quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

O Natal




O Natal 


Se fosse Natal todos os dias, como diz uma a conhecida e popular letra de Ary dos Santos, a gente aborrecia-o. Seriam votos e amabilidades permanentes, seres muito bonzinhos de corações cantantes. Seria a Paz Universal e institucionalizada, a bondade “a la carte “cheia de boas intenções.
O Natal todos os dias seria uma maçada. Ser solidário por incumbência e ideologia, é retirar do dicionário palavras tão carregadas como Fraternidade, Amizade, Disponibilidade, Afeto e Sentimento. E, sobretudo retirar ao Natal o seu significado mais abrangente de cidadãos com espírito de boa vontade e não apenas os eleitos para o exercício da compaixão.  
Mas é vulgar dizer-se hoje, que “Natal é quando o Homem quiser”, alegadamente no sentido em que a solidariedade não tem um tempo específico para existir. Parte-se do princípio segundo o qual as pessoas são tradicionalmente solidárias, apenas ou na maior parte das vezes, na quadra natalícia, e por isso, é necessário que o Natal seja todos os dias. Ora, salvo melhor opinião esse princípio está errado, porque o Natal não é apenas e só uma quadra de solidariedade. Para além do simbolismo cristão que conduz ao nascimento de Jesus Cristo, o Natal é também a Festa da Família e, por isso, é a Festa da Vida (Humana), e a solidariedade é apenas uma das facetas. Reduzir o Natal à solidariedade, é retirar-lhe a base fundamental dessa mesma solidariedade, o que implica uma contradição nos próprios termos. Pelo facto de sermos solidários todos os dias, isso não significa que todos os dias seja Natal, porque existem aspetos e/ou características do Natal que não existem, nem podem existir, todos os dias. Suponho que se pretende, com aquela “frase de belo efeito”, retirar ao Natal o seu simbolismo, não só religioso, mas também tradicional e cultural. Pode existir seguramente muita gente que utiliza esta frase por facilidade e sem má-fé, mas a verdade é que ela é absurda, contraditória, e tende a eliminar a diferença entre os tempos profano e sagrado, “erradicando a solidariedade da sociedade, em nome da defesa da solidariedade na sociedade”.
Quando a nossa Alcobaça se torna luminosa e os olhos de quem vive se poderiam extasiar diante de uma árvore construída de miniestrelas (que não existe por incúria ou laicismo de poder) brilhando na noite, escusam de vir invocar o argumento do consumismo porque, tal como a droga, só snifa e consome quem quer. E quem quer realmente o Natal, não receia o Presépio, não troca a Noite de Consoada por um “show cosmopolita”, nem o Bacalhau, as Rabanadas e o Bolo Rei por comidas de fusão, a armar ao fino e ao moderno. Afinal, quem se pode ufanar de ter nascido há 2018 anos e continua a regressar remontando a Bem Aventurança, apelando à Paz, e aos valores do Homem? Um clarão de esperança rompendo as tréguas, apontando um sentido para a vida nada laico, eis a “modernidade” do Natal de 2018 que, para mim continua a ser enorme contentamento.
Bom Natal e Bom Ano, caro Senhor Diretor e Leitores. 

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