NO
TEMPO DE PESSOAS “IMPORTANTES” COMO NÓS
50
Anos da História de Alcobaça Contada através de Pessoas
Cruz,
Hélder Teodoro, natural de Alpedriz, profissionalmente esteve ligado ao setor
cimenteiro na fábrica de Pataias.
Em 1993, encabeçou uma lista de independentes à Junta de
Freguesia tendo feito a partir daí 4 mandatos consecutivos. Dizia de si que como o homem é animal nunca satisfeito,
considera que ainda tem muito a dar à freguesia.
Foi
militante do PCP, mas em 2005 abandonou o partido. Por essa altura, foi anunciada
a sua inclusão na comissão de honra da candidatura de Sapinho (PSD) à CMA. Mas
como fez questão de reafirmar, irá manter
independência partidária no exercício do seu quarto mandato…
-Tratar os esgotos é tão importante
como tratar a água,
afirmou o Secretário de Estado dos Recursos Naturais, António Ricardo
Magalhães, no decorrer da inauguração da ETAR /Estação de Tratamento de Águas
Residuais de Pataias, no dia 7 de novembro de 1997. Adiantou ainda que este é o primeiro marco de um caminho de parceria
entre a Câmara e o Governo numa obra financiada no âmbito do II Quadro
Comunitário de Apoio e que custou cerca de 190 mil contos.
Leia-se aqui António Ricardo Magalhães.
-Há
anos que Hélder Cruz queria valorizar um dos mais bonitos recantos da
freguesia. O autarca conseguiu em 2011 que em Alpedriz construísse a primeira
praia fluvial do concelho, alegadamente um
recanto de areia, com sol e águas límpidas.
Onde
passou a existir uma pequena/mini praia, a que se acede a partir da estrada
Alpedriz/Ribeira do Pereiro, existiram há bastantes anos, campos de milho e
feijão. Com o passar dos anos e algum desinteresse pela agricultura, o terreno
foi votado ao abandono, criando metros de silvas e mato, que Junta e Câmara
limparam, arranjaram, colocaram areia e tornaram num oásis no meio do verde que caracteriza Alpedriz.
Água
é um elemento que não falta na freguesia. Há várias nascentes e rios, o que
explica a abundante vegetação. Na pequena praia fluvial, a água nasce em todo o
percurso.
Feita
a operação para criar a praia fluvial, Hélder Cruz pretendeu dotar o espaço de algumas
condições para atrair pessoas.
-O festival de música da praia fluvial de Alpedriz, esteve de
volta para mais uma edição na Praia das
Loureiras. Em 2014, aconteceu no último fim de semana de agosto, dias 28,
29 e 30.
O Loureiras Beats, nasceu
em 2011 com o apoio da junta, pela mão de um grupo de amigos com gosto pela
música e animação cultural. O alegado objetivo é a dinamização da zona de
Alpedriz, sendo que as receitas do festival revertem a favor de da comunidade.
Nas edições anteriores, o evento permitiu apoiar organizações e instituições
particulares de solidariedade social locais, bem como projetos e atividades
culturais na região.
-Esteve
a circular um abaixo-assinado em Alpedriz e nos Montes, no qual aquelas duas
freguesias rejeitavam totalmente a
anexação/união a Coz.
Entretanto,
a Assembleia de Freguesia de Alpedriz reuniu, tendo aprovado, por unanimidade, uma moção na qual rejeitou
a anexação/união a freguesia de Coz, aliás como defendeu Hélder Cruz.
O
mesmo aconteceu nos Montes, cuja Assembleia de Freguesia tomou idêntica
posição. Após estas deliberações, os autarcas de Alpedriz e Montes decidiram
agendar uma reunião com o Presidente da Câmara para expressarem o seu desagrado
quanto a união com Coz.
-Mas
a União das Freguesias de Coz, Alpedriz e Montes, foi constituída e mantem-se,
sem que as populações manifestem desagrado especial. Os políticos têm opinião
opsta.
Cruz,
Licínio da, nasceu na Lourinhã a
27 de julho de 1914 e faleceu em Lisboa a 11 de fevereiro de 1999.
Licenciado em Arquitetura pela Escola de Belas Artes do
Porto, ficou ligado ao projeto de várias igrejas, tanto na Metrópole como no
Ultramar. Era possuidor de uma traça menos convencional, aonde predominam entradas que conferem grande claridade e o uso de
vitrais que dão aspeto muito decorativo e harmonioso.
