NO
TEMPO DE PESSOAS “IMPORTANTES” COMO NÓS
50
Anos da História de Alcobaça Contada através de Pessoas
Tanqueiro, Mário Costa
de Oliveira, nasceu em Alcobaça, a 7 de março de 1925, na Praça da
República.
Por
circunstâncias adversas, na vida dos pais, não pode prosseguir estudos, após a
instrução primária, o que o obrigou, bem como aos irmãos, a ir trabalhar,
iniciando-se no estabelecimento comercial de José Bento da Silva.
Dotado
de talento artístico, com 15 anos ingressou na Olaria de Alcobaça como pintor,
onde se destacou pelo traço.
Ambicioso
e determinado, conseguiu por essa altura ingressar como escriturário, na OLIFRAN/ Oliva Monteiro e Francês, onde
aprendeu contabilidade estudando á noite, e permaneceu até 1945.
Por
esta altura, com 19 anos, um dos proprietários da Olaria de Alcobaça, Ld.ª , António Vieira Natividade, propôs-lhe o
regresso à fábrica, na qualidade de técnico e comercial, pois a empresa no fim
da II Guerra encontrava-se em profunda crise.
Conseguiu
dinamizar a Olaria e aí se manteve como técnico de contas e gerente até 1965, altura
em que se propôs, com Raúl da Bernarda e
Filhos, Ld.ª e Elias e Paiva, Ld.ª, constituíram a SPAL/Sociedade de Porcelanas de Alcobaça, de que foi Administrador,
juntamente com Joaquim da Bernarda, Joaquim Paiva e posteriormente António
Elias. Desligou-se da Gerência da Olaria de Alcobaça em 1966, mantendo-se na
Administração da SPAL até 1969 altura em que se desligou dela.
Fundou,
então, em 1972 a Martan/Mário
Tanqueiro Ld.ª, criando aí, durante anos, os modelos e decorações da empresa
até 1983, em que a vendeu.
Paralelamente
ao percurso profissional, exerceu após 25 de Abril de 1974 o cargo de
Presidente da 1ª. Comissão Instaladora da Associação Portuguesa de Cerâmica,
juntamente com Virgílio Costa, presidindo às negociações com os sindicatos, dos
primeiros contratos de trabalho do setor.
Democrata, republicano e amigo da sua
terra, concorreu, como
independente à Câmara de Alcobaça em listas do PPD/PSD onde prefez dois
mandatos, um como Vereador e outro como Vice-presidente.
Por
inerência, foi nomeado Presidente da Fundação Maria Oliveira, tendo
concretizado iniciativas de relevo, como a instalação de casais.
Produtor
de pera e maçã, em Chiqueda, esteve na criação do Mercoalcobaça, e fez parte da
Direção da Cooperativa Agrícola.
Amante
das artes, destacou-se no desenho e pintura nas décadas de 1950 e 1960,
dedicando-se sobretudo a aguarela tendo sido Sócio nº 326, da Sociedade
Nacional das Belas Artes, participado em exposições coletivas, tido obras
premiadas com medalhas de prata e menções honrosas em aguarela, algumas das
quais estão na posse de alcobacenses. Fez parte, na década de 1950, de uma
tertúlia de artistas plásticos em Alcobaça, presidida por Mestre Luciano, que
incluía artistas como Ernesto Luiz, Ângelo Brandão e Alexandre Paramos, e do
Rotary Club de Alcobaça.
-Segundo
o filho Mário, desde muito novo, teve o
gosto pela caça. Foi caçador durante mais de 40 anos. Lembro-me de o acompanhar
em grande parte dessas caçadas que nos anos 50 se circunscreviam ao concelho
mas que, a partir dos anos 60 se alargaram a outros pontos como Alentejo e
Ribatejo, onde durante muitos anos e com alguns amigos, caçava com
frequência.
Recordo os seus amigos e colegas
com quem saia nos anos 50, o Paulino, o "Bizotê", o Dr. Quim
Marques, o Silvino Pedro entre outros.
Mais tarde, nas décadas de 60 e 70
caçava rolas com o Joaquim da Bernarda, Afonso Pimentel, Manuel da Bernarda e
outros ilustres caçadores alcobacenses, mas a sua preferência foi a caça a
perdiz e lebre, enquanto teve "pernas". Nos anos 60 chegou ser
presidente da Comissão Venatória do Centro.
Atirador exímio, iniciou na década de
80 o tiro ao prato, pois, por motivos de saúde, a caça a perdiz começou a ser
difícil. Durante alguns anos participou em diversos torneios pelo País, onde
obteve inúmeros trofeus, sobretudo no "tiro de caça " onde era
especialista.
