quinta-feira, 17 de janeiro de 2019




NO TEMPO DE PESSOAS “IMPORTANTES” COMO NÓS
50 Anos da História de Alcobaça Contada através de Pessoas

Cruz, Hélder Teodoro, natural de Alpedriz, profissionalmente esteve ligado ao setor cimenteiro na fábrica de Pataias.
Em 1993, encabeçou uma lista de independentes à Junta de Freguesia tendo feito a partir daí 4 mandatos consecutivos. Dizia de si que como o homem é animal nunca satisfeito, considera que ainda tem muito a dar à freguesia.
Foi militante do PCP, mas em 2005 abandonou o partido. Por essa altura, foi anunciada a sua inclusão na comissão de honra da candidatura de Sapinho (PSD) à CMA. Mas como fez questão de reafirmar, irá manter independência partidária no exercício do seu quarto mandato…
-Tratar os esgotos é tão importante como tratar a água, afirmou o Secretário de Estado dos Recursos Naturais, António Ricardo Magalhães, no decorrer da inauguração da ETAR /Estação de Tratamento de Águas Residuais de Pataias, no dia 7 de novembro de 1997. Adiantou ainda que este é o primeiro marco de um caminho de parceria entre a Câmara e o Governo numa obra financiada no âmbito do II Quadro Comunitário de Apoio e que custou cerca de 190 mil contos.
Leia-se aqui António Ricardo Magalhães.
-Há anos que Hélder Cruz queria valorizar um dos mais bonitos recantos da freguesia. O autarca conseguiu em 2011 que em Alpedriz construísse a primeira praia fluvial do concelho, alegadamente um recanto de areia, com sol e águas límpidas.
Onde passou a existir uma pequena/mini praia, a que se acede a partir da estrada Alpedriz/Ribeira do Pereiro, existiram há bastantes anos, campos de milho e feijão. Com o passar dos anos e algum desinteresse pela agricultura, o terreno foi votado ao abandono, criando metros de silvas e mato, que Junta e Câmara limparam, arranjaram, colocaram areia e tornaram num oásis no meio do verde que caracteriza Alpedriz.
Água é um elemento que não falta na freguesia. Há várias nascentes e rios, o que explica a abundante vegetação. Na pequena praia fluvial, a água nasce em todo o percurso.
Feita a operação para criar a praia fluvial, Hélder Cruz pretendeu dotar o espaço de algumas condições para atrair pessoas.
-O festival de música da praia fluvial de Alpedriz, esteve de volta para mais uma edição na Praia das Loureiras. Em 2014, aconteceu no último fim de semana de agosto, dias 28, 29 e 30.
O Loureiras Beats, nasceu em 2011 com o apoio da junta, pela mão de um grupo de amigos com gosto pela música e animação cultural. O alegado objetivo é a dinamização da zona de Alpedriz, sendo que as receitas do festival revertem a favor de da comunidade. Nas edições anteriores, o evento permitiu apoiar organizações e instituições particulares de solidariedade social locais, bem como projetos e atividades culturais na região.
-Esteve a circular um abaixo-assinado em Alpedriz e nos Montes, no qual aquelas duas freguesias rejeitavam totalmente a anexação/união a Coz.
Entretanto, a Assembleia de Freguesia de Alpedriz reuniu, tendo aprovado, por unanimidade, uma moção na qual rejeitou a anexação/união a freguesia de Coz, aliás como defendeu Hélder Cruz.
O mesmo aconteceu nos Montes, cuja Assembleia de Freguesia tomou idêntica posição. Após estas deliberações, os autarcas de Alpedriz e Montes decidiram agendar uma reunião com o Presidente da Câmara para expressarem o seu desagrado quanto a união com Coz.
-Mas a União das Freguesias de Coz, Alpedriz e Montes, foi constituída e mantem-se, sem que as populações manifestem desagrado especial. Os políticos têm opinião opsta.
Cruz, Licínio da, nasceu na Lourinhã a 27 de julho de 1914 e faleceu em Lisboa a 11 de fevereiro de 1999.
Licenciado em Arquitetura pela Escola de Belas Artes do Porto, ficou ligado ao projeto de várias igrejas, tanto na Metrópole como no Ultramar. Era possuidor de uma traça menos convencional, aonde predominam entradas que conferem grande claridade e o uso de vitrais que dão aspeto muito decorativo e harmonioso.
