O 5 de OUTUBRO DE 1974 EM ALCOBAÇA
O NOVO GOVERNADOR CIVIL DE LEIRIA, ROCHA E SILVA.
AS SESSÕES DA CA da CÂMARA MUNICIPAL.
Fleming de Oliveira
As comemorações do 5 de Outubro de 1974, foram
organizadas pelo PC e MDP/CDE com o apoio da CA da Câmara Municipal (pró PC).
Da parte de manhã, no cemitério da Vila usou da palavra
Firmo de Almeida, que homenageou os democratas republicanos falecidos, sem ver
a liberdade. No Largo do Mosteiro, houve um comício presidido por António Luís
Ventura, tendo como oradores Vítor Ferreira, Mário Amaral, Olímpia Lameiras e
José H. Vareda. Após inflamados discursos de modelar antifascismo e slogans de
igual teor (como o público reclamava), foi votado que a Travessa da Cadeia,
hoje Travessa Dom Maur Cocheril (monge cisterciense francês, grande amigo de
Alcobaça), passasse a chamar-se Travessa 16 de março (golpe frustrado de Caldas
da Rainha). Mas tal não foi levado à prática.
Um dos pontos altos da manifestação, foi o descerrar de
uma placa atribuindo o nome de Praça 25 de Abril, à anteriormente denominada
Praça Dr. Oliveira Salazar. José Vareda, do MDP/CDE, propôs ainda que fosse
retirado o nome do respeitado alcobacense, o Bispo D. António de Campos, a uma
das ruas da Vila, sendo certo que a ideia também não colheu. Porém, a mando de
Jorge Silvestre, o retrato daquele ilustre prelado católico, nascido em
Alcobaça, a 9 de abril de 1904, foi retirado do Salão Nobre da CMA, onde se
encontrava, e levado para uma arrecadação, de onde mais tarde voltou a ser
retirado e exposto em local nobre, como ainda acontece.
A 9 de outubro, foi empossado, como Governador Civil de
Leiria, Joaquim Rocha e Silva, de 42 anos, tendo presidido à cerimónia o
Ministro da Administração Interna, Costa Brás.
Estiveram presentes, entre outros, o Bispo de Leiria, D.
Alberto Cosme do Amaral, o Governador Civil do Porto, Mário Cal Brandão,
representantes dos os partidos políticos, Presidentes das CA das Câmaras
Municipais do Distrito, Diretores de Estabelecimentos de Ensino de Leiria e
arredores, comandantes do Regimento de Infantaria 7 e Regimento de Artilharia
4, além de numerosos curiosos. Rocha e Silva nasceu em Belém do Pará, Brasil,
vindo com dez anos para S. Martinho do Porto, de onde os pais eram naturais.
Residiu no Porto e aí se licenciou em Economia e Finanças. Em 1949, republicano
militante, foi afastado compulsivamente das funções docentes por ter feito
parte do MUD, na campanha de Norton de Matos.
Graças às suas funções de Chefe dos Serviços Técnicos da
Câmara Municipal de Alcobaça, o Engº. José Carlos Costa e Sousa tinha de
assistir às reuniões semanais do executivo para prestar os esclarecimentos
necessários, o que acontecia por ser o único que o sabia fazer.
Na primeira reunião, após Tarcísio Trindade ter sido
exonerado, foi designado um delegado das forças democráticas (leia-se MDP/CDE e
PC) para acompanhar de futuro as sessões e fazer um relatório.
As reuniões do executivo eram com frequência agitadas,
dada a presença de público que intervinha, quando muito bem entendia. Para
tentar controlar esta situação, em 28 de agosto de 1974, o vereador António
Silva Rosa, alegadamente sem pretender abdicar da intenção de manter as portas abertas propôs, o que foi
aprovado por unanimidade, que o tempo que
decorre das 21 às 21h30m às quarta-feiras seja dedicado a atender o público que
tenha qualquer problema a apresentar, seguindo-se imediatamente a reunião
ordinária.
Algumas reuniões arrastavam-se até altas horas da
madrugada, com debates carregados de pressupostos políticos e deliberações sem
conteúdo prático, irrealistas, ainda que, eventualmente, bem intencionadas.
Assim, havia necessidade de ir buscar mantimentos a Caldas da Rainha ou a outro
local longínquo, pois que na zona de Alcobaça, nada havia aberto para
notívagos.
Relativamente à classe política que emergiu e com quem
trabalhou na Câmara, sem problemas, Costa e Sousa entende que eram uns meros idealistas que foram perdendo
essas qualidades, perante as duras realidades do dia a dia. Mas demagogos nunca
deixaram de ser…
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