Para além da caça, e da pintura, outra
grande paixão foram os cavalos, e a agricultura.
Comprou o primeiro cavalo com apenas 15
anos, mas por pouco tempo o teve.
Só muito mais tarde, em 1972, e já com
condições de espaço, comprou o primeiro
lusitano e em 75 o segundo que se manteve connosco duranre19 anos.
A agricultura era uma paixão. Em
Chiqueda, plantou o primeiro pomar de pera rocha em 1971 e logo depois dois
pomares de maçã de 2000 árvores cada, totalmente tratados e assistidos por si.
Simultaneamente plantou uma estufa junto à residência, com diversos produtos
vegetais, hortícolas.
Criou gado bovino, e caprino durante
alguns anos. Estes eram os seus hobies prediletos.
Escreveu poemas nos anos de 1950, e sei
que um fado cantado por um fadista famoso, tinha letra sua.
Tavares, Artur Augusto Coelho de
Figueiredo, vulgo Bibi, nasceu a 14 de novembro de 1949 em
Alcobaça, sendo que a alcunha vem já do avô.
José Francisco Semião, conhecido como Zé Bibi, foi soldado da GNR, mas não gostava mesmo nada de ter de
castigar alguma pessoa. Diz-se que, por isso, nunca passou de soldado. A
alcunha pegou e transmitiu-se aos descendentes, entre os quais o Artur.
Artur fez seis anos de estudos até ir trabalhar, com treze anos, como
vidreiro e mais tarde lapidário na Crisal, aonde se manteve durante perto de 20
anos. Depois de cumprir o serviço militar, sempre em Portugal e casado, foi
trabalhar no Café Restaurante União (que
aliás já não existe) em Rio Maior, pertencente a familiares da mulher.
Jogou futebol no Ginásio Clube de Alcobaça, na posição de extremo
esquerdo dando mais golos a marcar do que
eu próprio a marcar. Encontra-se há 31 anos a explorar a Esplanada Artur
(ou do Bibi), junto à CMA, um bom local
de convívio e de petiscar. Reclama-se um apaixonado por Alcobaça e não tolera que digam mal desta sua terra, onde
conhece toda a gente e com quem se dá em geral bem. Os seus sete dias
semanais são passados a trabalhar, pois não
sabe fazer mais nada, lastimando todavia não ter folgas, salvo para um petisco ao fim da tarde ou um
joguinho de sueca bem batida.
Artur
Tavares, Bibi, tem a sua esplanada
aberta há cerca de 30 anos, e divide os dias entre o quiosque e o café. Segundo
ele, numa época em que os setores vivem dias difíceis, um negócio equilibra o
outro.
-É adepto, paciente e fervoroso,
do Sporting, com lugar em Alvalade.
Tavares,
Gonçalo Manuel de Albuquerque, mais conhecido literariamente
por Gonçalo M. Tavares, nasceu em Luanda em Agosto de 1970, esteve presente no
Festival de Cinema e Literatura Books&Movies, de 2016.
É um dos mais citados e adaptados escritores da
atualidade. A sua obra já inspirou inúmeras peças de teatro, objetos
artísticos, vídeos de arte, óperas entre outros.
Ficou célebre o comentário de José Saramago aquando da
atribuição (2005) do Prémio com o seu nome, ao romance Jerusalém: é um grande livro, que pertence à
grande literatura ocidental. Gonçalo M. Tavares não tem o direito de escrever
tão bem, apenas aos 35 anos: dá vontade de lhe bater!
Tavares,
José Pedro Duarte, nasceu em Lisboa a 10 de maio de 1946, aí cursou a Escola
D. João I, o Liceu Camões e o Instituto Superior Técnico, onde se Licenciou em 1969
em Engenharia Civil com Distinção, seguindo depois para a Universidade de
Lancaster em Inglaterra, onde obteve a sua pós-graduação e foi Colega da Liz,
que viria a ser sua Mulher.
Cumpriu
o Serviço Militar obrigatório na Marinha. Exerceu funções Docentes no Instituto
Superior Técnico e também na Universidade Técnica de Lisboa, na área do
Planeamento Regional e Urbano.
Foi
Investigador ligado a diversos Projetos e Instituições /LNEC, JEN, IAC, INIC,
Fundação Gulbenkian, Membro Fundador do CESUR/Centro de Sistemas Urbanos e
Regionais, Centro de Investigação nas Universidades de Lisboa.
