terça-feira, 22 de janeiro de 2019


NO TEMPO DE PESSOAS “IMPORTANTES” COMO NÓS
50 Anos da História de Alcobaça Contada através de Pessoas
Silva, Rogério Moura da, mais conhecido como Salgueiral, nasceu em Alcobaça a 28 de novembro de 1937 e faleceu a 8 de agosto de 2010.
Desde novo seguiu as pegadas do Pai, Manuel Rodrigues da Silva, Salgueiral.
Salgueiral, alcunha pelo qual era conhecido na vila teve origem numa propriedade do bisavô, em Aveiro, que assim foi alcunhado, devido a um salgueiro que  era marco da propriedade. Do marco ao proprietário, ficou a alcunha de Salgueiral, que ainda perdura, marcando definitivamente a identificação da família.
-Natural de Alcobaça, mas com as origens em Aveiro, Rogério Moura da Silva, foi um empresário dedicado à indústria da panificação, durante mais de 50 anos, tendo sido o responsável pela abertura de pontos de venda na vila e no Concelho de Alcobaça.
-Desde sempre, abraçou vários projetos nomeadamente após o casamento com a mulher que, ao logo da vida o apoiou, com amor, carinho e de forma incondicional (Maria Pereira Crisóstomo). Ambos acreditaram na expansão do setor agrícola, assumindo, desde o casamento, a função de empresário e gestor de negócio da fruticultura, na exploração de propriedades da família.
Fazendo parte de vários grupos sociais e caçador por paixão, esteve sempre próximo e muito envolvido com várias iniciativas em Alcobaça. Fiel adepto do Ginásio Clube de Alcobaça e seu seguidor, chegou a integrar a Direção do Clube.
Destaque-se como referência, a sua dedicação e elevado empenho à banca, onde e desde Janeiro de 1987 passou a fazer parte dos órgãos sociais da Caixa de Crédito Agrícola de Alcobaça. Em Novembro de 1995, passou a membro efetivo da Direção da Caixa e em 2005, ao abraçar mais um desafio, assumiu a função de Presidente da Direção, cargo que ocupou até final dos seus dias, em Agosto de 2010.
Durante a sua presidência acompanhou o dinâmico desenvolvimento da CCAMA com a abertura de delegações no concelho de Alcobaça e a expansão para outros. Um dos momentos altos foi a inauguração do emblemático edifico da atual sede da CCAMA, que contou com a presença do Presidente da República, Jorge Sampaio. 
No dizer da família foi um marido exemplar, um pilar de família, dedicado e incentivador, um pai modelo, que incrementou nos filhos valores de confiança, perseverança, respeito pelo próximo e a ambição do reconhecimento profissional. Sempre presente, apoiante, foi com orgulho que apoiou o trajeto profissional dos seus dois filhos.  
Salgueiral, é um nome que ficará associado às memórias de um homem que ao longo de uma vida ajudou a construir sonhos e consolidar projetos que contribuíram para a edificação permanente desta cidade. Um homem da nossa terra.
Um homem que Alcobaça não esquece.
Silveira, Hermínio Laborinho Belo Marques da, nasceu a 28 de abril de 1922 e faleceu em Alcobaça, no dia 29 de setembro de 2008.
Licenciado em Farmácia pela Universidade do Porto, era o proprietário da Farmácia Belo Marques, sita a Rua Alexandre Herculano/Alcobaça, que já vinha de antepassados e que explorava pessoalmente. Pessoa de fino trato, e esmerada educação, o Dr. Hermínio deixou saudade. Era o decano dos farmacêuticos no concelho de Alcobaça.
Pertenceu à Assembleia Geral da Santa Casa da Misericórdia que serviu com dedicação durante cerca de 40 anos, tendo sido louvado recentemente pouco antes de falecer em Assembleia Geral desta instituição.
Luci Pais, no Região de Cister, escreveu na secção Memória, um interessante apontamento que se transcreve
A Farmácia Belo Marques, foi um exemplo de longevidade e de serviço público pois, em tempos, teve um laboratório que produzia medicamentos para todo o país e para os emigrantes nos Estados Unidos. Em outubro de 1894, o Semana Alcobacense noticiava a mudança de instalações “podendo considerar-se actualmente talvez a primeira pharmacia do districto, não só pela elegancia da sua construção, na qual foi empregada a mais bella madeira de mogno, como ficar reunindo todas as condições força estética da obra. As minhas inclinações iniciais d´um estabelecimento de primeira ordem”.
A farmácia manteve se na família durante umas cinco gerações e tinha o seu próprio laboratório de manipulados e preparados que partilhava com a Farmácia Campeão, ambas na rua Alexandre Herculano.
