NO
TEMPO DE PESSOAS “IMPORTANTES” COMO NÓS
50
Anos da História de Alcobaça Contada através de Pessoas
Rebelo, Domingos José Soares, nascido
em 1916 em Margão-Goa, formou-se em 1940 em Inglês na Universidade de Bombaim,
tendo lecionado entre 1942 e 1945 em Mombaça-Quénia.
Estudou
no Seminário Católico de Rachol (Goa) e esteve para ser padre, de que desistiu
pois, o que mais apreciava, era as letras. Quando saiu do seminário foi estudar
para o liceu, com grandes dificuldades materiais pois, com a morte do pai, não
havia na família quem ganhasse dinheiro. Confessava
que foi um estudante paupérrimo que
só conseguia fazer alguma coisa com os prémios que ia ganhando.
Após
curta estadia em Lisboa, fixou-se em Lourenço Marques como perito comercial e
económico do Consulado Geral/Embaixada dos EUA entre 1946 e 1978 e, ao mesmo
tempo, como colaborador de jornais e revistas de Moçambique, África do Sul,
Quénia e EUA. Foi um grande propagandista do chá de Moçambique e considerado
mesmo um perito nessa matéria. Em 1980 radicou-se em Alcobaça. Foi autor de 12
livros, 6 dos quais editados em Alcobaça, de um livro de poesias em 1941 – Goa
e de 10 conferências, sendo 4 de histografia local, 5 de temática xaveriana/S.
Francisco Xavier, a cujo estudo se dedicou de 1952 a 2005 e uma sobre o mandó
de Goa.
Pertenceu
a instituições culturais e cientificas de Moçambique, África do Sul, EUA e
Portugal. Teve colaboração ativa em revistas e na imprensa de Alcobaça, Coimbra
e Lisboa. Todas as semanas colaboravaco pequenos apontamentos em O Alcoa ou Região de Cister, com textos sobre Alcobaça, suas freguesias e
personalidades. Dizia que o que escreveu sobre o Concelho de Alcobaça dava para
mais de 300 páginas e que um dia disseram-lhe que escrevia muito e tentaram
impor-lhe condições. A partir daí começou a compilar os escritos e cessou a
colaboração.
Foi
casado com Rosalina Filomena da Cunha e Soares Rebelo, Filomena Cunha, conhecida pela postura feminista.
-Domingos
Soares Rebelo ofereceu o seu espólio bibliográfico ao Museu de Turquel.
Recorde-se
que esteve patente em março 2002 na Casa da Música uma exposição Xaveriana/S.
Francisco Xavier. Muito desse material e outro, constituído por dezenas de
trabalhos publicados por aquele autor e livros editados, alguns autografados,
tudo de temática interessante e valiosa, ligada à história local, ficou em
exposição permanente numa vitrine própria, já que foi oferecidoao Museu de
Turquel, por Soares Rebelo, a quem a ADEPART agradeceu, tendo em consideração o
significado do gesto que engrandeceu o projeto do núcleo museológico.
-Rosalina
Soares Rebelo, filha de Domingos Soares Rebelo, apresentou no dia 5 de abril de
2014, os livros D. José Barbosa (um
clássico setecentista alcobacense), Antologia Xaveriana de Origem Goesa,
Sailors, Beware Women Fátima e sua Universalidade e Hinos, Novenas e Orações a S. Francisco Xavier.
Os
livros, foram revistos pela filha após a sua morte e lançados em sua
homenagem.
Relativamente ao livro D. José Barbosa (um clássico
setecentista alcobacense), este é uma
homenagem a uma personalidade alcobacense, por parte de quem se entusiasmou a
escrever sobre personalidades e factos das terras dos coutos de Alcobaça.
-Com
93 anos, segundo o Região de Cister mostrava
um corpo envelhecido, todavia cheio de vitalidade. Com um sorriso, dizia
que estou a trabalhar como se tivesse 25
anos. Não sei fazer mais nada.
Cada
ruga do rosto, cada gesto do corpo, contava uma história. Pela sua mulher, a feminista Filomena da Cunha, já falecida,
nutria uma grande paixão, dedicando-lhe várias obras literárias. Viveram uma
história de amor de 66 anos, da qual resultou dois filhos. Os filhos foram a
razão da vinda do casal para Portugal. Pediatra de profissão, a filha exercia
as funções na vila da Nazaré. Antes de se instalar em Alcobaça em 1980, Soares
Rebelo ainda regressou a Moçambique. Em 1980, o casal adotou Alcobaça como
cidade do coração.
