NO
TEMPO DE PESSOAS “IMPORTANTES” COMO NÓS
50
Anos da História de Alcobaça Contada através de Pessoas
Rebelo, António Silva, nasceu na Benedita, a 4 de janeiro de
1963.
Formador
profissional, é licenciado em Antropologia e Provedor da Santa Casa da
Misericórdia da Benedita, desde 2005. Esta instituição foi fundada a 6 de junho
de 1993, tem 117 utentes, 55 empregados e presta serviço de apoio domiciliário,
centro de dia e estrutura residencial para idosos.
Segundo
António Rebelo da Silva, a Santa Casa da
Misericórdia da Benedita está com graves problemas de gestão porque não
consegue fazer face aos gastos. Os utentes não conseguem cobrir os custos. Esse
é o nosso grande problema. O telhado da parte mais antiga da Misericórdia está
a precisar de arranjos, daí termos lançado a campanha Mãos Solidárias.
António
Rebelo, entende que trabalhamos bem em
boa articulação com a comunidade e instituições locais. A Câmara agora acaba por
estar mais próxima com uma Vereadora da Benedita. Não nos ajudam tanto quanto
precisamos mas acreditamos que nos ajudam aquilo que podem.
Rebelo, Arnaldo Augusto Homem, nasceu a 1 de janeiro de 1954. Advogado, inscrito na Ordem dos Advogados, em 19 de maio de 1981 com a ced. prof. nº 1722c, tornou-se conhecido pela forma como fez a defesa de clientes lesados do Banco Português de Negócios/BPN. O Público, de 4 de abril de 2012, sobre Arnaldo Rebelo e o BPN, escreveu um apontamento interessante onde refere que desde que ganhou o primeiro processo, o de uma senhora de 89 anos a quem o BPN foi condenado a pagar cem mil euros, que não pára de receber pedidos para a defesa de outros lesados. Entre os queixosos, há "médicos, reformados, agricultores, pequenos empresários, o pai de um juiz". Gente de classe média/baixa. "Alguns tinham lá a poupança de uma vida inteira... O "maior" tinha lá um milhão, vendeu uma empresa e meteu lá tudo. Eles democratizaram a fraude".
Os pedidos para meter ações vão
chegando, ele vai aceitando. "Quem faz a primeira... é só mudar o
nome..."
O processo agora ganho iniciou-se há
quatro anos, quando uma mulher, então de 85 anos, cujo marido morrera e lhe
deixara 200 mil euros, quis fazer um depósito a prazo no BPN. O gestor
convenceu-a a aplicar cem mil euros em papel comercial da CNE (Cimentos
Nacionais e Estrangeiros). "Falaram-lhe num produto muito bom, melhor do
que um depósito a prazo", e deram-lhe uma fatura de cem mil em papel
comercial feito à mão...", conta o advogado. "Isto nem num tasco do
Bairro Alto passam uma fatura à mão. E é tudo assim..."
A garantia de retorno (de 5,553%), a
vencer num ano, não se verificou. A viúva não sabia o que era a CNE. Segundo
este advogado, "existiam orientações internas para que os funcionários do
banco assegurassem aos clientes que a CNE, como uma empresa do BPN, cobriria a
solvabilidade do produto". Quando a mulher aceitou a proposta,
"estava convencida de que estava a comprar um depósito a prazo", diz.
O BPN "sacudiu" todas as
responsabilidades para a CNE, já insolvente, mas Arnaldo Rebelo acabou por
conseguir que a sentença fosse favorável à sua cliente: o tribunal ordenou que
o banco lhe pagasse o valor do investimento e dos juros calculado em cem mil
euros.
A partir daí, os telefonemas para o seu
escritório não param. Já tem 15 processos metidos em tribunal, não contando
"com as reclamações na insolvência, isso são para aí caixas...",
aponta para uma prateleira cheia de dossiers. "São reclamações de
investidores na insolvência da CNE, reclamações dos créditos." Trabalha
com outros três advogados nesses processos. "E se for preciso, agora o que
não falta são advogados. Há mais do que processos...".