Projetou a Igreja da Benedita e a residência paroquial.
Cruz, Maria do Céu Abreu, conhecida profissionalmente como Céu Abreu, é natural de Torres Novas, onde nasceu em 9 de outubro de 1965.
Frequentou o Ensino Secundário em Torres Novas, no Colégio Santa Maria, tendo terminado o secundário em Coimbra, no Liceu José Falcão. Em 1983 ingressou na faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, onde fez a licenciatura em Direito 1988. O estágio de Advocacia foi feito em Tomar, tendo depois vindo para Alcobaça, onde tem decorrido o percurso pessoal e profissional, terra que adotei como minha. Sem especialização, é por isso advogada generalista.
Tem exercido cargos na Ordem dos Advogados desde 2004, como de Secretária da Delegação de Alcobaça da Ordem dos Advogados, de 2004 2013, Presidente da Delegação de Alcobaça da Ordem dos Advogados, e de 2013 até à data vogal do Conselho Distrital de Coimbra da Ordem dos Advogados.
Desde 2013 faz parte da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens em Risco, de Alcobaça, como elemento cooptado.
-Diz que nunca viro as costas a qualquer solicitação social que me seja solicitada, sendo uma pessoa preocupada com as dificuldades que as pessoas enfrentam, quer a nível pessoal, quer a nível profissional.
É uma advogada experiente e respeitada em Alcobaça, com opiniões consistentes.
Sobre o estado da Justiça em geral e o exercício da Advocacia numa comarca como Alcobaça, entende que, muito se tem falado do Estado da Justiça em Portugal, não só pelos casos mediáticos que têm ido “parar” aos Tribunais, mas também devido às inúmeras alterações que a Justiça tem sofrido nos últimos tempos.
Na minha modesta opinião, tem vindo a ser feita uma avaliação do Estado da Justiça, de acordo com os interesses político partidários e não uma avaliação real da Justiça em Portugal.
A Justiça é um tema muito caro aos Advogados, sendo estes, aliás aqueles a quem, por vocação, natureza e tradição cabe a defesa dos direitos liberdades e garantias dos cidadãos, e a defesa do cumprimento do Estado de Direito, mesmo nos momentos mais difíceis.
Temos, nos últimos anos assistido a grandes reformas na Justiça, reformas essas que, pese embora muitas delas sejam necessárias, nunca são, talvez também por tradição, bem recebidas no meio judiciário a que se destinam.
Mas, as reformas, ou pretensas reformas a que temos assistido, às vezes não passam de alterações legislativas, que embora profundas, não foram precedidas do necessário amadurecimento, e daí acabarem por não ter os resultados pretendidos. Não é possível, nem desejável, que aconteça aquilo que nos últimos tempos temos vindo a assistir, que é uma alteração de qualquer lei, porque mudou o governo, pois, sendo a Justiça uma área sensível e que a todos, toca, todos os Governos pretendem deixar a sua “marca”, o que nem sempre é positivo nem desejável. As reformas são necessárias, úteis, vamos ter que ir adaptando a lei às realidade socioculturais que vão acontecendo, mas…para que uma lei seja uniformemente aplicada, e isso é essencial para a segurança jurídica, temos que deixar que os Tribunais façam o seu papel de uniformização de aplicação da mesma, e isso demora muitos largos anos a fazer-se, o que não te sido possível já que leis muito sensíveis, alteram com as mudanças de governo, o que é muito prejudicial á justiça e á defesa do Estado de Direito. Ainda estão os agentes da Justiça, “confusos” com a nova legislação, e já a mesma está a ser alvo de alteração! Isto é muito mau para a Justiça e consequentemente para o cidadão que é aquele que mais sofre com a falta de amadurecimento das normas e consequente impreparação dos agentes para a sua aplicação. Sem certezas e segurança jurídica, não há Justiça, que é aquilo por que todos ansiamos.
