segunda-feira, 21 de janeiro de 2019


NO TEMPO DE PESSOAS “IMPORTANTES” COMO NÓS

50 Anos da História de Alcobaça Contada através de Pessoas


Rebelo, Domingos José Soares, nascido em 1916 em Margão-Goa, formou-se em 1940 em Inglês na Universidade de Bombaim, tendo lecionado entre 1942 e 1945 em Mombaça-Quénia.
Estudou no Seminário Católico de Rachol (Goa) e esteve para ser padre, de que desistiu pois, o que mais apreciava, era as letras. Quando saiu do seminário foi estudar para o liceu, com grandes dificuldades materiais pois, com a morte do pai, não havia na família quem ganhasse dinheiro. Confessava que foi um estudante paupérrimo que só conseguia fazer alguma coisa com os prémios que ia ganhando.
Após curta estadia em Lisboa, fixou-se em Lourenço Marques como perito comercial e económico do Consulado Geral/Embaixada dos EUA entre 1946 e 1978 e, ao mesmo tempo, como colaborador de jornais e revistas de Moçambique, África do Sul, Quénia e EUA. Foi um grande propagandista do chá de Moçambique e considerado mesmo um perito nessa matéria. Em 1980 radicou-se em Alcobaça. Foi autor de 12 livros, 6 dos quais editados em Alcobaça, de um livro de poesias em 1941 – Goa e de 10 conferências, sendo 4 de histografia local, 5 de temática xaveriana/S. Francisco Xavier, a cujo estudo se dedicou de 1952 a 2005 e uma sobre o mandó de Goa.
Pertenceu a instituições culturais e cientificas de Moçambique, África do Sul, EUA e Portugal. Teve colaboração ativa em revistas e na imprensa de Alcobaça, Coimbra e Lisboa. Todas as semanas colaboravaco pequenos apontamentos em O Alcoa ou Região de Cister, com textos sobre Alcobaça, suas freguesias e personalidades. Dizia que o que escreveu sobre o Concelho de Alcobaça dava para mais de 300 páginas e que um dia disseram-lhe que escrevia muito e tentaram impor-lhe condições. A partir daí começou a compilar os escritos e cessou a colaboração.
Foi casado com Rosalina Filomena da Cunha e Soares Rebelo, Filomena Cunha, conhecida pela postura feminista.
-Domingos Soares Rebelo ofereceu o seu espólio bibliográfico ao Museu de Turquel.
Recorde-se que esteve patente em março 2002 na Casa da Música uma exposição Xaveriana/S. Francisco Xavier. Muito desse material e outro, constituído por dezenas de trabalhos publicados por aquele autor e livros editados, alguns autografados, tudo de temática interessante e valiosa, ligada à história local, ficou em exposição permanente numa vitrine própria, já que foi oferecidoao Museu de Turquel, por Soares Rebelo, a quem a ADEPART agradeceu, tendo em consideração o significado do gesto que engrandeceu o projeto do núcleo museológico.
-Rosalina Soares Rebelo, filha de Domingos Soares Rebelo, apresentou no dia 5 de abril de 2014, os livros D. José Barbosa (um clássico setecentista alcobacense), Antologia Xaveriana de Origem Goesa, Sailors, Beware Women Fátima e sua Universalidade e Hinos, Novenas e Orações a S. Francisco Xavier.
Os livros, foram revistos pela filha após a sua morte e lançados em sua homenagem. 
Relativamente ao livro D. José Barbosa (um clássico setecentista alcobacense), este é uma homenagem a uma personalidade alcobacense, por parte de quem se entusiasmou a escrever sobre personalidades e factos das terras dos coutos de Alcobaça.
-Com 93 anos, segundo o Região de Cister mostrava um corpo envelhecido, todavia cheio de vitalidade. Com um sorriso, dizia que estou a trabalhar como se tivesse 25 anos. Não sei fazer mais nada.
Cada ruga do rosto, cada gesto do corpo, contava uma história. Pela sua mulher, a feminista Filomena da Cunha, já falecida, nutria uma grande paixão, dedicando-lhe várias obras literárias. Viveram uma história de amor de 66 anos, da qual resultou dois filhos. Os filhos foram a razão da vinda do casal para Portugal. Pediatra de profissão, a filha exercia as funções na vila da Nazaré. Antes de se instalar em Alcobaça em 1980, Soares Rebelo ainda regressou a Moçambique. Em 1980, o casal adotou Alcobaça como cidade do coração.