Projetou a Igreja da Benedita e a residência paroquial.
Cruz,
Maria do Céu Abreu, conhecida profissionalmente como Céu Abreu, é natural de Torres Novas,
onde nasceu em 9 de outubro de 1965.
Frequentou
o Ensino Secundário em Torres Novas, no Colégio Santa Maria, tendo terminado o
secundário em Coimbra, no Liceu José Falcão. Em 1983 ingressou na faculdade de
Direito da Universidade de Coimbra, onde fez a licenciatura em Direito 1988. O
estágio de Advocacia foi feito em Tomar, tendo depois vindo para Alcobaça, onde
tem decorrido o percurso pessoal e profissional, terra que adotei como minha. Sem especialização, é por isso
advogada generalista.
Tem
exercido cargos na Ordem dos Advogados desde 2004, como de Secretária da
Delegação de Alcobaça da Ordem dos Advogados, de 2004 2013, Presidente da
Delegação de Alcobaça da Ordem dos Advogados, e de 2013 até à data vogal do
Conselho Distrital de Coimbra da Ordem dos Advogados.
Desde
2013 faz parte da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens em Risco, de
Alcobaça, como elemento cooptado.
-Diz
que nunca viro as costas a qualquer
solicitação social que me seja solicitada, sendo uma pessoa preocupada com as
dificuldades que as pessoas enfrentam, quer a nível pessoal, quer a nível
profissional.
É uma
advogada experiente e respeitada em Alcobaça, com opiniões consistentes.
Sobre
o estado da Justiça em geral e o exercício da Advocacia numa comarca como
Alcobaça, entende que, muito se tem
falado do Estado da Justiça em Portugal, não só pelos casos mediáticos que têm
ido “parar” aos Tribunais, mas também devido às inúmeras alterações que a
Justiça tem sofrido nos últimos tempos.
Na minha modesta opinião, tem vindo a
ser feita uma avaliação do Estado da Justiça, de acordo com os interesses
político partidários e não uma avaliação real da Justiça em Portugal.
A Justiça é um tema muito caro aos
Advogados, sendo estes, aliás aqueles a quem, por vocação, natureza e tradição
cabe a defesa dos direitos liberdades e garantias dos cidadãos, e a defesa do
cumprimento do Estado de Direito, mesmo nos momentos mais difíceis.
Temos, nos últimos anos assistido a
grandes reformas na Justiça, reformas essas que, pese embora muitas delas sejam
necessárias, nunca são, talvez também por tradição, bem recebidas no meio
judiciário a que se destinam.
Mas, as reformas, ou pretensas reformas
a que temos assistido, às vezes não passam de alterações legislativas, que
embora profundas, não foram precedidas do necessário amadurecimento, e daí
acabarem por não ter os resultados pretendidos. Não é possível, nem desejável,
que aconteça aquilo que nos últimos tempos temos vindo a assistir, que é uma
alteração de qualquer lei, porque mudou o governo, pois, sendo a Justiça uma
área sensível e que a todos, toca, todos os Governos pretendem deixar a sua
“marca”, o que nem sempre é positivo nem desejável. As reformas são
necessárias, úteis, vamos ter que ir adaptando a lei às realidade
socioculturais que vão acontecendo, mas…para que uma lei seja uniformemente
aplicada, e isso é essencial para a segurança jurídica, temos que deixar que os
Tribunais façam o seu papel de uniformização de aplicação da mesma, e isso
demora muitos largos anos a fazer-se, o que não te sido possível já que leis
muito sensíveis, alteram com as mudanças de governo, o que é muito prejudicial
á justiça e á defesa do Estado de Direito. Ainda estão os agentes da Justiça,
“confusos” com a nova legislação, e já a mesma está a ser alvo de alteração!
Isto é muito mau para a Justiça e consequentemente para o cidadão que é aquele
que mais sofre com a falta de amadurecimento das normas e consequente
impreparação dos agentes para a sua aplicação. Sem certezas e segurança
jurídica, não há Justiça, que é aquilo por que todos ansiamos.