Há pouco mais de um ano assistimos a uma Reforma enorme na Justiça, com a alteração do mapa judiciário e consequente encerramento de Tribunais e afastamento dos cidadãos dos locais onde tendencialmente se dirigem para ver os seus problemas resolvidos. A alteração do mapa judiciário foi amplamente criticado, nomeadamente pelos Advogados que lutaram para que a mesma não fosse levada a cabo da forma como veio a ser, prevendo-se que iriam existir muitos problemas na execução da justiça, e atrasos. A Reforma aconteceu, entrou em vigor, e muitos cidadãos ficaram prejudicados pois a proximidade dos Tribunais que durante largos anos foi entendido com uma necessidade para a defesa dos interesses do cidadão deixou de existir. Houve uma enorme dificuldade de ajustamento á nova realidade, e, mais uma vez aqui, o Advogado sempre a pensar no supremo interesse do cidadão, e da defesa dos direitos, liberdades e garantias dos mesmos, se adaptou, e hoje, consegue-se, com maior ou menor dificuldade, exercer a Justiça com a dignidade que ela merece. Não nos podemos esquecer do papel essencial dos funcionários judiciais em todo este processo, que abdicaram, muitos deles das suas merecidas férias de verão, para organizarem os novos Tribunais, para que tudo estivesse apto a funcionar em 1 de Setembro de 2015, o que não foi possível!
Mas convenhamos que nem tudo o que foi feito na reforma do Mapa Judiciário esteve mau. Inerente à mesma está a especialização dos Tribunais e essa é desejável e positiva pois cada vez mais nos deparamos com dificuldades, não só derivadas das alterações legislativas que são em demasia, como de alterações sócio culturais, que fazem com que ser generalista na área do Direito seja muito difícil, e nomeadamente os Juízes, que é quem em última instância faz a aplicação do Direito ao caso concreto, necessitam de estar muito bem preparados.
A especialização é desejável, pese embora que, no que ao Advogado diz respeito, seja de muito difícil concretização a existência da mesma, nomeadamente em meios pequenos, Advogados em prática isolada, que não têm mercado para se dedicar apenas a um ramo de direito, sob pena de não conseguirem sobreviver. Mas, sendo os Tribunais de competência especializada, com juízes especialistas, já a justiça ganha muito em competência e assertividade, sendo que os Advogados, com a capacidade e vontade que desde tempos imemoráveis se lhes tem reconhecido, farão um bom trabalho na defesa da justiça e do cidadão que lhe confiou os seus tormentos. O Advogado é um sobrevivente e adapta-se sempre às necessidades para cumprimento daquilo que o move, a defesa dos interesses do seu cliente.
Conforme se tem vindo a referir, e no seguimento do primeiro tema, temos que concluir que é muito diferente o exercício da Advocacia em grandes centros, ou em pequenas cidades, tal como é diferente estar inserido numa grande sociedade de advogados, ou trabalhar em prática isolada, que é o que faz a grande maioria dos advogados das pequenas cidades.
Numa cidade como a nossa, não é possível a especialização do advogado, por inexistir mercado para a mesma. O Advogado em Alcobaça, depara-se atualmente com dificuldades de mercado, não só porque a indústria de Alcobaça deixou praticamente de existir, existem muitos advogados, e criou-se a ideia de que os advogados de fora do concelho são melhores do que aqueles que cá existem, o que não é verdade! Existem bons Advogados em Alcobaça, como noutras cidades à volta, sendo que obviamente também existem menos bons, como em qualquer localidade. Basta que as pessoas se informem acerca da qualidade do Advogado, e não procurem alguém apenas por o conhecerem!
Os custos da justiça, nomeadamente taxas de justiça estão proibitivas o que faz também com que o cidadão pense duas vezes antes de recorrer aos tribunais, tantas vezes com grandes prejuízos para a sua vida, mas a crise económica e o desemprego levou a que isso acontecesse, o que é lamentável, pois a defesa da justiça é tão importante como a nossa saúde!
Em Alcobaça existe atualmente um grave problema de procuradoria ilícita, sendo que a Ordem dos Advogados, através do Conselho Regional de Coimbra está atenta à mesma, pois o cidadão não pode continuar a ser prejudicado por aqueles que praticam actos próprios de advogado, sem o serem. Existem condenações no Tribunal de Alcobaça, e estou certa de que vão existir mais pois o cidadão não pode ser punido por acreditar que alguém a quem confiou os seus interesses, não esteja afinal habilitado a fazê-lo.
