NO
TEMPO DE PESSOAS “IMPORTANTES” COMO NÓS
50
Anos da História de Alcobaça Contada através de Pessoas
-Desde
sempre que me preocupei em ter atividades extraprofissionais, porque acho que
são fundamentais para o meu equilíbrio mental além de me enriquecerem a vários
níveis.
Existem três coisas que desde sempre lhe despertaram muito interesse,
verdadeiras paixões, e que acabaram por o conduzir nas atividades extraprofissionais, livros, música e a bicicleta. Em relação à música, estudei e toquei
trombone na Sociedade Filarmónica Maiorguense, onde anos mais tarde também fui
diretor. No dia em que saí a tocar com a farda da SFM pela primeira vez,
senti-me feliz, orgulhoso e a pessoa mais importante do mundo. Dentro da
centenária instituição havia músicos que, também eles, eram verdadeiras
instituições. Homens como o Ti Ramiro alfaiate, “Joaquim” Sereno, Fragata, Zé
Bruno, Mário “Veneno” e tantos, tantos outros. Sem esquecer uma pessoa
importantíssima para mim, o maestro José Manuel Cunha. Homens que encaravam o
espirito filarmónico como ninguém. Eram dedicados, apaixonados e sempre prontos
para a festa. E se esta fosse regada com bom tinto melhor ainda.
As
saídas da Banda ocupavam dias inteiros, o que levava os músicos a ter de
almoçar no recinto da festa ou em casa dos festeiros, o que por vezes era um perigo. Fazer uma procissão a seguir a
um almoço bem regado, era por vezes uma aventura divertida. Para nós,
os mais novos, era também a oportunidade de podermos beber gasosa ou laranjada
à vontade, sem termos os pais a chamar a atenção. Estou a escrever estas linhas
e a lembrar-me do dia em que andávamos a acompanhar um peditório pelas ruas da
Maiorga e a certa altura virámos todos à direita. Todos não. O Ti Mário
“Veneno”, 1º trompa, seguiu em frente. Imaginam a risada que foi ver o senhor a
tocar trompa, rua abaixo sozinho. Não posso garantir, mas aquela hora, julgo
que a culpa não foi só do tinto. É importante e justo salientar que estes
homens eram excelentes músicos e contribuíram para uma época de ouro da SFM.
Orgulha-se
de fazer parte da história do rock alcobacense, como baixista da banda Epá
Não Sei, que tocou na 1ª. sessão do 1º. Concurso de Música Moderna do Bar
Ben, sem que na altura houvesse noção que estava a participar ativamente no
início de algo importante. Refiro-me obviamente ao Bar Ben e ao movimento
musical que muito deu que falar a nível nacional. Durante esta aventura
foram os verdadeiros reis do rock, pelo
menos lá da rua, o que deu para conhecer muita gente, aprender e
contactar com parte de um mundo novo.
Histórias
engraçadas ficaram algumas.
Tirando
aquelas que eram engraçadas só para nós e que não se podem contar aqui, recordo
uma vez que fomos tocar a um bar em Salir do Porto, 9 de junho de 1990, e no
fim da noite, o dono veio ter connosco e diz-nos que não nos ia pagar o cachet
combinado. E agora? Olhámos uns para os outros, insistimos, mas ele estava
decidido a não nos pagar, porque não tinha realizado dinheiro suficiente
durante a noite. Depois de alguma exaltação, afinal eramos rocker´s, desmontámos
tudo e viemos embora. Não sem antes aproveitar uma das cláusulas do acordo. Bar
aberto para os músicos. Tempos depois viemos a saber que esse bar tinha
desaparecido em consequência de um incêndio. Fizemos uma festa, mas garanto que
os EPÁ NÃO SEI não tiveram nada a ver com o incêndio.
EPÁ
NÃO SEI foram
parar à prisão. Este foi o título de uma notícia no jornal O Alcoa. Não,
não teve qualquer ligação ao incêndio do bar mas, de fato, foram para a
prisão. Fomos dar um concerto à Prisão-Escola de Leiria a convite da
Paróquia de Alcobaça. Foi uma experiência única e marcante. Recordo o dia em
que fomos falar com o Capelão da prisão para combinar as coisas. Tudo
combinado, local do concerto visitado e o senhor convida-nos para irmos ao
café. Nós, envergonhados e armados sei lá em quê, começámos a pedir, um café,
um sumo, uma água e quando chegou a vez do Capelão, nem hesitou. Para mim é uma
caneca que está um calor do caraças”. Nós olhámos uns para os outros e claro,
alterámos o pedido. Uma caneca para cada um. Afinal eramos rocker´s e estava um
calor do caraças.
Muitos
anos depois, estudou gaita-de-foles durante três anos no Centro Galego, de
Lisboa.
A
bicicleta, é e será o seu objeto preferido. No
dia em que nasceu já havia uma bicicleta lá por casa à espera, graças à paixão
pelo ciclismo de um tio-avô que muito carinhosamente o tratava por Luís Ocaña,
nome de um grande ciclista espanhol de outros tempos. Ando de bicicleta e espero fazê-lo até que
as pernas me doam.
Aproveitou a paixão para conhecer Portugal
de uma ponta a outra, contactando com lugares e pessoas, como só a bicicleta
permite. Procura
pedalar em locais onde nunca esteve, percorrer cantinhos impossíveis de
alcançar de carro. De todas as travessias que fez em Portugal destaca a Grande
Rota das Aldeias Históricas e uma viagem de 6 dias na zona de
Montalegre, que lhe permitiu conhecer um
Portugal onde os ponteiros do relógio não mandam e a riqueza das pessoas é
medida pelo número de cabeças de gado.
Em
2007 percorreu a Via de la Plata, em Espanha durante 15 dias,
onde descobriu o que era ter frio e fome, sem esquecer o encontro com um touro bravo, na Estremadura Espanhola. Entre
ambos, havia uma cancela que tinha que abrir para seguir viagem. Tivemos cerca
de 40 minutos a olhar um para o outro. Ganhei. Ele foi embora e eu
pude prosseguir viagem na minha bicicleta.
No
ano seguinte, percorreu o Parque Nacional da Serra Nevada durante seis dias e
conseguiu ir ao cume de bicicleta. Mas, o seu ponto alto como cicloturista
deu-se em 2005 quando percorreu pela primeira vez o Caminho Francês de Santiago.
Depois voltou à cidade do Apostolo várias vezes de bicicleta e, em 2014 a pé.
Em
2016, preparou-se para ir a Marrocos, explorar a zona das Gargantas do Atlas e
Jbel Saghro, de bicicleta. Em cima da bicicleta tenho muitas histórias
e boas recordações. Em cima da bicicleta consigo rir e chorar. Sou feliz.
O
gosto pelos livros apareceu-lhe na primária, com o juntar das primeiras letras.
Ao longo da vida leu muitos livros. Não sei o preferido. Com a
leitura, a escrita aparece com alguma naturalidade. A primeira experiência
surgiu em 2005, quando escreveu um diário de bolso no Caminho Francês de
Santiago. A partir daí, foi escrevendo e arrumando as folhas na gaveta. Em 2013
apresentou, na Biblioteca de Alcobaça, o seu primeiro livro de mini contos,
intitulado CURTAS com margem de progressão.
Tirou
alguns textos da gaveta e participou em concursos literários dos mais variados
géneros, sendo desde 2012 premiado em alguns.
Confesso
que os concursos nunca foram uma motivação, mas apenas uma maneira de partilhar
alguns dos textos arrumados. As minhas motivações são as minhas paixões.
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