quarta-feira, 16 de abril de 2014

A IMPRENSA EM ALCOBAÇA NO TEMPO DA DITADURA NACIONAL E DO ESTADO NOVO. A VOZ DOS MONTES. ECO DE S. MARTINHO. A BANDEIRA DA REPÚBLICA. VOZ DE ALCOBAÇA. ECOS DO ALCOA. COMARCA DE ALCOBAÇA. O ALCOA. O JORNAL DE ALCOBAÇA.

A IMPRENSA EM ALCOBAÇA NO TEMPO DA DITADURA NACIONAL E DO ESTADO NOVO.
A VOZ DOS MONTES.
ECO DE S. MARTINHO.
A BANDEIRA DA REPÚBLICA.
VOZ DE ALCOBAÇA.
ECOS DO ALCOA.
COMARCA DE ALCOBAÇA.
O ALCOA.
O JORNAL DE ALCOBAÇA.

Fleming de Oliveira



Como era a imprensa local em Alcobaça, nos tempos da Ditadura Militar e do Estado Novo?
Não é fácil encontrar registos ou memórias especialmente interessantes sobre esses tempos, p. Na Biblioteca Municipal existem apenas alguns números soltos do Voz de Alcobaça, correspondentes ao período que vai de 1930 a 1934, altura em que cessou a publicação, proibido pelo Regime. Tratou-se de um título que reapareceu depois do 25 de abril, com algumas características que vulgarmente se poderão rotular de esquerda, já não se assumido propriamente como anticlerical. A 1ª. Série do Voz de Alcobaça, que foi de 1 de novembro de 1930 a 19 de abril de 1934, correspondeu a um semanário republicano, do reviralho e anticlerical, de forte combate político-ideológico muito datado e personalizado (na tradição da I República), panfletário e pouco noticioso. Proclamava-se pequeno semanário, grande jornal político, regional e literário. Não vamos enchê-lo com reportagens, tendo como redatores principais Mário Sá e Carlos de Oliveira Figueiredo, editor Fernando Afonso Ramos, e administrador José de Oliveira Júnior. Era composto e impresso na Tipografia Alcobacense, então na Praça do Município, vendido por assinatura (ano 20$00/semestre 10$00), com pagamento adeantado. Grande parte dos seus textos, obviamente com exceção da publicidade (como por exemplo, Está a funcionar caldeira para destilação de vinho, borras, engaço de José Martelo, na travessa Miguel Bombarda-Alcobaça), eram da autoria de pessoas cultas como Vasco da Gama Fernandes, João Lameiras de Figueiredo ou Bernardo Vila-Nova, exprimiam uma linguagem radical, saudosista da I República e de alguns dos seus pilares. Era, de facto, uma linguagem combativa, seja relativamente ao Regime, à Igreja ou a personalidades, apesar de Censurado em Leiria, como constava sempre destacadamente ao fundo da primeira página.
Os ataques por parte dos republicanos à Igreja Católica, mesmo em plena Ditadura Militar e não obstante a Censura Prévia, podem sintetizar-se em apontamentos como um Decálogo que resume a missão da Igreja Católica e que como tal deveria ter a maior propaganda entre os alcobacenses, a fim de despertar o rural da enorme inconsciência em que vive:
1º)-[AM1] A Igreja é a empresa mais poderosa da terra para realizar negócios e fazer política de conveniências// 2º)-A Igreja é a defensora incansável dos inimigos de todas as reformas de todos os tempos// 3º)-A Igreja inimiga da Luz, opta pelo pensamento obscurantista e pelas acções que tudo significam para ela// 4º)-A igreja oferece a felicidade para depois da morte aos que renunciam ser felizes na vida; por isso necessita dos pobres de espírito, dos bem aventurados e dos patifes// 5º)-A Igreja proporciona o viático para ir para o céu, a troco do pagamento de entrada, em boa moeda corrente// 6º)-A Igreja é a instituição mais importante para abastardar o carácter e estorvar a evolução, missão recomendada exclusivamente por Deus// 7º)-A Igreja é a única agência comercial e  a única industrial protegida que não paga contribuição// 8º)-A Igreja é a inimiga da ciência e do livre pensamento; a história dos seus crimes e perseguições não nos diz outra coisa// 9º)-A Igreja é imperialista, monárquica, republicana, bolchevista, qualquer coisa; a questão é estar com o governo// 10º)-Cidadão: se na tua terra há uma ou várias igrejas… frequenta antes uma biblioteca, que te será mais útil.