Cunha, Henriqueta Henriques Franco da, que usa normalmente Henriqueta Henriques, nasceu nos Montes, onde viveu até à adolescência.
Seu pai, Francisco Rodrigues Franco, estilo engenheiro sem diploma, inventava tudo e era querido pelos vizinhos que, carinhosamente, o alcunharam de Maravilha. A família de Henriqueta era típica desta zona rural de Portugal, 5 filhos e mãe cozinheira de mão cheia, que foi a sua grande mestra na arte da mesa. Henriqueta (mãe) era uma figura elegante, magra, de altura mediana que vestia com simplicidade. Usava muitas vezes um avental e lenço de cabeça, mas adorava vestir meias e calçar sapatos fechados, tipo senhoril urbano.
A primeira paixão de Henriqueta, não contando com os namoricos, foi segundo ela mesmo conta, a costura e não a cozinha. Adolescente, fez alguma aprendizagem naquela arte e deu aulas às meninas da terra. Caprichosa como costureira, veio a aperfeiçoar-se em Lisboa, aonde ia aos fim-de-semana visitar a irmã Laura, que aí se encontrava a estudar. Henriqueta gostava muito de Lisboa e, segundo conta, aí viveu dias muito felizes.
Um dia, segundo a própria contou com total franqueza, apaixonou-se por um rapaz de ar aventureiro e misterioso, cujo grande desejo era conhecer o mundo. Todavia, o Estado Novo impedia os portugueses de viajar para certos países. António Gaio, assim se chamava ele, tentou fugir duas vezes para a Austrália, embarcando clandestinamente. Apanhado e preso, veio ser julgado e a cumprir uma pena de um ano e três meses. Embora o visitasse regularmente na prisão e prometesse esperar por ele, Henriqueta veio a descobrir que afinal o António tinha uma outra namorada, com casamento já marcado
Henriqueta não lhe perdoou a traição e o engano, e desiludida, nos seus vinte e poucos anos, tomou a decisão de partir para o Brasil no dia 18 de dezembro de 1968, aonde se encontravam alguns familiares. Aí conheceu outro rapaz, o Agostinho, com quem viveu uma nova paixão (embora com menos fogo) e escolheu Niterói para se fixar. Agostinho trabalhava na cozinha e ao fim de pouco tempo, decidiram casar.
Henriqueta, habilidosa costureira, desenhou e fez o vestido de noiva, de cavas fechadas e renda trabalhada na parte de cima e cetim de seda pura por baixo. Era, como salienta, um vestido à portuguesa. Como buquê, Henriqueta escolheu, apenas, um botão de rosa. O casamento durou 8 anos, até à morte do Agostinho e dele ficaram 2 filhos rapazes.
-Com estes, abriu em 1977 a Gruta de Santo António, restaurante onde eram elaboradas receitas simples, típicas do seu Portugal. O sucesso foi enorme, pelo que em breve toda a gente adorava ir ao restaurante de Dona Henriqueta, pois não havia melhor em Niterói ou mesmo no Rio, como se dizia. Especialmente apreciadas foram as postas de bacalhau, as maiores e mais saborosas sem paralelo nas redondezas. O restaurante foi-se tornando uma referência da cozinha portuguesa no Rio de Janeiro, se não mesmo no respetivo Estado. Foi crescendo, crescendo e ganhando prémios e distinções, sem perder a matriz portuguesa.
Henriqueta vinha regularmente a Portugal matar saudades e passar férias e numa dessas viagens, os filhos já adultos (e capazes de tomar conta do restaurante) e viúva, reencontrou o António, entretanto separado da mulher, pelo que retomaram o namoro. -A Gruta de Santo António, impôs-se e Dona Henriqueta é uma empresária de sucesso.
A jornalista da rede Globo, já falecida, Sandra Moreyra escreveu quem vai à Gruta de Santo António, na Ponta d’Areia, em Niterói, sabe que vai ser recebido como numa casa de família. Vai dar de cara com o sorriso aberto e a simpatia de Dona Henriqueta, a matriarca dos Henriques. O atendimento caloroso, os perfumes que saem da cozinha aberta, à vista de todos, vão atraindo a freguesia. Os sabores na medida para você se deliciar, comer rezando, agradecer de joelhos.