Há pouco mais de um ano assistimos a
uma Reforma enorme na Justiça, com a alteração do mapa judiciário e consequente
encerramento de Tribunais e afastamento dos cidadãos dos locais onde
tendencialmente se dirigem para ver os seus problemas resolvidos. A alteração
do mapa judiciário foi amplamente criticado, nomeadamente pelos Advogados que
lutaram para que a mesma não fosse levada a cabo da forma como veio a ser,
prevendo-se que iriam existir muitos problemas na execução da justiça, e
atrasos. A Reforma aconteceu, entrou em vigor, e muitos cidadãos ficaram
prejudicados pois a proximidade dos Tribunais que durante largos anos foi
entendido com uma necessidade para a defesa dos interesses do cidadão deixou de
existir. Houve uma enorme dificuldade de ajustamento á nova realidade, e, mais
uma vez aqui, o Advogado sempre a pensar no supremo interesse do cidadão, e da
defesa dos direitos, liberdades e garantias dos mesmos, se adaptou, e hoje,
consegue-se, com maior ou menor dificuldade, exercer a Justiça com a dignidade
que ela merece. Não nos podemos esquecer do papel essencial dos funcionários
judiciais em todo este processo, que abdicaram, muitos deles das suas merecidas
férias de verão, para organizarem os novos Tribunais, para que tudo estivesse
apto a funcionar em 1 de Setembro de 2015, o que não foi possível!
Mas convenhamos que nem tudo o que foi
feito na reforma do Mapa Judiciário esteve mau. Inerente à mesma está a
especialização dos Tribunais e essa é desejável e positiva pois cada vez mais
nos deparamos com dificuldades, não só derivadas das alterações legislativas
que são em demasia, como de alterações sócio culturais, que fazem com que ser
generalista na área do Direito seja muito difícil, e nomeadamente os Juízes,
que é quem em última instância faz a aplicação do Direito ao caso concreto,
necessitam de estar muito bem preparados.
A especialização é desejável, pese
embora que, no que ao Advogado diz respeito, seja de muito difícil
concretização a existência da mesma, nomeadamente em meios pequenos, Advogados
em prática isolada, que não têm mercado para se dedicar apenas a um ramo de
direito, sob pena de não conseguirem sobreviver. Mas, sendo os Tribunais de competência
especializada, com juízes especialistas, já a justiça ganha muito em
competência e assertividade, sendo que os Advogados, com a capacidade e vontade
que desde tempos imemoráveis se lhes tem reconhecido, farão um bom trabalho na
defesa da justiça e do cidadão que lhe confiou os seus tormentos. O Advogado é
um sobrevivente e adapta-se sempre às necessidades para cumprimento daquilo que
o move, a defesa dos interesses do seu cliente.
Conforme se tem vindo a referir, e no
seguimento do primeiro tema, temos que concluir que é muito diferente o
exercício da Advocacia em grandes centros, ou em pequenas cidades, tal como é
diferente estar inserido numa grande sociedade de advogados, ou trabalhar em
prática isolada, que é o que faz a grande maioria dos advogados das pequenas
cidades.
Numa cidade como a nossa, não é
possível a especialização do advogado, por inexistir mercado para a mesma. O
Advogado em Alcobaça, depara-se atualmente com dificuldades de mercado, não só
porque a indústria de Alcobaça deixou praticamente de existir, existem muitos
advogados, e criou-se a ideia de que os advogados de fora do concelho são
melhores do que aqueles que cá existem, o que não é verdade! Existem bons
Advogados em Alcobaça, como noutras cidades à volta, sendo que obviamente
também existem menos bons, como em qualquer localidade. Basta que as pessoas se
informem acerca da qualidade do Advogado, e não procurem alguém apenas por o
conhecerem!
Os custos da justiça, nomeadamente
taxas de justiça estão proibitivas o que faz também com que o cidadão pense
duas vezes antes de recorrer aos tribunais, tantas vezes com grandes prejuízos
para a sua vida, mas a crise económica e o desemprego levou a que isso
acontecesse, o que é lamentável, pois a defesa da justiça é tão importante como
a nossa saúde!
Em Alcobaça existe atualmente um grave
problema de procuradoria ilícita, sendo que a Ordem dos Advogados, através do
Conselho Regional de Coimbra está atenta à mesma, pois o cidadão não pode
continuar a ser prejudicado por aqueles que praticam actos próprios de advogado,
sem o serem. Existem condenações no Tribunal de Alcobaça, e estou certa de que
vão existir mais pois o cidadão não pode ser punido por acreditar que alguém a
quem confiou os seus interesses, não esteja afinal habilitado a fazê-lo.