Folheando o Voz de Alcobaça, vê-se que os articulistas queriam informar (admite-se), mas partiam de tantas certezas ou pressupostos que limitavam o ângulo de abordagem, de tal modo que pouco ou nada contribuíam para a elaboração de opções próprias dos leitores. Este tipo de jornalismo, passível de ser qualificado de panfletário, tem alguma coisa em comum com os comícios políticos de massas, sessões de esclarecimento, também fora de moda, destinava-se aos iniciados, aos já convencidos, com o objetivo de lhes dar mais alguns argumentos para discussão nas tertúlias de café, farmácia ou barbeiro, mas principalmente para aquecer a alma. No que se condescende de meritório neste jornalismo, é tão só o de admitir que pode ser autêntico, no limitado sentido de sincero. O articulista é inteiro na sua mensagem, embora embarace (impeça), uma tomada de decisão responsável. Neste aspeto, assume alguma  semelhança, com o jornalismo sensacionalista. O panfletário, parte de ideais, é sumamente ideológico, enquanto que o sensacionalista, age como um agente das forças dominantes, políticas ou económicas.
O Voz de Alcobaça-1ª série, está pleno de alusões heréticas e picardias, que atingiam tanto a Igreja, como a Monarquia ou pessoas, como se fossem faces da mesma moeda e que censura deixava ainda passar.
Bernardo Vila Nova, depois do encerramento compulsivo do Voz de Alcobaça, passou a colaborar, no Ecos do Alcoa e no Comarca de Alcobaça. Aquele jornal, impresso na Nazaré, Tipografia Alcoa, foi fundado, editado e propriedade de Manuel da Silva Carolino, Presidente da Câmara. O diretor era Alberto Trindade e o jornal auto assumia-se a partir de 20 de novembro de 1928, quando iniciou a publicação, como um jornal da Situação, anti-republicano e anti-bolchevista, defensor da União Nacional, o de maior tiragem e expansão de todos os jornais do Concelho.
Como contraponto ao Voz de Alcobaça, seu oponente direto, o Ecos do Alcoa reclamava-se também radical e muito político-ideológico, pois que gostava de deixar as marcas dos caninos dos seus colaboradores.
Manuel da Silva Carolino era um intransigente defensor do Estado Novo. Nomeado Administrador do Concelho, Presidente da Comissão Administrativa Municipal, Presidente da Câmara, exerceu funções autárquicas durante dezassete anos, em períodos críticos, e de forma por vezes controversa e férrea, criando amigos e inimigos. Na primeira página do número 100 do Ecos do Alcoa (26 de novembro de 1931) citava Basílio Teles, o liberalismo é e será sempre absolutamente incapaz de organizar e construir. Ao mesmo tempo os diretores Trindade e Manuel Carolino, lançavam o alerta Conservador Amigo: Vais vendo o que se vai passando em diferentes pontos do Distrito? Vai dormindo ou acamaradando com os inimigos de sempre e depois grita que não te defendem.
É, mais noticioso que o Voz de Alcobaça, sem prejuízo da sua parcialidade. Encontram-se nele notícias e comentários absolutamente facciosos ou ambíguos, sempre na linha da política do governo de Salazar.
Em plena II Guerra (ano de 1943), destaco do Ecos do Alcoa, comentários do género que as forças que só pretendem fazer mal ao mundo (isto é, os soviéticos) têm conseguido alguns êxitos contra as tropas da Alemanha.
Na primeira página do jornal, Manuel da Silva Carolino não hesitava em convidar os leitores e alcobacenses: Quereis servir a Pátria e prestigiar a República, filiai-vos na União Nacional !!! Nem mais nem menos…
Vou recordar, alguns textos tanto do Voz de Alcobaça-1ª. Série, como de o Ecos do Alcoa, onde se revelavam ódios antigos, recíprocos, se lançavam injúrias inflamantes, insultos obscenos, se arriscavam/procuravam consciente, quiçá fundadamente, uns bons murros ou umas bengaladas, como diria o Eça. Esse tratamento por parte do Voz de Alcobaça era especialmente dirigido, à Igreja, não especificamente aos Monges de Cister. O Ecos do Alcoa não ficava atrás, dava troco com a mesma moeda. Estes ainda, não eram os tempos da liberdade suficiente como Salazar veio a caracterizar, para consumo externo e das democracias, dos artigos do panfletário Rocha Martins (quando fala o Rocha, Salazar fica à brocha), nos anos quarenta e tais, que incendiavam as tertúlias da oposição.
Vejamos arbitrariamente é certo, alguns apontamentos do Voz de Alcobaça, provavelmente da autoria do redator principal, Mário Sá:
O sr. Nicolau Pereira Barreto, é na Batalha, o tesoureiro da Câmara Municipal e um beato que não se cansa de benzer e bater com as mãos no peito. Pois há dias sucedeu que Frei Nicolau (Pereira Barreto) não tolerasse que um nosso amigo se não descobrisse quando passava o senhor e insultou o anticatólico com palavras incorrectas e malcreadas pouco dignas de um crente. É isto a tolerância dos católicos? Deve ser, pelo menos, assim o demonstrou, o sr. Nicolau Pereira Barreto, numa série de religiosos impropérios. Benza-o Deus!...
Em 1 de dezembro de 1935, apareceu o jornal Comarca de Alcobaça, cujo Diretor e Editor foi José Domingues Trindade. Este jornal interrompeu a publicação cerca de um ano depois, reaparecendo entre 1946 e 1951 com o mesmo diretor, ano em que cessou de vez a publicação.
O Comarca de Alcobaça tinha uma linha política conservadora e de direita, mais aberta que o Ecos do Alcoa, e destinava-se ainda a um grupo importante de leitores da Nazaré. Dava notícias, relacionadas com personalidades e factos da oposição republicana e respeitava pessoas como João d’ Oliva Monteiro, João Lameiras de Figueiredo, Vasco da Gama Fernandes ou Bernardo Villa Nova.
O Dr. Vasco da Gama Fernandes teve escritório de Advogado num primeiro andar da rua 16 de outubro, Alcobaça, quase na esquina com a rua Alexandre Herculano, aonde o colega Dr. Amílcar Magalhães, chegou as ir por razões profissionais.
O Dr. Amílcar Magalhães, não era propriamente um amigo do Dr. Vasco da Gama Fernandes, muito menos correligionário, mas eram colegas que se estimavam e respeitavam. O Dr. Amílcar Magalhães, que o conheceu bem e com quem trabalhou muitas vezes profissionalmente, contou-me depois do 25 de abril que, por alturas de 1936, quando ambos já advogavam, o Dr. Vasco da Gama foi defender uma mulher de Alpedriz, acusada de infanticídio. A mulher foi condenada apenas em 120 dias de prisão, mas foi notável, talentosa, a defesa que o Dr. Vasco da Gama produziu.
O Dr. Magalhães recordava também do Dr. Vasco da Gama Fernandes, uma causa que respeitava a uma mulher dos Montes, de nome Maria Carreira, acusada de agressão. O numeroso público, maioritariamente dos Montes, que assistiu com alguma paixão à audiência (nas antigas instalações na ala norte do Mosteiro), não apreciou as referências, tidas por injustas, feitas a esta localidade e seus habitantes. Ossos do ofício, comentava condescendente e sabiamente o Dr. Magalhães.
O Comarca de Alcobaça, em pleno período de implantação do Estado Novo (janeiro de 1936) e no sentido supra referido, referia na primeira página, pela pena do Dr. Manuel A. Pinto, da Nazaré, que abomino as folhas politiqueiras que saiem do prelo a fungar demónios contra o adversário. Elas são a viva imagem duma desastrada época de ralhos e descomposturas mútuas, quasi morta, e em que o País estiolou e ensandeceu. Longe de terem alma de apóstolo, as malditas tem-na de regateira, carrejão ou galego de esquina, sempre a desentranharem-se em doestos e grosserias truculentas. Outra é a função dos jornais, sob pena de serem um mal que corrói e dissolve almas e consciências. Em vez de inocularem veneno, devem instilar ideias elevadas e sãs, instruindo, educando, doutrinando e pondo em equação os grandes e pequenos problemas, em ordem a promover o progresso material e moral duma região ou de um país. Sempre o jornalismo português, designadamente o da província, me deu a impressão dum repugnante e ascororoso lavar de roupa suja, dum enorme e nojento soalheiro, de dize tu, direi eu. Por isso o abomino. (…) Por isso simpatizo com o jornal de que V. é director (…). Meses depois, em Editorial do seu Diretor, escreveu-se que quando como agora, erguemos a voz para gritarmos a toda a força dos nossos pulmões, a nossa aversão à política, não queremos evidentemente, isso seria idiotice, combater a imperiosa necessidade da verdadeira e sã política, a arte difícil de administrar e governar os povos (…). Há política e política. O que nós combatemos, aquilo que toda a gente com mentalidade deve condenar, é a nefasta política de café ou barbeiro, vício ruim que enferma a sociedade e que outra utilidade não tem senão a de servir para justificar a triste ignorância do grande número e a ebulição de odiosas paixões que conduzem, sempre, fatalmente, à exaltação de esporádicos movimentos de opinião, perpretação de crimes e prática de actos e acções na maioria dos casos inconscientes.