Alguns dos produtos, feitos em Alcobaça revelaram-se grandes sucessos como Zomodigestina (custava 35 escudos), Ceriedigestina (28 escudos) e Ulceranil. Este último medicamento, destinado a problemas de estômago, vendia-se em todo o país e mesmo no estrangeiro. Os medicamentos durante muitos anos eram vendidos conforme a vontade do freguês, avulsamente, em saquetas e/ou frascos de vidro. Depois de embalados, eram-lhe colocados os rótulos que identificavam o produto e o laboratório. Na farmácia Belo Marques também se produzia a partir de plantas medicinais e de compostos químicos, xaropes, pomadas e pastilhas. Também no laboratório da farmácia foram feitas durante anos hóstias para as igrejas da região, pelo técnico Manuel da Silva Feitor. Enquanto medicamento, na parte oca da hóstia eram colocados compostos adequados. A partir da década de 1970, o dia-a-dia das farmácias portuguesas, particularmente as que tinham laboratório, mudou completamente, pois deixou de haver espaço para a produção de medicamentos nos seus estabelecimentos. A Farmácia Belo Marques também teve, embora noutras instalações, um laboratório de análises clínicas que encerrou portas após a morte de um familiar Belo Marques.
-H. Belo Marques , era viúvo de D. Maria do Céu, natural do Porto, e pai de Susana da Bernarda e de Joaquim José, residente em Lisboa. Os  herdeiros vieram a vender a farmácia, que depois passou para outro local e mudou a denominação.
-A Farmácia Belo Marques, que passou a designar-se Farmácia Holon Alcobaça, abriu portas no dia 13 de agosto 2015, em frente ao Mosteiro.
O espaço antigo, localizado na Rua Alexandre Herculano, já era pequeno e desadequado às necessidades tanto dos funcionários, como dos clientes, explicou Sandra Vitorino Ribeiro. A nova localização é mais central, permite melhores acessibilidades aos utentes e é também uma forma de dinamizar o centro histórico da cidade, acrescentou a responsável.
Silvestre, Jorge Manuel de Jesus Nogueira, nasceu em 1945 em Alcobaça, onde efetuou os primeiros estudos.
-Rui Rasquilho, sobre Jorge Silvestre escreveu que, a morte é um estado natural. A vida termina e, pronto. Dito assim, dá um arrepio nos vivos, um apagamento da alegria. Recorta-se então uma memória, focada nos fragmentos do quotidiano que existiu em comum.
O Jorge Silvestre morreu! Morreu a 25 de Abril, um dia que lhe dizia muito, como aos seus amigos de sempre.
Foi o Gil Moreira quem me deu a notícia. O Barros já me tinha dito que ele não estava bem. O Poças também estava preocupado, mas não esperava a notícia quando hoje de manhã, a 26 de abril, lhe telefonei para o Brasil, às 7 da manhã de lá. Dizia-me a minha mulher: - a nossa geração começa a morrer.
O Santos Costa, o Zeca, o Aurélio arrepiaram-se com o anúncio e olharam para o mensageiro, eu, de olhos mais húmidos do que o costume.
Estudamos todos uns com os outros, em tempos e lugres quase simultâneos. A mulher dele, a Fernanda da Bernarda, é gente nossa também e fica ali só, sem a constante ternura do Jorge, provavelmente o mais estoico de todos nós.
A rua do Castelo e o Colégio do Dr. Cabrita, os jogos de King, em Porto de Mós e o Colégio do Dr. Perpétua fazem parte da nossa adolescência, têm um sinal na nossa memória.
Agronomia, a Câmara de Alcobaça, uma qualquer Direção Geral do Ministério da Agricultura são sinais mais restritos noutras memórias, agora avivadas em comum. Nesta morte adiantada pela porcaria do cancro no fígado.
A Rádio Baga, o Interact, os liceus unidos, a luta académica, o fogo intenso e jovem de que queremos todos ser fundadores do mundo.
Depois, como nas árvores, do tronco vieram os ramos, as hastes, as folhas, os frutos; deixo as flores de lado porque sim. As árvores são agora a nossa vida de Primavera e Outono.
O Jorge vai ser cremado, julgo eu, na véspera do seu aniversário, a 27. São apenas símbolos que só nos interessam a nós que estamos vivos. Nos nomes que referi fica a homenagem dos outros que nem sei quem são, mas são muitos.
Olho agora para uma fotografia de 1963 com 10 magníficos finalistas de Porto de Mós e lá está o Jorge entre o José Carlos Carvalho e os reis. Também lá estão o Veiga e o Armando. Dos 10, somos agora 8. O Albano também deixou a árvore. Na Guerra Colonial havia também um buzio e o mar guardado nele.