Cunha,
Henriqueta Henriques Franco da, que usa
normalmente Henriqueta Henriques,
nasceu nos Montes, onde viveu até à adolescência.
Seu pai, Francisco Rodrigues Franco, estilo engenheiro sem diploma, inventava tudo e era querido pelos vizinhos
que, carinhosamente, o alcunharam de Maravilha.
A família de Henriqueta era típica desta zona rural de Portugal, 5 filhos e mãe
cozinheira de mão cheia, que foi a sua grande mestra na arte da mesa. Henriqueta
(mãe) era uma figura elegante, magra, de altura mediana que vestia com
simplicidade. Usava muitas vezes um avental e lenço de cabeça, mas adorava
vestir meias e calçar sapatos fechados, tipo senhoril urbano.
A primeira paixão de Henriqueta, não contando com os
namoricos, foi segundo ela mesmo conta, a costura e não a cozinha. Adolescente, fez alguma
aprendizagem naquela arte e deu aulas às meninas da terra. Caprichosa como
costureira, veio a aperfeiçoar-se em Lisboa, aonde ia aos fim-de-semana visitar
a irmã Laura, que aí se encontrava a estudar. Henriqueta gostava muito de
Lisboa e, segundo conta, aí viveu dias
muito felizes.
Um dia, segundo a própria contou com total franqueza, apaixonou-se por um rapaz de ar aventureiro
e misterioso, cujo grande desejo era conhecer o mundo. Todavia, o Estado Novo impedia os portugueses de viajar para certos
países. António Gaio, assim se chamava ele, tentou fugir duas vezes para a
Austrália, embarcando clandestinamente. Apanhado e preso, veio ser julgado e a
cumprir uma pena de um ano e três meses. Embora o visitasse regularmente na
prisão e prometesse esperar por ele, Henriqueta veio a descobrir que afinal o
António tinha uma outra namorada, com casamento já marcado
Henriqueta não lhe perdoou a
traição e o engano, e desiludida, nos seus vinte e poucos anos, tomou a
decisão de partir para o Brasil no dia 18 de dezembro de 1968, aonde se
encontravam alguns familiares. Aí conheceu outro rapaz, o Agostinho, com quem
viveu uma nova paixão (embora com menos
fogo) e escolheu Niterói para se fixar. Agostinho trabalhava na cozinha e
ao fim de pouco tempo, decidiram casar.
Henriqueta, habilidosa costureira, desenhou e fez o
vestido de noiva, de cavas fechadas e renda trabalhada na parte de cima e cetim
de seda pura por baixo. Era, como salienta, um vestido à portuguesa. Como buquê,
Henriqueta escolheu, apenas, um botão de rosa. O casamento durou 8 anos, até à
morte do Agostinho e dele ficaram 2 filhos rapazes.
-Com estes, abriu em 1977 a Gruta de Santo António, restaurante onde eram elaboradas receitas
simples, típicas do seu Portugal. O sucesso foi enorme, pelo que em breve toda
a gente adorava ir ao restaurante de Dona Henriqueta, pois não havia melhor em
Niterói ou mesmo no Rio, como se dizia. Especialmente apreciadas foram as
postas de bacalhau, as maiores e mais saborosas sem paralelo nas redondezas. O
restaurante foi-se tornando uma referência da cozinha portuguesa no Rio de
Janeiro, se não mesmo no respetivo Estado. Foi crescendo, crescendo e ganhando
prémios e distinções, sem perder a matriz portuguesa.
Henriqueta vinha regularmente a Portugal matar
saudades e passar férias e numa dessas viagens, os filhos já adultos (e capazes de tomar conta do
restaurante) e viúva, reencontrou o António, entretanto separado da mulher,
pelo que retomaram o namoro. -A Gruta de
Santo António, impôs-se e Dona Henriqueta é uma empresária de sucesso.
A jornalista da rede Globo, já falecida, Sandra Moreyra escreveu quem vai à Gruta de Santo António, na Ponta
d’Areia, em Niterói, sabe que vai ser recebido como numa casa de família. Vai
dar de cara com o sorriso aberto e a simpatia de Dona Henriqueta, a matriarca
dos Henriques. O atendimento caloroso, os perfumes que saem da cozinha aberta,
à vista de todos, vão atraindo a freguesia. Os sabores na medida para você se
deliciar, comer rezando, agradecer de joelhos.