E se você aprecia uns vinhos portugueses, vai descobrir infinitos prazeres nesse restaurante tradicional de Portugal Pequeno. Confie na indicação do Alexandre sobre o vinho a ser tomado. Deixe que Dona Henriqueta o guie pela generosa comida portuguesa. No fim de um almoço daqueles sem pressa, ainda há as sobremesas, a doçaria conventual: barriguinhas de freira, pastéis de nata e de Santa Clara, tantas variedades que você vai se sentir literalmente nas nuvens.
Cunhal, Álvaro Barreirinhas, nascido em Coimbra a 10 de novembro de 1913, dedicou a vida ao ideal comunista e ao PCP.
Faleceu em Lisboa a 13 de junho de 2005 e no seu funeral, participaram mais de 250.000 pessoas.
Álvaro Cunhal ficou na memória coletiva nacional, como um comunista que nunca abdicou do seu ideal.
-O comício do PCP marcado para a noite de sábado, 16 de Agosto de 1975 em Alcobaça, constituiu a primeira sessão pública promovida pelo partido, após a instauração do clima de violência a que o País, de norte a sul, assistiu no Verão Quente e concretamente em Alcobaça, dias antes, com a destruição da sede do PCP e a destituição da CA da CMA, presidida por José Pinto Júnior (comunista).
Esta iniciativa protagonizado por Cunhal, que pretendia ser de afirmação ou de desagravo, não foi bem aceite em Alcobaça, cujas gentes em geral não se sentiram honradas com tal distinção, que reputaram de provocação.
O PCP tinha feito uma ampla cobertura publicitária do comício, com panfletos, faixas nas ruas e caravanas auto com altifalantes a anunciar a presença do Secretário-Geral, Álvaro Cunhal, bem como de Joaquim Gomes, membro do Comité Central. Durante o dia correram em Alcobaça, os boatos mais desencontrados, que grupos provenientes de Alhandra e da cintura industrial de Lisboa, vinham assegurar a resposta aos reacionários e fascistas alcobacenses. Por isso, pessoas da vila, mesmo algumas afetas ao PCP, retraíram-se de aparecer.
O ambiente no Pavilhão Gimnodesportivo de Alcobaça, com militantes provenientes da Marinha Grande, Santarém, Alhandra, Seixal e Almada, era inicialmente de grande expectativa de acordo com Mário Vazão, que lá se deslocou e entrou para tomar algumas notas para O Alcoa, de que era diretor. Como não era de rejeitar a hipótese de incidentes, estavam também presentes, repórteres nacionais e estrangeiros de França, Inglaterra e Canadá.
Até às 22h nada fazia prever, a uma pessoa mais desatenta ou desconhecedora dos antecedentes, o que se iria passar. Aos poucos, pequenos grupos, depois umas centenas de pessoas de vários pontos do Concelho e mesmo de fora, começaram a juntar-se no exterior e a apedrejar o pavilhão, bem como a cantar e proferir palavras de ordem provocatórias aos que chegavam e se preparavam para entrar. De dentro houve resposta, com armas a disparar contra os contestantes, causando alguns feridos, transportados para o Hospital, um dos quais, Joaquim Elias Vicente, que ficou internado.
No interior, Rui Baltazar, o animador de serviço, referindo-se ao ataque à sede do PCP em Alcobaça, cujas consequências lhe deixaram mazelas, mas que não lhe retiraram o ortodoxo e inabalável fervor militante, frisou que a ação preparada meticulosamente durante um mês, não visava só aquele Centro de Trabalho, pois que a tomada da Câmara, do Hospital e da Cooperativa, estava nos objetivos dos fascistas alcobacenses. Aquele militante comunista, comunicou ainda que na altura em que ocorreram os incidentes de Julho em Alcobaça, elementos do PS, de Valado de Frades, se prontificaram a ajudar os camaradas comunistas, a defender a casa de trabalho, o que não aconteceu, mas que não obstante motivou vivas e aplausos.
