terça-feira, 22 de janeiro de 2019


NO TEMPO DE PESSOAS “IMPORTANTES” COMO NÓS
50 Anos da História de Alcobaça Contada através de Pessoas
Zambujal, Mário Joaquim Marvão Gordilho, nasceu em Moura a 5 de março de 1936, e destacou-se tanto na literatura como no jornalismo e na área do desporto. Apresentou programas de televisão e rádio, foi diretor dos jornais Tal e Qual e Sete e algumas revistas.
O primeiro e o mais conhecido livro, Crónica dos Bons Malandros, foi publicado em 1980 e deu lugar a um filme com o mesmo título.
Entre os dias 1 e 10 de junho de 2015, realizou-se em Alcobaça a 2.ª edição do Festival Books&Movies, que tem como missão promover, divulgar e premiar a arte literária e a arte-vídeo, assumindo-se como espaço para a partilha entre leitores, autores, realizadores ou especialistas, professores ou alunos que, no contexto de ensino/aprendizagem atual, procurem descobrir mais sobre a produção literária e cinematográfica. Num clima de diálogo, de tolerância e de abertura, os artistas conversam sobre livros e filmes.
O evento é organizado pela Câmara Municipal de Alcobaça e decorre em vários espaços, inclusivamente esplanadas. À semelhança de 2014, o Festival Books&Movies apresentou em 2015 mais de uma dezena de escritores e de ilustradores, como Marc Parchow, David Machado, Isabel Stiwell, João Tordo e Mário Zambujal, este objeto de uma homenagem especial. Incluiu também sessões de cinema ETNO e ECO, bem como filmes em várias línguas, comentados por atores e realizadores. Contou com exposições, teatro, workshops e espetáculos de rua, como A Viagem do Elefante, a partir de obra homónima de J. Saramago.
Mário Zambujal, foi homenageado na edição de 2015 do Festival Books&Movies. O escritor e sua carreira são referências no panorama literário nacional e foram celebrados na Gala do Festival Books&Movies, realizada no Cineteatro de Alcobaça, a 7 de junho.  
No dia anterior à tarde, Zambujal esteve presente numa conversa intimista com os leitores, na esplanada do Taverna do Capador, frente ao Mosteiro.
Mário Zambujal que sucedeu, ao realizador Manuel de Oliveira como artista em destaque no Festival Books&Movies, prometeu ser um propagandista de Alcobaça.
O jornalista, que se disse encantado com uma cidade e uma região que muitos portugueses deveriam conhecer melhor, enalteceu a colaboração dos autores que participaram no festival, referindo o dever de ser portador do que faz em Alcobaça. Não sei se sou merecedor desta homenagem, mas já merecia um fim de semana tão bem passado como este, referiu o homenageado, que elogiou as praias, a gastronomia, os vinhos de Alcobaça e o silêncio do Mosteiro que vem do fundo dos séculos.
Mário Zambujal assinou um acrílico, que ficará exposto no Cineteatro de Alcobaça, à semelhança do que aconteceu no ano anterior com o cineasta Manoel de Oliveira.
Na gala, foi ainda atribuído o prémio monetário de 5 mil euros à vencedora do Prémio Internacional Books&Movies 2015, Helena Marina, que assinou o texto Correio Aéreo-Correspondência entre duas cidades-amantes, com o pseudónimo Francisca Nováliono. O júri, composto pela vereadora Inês Silva e pelos escritores Raquel Ochoa e Tiago Salazar, justificou a escolha de um roteiro de viagens original, que se confunde com uma antologia de cartas de amor, dirigidas a Curitiba e a Lisboa - cidades próximas quando o sol abre mas distantes em pequenos detalhes, como os azulejos das fachadas das casas de Lisboa e os sebos de Curitiba. É um texto claramente inspirado no mote do Município de Alcobaça - Dê lugar ao Amor, cidade dos eternos amantes Pedro e Inês
-Apresentada pela beneditense Diana Marquês Guerra, a Gala contou com a Orquestra Books&Movies, composta por elementos da Banda Sinfónica de Alcobaça, dirigida pelo maestro Rui Carreira.
Elementos da Academia de Dança de Alcobaça participaram no espetáculo, que teve casa cheia.
Zeferino Lucas, António Madaleno, comerciante em Alcobaça e pertencente a uma família conhecida e respeitada, viu a sua candidatura à Câmara Municipal de Alcobaça, dada a conhecer no dia em que Manuel Monteiro (Presidente do CDS com quem tinha relações especiais) visitou Alcobaça, e o convidou publicamente para encabeçar a lista do partido às eleições autárquicas, de 1993.