E se você
aprecia uns vinhos portugueses, vai descobrir infinitos prazeres nesse
restaurante tradicional de Portugal Pequeno. Confie na indicação do Alexandre
sobre o vinho a ser tomado. Deixe que Dona Henriqueta o guie pela generosa
comida portuguesa. No fim de um almoço daqueles sem pressa, ainda há as
sobremesas, a doçaria conventual: barriguinhas de freira, pastéis de nata e de
Santa Clara, tantas variedades que você vai se sentir literalmente nas nuvens.
Cunhal,
Álvaro Barreirinhas, nascido em Coimbra a 10 de novembro de 1913, dedicou a vida ao ideal comunista e ao PCP.
Faleceu
em Lisboa a 13 de junho de 2005 e
no seu funeral, participaram mais de 250.000 pessoas.
Álvaro
Cunhal ficou na memória coletiva nacional, como um comunista que nunca abdicou do seu ideal.
-O comício do PCP marcado para a noite de sábado, 16 de
Agosto de 1975 em Alcobaça, constituiu a primeira sessão pública promovida pelo
partido, após a instauração do clima de violência a que o País, de norte a sul,
assistiu no Verão Quente e concretamente em Alcobaça, dias antes, com a
destruição da sede do PCP e a destituição da CA da CMA, presidida por José
Pinto Júnior (comunista).
Esta
iniciativa protagonizado por Cunhal, que pretendia ser de afirmação ou de
desagravo, não foi bem aceite em Alcobaça, cujas gentes em geral não se
sentiram honradas com tal distinção,
que reputaram de provocação.
O PCP
tinha feito uma ampla cobertura publicitária do comício, com panfletos, faixas
nas ruas e caravanas auto com altifalantes a anunciar a presença do
Secretário-Geral, Álvaro Cunhal, bem como de Joaquim Gomes, membro do Comité
Central. Durante o dia correram em Alcobaça, os boatos mais desencontrados, que
grupos provenientes de Alhandra e da cintura industrial de Lisboa, vinham
assegurar a resposta aos reacionários e
fascistas alcobacenses. Por isso, pessoas da vila, mesmo algumas afetas ao
PCP, retraíram-se de aparecer.
O
ambiente no Pavilhão Gimnodesportivo de Alcobaça, com militantes provenientes
da Marinha Grande, Santarém, Alhandra, Seixal e Almada, era inicialmente de
grande expectativa de acordo com Mário Vazão, que lá se deslocou e entrou para tomar algumas notas para O Alcoa, de que era diretor. Como não era
de rejeitar a hipótese de incidentes, estavam também presentes, repórteres
nacionais e estrangeiros de França, Inglaterra e Canadá.
Até
às 22h nada fazia prever, a uma pessoa mais desatenta ou desconhecedora dos
antecedentes, o que se iria passar. Aos poucos, pequenos grupos, depois umas
centenas de pessoas de vários pontos do Concelho e mesmo de fora, começaram a
juntar-se no exterior e a apedrejar o pavilhão, bem como a cantar e proferir
palavras de ordem provocatórias aos que chegavam e se preparavam para entrar.
De dentro houve resposta, com armas a disparar contra os contestantes, causando
alguns feridos, transportados para o Hospital, um dos quais, Joaquim Elias
Vicente, que ficou internado.
No
interior, Rui Baltazar, o animador de serviço, referindo-se ao ataque à sede do
PCP em Alcobaça, cujas consequências lhe deixaram mazelas, mas que não lhe
retiraram o ortodoxo e inabalável fervor militante, frisou que a ação preparada meticulosamente durante um
mês, não visava só aquele Centro de Trabalho, pois que a tomada da Câmara, do
Hospital e da Cooperativa, estava nos objetivos dos fascistas alcobacenses.
Aquele militante comunista, comunicou ainda que na altura em que ocorreram os
incidentes de Julho em Alcobaça, elementos do PS, de Valado de Frades, se
prontificaram a ajudar os camaradas comunistas, a defender a casa de trabalho,
o que não aconteceu, mas que não obstante motivou vivas e aplausos.