Era uma agradável noite de agosto português. Os acessos ao pavilhão, a partir da Escola Primária, encontravam-se cortados com barricadas, compostas dos mais variados objetos. Na opinião de Rosalina Martins e marido, que ali viviam muito perto, este corte de estrada, tinha relação com o facto de se pensar que Cunhal, indo ao comício, teria de passar necessariamente por ali para sair. A certa altura, ouviu-se um conjunto de rápidos disparos. Rosalina que confessa nada saber de armas, não pode identificar a sua natureza, mas deparou com pessoas a atirarem-se para o chão. Encontrava-se a veros acontecimentos, através dos estores da casa, a roer as unhas, e com as luzes apagadas. Acontece que, depois dos disparos, uma pessoa ficou estendido no chão, sem se levantar. Disse então para o marido que deveria haver ali um ferido grave, senão mesmo um morto.
Ao fim de alguns minutos, bateram à porta da casa. Tendo ido abri-la, constatou que se tratava de três estrangeiros a falar inglês e a pedir ajuda para um ferido que vinha em mau estado. O marido, que tinha alguns conhecimentos de inglês, abriu-lhes a porta e deixou-os entrar. Apurou-se, que se tratavam de repórteres canadianos, e que o ferido, era um colega que, além de ar assustado, tinha a cara coberta de sangue e alguns estilhaços do que veio a saber ser os restos de uma máquina fotográfica, que se partira. Foi-lhes explicado que o jornalista-fotógrafo, com o susto, tinha-se atirado para o chão, e na queda partiu a máquina, ferindo-se na cara. Os canadianos entraram, mas não deixaram acender a luz, com o argumento que não queriam chamar a atenção, pelo que o primeiro curativo foi efetuado por Rosalina Martins na casa-de-banho, à luz de duas velas.
O comício prosseguia. Cerca das 23h, depois do vidreiro António Dionísio ter falado e procedido à leitura (embora com alguma dificuldade), de duas moções de apoio ao PREC, os acontecimentos precipitaram-se. Elementos afetos ao PCP que, na entrada, montavam o serviço de segurança musculado, em resposta às pedras e aos insultos que lhes eram dirigidos, começaram a atirar objetos contra os manifestantes de forma indiscriminada, usar instrumentos contundentes, um das quais atingiu Manuel Augusto Coelho e a disparar para o ar, armas de fogo. Francisco Presciliano de Sousa, sofreu um ferimento na vista e tal como Fernando Laurentino foi evacuado para Lisboa, enquanto Segismundo Marques de Sousa, atingido com chumbo de caçadeira, teve de ser transportado de urgência para os HUC.
No interior do pavilhão, o ambiente era de enorme excitação. A assistência, que mais tarde se avaliou em cerca de 2.000 pessoas, entoava A Internacional e o Avante Camarada. Álvaro Cunhal subiu ao palco e dirigiu-se aos presentes, manifestando a esperança/certeza que, de novo, seriam restauradas as liberdades democráticas em Alcobaça, anunciando que na Vila se realizaria em breve uma grande festa-comício. Os tempos todavia nunca se revelaram adequados a essa festa, apesar de assegurar que tenham confiança, camaradas, porque as dificuldades temporárias serão supridas e os criminosos fascistas receberão os castigos que merecem, pois o momento de crise da Revolução há-de passar.
Uma das ambulâncias que levava um ferido para o hospital, foi atingida à pedrada, já que os manifestantes julgaram, que Álvaro Cunhal ia escondido dentro e em fuga. Mas não era verdade, este saíra previdentemente por outro lado, devidamente enquadrado pela sua segurança (os cubanos). No exterior do pavilhão havia agressões de parte a parte, mesmo com o disparo de armas de fogo, de arremessos de cocktails molotov, que só vieram a terminar quando, pelas 2h30 chegaram forças do RI7 de Leiria, e RI5 de Caldas da Rainha que, com rajadas de metralhadora para o ar, dispersaram os manifestantes, que barricavam as saídas com pedregulhos, toros e postes de cimento e permitiram a evacuação final do pavilhão.
O Rádio Clube Português, conforme a sua linha editorial de vanguarda/progressista, acompanhou, quase em direto, e acicatou os acontecimentos de Alcobaça e pelas 5h da madrugada do dia 17 anunciou que, no comício do PCP, realizado em Alcobaça, com a presença de destacados elementos do partido, entre os quais Álvaro Cunhal e Joaquim Gomes, bandos de fascistas estão a causar graves distúrbios de que podem resultar pesadas consequências, assinalando-se já vários feridos. Apelou à solidariedade e ação dos trabalhadores e democratas com esta situação que, como muitas outras que se vêm registando, parece visarem a destruição das liberdades, bem como alertou para o perigo em que se encontraram os comunistas em Alcobaça.