Depois da Guerra surgiu em Alcobaça o semanário O Alcoa, mais propriamente em 27 de dezembro de 1945, tendo como Diretor, o Engº. João Maria Sousa Brito, Admnistrador e Editor António A. Ramos, e que era impresso na Tipografia O Almonda, de Torres Novas, até 1965, altura em que passou a ser impresso em Alcobaça.
A partir de 1948, o Pe. Manuel José Vitorino assumiu-se como seu Administrador, enquanto que o Engº. Sousa Brito passou a acumular as funções de Diretor e Editor até falecer em 1962. A partir de Fevereiro de 1964, Tarcísio Trindade assumiu as funções de Diretor. Embora não fosse um jornal com as características panfletárias do Voz de Alcobaça ou o Ecos do Alcoa, nem com a independência do Comarca de Alcobaça, que mesmo assim tinha uma Página Anti-Comunista, O Alcoa era um periódico noticioso, com correspondentes nas freguesias e uma boa Secção Agrária, conservador assumido, sem dar espaço à oposição, com um Cantinho da Mulher, alinhado com o regime e a Igreja. Tinha em cada número uma Secção Religiosa.
Ao lado do regime, participou num frustrado projeto de constituição de uma Federação da Imprensa Nacionalista e do seu congresso constitutivo. Numa reunião preparatória em Lisboa com vista à constituição dessa Federação, Manuel Múrias, um velho batalhador do nacionalismo português e Director da mais bem apetrechada trincheira do nosso jornalismo nacionalista, isto é o Diário da Manhã, apresentou a ideia e para a sua concretização, pondo à disposição a sua casa em Lisboa, o Diário da Manhã. Por sua vez, Ulisses Cortez, da Comissão Executiva da UN afirmou, entre muitos aplausos, que a imprensa se encontra no primeiro plano das preocupações políticas e é de vital importância para o futuro do regime.
O Alcoa, pouco condescendia com notícias respeitantes à oposição. As campanhas de Quintão Meireles, contra Craveiro Lopes, tal como a de Delgado, contra Américo Tomás, não mereceram, nem pequenas notícias, ainda que na perspetiva do regime.
Craveiro Lopes era incensado pela prolixa e floreada pena do Marquês de Rio Maior, que o definiu como sendo felicíssima a escolha e auspiciosa a anuência (do candidato, ao aceitar a escolha). O Marquês de Rio Maior, escreveu ainda a propósito desta candidatura e com algum lirismo ou suposta candura que na Roma antiga o candidato a algum cargo electivo, usava durante o período eleitoral a toga cândida, branqueada por processo que lhe dava alvura especial. Tinha-a por único vestido para evitar suspeitas de que trouxesse escondido dinheiro destinado a subornar eleitores, e mais facilmente pudesse mostrar ao povo as cicatrizes dos ferimentos em defesa da Pátria. Há quem diga que a alvura da toga cândida, simbolizava a lealdade do candidato (…).
A política local era noticiada com exageros e floreados, como o elegante volume em que se acaba de publicar O Relatório da Câmara Municipal, ou a notícia da tomada de posse do novo presidente da Câmara que teve lugar no dia 4 do corrente trouxe à vila de Alcobaça um movimento intenso, pois vieram representações de todas as freguesias para dar apoio decidido a quem, na interinidade, soube dar provas de interesse pelas necessidades locais e estimular iniciativas que levaram à execução de obras de grande utilidade pública. O povo deste Concelho, provou, assim, por expontânea deliberação e com sacrifício dos seus afazeres, estar unido com o novo Presidente da Câmara a dar-lhe toda a colaboração (…). Enquanto as bandas percorreriam as ruas e grandes massas de povo se deslocavam para os Paços do Concelho, uma numerosa caravana de automóveis dirigiu-se para os limites do Concelho afim de receber condignamente o Sr. Governador Civil do Distrito tomando parte nela as autoridades e os elementos representativos de todas as classes sociais (…).
Não obstante alguns anos antes, o mesmo O Alcoa a propósito de Manuel da Silva Carolino, que tanto elogiara durante os mandatos, escrevia que em vida fora alvo de dois sentimentos opostos, admiração e antipatia. Se não isento de defeitos, quem não os tem, manda no entanto o respeito pela verdade reconhecer que o guiava a dedicação à sua terra e que o nosso concelho muito lhe deve…
No número de 26 de fevereiro de 1972, assumem respetivamente as funções de diretor Mário de Campos Vazão, em lugar de Adélio Maranhão (o qual no dizer daquele tinha algumas diferenças de opinião com Tarcísio Trindade), e editor o Pe. Alexandre Siopa, que rendeu o Cap. Ribeiro Giraldez, mantendo-se como secretário da redação A. Sousa Coelho, passando de semanário a quinzenário. Segundo Mário Vazão, assumi a direcção de O Alcoa por convite do Reverendo Padre Alexandre Siopa, que queria alguém independente para que O Alcoa deixasse de ser o jornal do Padre, para em conjunto vermos se conseguíamos que o jornal não acabasse. Não havia dinheiro, havia dívidas na tipografia, não havia móveis, não havia arquivo, não havia máquinas, havia uma única máquina de escrever, poucos anunciantes e só alguns pagavam, os assinantes andavam pelos 900 e quase todos tinham as contas atrasadas.
Segundo M. Vazão, a situação do jornal era muito crítica e parecia não haver ninguém que quisesse continuar.
Os poucos colaboradores da altura tinham resolvido irem-se embora. Com Adélio Maranhão saiu um pequeno grupo de colaboradores mais directos, uns cinco ou seis, não sei se por solidariedade política ou por não gostarem da minha pessoa. Comigo nunca falaram. Nós com um pouco de sorte e muito trabalho, conseguimos equilibrar a situação económica e relançar O Alcoa e atingir uma tiragem invejável.
O Alcoa, para sobreviver, não podia desalinhar do regime. Citando Mário Vazão, só se publicava aquilo que eles queriam. O Alcoa practicamente, e comigo, não teve grandes preocupações com a censura que, antes de os jornais saírem à rua, eram lidos por pessoas da confiança do regime, em Leiria, que não deixavam passar nada que fosse contra o regime, e também descrições de crimes violentos, suicídios, pornografia ou ideologia comunista. Como sabíamos o que a casa gastava tínhamos que ter cuidado com o que se enviava para publicação pois um corte pela censura, ocasionava-nos percas de tempo, despesas e atrasos.