Alcobaça
deve-lhe a redescoberta de facetas esquecidas e ilustres da terra, ajudando a
reescrever a história local, mas também de outros canos do mundo, da índia a
Moçambique.
Seguiu
as pisadas solidárias da esposa, distribuindo dinheiro por instituições
portuguesas de beneficência, nomeadamente as que abraçavam crianças e idosos. A Fundação Soares Rebelo foi criada, mas
a exigência de um capital social mínimo de 250 mil euros travou a continuação
do sonho de família.
Soares
Rebelo, frequentava regularmente o escritório de Fleming de Oliveira, para
conversar (trocar opiniões ).
-Faleceu
em 2013.
Rebelo, Luís, de 40 anos, matou-se no dia 14 de
setembro de 2007, com um tiro, depois de ter tentado matar a mulher Beatriz, de
28 anos, de quem tinha dois filhos. O crime verificou-se durante a tarde junto
à residência de ambos, no Casal da Carreira, tendo o homem desferido golpes com
uma faca no corpo da companheira, seguidos de tiros com arma de fogo.
A
vítima conseguiu fugir para casa de um vizinho, mas ainda foi atingida num
braço ficando com ferimentos. Os factos ocorreram diante do filho mais velho do
casal, de 8 anos. Depois de disparar contra a mulher, o indivíduo pôs-se em
fuga, tendo sido perseguido por militares da GNR vindo acabar com vida (com um
tiro) dentro do automóvel, perto do Farol do Sítio da Nazaré.
Luís
Rebelo era dono de uma serração que herdara do pai. Carpinteiro há mais de 10
anos, tinha cumprido pena de prisão pelo homicídio de um irmão, já que este,
toxicodependente, costumava arranjar-lhe problemas de variada natureza.
Luís
Rebelo e mulher, Beatriz Rebelo, tinham uma filha de 2 anos e meio. Beatriz
Rebelo conseguiu sobreviver já que a bala entrou e saiu, sem causar danos
especialmente graves.
Rebelo, Rosalina Filomena da Cunha e Soares, nasceu em Goa, Santa Cruz, a 17 de Maio de 1908.
Filha
do escritor, jornalista e comerciante Joaquim João da Cunha e de Rosa Maria da
Cruz, foi uma das feministas pioneiras na colónia portuguesa da Índia, onde se
notabilizou pelos escritos nos jornais locais e pela participação em Portugal Feminino, de cuja revista foi
delegada.
Segundo
informou Lúcia Serralheiro, a revista
mensal Portugal Feminino (1930- 1937) fundada por Maria Amélia Teixeira existiu
até ao fim da vida da sua filha, a quem a mãe a dedicou. Gostava ainda de ter
fundado uma casa de mulheres jornalistas tal como fizera a francesa Marguerite
Durant, autora do primeiro jornal francês exclusivamente feminino e feito só
por mulheres incluindo as tipógrafas. Mulher culta e com boa situação
financeira com a publicação dessa revista tentou ajudar outras mulheres
artistas na invalidez e velhice. Mas nem ela nem as suas colaboradoras eram
renumeradas. Entre elas contava-se a nata das intelectuais portuguesas, não só
na metrópole, mas também nas ex-colónias portuguesas.
É aí que aparece, a jovem estudante e
feminista Filomena da Cunha, como correspondente da India Portuguesa. Ela já se
iniciara nos jornais O Heraldo, Jornal da Índia e O Independente. Em 1938
fundou e dirigiu o Instituto de Comércio e Taquigrafia em Margão. A partir de
1939, após a morte do pai e até ao casamento, tomou o lugar na gestão da sua
firma J. J. da Cunha Nova Goa. Casou com Domingos José Soares Rebelo e foram
viver no Quénia. Entre 1942 e 1945 foi professora de contabilidade e
estenografia da escola júnior e sénior na localidade de Mombaça e mãe de dois
filhos. A partir do final da II Guerra viveram em Maputo (Lourenço Marques), e
em 1975 vêm para Portugal. Deve-se ao seu marido, o historiador Domingos José
Soares Rebelo, a coletânea dos seus escritos dispersos na imprensa, a que deu o
título Ao Sopro das Brisas Fagueiras do Índico, publicada em Alcobaça no ano de
1997.