Era
uma agradável noite de agosto português. Os acessos ao pavilhão, a partir da
Escola Primária, encontravam-se cortados com barricadas, compostas dos mais
variados objetos. Na opinião de Rosalina Martins e marido, que ali viviam muito
perto, este corte de estrada, tinha
relação com o facto de se pensar que Cunhal, indo ao comício, teria de passar
necessariamente por ali para sair. A certa altura, ouviu-se um conjunto de
rápidos disparos. Rosalina que confessa nada saber de armas, não pode
identificar a sua natureza, mas deparou
com pessoas a atirarem-se para o chão. Encontrava-se a veros
acontecimentos, através dos estores da casa, a roer as unhas, e com as luzes apagadas. Acontece que, depois dos
disparos, uma pessoa ficou estendido no chão, sem se levantar. Disse então para
o marido que deveria haver ali um ferido
grave, senão mesmo um morto.
Ao
fim de alguns minutos, bateram à porta da casa. Tendo ido abri-la, constatou que se tratava de três estrangeiros a
falar inglês e a pedir ajuda para um ferido que vinha em mau estado. O marido,
que tinha alguns conhecimentos de inglês, abriu-lhes a porta e deixou-os entrar.
Apurou-se, que se tratavam de repórteres canadianos, e que o ferido, era um
colega que, além de ar assustado, tinha a cara coberta de sangue e alguns
estilhaços do que veio a saber ser os restos de uma máquina fotográfica, que se
partira. Foi-lhes explicado que o jornalista-fotógrafo, com o susto, tinha-se
atirado para o chão, e na queda partiu a máquina, ferindo-se na cara. Os
canadianos entraram, mas não deixaram acender a luz, com o argumento que não
queriam chamar a atenção, pelo que o primeiro curativo foi efetuado por
Rosalina Martins na casa-de-banho, à luz de duas velas.
O
comício prosseguia. Cerca das 23h, depois do vidreiro António Dionísio ter
falado e procedido à leitura (embora com
alguma dificuldade), de duas moções de apoio ao PREC, os acontecimentos precipitaram-se. Elementos afetos ao PCP
que, na entrada, montavam o serviço de segurança musculado, em resposta às
pedras e aos insultos que lhes eram dirigidos, começaram a atirar objetos
contra os manifestantes de forma indiscriminada, usar instrumentos
contundentes, um das quais atingiu Manuel Augusto Coelho e a disparar para o ar, armas de fogo. Francisco Presciliano
de Sousa, sofreu um ferimento na vista e tal como Fernando Laurentino foi
evacuado para Lisboa, enquanto Segismundo Marques de Sousa, atingido com chumbo
de caçadeira, teve de ser transportado de urgência para os HUC.
No
interior do pavilhão, o ambiente era de enorme excitação. A assistência, que
mais tarde se avaliou em cerca de 2.000 pessoas, entoava A Internacional e o Avante
Camarada. Álvaro Cunhal subiu ao palco e dirigiu-se aos presentes, manifestando
a esperança/certeza que, de novo, seriam
restauradas as liberdades democráticas em Alcobaça, anunciando que na Vila
se realizaria em breve uma grande festa-comício. Os tempos todavia nunca se
revelaram adequados a essa festa, apesar de assegurar que tenham confiança, camaradas, porque as dificuldades temporárias serão
supridas e os criminosos fascistas receberão os castigos que merecem, pois o
momento de crise da Revolução há-de passar.
Uma
das ambulâncias que levava um ferido para o hospital, foi atingida à pedrada,
já que os manifestantes julgaram, que Álvaro Cunhal ia escondido dentro e em
fuga. Mas não era verdade, este saíra previdentemente por outro lado,
devidamente enquadrado pela sua segurança (os
cubanos). No exterior do pavilhão havia agressões de parte a parte, mesmo
com o disparo de armas de fogo, de arremessos de cocktails molotov, que só vieram a terminar quando, pelas 2h30
chegaram forças do RI7 de Leiria, e RI5 de Caldas da Rainha que, com rajadas de
metralhadora para o ar, dispersaram os manifestantes, que barricavam as saídas
com pedregulhos, toros e postes de cimento e permitiram a evacuação final do
pavilhão.
O Rádio Clube Português, conforme a sua
linha editorial de vanguarda/progressista, acompanhou, quase em direto, e
acicatou os acontecimentos de Alcobaça e pelas 5h da madrugada do dia 17
anunciou que, no comício do PCP, realizado em Alcobaça, com a presença de
destacados elementos do partido, entre os quais Álvaro Cunhal e Joaquim Gomes, bandos de fascistas estão a causar graves
distúrbios de que podem resultar pesadas consequências, assinalando-se já
vários feridos. Apelou à solidariedade e ação dos trabalhadores e
democratas com esta situação que, como muitas
outras que se vêm registando, parece visarem a destruição das liberdades, bem
como alertou para o perigo em que se encontraram os comunistas em Alcobaça.