A proposta de Manuel Monteiro, foi reiterada no dia 18 de março de 1993, numa reunião em que a Comissão Política de Alcobaça deu o seu apoio a Zeferino Lucas, que assim viu o seu nome como o primeiro da corrida às autárquicas de 1993.
Segundo um comunicado da Comissão Politica Concelhia, esta é uma candidatura que promete influenciar o governo da autarquia.
O CDS/PP, alegadamente em maré de renovação da imagem, disse ter uma nova estratégia, negando lugares às pessoas que querem concorrer às Câmaras apenas para resolverem problemas pessoais, segundo enfatizou Manuel Monteiro.
António Zeferino Lucas, o cabeça de lista, foi considerado, pelo amigo Manuel Monteiro, a grande esperança do partido.
Esta decisão não foi aceite da forma pacífica dentro do partido, ainda que alguns  achassem que a candidatura seria o triunfo do renovado CDS-PP de Alcobaça.
-Foi durante um jantar-convívio realizado na Pensão Restaurante Corações Unidos, no dia 26 de outubro de 1993, que o CDS/PP divulgou as listas com que se vai apresentar ao eleitorado de Alcobaça, nas eleições autárquicas de 12 de dezembro de 1993.
Na ocasião, estiveram presentes o Secretário-Geral do partido, Gonçalo Ribeiro da Costa, o mandatário da campanha Manuel da Bernarda, os candidatos à Câmara e Assembleia Municipal de Alcobaça, António Zeferino Lucas e Paulo Bernardino, os candidatos às Assembleias de Freguesia, bem como uns tantos filiados e simpatizantes.
António Zeferino Lucas dirigiu-se aos presentes, corroborando a medidas preconizadas por Paulo Bernardino e, referindo-se ao executivo Camarário comparou-o com os anteriores do PSD, denunciou os responsáveis pelo marasmo em que Alcobaça se encontra. Criticou a falta de limpeza da Vila e a péssima solução encontrada para a recolha de lixo, colocando um ponto de interrogação quanto ao custo real das obras municipais adjudicadas por valores absurdos.Teve uma palavra ainda para agradecer o apoio de pessoas tradicionalmente não envolvidas na política, bem como simpatizantes de outros partidos que, sensatamente, resolveram optar pelos homens e não pelos partidos.
A finalizar tomou a palavra o Secretário-geral do Partido, e deputado eleito pelo Distrito de Leiria, Gonçalo Ribeiro da Costa, para dizer que o partido considera ter alcançado alguns dos seus propósitos ao concorrer a 251 das 305 das Câmaras Municipais de Portugal, número que ultrapassa largamente o das anteriores eleições autárquicas.
Zeferino Lucas não foi eleito e o  resultado muito dececionante, pois que nesse acto eleitoral, ganhou o candidato do PS, Miguel Guerra, por maioria absoluta.
Não voltou a ter ação política e de certo modo não se revê minimamente neste período de sua vida. Vive e trabalha em Lisboa.
-António Zeferino Lucas, Afonso Gonçalves da Silva, Leonel Agostinho e Jorge Malhó abriram em 1981 a Discoteca Princess, de certo modo a primeira casa do género, para muitos alcobacenses. Ao fim de algum tempo foi adquirida por Jorge Malhó.
-Joaquim Zeferino Lucas fundou, na década de 1930, na Avenida Bernardino Lopes de Oliveira uma oficina de móveis, cuja qualidade permitiu qualificá-la como um excelente estabelecimento, não apenas em Alcobaça, mas no País. Após a sua morte, o filho António criou o Armazém 25 para venda de réplicas de peças dos séculos XVIII e XIX. A Forma Interiores surgiu algum tempo depois, quase em frente ao Armazém 25, e dedicava-se à venda de moveis de estilo contemporâneo. Entretanto, encerraram ambas e António Zeferino Lucas vive em Lisboa.
-O jornal Público publicou a reportagem que, em parte, se vai transcrever.
A Casa Achilles tem uma coleção de moldes de ferragens de estilo, oficinas do início do século XX e um escritório saído de um livro de Dickens.
Quando António Zeferino Lucas abre a luz da cave da Casa Achilles, temos aquela sensação de que os museus vivem uma vida própria quando não estamos lá e, quando dão pela nossa chegada, as peças voltam a correr para os seus lugares e imobilizam-se, silenciosas mas de olhos muito abertos e com os corações de pedra e metal a bater, na esperança de que nós não reparemos em nada.