-Jorge Silvestre morreu no dia 25 de abril de 2’012.
O dia 25 de Abril de 1974 era uma data memorável para Jorge Silvestre, que presidiu a Comissão Administrativa de Alcobaça, imediatamente após a revolução. Foi nesse mesmo dia, mas passados 38 anos, que a sua vida chegou ao fim.
Era casado com Fernanda da Bernarda. Deixou dois filhos do primeiro casamento.
-A Assembleia Municipal de Alcobaça, realizada dias depois, lembrou-o e exarou votos de pesar.
Jorge Silvestre foi um combatente pela liberdade, afirmou João Paulo Raimundo (CDU).
Também José Cunha (PS) relembrou o ex-presidente da primeira Comissão Administrativa da Câmara Municipal, depois de 25 de abril.
-Jorge Silvestre, para os que não eram propriamente os seus amigos ou correligionários, era pessoa de sentido de oportunidade e senso políticos especiais e muito discutíveis.
As comemorações do 5 de Outubro de 1974, foram organizadas pelo PCP e MDP/CDE com o apoio da CA da Câmara Municipal. Da parte de manhã, no cemitério da Vila usou da palavra Firmo de Almeida, que homenageou os democratas republicanos falecidos, sem ver a liberdade. No Largo do Mosteiro, houve um comício presidido por António Luís Ventura, tendo como oradores Vítor Ferreira, Mário Amaral, Olímpia Lameiras e José H. Vareda. Após inflamados discursos, de modelar antifascismo e slogans de igual teor, como o público reclamava, foi votado que a Travessa da Cadeia, hoje Travessa Dom Maur Cocheri, passasse a chamar-se Travessa 16 de Março.
Mas tal nunca foi levado à prática.
Um dos pontos altos da manifestação, foi o descerrar de uma placa atribuindo o nome de Praça 25 de Abril, à anteriormente denominada Praça Dr. Oliveira Salazar. José Vareda, do MDP/CDE, propôs que fosse retirado o nome do respeitado alcobacense, o Bispo D. António de Campos, a uma das ruas da Vila, sendo certo que a ideia também não colheu apoio.
Porém, a mando de Jorge Silvestre, o retrato daquele prelado católico, foi retirado do Salão Nobre da CMA, onde se encontrava, e levado para uma arrecadação, de onde mais tarde voltou a ser retirado e exposto em local nobre, como ainda acontece e merece.
-Em Setembro de 1974, a CA da Câmara deliberou remeter um ofício ao Ginásio Clube de Alcobaça, secundando um despacho conjunto dos Ministério da Administração Interna e do Ministério da Comunicação Social, relativo à disciplina dos recintos desportivos. Silvestre escreveu que, na qualidade de entidade proprietária do Estádio Municipal, desde já avisamos que em caso de infração ao disposto no nº 5 do despacho, não procederemos à construção de quaisquer vedações. Isto porque ao contrário do regime fascista - que aproveitava o espetáculo desportivo como fator de adormecimento da consciência coletiva do País e vazadouro de recalcamentos - entendemos que os campos de futebol devem deixar de ser palco de cenas menos dignas para se transformarem em recintos de confraternização entre pessoas que gostam de er jogar futebol.
-Sivestre relatou que, por alturas do mês de Agosto de 1974, foi procurado por Duarte Chita, Diretor do Lar Residencial, que ofereceu colaboração entre esta instituição de assistência e a Câmara. Nesse sentido, o Lar Residencial passaria a utilizar o Matadouro Municipal para o abate dos animais que necessitava para alimentação dos internados, com dispensa do pagamento das respetivas taxas. Por outro lado, Duarte Chita, oferecia, em troca, a disponibilidade da mão-de-obra dos internados que só acarretam despesa ao erário público e nada produzem.
Para quê? quis saber o Presidente da CA da Câmara. Para colaborarem com o mal pago coveiro de 1ª classe do cemitério da Vila, que auferia 3.700$00 por mês, no serviço de inumação dos seus companheiros e de outros. Na Câmara, prevaleceu o bom senso e foi declinada a oferta, embora agradecendo-se a boa-vontade demonstrada por tão progressista personalidade, aliás nunca revelada antes do 25 de Abril, de cujo regime foi um servil e fiel seguidor. Todavia, as propostas do Diretor do Lar Residencial não se limitaram a esta. Dado que os cadáveres dos internados no Lar Residencial, para serem enterrados necessitavam de utilizar o acesso que  circundava o cemitério pelo lado poente, e porque os proprietários confinantes aceitavam proceder ao seu alargamento e arranjo, Duarte Chita propôs à Câmara o fornecimento de um veículo do Lar Residencial para o transporte dos materiais, bem como  mão de obra.