Ele refere-a como “a então paladina
feminista de Goa” e afirma que o grande valor desses seus escritos decorre do
facto de estarem ainda hoje atualizados em relação às lutas das mulheres. O
livro divide-se em três partes. Os primeiros de dez artigos são sobre o
movimento feminista. Seguem-se três ensaios: um sobre o sorriso, outro sobre a
figura célebre do goês Abade de Faria e o último dedicado à “Índia e seus
encantos”, que foi publicado em Portugal Feminino (Maio de 1936]) com três
fotogravuras – cascata de Sud-sagor, Taj Mahal e Mesquita. Este artigo foi
posteriormente reproduzido na íntegra pelo semanário O Independente em
16/06/1936, acrescido de uma prévia introdução. A terceira parte do livro
apresenta “anotações suplementares”, nas quais uma súmula sobre os jornais em
que Filomena colaborou, bem como sobre a revista Portugal Feminino, enquadrando
o contexto dos anos trinta. Este livro, parte da história da juventude de
Filomena da Cunha, reentrou na sua vida no dia do seu quinquagésimo sexto
aniversário de casada, como presente surpresa do marido e familiares.
A sua escrita preenche um dos vazios na
história dos movimentos de mulheres em Portugal sobretudo quanto ao que se
passava na longínqua India. Por exemplo, num dos seus artigos refere: “Mrs.
Sarojini Naidu, a distinta poetisa e fluente oradora de fama mundial, quando há
pouco presidiu à conferência anual da Associação Indiana das Mulheres, reunida
em Madrasta, disse: cada uma de vós deve fazer um cauteloso exame de
consciência e perguntar a si própria como é que eu contribuo pela causa da
mulher, pelo progresso da minha terra e pelo progresso do mundo” (Jornal da
Índia, 10/09/1934).
“A participação da médica (1900) e
sufragista portuguesa Adelaide Cabete (1867/1935) nos Congressos Internacionais
Femininos de Gand (1913), Roma (1923) e Lisboa (1924) era desconhecida da
Autora então vivendo nas longínquas terras da Índia” (Ao sopro das brisas
fagueiras do Índico, p. 25]). Os seus relatos mostram como uma jovem portuguesa
na Índia percecionava as outras mulheres suas contemporâneas, que lutavam pela
igualdade dos direitos, as vitórias que alcançavam, nomeadamente quanto às
questões do vestuário, partilha dos espaços públicos e privados e sem hesitar
dar a sua opinião critica.
Sobre a educação das mulheres
portuguesas na India, referiu a falta de recursos e de escolas para a formação
das raparigas: “dizer que uma menina não necessita de instrução sólida será um
disparate igual ao que se dissesse que um rapaz também dela não precisa” (O
Heraldo, 18/11/1930, p. 1, cols. 3-4). Uma expressão clara sobre o que entendia
ser a igualdade de oportunidades e não hesitava em apontar pistas de soluções
ao alcance das próprias mulheres. Por exemplo, perante as elevadas taxas de
analfabetismo das mulheres, Filomena da Cunha dirigia a seu olhar para as
raparigas que já na altura tinham cursos de Liceu, Farmácia, Medicina e Escola
Normal. Sugeria-lhes que se organizassem em Associações ou Clubes, onde
semanalmente pudessem dar apoio a outras mulheres nas áreas que dominavam, a
fim de contribuírem para a saúde das mulheres e sua educação sexual: “As
associadas médicas podiam, de vez em quando, fazer conferências ou
demonstrações rudimentares sobre a higiene, primeiros socorros nos acidentes,
tratamento das crianças, bebés, etc.” (Jornal da Índia, 20/02/1935, p.1, cols.
1-3). Filomena da Cunha procurou, sobretudo, assinalar exemplos positivos de
empenho, coragem e de conquistas bem-sucedidas na longa estrada percorrida
pelas feministas em prol do bem-estar de todos. Os seus escritos relatam as
lutas das mulheres nos países do Oriente, Médio Oriente e em Inglaterra, não só
com intuito de serem divulgadas pela sua importância e também porque era adepta
desses ideais. Deixou outras heranças literárias que reservaram ao ciclo
familiar, incluindo um livro de histórias dedicado à sua bisneta Beatriz. O seu
marido publicou a obra Contos, Fábulas e Parábolas, uma edição comemorativa
para o 1.º centenário do seu nascimento que ocorreu em 2008 na cidade de
Alcobaça onde a família se radicou após vivido Nazaré de 1976 a 1980.
-Filomena
da Cunha faleceu em Alcobaça a 1 de fevereiro de 2007, com 98 anos de idade e
foi casada com Domingos Soares Rebelo, supra referenciado.
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