NO
TEMPO DE PESSOAS “IMPORTANTES” COMO NÓS
50
Anos da História de Alcobaça Contada através de Pessoas
Ainda
em rapaz, pelos seus 17 anos, Mário Amaral deu os primeiros passos na política
e na oposição ao Estado Novo, pela mão do contabilista António Luís Ventura. A
partir de 1949, não houve em Alcobaça reunião, efeméride ou campanha eleitoral
em que não tivesse participado, mais ou menos ativamente. Proprietário dum
estabelecimento de material eletrodoméstico, na Rua de Leiria, depois do 25 de
abril trabalhou na Assembleia da República, até se reformar.
-Amaral
recordava que anteriormente ao 25 de
Abril, os Presidentes das Câmaras eram nomeados pelo governo, do que resultava
na prática, funcionarem como seus representantes. Assim sendo, com a queda do
regime, desaparecia a legitimidade da sua manutenção no lugar. Foi essa a razão
que me levou e a um grupo de alcobacenses a ir a Leiria exigir das autoridades
a destituição de todos os Presidentes de Câmara, ainda em exercício.
Há por
parte de Mário Amaral, algum exagero na afirmação pois, a exigência formulada
era muito menos ambiciosa e limitava-se, na prática, ao caso de Alcobaça, em
concreto de Tarcísio Trindade.
Mais
tarde, tomei conhecimento da minha
nomeação para a presidência da Comissão Administrativa. Porque essa não era a
minha ambição política e, ainda, por razões particulares que expus ao
Governador Civil, Dr. Rocha e Silva, recusei. Posteriormente, fui eleito para
nova Comissão Administrativa e voltei a recusar.
Foi
preso no mesmo dia que Tarcísio Trindade, Luís Capador, Carlos Leão da Silva Caranguejo
e Hernâni Correia Bastos (22 de Julho de 1975), numa ação comandada no terreno
por João Salgueiro, mais tarde e atualmente (e em 3º mandato) Presidente da
Câmara de Porto de Mós. Foi Salgueiro quem efetuou as prisões dos alcobacenses,
com ordens do COPCON, mas recusei-me a prender os de Porto de Mós
porque eram quase todos meus amigos. Pedi ao meu comandante para não me fazer
essa maldade, e ele teve o bom senso de não me mandar prender os de Porto de
Mós. Quando recebi o mandato de Otelo com a lista das pessoas a serem presas,
liguei a alguns amigos de Porto de Mós para fugirem! Felizmente na altura não
havia escutas telefónicas!
Mário
Amaral contava que em consequência dos
assaltos à Câmara e ao PCP e por força do cargo na secção de Alcobaça do PS,
fui confrontado até cerca das cinco e meia da manhã seguinte com pedidos de
informação de todo o País, através do telefone. Perto das sete, acordei com a
campainha da porta e dirigindo-me à janela, fui informado pela minha vizinha
que vieram à minha porta um agente da PSP e um militar e, ainda, que o Carlos
Leão, o Hernâni Bastos e o Luís Serrenho tinham sido presos. Na presunção de
que algum deles tivesse invocado o meu testemunho, dirigi-me ao Posto da PSP
para saber do que se passava. Que nada, foi a informação. Foi então que ao sair
encontrei o referido agente da PSP que ao ver-me, exclamou: Ah! Você está aqui?
Fica já detido!
Razões dessa detenção não me foram
apresentadas. Mandato também não, porque em tempo de Revolução a legalidade
assim o impunha/permitia, mas admito que a prisão tenha sido resultante de
alguma atividade conspiratória em que me envolvi do não agrado do PC.
O
certo é que, não sabe como, nem porquê, vieram ordens não para os soltar ou
ouvir, mas para os levar para Lisboa e transferir para Caxias, acusados de
pertencerem a uma perigosa associação de
malfeitores. Correu o boato em Alcobaça, prontamente transmitido ao Quartel
de Leiria, que na Estrada Nacional, junto à Benedita, se iriam organizar
barricadas populares, para os libertar do COPCON,
se por lá passassem, pelo que foi decidido fazer um desvio por Santa Margarida,
Coruche e Santarém.
Chegados
à Prisão de Caxias, como não havia mandados, conhecimento da ordem de detenção
ou instruções, tiveram de passar primeiro pelo Comando do COPCON, para se registarem e formalizar a situação. Os
alcobacenses, insiste-se, haviam sido presos sem mandatos de captura ou quando
muito assinados em branco, com base em denúncias não assumidas, como era
prática seguida por Otelo Saraiva de Carvalho, no Comando do COPCON, que entendia que de maneira nenhuma estas prisões podem ser
consideradas no âmbito da estratégia anti monopolista. Estão sim dentro de uma
luta anti corrução. Quanto à estratégia anti monopolista isso é um assunto que
terá que ser encarado no âmbito do Programa económico. Em relação à atuação do
COPCON, ele atuou a pedido do Governo e de acordo com a legislação que o criou
a ele COPCON. De qualquer modo esse assunto parece-nos que já estará respondido
no que respeita à entrada em vigor de legislação revolucionária.
Tratando-se
de uma perigosa associação de malfeitores,
havia que os colocar em celas separadas, situação que se manteve até serem
ouvidos pela primeira vez, ao fim de 9 dias. Nunca souberam se essas celas eram
as mesmas que antes do 25 de Abril recebiam os presos políticos, mas seja como
for não tinham em funcionamento os instrumentos que Gilberto Coutinho, referiu
ter-lhe sido contado.
Sobre Mário Amaral, leia-se ainda
aqui Partido Socialista (Alcobaça), Carlos Leão da Silva (Caranguejo) Hernâni
C. Bastos, Luís C. Serrenho (Capador), Tarcísio Trindade, José Pinto Júnior, e No Tempo de Soares, Cunhal e Outros, de Fleming de Oliveira.
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