De dentro de uma caixa, espreita, melancólica, uma cabeça de águia que um dia terá adornado um braço de uma cadeira, e, quem sabe, terá sido afagada por muitas mãos durante conversas nervosas ou pacíficas. À volta dela espalham-se flores também de metal. Numa prateleira, alinham-se ameaçadoras garras de leão, com as unhas e os pelos cuidadosamente desenhados, libertas já do peso dos móveis de estilo que sobre elas descansaram. E, logo abaixo, bustos clássicos, alguns com ar egípcio, feições finas, cabelos elegantemente penteados — peças de adorno de cómodas, provavelmente. Encostadas a uma velha caixa de madeira estão três mulheres gregas de longas túnicas drapeadas que, com gestos delicados e indolentes, penteiam-se e ajustam as jóias. Os cabelos apanhados atrás caem com naturalidade sobre os pescoços, e as linhas ondulantes das túnicas acompanham os movimentos dos corpos.
É uma peça pequena de decoração de móveis, mas, como muitas outras guardadas nesta cave, é feita com um detalhe exaustivo. António Zeferino Lucas, sócio gerente da Casa Achilles, tenta explicar que o valor deste trabalho está precisamente na qualidade dos moldes, e que a coleção que se guarda nesta casa fundada em 1905 é, a esse nível, excepcional. Temos talvez cinco séculos de moldes dos grandes estilos europeus.
Vista de fora ninguém adivinha, mas a Casa Achilles — uma das fundadoras do projeto Lojas de Caráter e Tradição de Lisboa, uma iniciativa do Fórum Cidadania Lisboa para preservar este património em risco da cidade — é um labirinto de pequenos espaços cheios de tesouros. António Zeferino Lucas era cliente e, quando percebeu que a casa corria o risco de desaparecer, decidiu que isso não podia acontecer.
Hoje o trabalho de fundição já não se faz aqui, apesar de no chão ainda se poderem ver as marcas do local onde antigamente estavam os fornos que derretiam o latão em bruto, vazado depois para as formas. A Casa Achilles serve essencialmente para os acabamentos — as oficinas originais e o material de trabalho continuam exatamente como no início do século XX — e local de atendimento ao público. E funciona como um museu, que pode ser visitado (António Lucas tem todo o gosto em fazer visitas guiadas a todos os que desejarem) e que revela um mundo que conhecemos mal.
Temos em Portugal artistas fantásticos, diz o nosso anfitrião, enquanto explica que uma parte essencial deste trabalho é a criação do molde. Quanto mais minúcia e detalhe este tiver, maior é a qualidade.(…) Fechamos as luzes na pequena cave e subimos até às oficinas. Até há oito, dez anos, havia aqui pessoal a trabalhar, conta Zeferino Lucas. Agora é como se os atores tivessem saído de repente. E, de facto, os instrumentos de trabalho estão em cima das grossas mesas de madeira, como se esperassem que, a qualquer momento, os operários entrassem outra vez pela porta. Encostado a uma das paredes está um anexo com as paredes feitas de quadrados de vidro. Não é difícil imaginarmos um operário a bater num desses vidros, chamando a atenção do gerente, que lá dentro, no seu pequeno escritório, toma nota à mão, em letra desenhada, das encomendas, das despesas e dos lucros, à luz fraca de um candeeiro iluminando a enorme secretária de madeira que, juntamente com um armário-ficheiro, que ocupa praticamente todo o espaço.
E a ideia de que este é o cenário de uma peça sem os atores faz ainda mais sentido quando descobrimos que o fundador da loja era também um grande admirador de teatro. António Z. Lucas entra em mais uma sala deste pequeno labirinto e tira de uma prateleira um empoeirado livro com edições encadernadas do Jornal dos Teatros dos anos 1920 e 30. No cimo de algumas das páginas vê-se um anúncio antigo: Achilles Santos Frias. Com oficinas movidas a electricidade. Ferragens antigas para móveis em todos os estilos.
Regressamos à entrada da loja, a que António Lucas deu um ar mais parisiense, com um grande espelho e quadros mostrando a enorme variedade de modelos de ferragens, douradas e brilhantes. Será que, entretanto, lá em baixo, no escuro da cave, a quadriga guiada por uma figura clássica tocando lira se lançou já numa corrida louca, largando pelo ar o anjinho nu que tentava agarrar-se a ela, enquanto, na sua caixa, a águia melancólica lançava mais um longo bocejo?
Zeferino Lucas, Joaquim, nasceu em Alcobaça, a 4 de junho de 1918, no seio de uma família humilde, constituída pelos pais e 5 filhos, dos quais ele era o mais novo. 
Após a conclusão da 4ª. classe, foi aprender o ofício de marcenaria, na firma de José Neves, em Alcobaça, de onde saíu para se estabelecer por conta própria. Com 11 anos, realizou o primeiro negócio, a compra da madeira de um pinhal, tendo como fiador o  pai.