Graças a este apelo, automóveis transportando comunistas munidos de caçadeiras, matracas e barras de ferro, deslocaram-se à Vila de Alcobaça, em socorro dos camaradas, já nada tendo feito de útil porque os incidentes haviam acabado e o pavilhão não tinha ninguém.
Terminado o comício, segundo algumas versões, nem coincidentes nem sempre fidedignas, Cunhal conseguiu sair a pé, acompanhado de um grupo de cubanos, que o protegiam e encobriam dos populares. Cunhal não saiu de ambulância, e ter-se-á dirigido para um ponto qualquer da estrada que passando pela Bemposta, vai dar a Aljubarrota e depois rumou a Lisboa.
O motorista, conhecido em Alcobaça, como o Pobre Homem, de onde aliás era natural e tinha família, mas com quem não tinha relações, estava à espera no ponto combinado, para o levar em segurança.
Apenas no dia seguinte, domingo, os alcobacenses souberam um pouco melhor o que tinha acontecido, ao lerem o Jornal de Notícias, isto é, que centenas de pessoas haviam montado cerco ao comício do PCP, erguido barricadas e fogueiras. Soube-se também por esse jornal que, durante a confrontação a tiro e pedrada, se haviam registado vinte feridos, quatro dos quais haviam recebido tratamento hospitalar. À tarde, a vida corria normalmente em Alcobaça, numa rotina de verão quente e soalheiro, sem que nada deixasse transparecer a ocorrência dos graves incidentes da noite anterior. Apenas em alguns pequenos grupos era tema de conversa, misturado com muita boataria, factos inverosímeis, alguns risos e sempre nervosismo.
Os acontecimentos tiveram repercussão, no País e no estrangeiro. O Paris-Match fez uma reportagem, onde o volúvel  Duarte Chita, diretor do Lar Residencial de Alcobaça, aparecia muito sorridente.
Dizia-se em certos meios, que Alcobaça perdeu a oportunidade histórica de apanhar Cunhal à mão. Entre os mais de 20 manifestantes feridos na noite de 16 de Agosto, dos quais 7 ficaram internados nos hospitais de Lisboa, Coimbra e até de Alcobaça, contava-se o jornalista do Daily Telegraph, o inglês Michael Field, de 54 anos de idade, que já estava há vários dias em trabalho de reportagem em Portugal.
A interpretação destes acontecimentos, por parte do PC e amigos, bem como dos media afetos, foi bem diferente da generalidade dos alcobacenses. Segundo um comunicado, emitido na manhã do dia 17 de Agosto, pela secção de Informação do PCP, por declarações feitas por alguns provocadores agarrados pelo serviço de ordem do Comício, averiguou-se que alguns tinham vindo bem de longe e recebido dinheiro para o efeito.
-Cunhal voltou a Alcobaça em 1980 para presidir a um comício no Cineteatro, aonde esteve presente e na mesa Rogério Raimundo, no seu primeiro ato público de militante do PCP.
-Segundo se disse mais tarde (com ou sem fundamento?), sem aparato, ou especiais cuidados, Cunhal terá vindo outras vezes à zona de Alcobaça.
Sobre este assunto leia-se Fleming de Oliveira in No Tempo de Soares, Cunhal e Outros.
Custódio, José Duarte, vulgo Zé Francês, foi homenageado pela União de Freguesias de Pataias e Martingança, no dia 17 de maio de 2015, numa cerimónia que integrou o programa comemorativo do 31.º aniversário da Vila de Pataias.

Falecido em maio de 2013, José Custódio foi um curandeiro que tratou muitas pessoas, numa época em que não existia o Serviço Nacional de Saúde que temos hoje, frisou Válter Ribeiro, presidente da UFPM, salientando a importância de haver memória dos nossos antepassados. Vários familiares participaram na cerimónia de descerrar da placa toponímica que passou a identificar o pequeno largo onde José Custódio viveu. Este é um gesto de estima e gratidão a quem eu tanto devo no que se refere a exemplos a seguir no levar auxílio e alegria aos que nos rodeiam, afirmou Dina Custódio, uma das filhas do homenageado.



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