Em Abril de 1971, Tarcísio Trindade, fez surgir o  Jornal de Alcobaça.
Aparentemente, pareceu ser uma dissidência de O Alcoa, dadas as semelhanças do estilo e paginação. Mas em breve se revelou como o jornal de propaganda do Diretor, Editor e Proprietário, etc. etc., dando todo o destaque às suas iniciativas camarárias, num mais que evidente culto da personalidade (embora não muito truculentamente), salvo esporádicas e personalizadas questões ou momentos. Beneficiava de publicidade institucional, nomeadamente municipal, bem como da de entidades privadas com interesses no município. O chefe da redação, era José Luís Machado, que também colaborara com O Alcoa, tendo um corpo de colaboradores/redatores reduzido, mas onde se destacava o Juiz Silvino Vila-Nova.
Em novembro desse ano, Trindade foi buscar a O Alcoa, António Sousa Coelho para Administrador, o qual também escrevia de vez em quando. Cumpre registar que desde junho, o Arq. Manuel da Bernarda (que viria a ser vereador municipal no período final do marcelismo), assumira as funções de Editor, que irá manter até ao 25 de abril, substituído por António de Sousa Coelho.
Para além da diferença de propósitos com O Alcoa, que era um jornal de feição conservadora e católica, o Jornal de Alcobaça, assumia-se como um defensor do Presidente da Câmara, do marcelismo, arauto de uma pretensa abertura do regime e das personalidades que lhe eram afetas. Com o fim do marcelismo e um ano após o 25 de abril, o jornal deixou de ter espaço e encerrou a publicação.
Registe-se que este título, não era de todo original, porquanto no fim da I República e durante uns breves três anos, publicou-se na vila, um periódico republicano com o mesmo nome, cujo Diretor, Editor e Proprietário foi Horácio da Silva Eliseu.