Assim, foram encarregados os Serviços Técnicos de estudar a sua viabilidade e a forma de rentabilizar o pessoal do Lar Residencial.
-A zona de Paredes da Vitória, por alturas de 1974, já sofria forte pressão urbanística e era muito cobiçada, como local de lazer, não só pela população de Pataias, como a de outros pontos da região ou mesmo do País. A Câmara Municipal de Alcobaça mandou elaborar projetos para o seu aproveitamento, aliás, nunca concretizados. Pessoas haviam ocupado terrenos mal demarcados, e sobre eles faziam negócios de importância e construíam clandestinamente, à revelia de qualquer plano de urbanização ou de projeto aprovado. Possuída de alegadas motivações de cariz social, a CA da CMA, pretendeu no verão de 1974 mandar efetuar um novo Plano de Urbanização para a Praia de Paredes da Vitória, aproveitando aquele bem com que a natureza dotou o concelho de Alcobaça, no dizer florido de Jorge Silvestre. Segundo este, no que foi acompanhado pela totalidade da vereação, deveriam ser fornecidas ao Gabinete Urbanístico, as seguintes diretivas fundamentais:
-A Praia de Paredes da Vitória deverá servir primeiro, e fundamentalmente, as populações trabalhadoras, quer da nossa região, quer de outros concelhos;
-A conceção das estruturas a implantar, terá de obedecer a outro critério, que não o seguido em S. Martinho do Porto ou S. Pedro de Muel, em que sobressai o fator opulência que aqui não se deseja, prevendo-se, consequentemente, entre outras características, a existência de terrenos baratos para instalação da massa trabalhadora e de modestos recursos, piscinas e parques de campismo destinadas sobretudo a pessoas do mesmo nível económico daqueles referidos trabalhadores, que assim teriam fácil acesso aos benefícios da praia.
-Silvestre referiu em sessão de Câmara de  16 de Janeiro de 1975 a tomada de posse da CA da Junta de Freguesia de S. Martinho do Porto. Tendo para o efeito de assistir e presidir ao ato, mas chegado ao local muito mais tarde que a hora marcada, não encontrou a Junta cessante, cansada de esperar, tanto mais que se dizia que viriam pessoas perturbar o ato a realizar.
-Jorge Silvestre, pediu a demissão do cargo que ocupava desde 17 de Julho de 1974. O motivo invocado foi ter sido requisitado para trabalhar de novo na Secretaria de Estado da Agricultura, a cujo quadro de pessoal pertencia. Despediu-se da Câmara, na sessão de 31 de Janeiro de 1975, foi-se embora e não mais voltou ao edifício.
Leia-se Fleming de Oliveira in No Tempo de Soares, Cunhal e Outros e aqui Jorge Barros.
Simão, Cipriano Fernandes, nasceu em Alfeizerão, no seio de família numerosa e humilde.
Seguindo de perto o Região de Cister, começou cedo a trabalhar, logo que saiu da escola primária. À escola haveria de voltar à noite, já com a maioridade. Fez curso profissional de Administração e Contabilidade. Pela mesma altura, após o 25 de abril, integrou um grupo de jovens que faziam teatro, escreviam, tentavam intervir  socialmente. A constituição da sua família, obrigou-o a dedicar-se ao trabalho. Contudo, durante todo esse tempo estudou por conta própria história, especialmente a regional. Com os filhos já crescidos, voltou ao teatro (ator) e à vida associativa, na Casa da Cultura José Bento da Silva, em S. Martinho do Porto (Presidente da Direção)  Escreveu e interpretou peças de teatro, dinamizou clubes de leitura, integrou associações humanitárias, de direitos humanos e culturais, promoveu eventos artísticos e literários, caminhadas, passeios culturais e visitas guiadas.
-Chama-se Cipriano Fernandes Simão, mas na escrita, no artesanato e na pintura, usa o nome pelo qual era conhecido o seu avô na aldeia, Simão do Aguiar.
A convite de Natércia Inácio e Vanda Marques participou no início do projeto de índole literária vocacionado para a poesia. Iniciaram-se encontros de amantes da escrita do concelho de Alcobaça, grande parte deles sem obra editada, e que assim começaram a ser divulgados, promovendo mesmo a sua publicação. Aos amantes da escrita juntaram-se os amantes da música e os encontros tornaram-se cada vez mais ricos e frequentes, dando origem ao encontro anual de criativos de Alcobaça, que já se realizou pelo segundo ano consecutivo. Em cada freguesia em que se realizam os encontros, surgem valores até aí desconhecidos. A partir de uma ideia, aparentemente simples, criou-se um movimento de reconhecimento da força criativa da nossa gente, a maior parte das vezes até então mesmo desconhecida.

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