Graças
a este apelo, automóveis transportando comunistas munidos de caçadeiras,
matracas e barras de ferro, deslocaram-se à Vila de Alcobaça, em socorro dos
camaradas, já nada tendo feito de útil porque os incidentes haviam acabado e o
pavilhão não tinha ninguém.
Terminado
o comício, segundo algumas versões, nem coincidentes nem sempre fidedignas,
Cunhal conseguiu sair a pé, acompanhado de um grupo de cubanos, que o protegiam e encobriam dos populares. Cunhal não saiu
de ambulância, e ter-se-á dirigido para um ponto qualquer da estrada que
passando pela Bemposta, vai dar a Aljubarrota e depois rumou a Lisboa.
O motorista,
conhecido em Alcobaça, como o Pobre
Homem, de onde aliás era natural e tinha família, mas com quem não tinha
relações, estava à espera no ponto combinado, para o levar em segurança.
Apenas
no dia seguinte, domingo, os alcobacenses souberam um pouco melhor o que tinha
acontecido, ao lerem o Jornal de
Notícias, isto é, que centenas de pessoas haviam montado cerco ao comício
do PCP, erguido barricadas e fogueiras. Soube-se também por esse jornal que,
durante a confrontação a tiro e pedrada, se haviam registado vinte feridos,
quatro dos quais haviam recebido tratamento hospitalar. À tarde, a vida corria
normalmente em Alcobaça, numa rotina de verão quente e soalheiro, sem que nada
deixasse transparecer a ocorrência dos graves incidentes da noite anterior.
Apenas em alguns pequenos grupos era tema de conversa, misturado com muita
boataria, factos inverosímeis, alguns risos e sempre nervosismo.
Os
acontecimentos tiveram repercussão, no País e no estrangeiro. O Paris-Match fez uma reportagem, onde o
volúvel Duarte Chita, diretor do Lar
Residencial de Alcobaça, aparecia muito sorridente.
Dizia-se
em certos meios, que Alcobaça perdeu a
oportunidade histórica de apanhar
Cunhal à mão. Entre os mais de 20 manifestantes feridos na noite de 16 de
Agosto, dos quais 7 ficaram internados nos hospitais de Lisboa, Coimbra e até
de Alcobaça, contava-se o jornalista do Daily
Telegraph, o inglês Michael Field, de 54 anos de idade, que já estava há
vários dias em trabalho de reportagem em Portugal.
A
interpretação destes acontecimentos, por parte do PC e amigos, bem como dos media afetos, foi bem diferente da
generalidade dos alcobacenses. Segundo um comunicado, emitido na manhã do dia
17 de Agosto, pela secção de Informação do PCP, por declarações feitas por alguns provocadores agarrados pelo serviço
de ordem do Comício, averiguou-se que alguns tinham vindo bem de longe e
recebido dinheiro para o efeito.
-Cunhal
voltou a Alcobaça em 1980 para presidir a um comício no Cineteatro, aonde
esteve presente e na mesa Rogério Raimundo, no seu primeiro ato público de
militante do PCP.
-Segundo
se disse mais tarde (com ou sem fundamento?), sem aparato, ou especiais
cuidados, Cunhal terá vindo outras vezes à zona de Alcobaça.
Sobre este assunto leia-se Fleming de
Oliveira in No Tempo de Soares, Cunhal e Outros.
Custódio, José Duarte, vulgo Zé Francês, foi homenageado pela União de Freguesias de Pataias e
Martingança, no dia 17 de maio de 2015, numa cerimónia que integrou o programa
comemorativo do 31.º aniversário da Vila de Pataias.
Falecido
em maio de 2013, José Custódio foi um
curandeiro que tratou muitas pessoas, numa época em que não existia o Serviço
Nacional de Saúde que temos hoje, frisou Válter Ribeiro, presidente da
UFPM, salientando a importância de haver memória dos nossos antepassados.
Vários familiares participaram na cerimónia de descerrar da placa toponímica
que passou a identificar o pequeno largo onde José Custódio viveu. Este é um gesto de estima e gratidão a quem
eu tanto devo no que se refere a exemplos a seguir no levar auxílio e alegria
aos que nos rodeiam, afirmou Dina Custódio, uma das filhas do homenageado.
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