Exerceu
atividade profissional principal, no domínio da Gestão de Projetos,
destacando-se as posições de Coordenador da Equipa de Gestão do Contrato do
Projeto do Centro Cultural de Belém (1988 a 1990), Gestor do Projeto do
Empreendimento fabril da AGROS em Vila do Conde (1978 a 1983), Assessor à
Gestão dos Projetos do Museu do Vale do Côa, Gestor de Projeto na Equipa do Arq.
Gonçalo Byrne, na Remodelação para o Banco de Portugal/Sede e Museu do
quarteirão da Baixa Pombalina que engloba a Igreja de S. Julião (2007 a 2010),
Consultor dos Institutos Patrimoniais para diversas intervenções, nomeadamente
no Mosteiro de Alcobaça, no Convento de S. Bento da Vitória e no Projeto do Edifício
da Cadeia e Tribunal da Relação no Porto, no Museu Nacional de Arte Antiga e
Teatro Nacional de D. Maria II em Lisboa, Consultor de diversos outros
Departamentos do Estado, em particular junto dos Institutos das Estradas de
Portugal, do Ministério dos Negócios Estrangeiros e do INATEL, e Juiz-Árbitro
nomeado pelo Estado.
É
autor de diversos trabalhos publicados no domínio da Investigação ligada ao
Génio Civil Cisterciense e à Hidráulica Monástica, tema sobre o qual tem sido
convidado para realizar Conferências, tendo assinado artigos de imprensa.
Membro
Conselheiro da Ordem dos Engenheiros e Especialista em Direcção e Gestão da
Construção, Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Santa Casa da
Misericórdia de Alcobaça e da ADEPA e Membro Honorário da Academia Portuguesa
da História desde 2007.
Casou
em 1973 com Liz (Bióloga), com quem tem duas filhas e seis netos. A sogra Lily,
recentemente falecida, conheceu o marido em Berlim no pós-guerra, tendo
estudado no Colégio do Mosteiro Cisterciense Feminino, de Heiligengrabe,
fundado em 1289, perto de Berlim.
-Divide o tempo entre o
Alto da Barra /Oeiras, a Quinta de Nª. Senhora de Lourdes /Alcobaça e
Inglaterra /Cambridge e Cowes, Ilha de Wight.
A Quinta de Nossa Senhora
de Lourdes tornou-se no ponto de encontro da já larga Família, onde todos
voltam pelo muito afecto e vivências havidas. Adquirida em 1947 pelo Pai do
Pedro Tavares, o Dr. Amilcar da Silva Tavares, a seu parente Dr. Joaquim Manso,
a escritura realizada em 4 de Setembro no cartório do Dr. Alves Catarino foi o
começo de uma longa amizade que ainda hoje perdura com os filhos do então
Notário, Zé e Pedro Alves Catarino.
Na Nossa Senhora de
Lourdes com o seu Chalet Azul, a Liz catalisou uma pequena revolução e existem
lá exemplos das árvores de fruta e de sombra inerentes ao nosso País, bem como
boa variedade de horta. Para esta contribuem as três minas de água bem
conservadas, com mais de cem metros de túnel escavado no grés de arenito, a
piçarra, e que fornecem água para consumo, rega e lazer. Minas estas hoje
raras, numa região de que delas dependia e onde eram às centenas. Modesta
lembrança do outrora determinante Sistema Hidráulico em Alcobaça.
Neste estatuto rústico,
onde os combros e terraços foram preservados, além de latadas, cantarias e ferros
forjados, a jardinagem constitui assim um dos passatempos do casal, a par da
leitura, da música, da história, da escrita, da arte, da fotografia e das
caminhadas de observação e exploração da Natureza. Observar as constelações no
céu estrelado, ouvir o mocho à noite, ver o esquilo de manhã cedo, ou as garças
a subir os rios, encontrar os ouriços-cacheiros, os sapos e as salamandras,
apanhar alguns cogumelos para sopa em Novembro, inventariar as borboletas,
observar cedo as fumarolas de vapor de água a subir da terra em manhãs de Sol
de Inverno, captar momentos fotográficos únicos, percorrer montes e vales,
praias e montanhas e tantas outras coisas que se descobrem em observação
ajudada por fértil imaginação, proporcionam alegrias quase sem paralelo.
A Liz e o Pedro reuniram
ainda uma Biblioteca com mais de seis mil volumes, vinte mil fotografias em
papel e talvez cento e vinte mil digitais. Na música, frequentam os Concertos
de Música Clássica, tendo a Liz a magia de tocar piano, cravo e flauta de bisel
(nas suas diversas variantes, de que possui um interessante conjunto de
instrumentos) e ainda canta. Interesses estes também partilhados pelas filhas.
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