Desde cedo, Joaquim Zeferino Lucas, segundo refere a família, destacou-se por uma grande vivacidade intelectual, por vezes pautada por alguma inquietude, no pensar e no agir, que conseguiu gerir com ponderação. Curioso pelo que o rodeava, sempre manifestou abertura em conhecer outras culturas e aprofundar conhecimentos de história ou sobre a natureza. O sentido de humor, a alegria genuína, e o caráter humilde, combinavam com a capacidade inata de conquistar, de forma afetiva e efetiva, a amizade dos outros, que tão bem sabia honrar e respeitar.
O espírito empreendedor, que não escondia uma certa ambição, não pelo brilho social mas apenas pelo desejo de consolidar a autonomia financeira e o bem-estar da família, evidenciou-se em áreas como a exploração de uma serração, de uma agência funerária que viria anos mais tarde a doar ao seu afilhado funcionário da firma, na produção de fruta e na exploração de uma fábrica e loja de mobiliário.
O casamento com Alice de Jesus da Silva, aos 26 anos de idade, mãe dos seus 6 filhos e pessoa com forte ligação à religião católica, viria a alterar significativamente a forma como Joaquim Zeferino Lucas passou a encarar a sua ação na vida dos que mais sofrem, pela carência económica e também espiritual, tendo essa vivência modelado a sua postura enquanto pai, marido, patrão e cidadão. De acordo com uma das filhas, a semente lançada pelo Evangelho, levou-o a frequentar os cursos de cristandade, a integrar a Conferência de S. Vicente de Paulo, a Pastoral Sócio Caritativa, e onde prestou um importante apoio pessoal, no terreno, na melhoria das condições de vida das pessoas. Durante vários anos, repartiu o seu espírito de cidadania por várias instituições, como a Santa Casa da Misericórdia de Alcobaça, o Centro de Educação Especial e Reabilitação Infantil de Alcobaça, a Cooperativa Agrícola de Alcobaça e a Caixa de Crédito Agrícola Mútuo.
Conforme opinião familiar, embora sem aspirações no plano político, a idoneidade moral e o caráter consensual do seu perfil na comunidade de Alcobaça, acabou por levá-lo, nas eleições de 1980, ao cargo de Presidente da Junta de Freguesia, que procurou compatibilizar com a  atividade comercial.
 Nos últimos anos de vida, Joaquim Zeferino Lucas manteve a proximidade com a família, da qual se constituiu numa referência em termos de valores morais, de justiça e de honestidade, bem como com os amigos, que incluíam  todos os estatutos sociais e económicos, inclusive os ex-funcionários.
-Voltando atrás.
Na sequência dos incidentes que conduziram ao assalto e ocupação da Câmara Municipal de Alcobaça e da sede do PC realizou-se, no sábado, dia 26 de julho de 1975, um Plenário para a Freguesia de Alcobaça eleger o seu representante na nova CA da CMA. Nesse sábado ou porque as pessoas foram avisadas com pouca antecedência, ou por outro motivo qualquer, a sala reservada para o efeito, junto ao Tribunal, então no primeiro andar da ala norte do Mosteiro, registou escassas dezenas de pessoas, pelo que foi decidido adiar o Plenário para o dia seguinte, domingo, sendo que desta vez a sala encheu-se, com muita gente, ordeira e interessada, proveniente de todas as camadas sociais e mesmo de lugares do concelho. Após esclarecimentos por parte dos promotores da reunião, seguiu-se uma votação, onde não havendo listas, nem cadernos eleitorais, cada um, poderia votar em quem muito bem entendesse. Em votação secreta, os nomes mais votados foram, Joaquim Zeferino Lucas, Vítor Figueiredo, Manuel Alberto Tomás Correia, Augusto Simões, António Zeferino, Manuel da Bernarda, João Monteiro, Adão Nascimento Lameiras e José Carlos Teixeira. Estes começaram sucessivamente a declinar a responsabilidade, pelos mais variados motivos, familiares, políticos ou profissionais. Dado que nenhum parecia disposto a aceitar, a assembleia começou a protestar e exigiu que Joaquim Zeferino Lucas aceitasse o lugar. A escolha foi aprovada por aclamação.
Todavia, outro veio a ser o desenvolvimento deste assunto, como se pode ler com mais detalhe em No Tempo de Soares, Cunhal e Outros, de Fleming de Oliveira.
Tendo em conta a entrega às causas sociais e a disponibilidade para os outros, faz sentido o que Zeferino Lucas disse pela última vez aos familiares que o rodeavam, gostava de ver as pessoas felizes.
-Joaquim Zeferino Lucas, faleceu a 26 de outubro de 1996.

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