Alcobaça deve-lhe a redescoberta de facetas esquecidas e ilustres da terra, ajudando a reescrever a história local, mas também de outros canos do mundo, da índia a Moçambique.
Seguiu as pisadas solidárias da esposa, distribuindo dinheiro por instituições portuguesas de beneficência, nomeadamente as que abraçavam crianças e idosos. A Fundação Soares Rebelo foi criada, mas a exigência de um capital social mínimo de 250 mil euros travou a continuação do sonho de família.
Soares Rebelo, frequentava regularmente o escritório de Fleming de Oliveira, para conversar (trocar opiniões ).
-Faleceu em 2013.
Rebelo, Luís, de 40 anos, matou-se no dia 14 de setembro de 2007, com um tiro, depois de ter tentado matar a mulher Beatriz, de 28 anos, de quem tinha dois filhos. O crime verificou-se durante a tarde junto à residência de ambos, no Casal da Carreira, tendo o homem desferido golpes com uma faca no corpo da companheira, seguidos de tiros com arma de fogo.
A vítima conseguiu fugir para casa de um vizinho, mas ainda foi atingida num braço ficando com ferimentos. Os factos ocorreram diante do filho mais velho do casal, de 8 anos. Depois de disparar contra a mulher, o indivíduo pôs-se em fuga, tendo sido perseguido por militares da GNR vindo acabar com vida (com um tiro) dentro do automóvel, perto do Farol do Sítio da Nazaré.
Luís Rebelo era dono de uma serração que herdara do pai. Carpinteiro há mais de 10 anos, tinha cumprido pena de prisão pelo homicídio de um irmão, já que este, toxicodependente, costumava arranjar-lhe problemas de variada natureza.
Luís Rebelo e mulher, Beatriz Rebelo, tinham uma filha de 2 anos e meio. Beatriz Rebelo conseguiu sobreviver já que a bala entrou e saiu, sem causar danos especialmente graves.
Rebelo, Rosalina Filomena da Cunha e Soares, nasceu em Goa, Santa Cruz, a 17 de Maio de 1908.
Filha do escritor, jornalista e comerciante Joaquim João da Cunha e de Rosa Maria da Cruz, foi uma das feministas pioneiras na colónia portuguesa da Índia, onde se notabilizou pelos escritos nos jornais locais e pela participação em Portugal Feminino, de cuja revista foi delegada.
Segundo informou Lúcia Serralheiro, a revista mensal Portugal Feminino (1930- 1937) fundada por Maria Amélia Teixeira existiu até ao fim da vida da sua filha, a quem a mãe a dedicou. Gostava ainda de ter fundado uma casa de mulheres jornalistas tal como fizera a francesa Marguerite Durant, autora do primeiro jornal francês exclusivamente feminino e feito só por mulheres incluindo as tipógrafas. Mulher culta e com boa situação financeira com a publicação dessa revista tentou ajudar outras mulheres artistas na invalidez e velhice. Mas nem ela nem as suas colaboradoras eram renumeradas. Entre elas contava-se a nata das intelectuais portuguesas, não só na metrópole, mas também nas ex-colónias portuguesas.
É aí que aparece, a jovem estudante e feminista Filomena da Cunha, como correspondente da India Portuguesa. Ela já se iniciara nos jornais O Heraldo, Jornal da Índia e O Independente. Em 1938 fundou e dirigiu o Instituto de Comércio e Taquigrafia em Margão. A partir de 1939, após a morte do pai e até ao casamento, tomou o lugar na gestão da sua firma J. J. da Cunha Nova Goa. Casou com Domingos José Soares Rebelo e foram viver no Quénia. Entre 1942 e 1945 foi professora de contabilidade e estenografia da escola júnior e sénior na localidade de Mombaça e mãe de dois filhos. A partir do final da II Guerra viveram em Maputo (Lourenço Marques), e em 1975 vêm para Portugal. Deve-se ao seu marido, o historiador Domingos José Soares Rebelo, a coletânea dos seus escritos dispersos na imprensa, a que deu o título Ao Sopro das Brisas Fagueiras do Índico, publicada em Alcobaça no ano de 1997.