O escândalo do BPN transformou -se,
para ele, numa "mina de ouro"? "Não". "Os bancos não
têm dinheiro. E muitas destas pessoas também não. Por exemplo, agora, para um
recurso, vou até pedir apoio judiciário."
Mas porque foram parar às mãos de um
advogado de Alcobaça que trabalha longe das sociedades poderosas tantos
processos do BPN?
Arnaldo Rebelo já foi advogado da União
dos Sindicatos do Distrito de Leiria, candidato da APU à presidência da Câmara
de Alcobaça, militante do Partido Comunista e membro do Partido Socialista,
pelo qual foi deputado na Assembleia da República, lugar que decidiu abandonar,
descontente com o comportamento do PS, então liderado por José Sócrates, e do
Governo.
Foi através do seu velho amigo António
José Henriques que começou por defender uns familiares dele que tinham sido
"enganados" no âmbito do caso BPN. Arnaldo Rebelo sugeriu-lhe então
que criasse uma associação para representar aqueles que tinham sido lesados, já
que "só associados é que eles conseguiriam fazer alguma coisa",
conta. Esse amigo também "tinha lá uns milhares". Arnaldo Rebelo,
não. Diz que nunca lá meteu dinheiro.
"Sabe porquê?", pergunta.
"Porque um dia, no Solar dos Presuntos, um advogado do Montepio me disse:
"Nunca abras uma conta no BPN, porque aquilo é uma associação de
malfeitores (referindo-se aos administradores)".
Antes de o escândalo rebentar, toda a
gente já suspeitava que isso aconteceria, diz o advogado. "O BPN começou a
praticar juros mais elevados do que os outros bancos. E com uma campanha
agressiva. Por cada produto que vendiam, recebiam mais uma comissão para além
do ordenado. Chegava lá uma pessoa como a senhora que agora ganhou a ação e o
bancário dizia: "Tenho aqui um produto muito bom que rende mais dois ou
três por cento do que o depósito a prazo... garantido." E as pessoas
vinham de lá com papéis destes", explica, exibindo uma factura manuscrita.
António José Henriques seguiu o seu
conselho e constituiu a associação que chegou a ter 400 sócios (lesados) no
país todo. A cargo de Arnaldo Rebelo ficou o apoio jurídico. "Começámos a
ter reuniões na SLN (Sociedade Lusa de Negócios), que agora é a Galilei, com o
Fernando Lima, na Comissão de Valores, no Banco de Portugal com o Francisco
Bandeira." Foi então que soube que o advogado, em Lisboa, que tinha mais
acções e clientes relacionados com o BPN era António Pires de Lima, o ex- bastonário.
Telefonou-lhe, "ele viu que eu estava dentro do assunto e pôs o seu
escritório à disposição", acordando que, conforme as disponibilidades de
cada um, marcariam presença nas reuniões da associação.
Um imprevisto mudou os planos dos dois
advogados. Pires de Lima adoeceu e resolveu entregar a Arnaldo Rebelo todas as
ações que tinha. "E ainda hoje a gente fala."
Novos processos e mais recursos
suceder-se-ão em tribunal. Mas, no entender de Arnaldo Homem Rebelo, para
muitos deles a solução passa por "aprovar a legislação proposta pelo Bloco
de Esquerda", que prevê que, a troco da entrega das casas ao banco, as
pessoas saldem a sua dívida", como, por exemplo, já se pratica em Espanha.
Para definir sinteticamente o processo
BPN, procura um pequeno calendário onde se lê: "A fraude do século."
É, para si, a frase "que melhor define este processo".
-Centenas
de clientes lesados do BPN foram cantar as janeiras à porta de oito agências em
Lisboa, da Assembleia da República e o Palácio de Belém no dia 6 de janeiro de
2010 numa manifestação de protesto. A iniciativa pertenceu à Associação dos
Clientes Lesados do BPN, liderados por António José Henriques em ligação com
Arnaldo Rebelo, que arranjou vários autocarros com partida do Porto e Lisboa.
-Arnaldo
Rebelo pôs termo à vida a 10 de dezembro de 2012, acto que pelo imprevisto chocou os colegas e a opinião
pública em geral.
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