O Natal
Se
fosse Natal todos os dias, como diz uma a conhecida e popular letra de Ary dos
Santos, a gente aborrecia-o. Seriam votos e amabilidades permanentes, seres muito
bonzinhos de corações cantantes. Seria a Paz Universal e institucionalizada, a
bondade “a la carte “cheia de boas
intenções.
O
Natal todos os dias seria uma maçada. Ser solidário por incumbência e ideologia,
é retirar do dicionário palavras tão carregadas como Fraternidade, Amizade,
Disponibilidade, Afeto e Sentimento. E, sobretudo retirar ao Natal o seu
significado mais abrangente de cidadãos com espírito de boa vontade e não
apenas os eleitos para o exercício da compaixão.
Mas é vulgar dizer-se hoje, que “Natal
é quando o Homem quiser”, alegadamente no sentido em que a
solidariedade não tem um tempo específico para existir. Parte-se do princípio
segundo o qual as pessoas são tradicionalmente solidárias, apenas ou na maior
parte das vezes, na quadra natalícia, e por isso, é necessário que o Natal seja
todos os dias. Ora, salvo melhor opinião esse princípio está errado, porque o
Natal não é apenas e só uma quadra de solidariedade. Para além do simbolismo
cristão que conduz ao nascimento de Jesus Cristo, o Natal é também a Festa da
Família e, por isso, é a Festa da Vida (Humana), e a solidariedade é apenas uma
das facetas. Reduzir o Natal à solidariedade, é retirar-lhe
a base fundamental dessa mesma solidariedade, o
que implica uma contradição nos próprios termos. Pelo facto de sermos
solidários todos os dias, isso não significa que todos os dias seja Natal,
porque existem aspetos e/ou características do Natal que não existem, nem podem
existir, todos os dias. Suponho que se pretende, com
aquela “frase de belo efeito”, retirar
ao Natal o seu simbolismo, não só religioso, mas também tradicional e cultural.
Pode existir seguramente muita gente que utiliza esta frase por facilidade e sem
má-fé, mas a verdade é que ela é absurda, contraditória, e tende a eliminar a
diferença entre os tempos profano e sagrado, “erradicando a solidariedade da sociedade, em nome da
defesa da solidariedade na sociedade”.
Quando
a nossa Alcobaça se torna luminosa e os olhos de quem vive se poderiam extasiar
diante de uma árvore construída de miniestrelas (que não existe por incúria ou
laicismo de poder) brilhando na noite, escusam de vir invocar o argumento do
consumismo porque, tal como a droga, só snifa e consome quem quer. E quem quer
realmente o Natal, não receia o Presépio, não troca a Noite de Consoada por um “show cosmopolita”, nem o Bacalhau, as Rabanadas
e o Bolo Rei por comidas de fusão, a armar ao fino e ao moderno. Afinal, quem se
pode ufanar de ter nascido há 2018 anos e continua a regressar remontando a Bem
Aventurança, apelando à Paz, e aos valores do Homem? Um clarão de esperança
rompendo as tréguas, apontando um sentido para a vida nada laico, eis a “modernidade” do Natal de 2018 que, para
mim continua a ser enorme contentamento.
Bom
Natal e Bom Ano, caro Senhor Diretor e Leitores.
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