Ele refere-a como “a então paladina feminista de Goa” e afirma que o grande valor desses seus escritos decorre do facto de estarem ainda hoje atualizados em relação às lutas das mulheres. O livro divide-se em três partes. Os primeiros de dez artigos são sobre o movimento feminista. Seguem-se três ensaios: um sobre o sorriso, outro sobre a figura célebre do goês Abade de Faria e o último dedicado à “Índia e seus encantos”, que foi publicado em Portugal Feminino (Maio de 1936]) com três fotogravuras – cascata de Sud-sagor, Taj Mahal e Mesquita. Este artigo foi posteriormente reproduzido na íntegra pelo semanário O Independente em 16/06/1936, acrescido de uma prévia introdução. A terceira parte do livro apresenta “anotações suplementares”, nas quais uma súmula sobre os jornais em que Filomena colaborou, bem como sobre a revista Portugal Feminino, enquadrando o contexto dos anos trinta. Este livro, parte da história da juventude de Filomena da Cunha, reentrou na sua vida no dia do seu quinquagésimo sexto aniversário de casada, como presente surpresa do marido e familiares.
A sua escrita preenche um dos vazios na história dos movimentos de mulheres em Portugal sobretudo quanto ao que se passava na longínqua India. Por exemplo, num dos seus artigos refere: “Mrs. Sarojini Naidu, a distinta poetisa e fluente oradora de fama mundial, quando há pouco presidiu à conferência anual da Associação Indiana das Mulheres, reunida em Madrasta, disse: cada uma de vós deve fazer um cauteloso exame de consciência e perguntar a si própria como é que eu contribuo pela causa da mulher, pelo progresso da minha terra e pelo progresso do mundo” (Jornal da Índia, 10/09/1934).
“A participação da médica (1900) e sufragista portuguesa Adelaide Cabete (1867/1935) nos Congressos Internacionais Femininos de Gand (1913), Roma (1923) e Lisboa (1924) era desconhecida da Autora então vivendo nas longínquas terras da Índia” (Ao sopro das brisas fagueiras do Índico, p. 25]). Os seus relatos mostram como uma jovem portuguesa na Índia percecionava as outras mulheres suas contemporâneas, que lutavam pela igualdade dos direitos, as vitórias que alcançavam, nomeadamente quanto às questões do vestuário, partilha dos espaços públicos e privados e sem hesitar dar a sua opinião critica.
Sobre a educação das mulheres portuguesas na India, referiu a falta de recursos e de escolas para a formação das raparigas: “dizer que uma menina não necessita de instrução sólida será um disparate igual ao que se dissesse que um rapaz também dela não precisa” (O Heraldo, 18/11/1930, p. 1, cols. 3-4). Uma expressão clara sobre o que entendia ser a igualdade de oportunidades e não hesitava em apontar pistas de soluções ao alcance das próprias mulheres. Por exemplo, perante as elevadas taxas de analfabetismo das mulheres, Filomena da Cunha dirigia a seu olhar para as raparigas que já na altura tinham cursos de Liceu, Farmácia, Medicina e Escola Normal. Sugeria-lhes que se organizassem em Associações ou Clubes, onde semanalmente pudessem dar apoio a outras mulheres nas áreas que dominavam, a fim de contribuírem para a saúde das mulheres e sua educação sexual: “As associadas médicas podiam, de vez em quando, fazer conferências ou demonstrações rudimentares sobre a higiene, primeiros socorros nos acidentes, tratamento das crianças, bebés, etc.” (Jornal da Índia, 20/02/1935, p.1, cols. 1-3). Filomena da Cunha procurou, sobretudo, assinalar exemplos positivos de empenho, coragem e de conquistas bem-sucedidas na longa estrada percorrida pelas feministas em prol do bem-estar de todos. Os seus escritos relatam as lutas das mulheres nos países do Oriente, Médio Oriente e em Inglaterra, não só com intuito de serem divulgadas pela sua importância e também porque era adepta desses ideais. Deixou outras heranças literárias que reservaram ao ciclo familiar, incluindo um livro de histórias dedicado à sua bisneta Beatriz. O seu marido publicou a obra Contos, Fábulas e Parábolas, uma edição comemorativa para o 1.º centenário do seu nascimento que ocorreu em 2008 na cidade de Alcobaça onde a família se radicou após vivido Nazaré de 1976 a 1980.
-Filomena da Cunha faleceu em Alcobaça a 1 de fevereiro de 2007, com 98 anos de idade e foi casada com Domingos Soares Rebelo, supra referenciado.

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