sábado, 12 de janeiro de 2019

NO TEMPO DE PESSOAS “IMPORTANTES” COMO NÓS

50 Anos da História de Alcobaça Contada através de Pessoas
Amaral, Mário Lemos Coelho do, nasceu em Alcobaça, onde estudou.
Ainda em rapaz, pelos seus 17 anos, Mário Amaral deu os primeiros passos na política e na oposição ao Estado Novo, pela mão do contabilista António Luís Ventura. A partir de 1949, não houve em Alcobaça reunião, efeméride ou campanha eleitoral em que não tivesse participado, mais ou menos ativamente. Proprietário dum estabelecimento de material eletrodoméstico, na Rua de Leiria, depois do 25 de abril trabalhou na Assembleia da República, até se reformar.
-Amaral recordava que anteriormente ao 25 de Abril, os Presidentes das Câmaras eram nomeados pelo governo, do que resultava na prática, funcionarem como seus representantes. Assim sendo, com a queda do regime, desaparecia a legitimidade da sua manutenção no lugar. Foi essa a razão que me levou e a um grupo de alcobacenses a ir a Leiria exigir das autoridades a destituição de todos os Presidentes de Câmara, ainda em exercício.
Há por parte de Mário Amaral, algum exagero na afirmação pois, a exigência formulada era muito menos ambiciosa e limitava-se, na prática, ao caso de Alcobaça, em concreto de Tarcísio Trindade.
Mais tarde, tomei conhecimento da minha nomeação para a presidência da Comissão Administrativa. Porque essa não era a minha ambição política e, ainda, por razões particulares que expus ao Governador Civil, Dr. Rocha e Silva, recusei. Posteriormente, fui eleito para nova Comissão Administrativa e voltei a recusar.
Foi preso no mesmo dia que Tarcísio Trindade, Luís Capador, Carlos Leão da Silva Caranguejo e Hernâni Correia Bastos (22 de Julho de 1975), numa ação comandada no terreno por João Salgueiro, mais tarde e atualmente (e em 3º mandato) Presidente da Câmara de Porto de Mós. Foi Salgueiro quem efetuou as prisões dos alcobacenses, com ordens do COPCON, mas recusei-me a prender os de Porto de Mós porque eram quase todos meus amigos. Pedi ao meu comandante para não me fazer essa maldade, e ele teve o bom senso de não me mandar prender os de Porto de Mós. Quando recebi o mandato de Otelo com a lista das pessoas a serem presas, liguei a alguns amigos de Porto de Mós para fugirem! Felizmente na altura não havia escutas telefónicas!
Mário Amaral contava que em consequência dos assaltos à Câmara e ao PCP e por força do cargo na secção de Alcobaça do PS, fui confrontado até cerca das cinco e meia da manhã seguinte com pedidos de informação de todo o País, através do telefone. Perto das sete, acordei com a campainha da porta e dirigindo-me à janela, fui informado pela minha vizinha que vieram à minha porta um agente da PSP e um militar e, ainda, que o Carlos Leão, o Hernâni Bastos e o Luís Serrenho tinham sido presos. Na presunção de que algum deles tivesse invocado o meu testemunho, dirigi-me ao Posto da PSP para saber do que se passava. Que nada, foi a informação. Foi então que ao sair encontrei o referido agente da PSP que ao ver-me, exclamou: Ah! Você está aqui? Fica já detido!
Razões dessa detenção não me foram apresentadas. Mandato também não, porque em tempo de Revolução a legalidade assim o impunha/permitia, mas admito que a prisão tenha sido resultante de alguma atividade conspiratória em que me envolvi do não agrado do PC.
O certo é que, não sabe como, nem porquê, vieram ordens não para os soltar ou ouvir, mas para os levar para Lisboa e transferir para Caxias, acusados de pertencerem a uma perigosa associação de malfeitores. Correu o boato em Alcobaça, prontamente transmitido ao Quartel de Leiria, que na Estrada Nacional, junto à Benedita, se iriam organizar barricadas populares, para os libertar do COPCON, se por lá passassem, pelo que foi decidido fazer um desvio por Santa Margarida, Coruche e Santarém.
Chegados à Prisão de Caxias, como não havia mandados, conhecimento da ordem de detenção ou instruções, tiveram de passar primeiro pelo Comando do COPCON, para se registarem e formalizar a situação. Os alcobacenses, insiste-se, haviam sido presos sem mandatos de captura ou quando muito assinados em branco, com base em denúncias não assumidas, como era prática seguida por Otelo Saraiva de Carvalho, no Comando do COPCON, que entendia que de maneira nenhuma estas prisões podem ser consideradas no âmbito da estratégia anti monopolista. Estão sim dentro de uma luta anti corrução. Quanto à estratégia anti monopolista isso é um assunto que terá que ser encarado no âmbito do Programa económico. Em relação à atuação do COPCON, ele atuou a pedido do Governo e de acordo com a legislação que o criou a ele COPCON. De qualquer modo esse assunto parece-nos que já estará respondido no que respeita à entrada em vigor de legislação revolucionária.
Tratando-se de uma perigosa associação de malfeitores, havia que os colocar em celas separadas, situação que se manteve até serem ouvidos pela primeira vez, ao fim de 9 dias. Nunca souberam se essas celas eram as mesmas que antes do 25 de Abril recebiam os presos políticos, mas seja como for não tinham em funcionamento os instrumentos que Gilberto Coutinho, referiu ter-lhe sido contado.
Sobre Mário Amaral, leia-se ainda aqui Partido Socialista (Alcobaça), Carlos Leão da Silva (Caranguejo) Hernâni C. Bastos, Luís C. Serrenho (Capador), Tarcísio Trindade, José Pinto Júnior, e No Tempo de Soares, Cunhal e Outros, de Fleming de Oliveira.

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