Pouco antes do golpe militar de 28 de maio de 1926, chegou a publicar-se (efemeramente e meia dúzia de números que ofereci à Biblioteca Municipal), o jornal A Voz dos Montes. Tratava-se de um periódico alegadamente de propaganda (republicana) regionalista e defensor dos interesses dos Montes, cujo diretor era Joaquim Gomes Loureiro e tendo como redatores principais José Libertador Monteiro da Silva e Aurélio Chagas Franco.
Nele chegou a colaborar o conhecido advogado lisboeta, Fernando Mayer Garção. Era propriedade de Os Amigos dos Montes, vendia-se avulso a 50 ctv.  e era impresso em Lisboa, onde funcionava a redação.

Com pequena expressão também e pela mesma altura, publicou-se o Eco de S. Martinho, fundado por Dr. José Rodrigues de Matos e Henrique d’Almeida do Carmo, destacando-se, do respetivo corpo editorial, o Dr. José Pedro de Saldanha (Marquês de Rio Maior) e José Júlio Lopes de Oliveira.
Era um jornal, alegadamente, independente (conservador e de direita) e de propaganda regional, mas que passou logo a apoiar o novo regime militar, saído do golpe de 28 de maio.

Em 5 de outubro de 1930, publicou-se em Alcobaça, A Bandeira da República, jornal de oito páginas, com um número único comemorativo da gloriosa Revolução de 5 de Outubro de 1910, editado a expensas do Povo Republicano de Alcobaça.
Foram responsáveis por este único número (que ofereci à Biblioteca Municipal), cujo custo era de um escudo, Tomás Alves Trindade (Diretor), João Neves Vasco (Editor) e Fernando Afonso Ramos (Redator).
A redação encontrava-se sedeada na Praça D. Afonso Henriques, e de acordo com uma Nota da Redação este número único (que teve de passar pela Censura em Leiria), é essencialmente doutrinário e comemorativo, nele se faz a apologia duma Idêa e a comemoração duma data. Nem um só ataque pessoal, apenas a defesa duma causa que consideramos justa. Julgamos estar no nosso direito e cumprir o nosso dever. Pretendemos que, tomando esta iniciativa – inspirados no meio republicano local – seja levada a efeito na máxima legalidade. Não somos jornalistas. Não temos vocação, nem habilitações necessárias. Somos apenas Idealistas, que nada supõem, nada propõem: expõem… Que nos relevem todos os nossos leitores quaisquer deficiências, dada a nossa inexperiência e a pressa com que isto foi feito.

Se não havia imprensa livre, paredes não faltavam em Alcobaça e no País que sempre foram o local mais livre de censura ou peias, onde se pode escrever, a cloreto de potássio, o ajustado à divulgação de mensagens úteis, inúteis ou mesmo fúteis, que tanto podem ir da publicidade, como ao politicamente incorreto ou não. A sua visibilidade tornou-as (como que revitalizadas no PREC), um excelente alvo de propaganda e crítica subversiva.
Escrever nas paredes tinha reais riscos, pois um Abaixo o Fascismo, Queremos Pão, Liberdade e Democracia, podia custar uma ida para Caxias.

Há mais de um século, Guerra Junqueiro, republicano, traçou um sibilino retrato que durante anos, não viu a luz do dia: (…) Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, energia de um coice, pois que já nem com as orelhas é capaz de sacudir as moscas (…)
NOTA-cfr. o nosso, NO TEMPO DE SALAZAR, CAETANO E OUTROS

Sem comentários: