segunda-feira, 28 de abril de 2014

COMISSÕES DE MORADORES, LIMPEZAS E HIGIENE (Alcobaça 1974-1975).



 

COMISSÕES DE MORADORES, LIMPEZAS E HIGIENE (Alcobaça 1974-1975).

Fleming de Oliveira



A partir de 1974, abriram-se de repente as comportas de uma corrente social, durante décadas reprimida.
O povo, como nas caricaturas de Bordalo Pinheiro, sacudiu a canga e pretendeu tornar-se protagonista da peça, surpreendendo o poder político e económico. Movimentos populares ultrapassaram, com frequência, enquadramentos partidários, sindicais, religiosos ou outros.
“Comissões de Moradores” e outras formas organizativas, surgiram à luz do dia por todo o país, sendo mais numerosas em zonas com tradição histórica de lutas sociais. Efetivamente, um dos movimentos populares mais significativos no pós-revolução, foi o aparecimento das Comissões de Moradores. Em determinadas zonas do País, como Setúbal e as cinturas industriais de Lisboa e Porto, este movimento teve alguma expressão, ainda que transitória.
Em Alcobaça, não a teve.

Em 4 de dezembro de 1974 uma auto intitulada Comissão de Moradores da Azinhaga da Palmeira, veio solicitar à CA da CMA, uma nova designação para o caminho, que há pouco tinha sido arranjado. Gilberto de Magalhães Coutinho propôs que se chamasse Rua da Liberdade, o que foi aprovado pela por unanimidade.

Embora possa ter havido casos de manipulação partidária, estas Comissões foram na maioria, a expressão sincera (embora tantas vezes utópica), de aspirações locais, fruto de um momento histórico exaltante, no qual as populações supuseram ser possível construir, por suas mãos, alternativas ligadas à resolução dos problemas concretos e imediatos.

No domingo, 25 de maio de 1975, “terá havido um arremedo de uma manifestação de vontade e querer de habitantes, homens, mulheres e crianças de Coz que, munidos de enxadas e vassouras, limparam “as imundas ruas e recantos”.
O Voz de Alcobaça deu enfático, demolidor e poético destaque a essa iniciativa de algumas pessoas, pela pena do redator, o panfletário, acintoso e azedo José Barbosa Rodrigues (se não o promotor da iniciativa, foi interveniente ativo), que escreveu que, limpas as ruas, foi iniciado a escalada que leva à Escola Primária onde, ficou “desesperado e revoltado” com o espetáculo com que deparou na casa de banho, nunca detetado, nem denunciado por alunos ou famílias e a que nem todos conseguiram assistir pois, “as fezes cobriam todo o chão não deixando qualquer espaço livre para a entrada de quem quer que fosse, o cheiro pestilento obrigou-nos a fechar a porta. Esta escandalosa situação deixou-nos perplexos e revoltosos, pois já não bastava o próprio estado do edifício, o miserável estado das carteiras em que é necessário os alunos segurarem as carteiras uns dos outros para conseguirem fazer as cópias, o quadro que deveria estar num museu de artigos escolares do século XV, o material didático que julgávamos já nem servir para sucata e a biblioteca fenomenal de obras salazaristas e caetanistas que de certo muito irão contribuir para o desenvolvimento dos nossos filhos…”

José Barbosa Rodrigues, enfatizou que, entre alguns populares, depois de terem dado como terminada a jornada, “alguém alvitrou irmos limpar o adro da Igreja de Santa Eufémia, o qual se encontrava fechado a cadeado por uma fanática, a viver nesta localidade, que num ato de valentia, orgulho religioso e por raivas pessoais, resolveu um dia fechar com corrente e cadeado, o portal que dá acesso ao adro daquela igreja, sem que para isso tivesse consultado qualquer pessoa ou entidade, quer religiosa, quer pública”.
Assim, foi organizado um cortejo de protesto, ele à frente seguido de mais alguns, com que nos “dirigimos a casa dessa senhora, a fim de obtermos a chave”, o que foi conseguido com alguma dificuldade, “com a qual abrimos o portal”. Depois de ter sido feita a limpeza e “descarregado o 14º. trator de lixo, iniciámos uma marcha cantada por todo o grupo pela rua principal da aldeia (…)”.
Não obstante José Barbosa Rodrigues ter prometido proceder a “outras obras de interesse local e das quais em breve haveremos de falar”, esta iniciativa não deu frutos.
Romancear é diferente de realizar. Romanceou tanto… que um dia acabou mal,

Em Valado de Santa Quitéria, houve uma iniciativa que pareceu assemelhar-se, pois em 26 de janeiro de 1975, cerca de 80 pessoas de todas as categorias sociais e profissionais, incluindo estudantes, reuniram-se para levar a cabo a limpeza das valetas que liga a EN8 até à saída do lugar, numa extensão de cerca de 6 km.

Foi presente, em junho de 1974, à Câmara Municipal de Alcobaça uma petição de uma Comissão de Moradores de S. Martinho do Porto que sugeria o nome do prof. Francisco Nunes Eliseu, para patrono da Escola Preparatória da Vila.
A CMA, sem tomar posição, ”lavando as mãos”, encaminhou superiormente o assunto. Porém, em resposta, foi recebido um ofício da Direção Geral da Administração Escolar, informando que à Escola Preparatória de S. Martinho do Porto, fora atribuído o nome do Professor Eng.º Joaquim Vieira Natividade.

Na Maiorga, de acordo com uma auto proclamada Comissão de Moradores, apoiada pela CA da Junta de Freguesia, haviam condições higiénicas que deixavam bastante a desejar.
Além do péssimo estado das ruas, não havia esgotos, nem retretes públicas, que neste caso serviriam não só os habitantes, como até as muitas pessoas que a visitam.
Era, portanto, urgente construírem-se essas retretes, devendo a CMA colaborar materialmente nesse sentido.
Analisado o assunto em sessão com todo o cuidado que merecia, a CMA encarregou o Engº Costa e Sousa e os Serviços Técnicos, de o estudar e apresentar propostas.
Cremos que, ainda hoje, o assunto continua em estudo, apesar da “gravidade”  da situação.



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