrever - e dentro dos condicionalismos e escassez de recursos
que marcaram significativamente o período que mediou entre o início da primeira
grande guerra, o final da segunda e se prolongou depois pelas guerras de África
– tentava, e de alguma forma conseguia minimizar o sofrimento que a conjuntura
económico-política da altura impunham. Esse povo, que procurava viver à margem
da política então vigente, acabou por ver-se de certo modo manietado por ela,
sofrendo na carne os problemas das guerras de África que lhe despedaçaram o
coração e algumas vezes os próprios filhos. Foram essa cultura, essa humildade,
em suma, essa forma de estar do povo da minha terra, que me motivaram a
realizar este trabalho que retrata a região de Pataias naquele período marcante,
nomeadamente nos anos sessenta do século XX.
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