quarta-feira, 16 de abril de 2014

-PESCADORES E CAÇADORES. ALTINO (alcobacense), PESCADOR DESPORTIVO E INDUSTRIAL DE CERÂMICA

 

-PESCADORES E CAÇADORES.
 ALTINO (alcobacense), PESCADOR
 DESPORTIVO E INDUSTRIAL DE
 CERÂMICA


Fleming de Oliveira

Quem não tem um tio, cunhado, parente ou amigo metido a pescador, que chega cheio de historias fantásticas e inacreditáveis, que estava à beira-rio ou no mar, ficou horas e horas a lutar com o bicho, mas na hora em que o foi tirar da água, acabou por partir a linha ou o deixar escapar com o anzol, e assim não foi possível trazer para casa o maior peixe da sua vida. Nunca mais vi um igual !!!
Assim, começam muitas vezes os pescadores, antes de contar algo em que só eles acreditam, Manel eu vou contar-te uma coisa, em que não vais acreditar. Como o velhote Altino Ribeiro e o ditado dizem, é tudo história de pescador, pois que muitas das histórias são temperadas com uma boa dose de exagero. Existe normalmente um detalhe na procura de condimentar o peixe, aumentar seu comprimento ou valorizar o esforço desenvolvido durante a captura, no dizer de Altino. O único pescador de confiança que conheceu, como não mentiroso, foi o amigo Salvador, da Castanheira, seu companheiro em muitas pescarias e bom conhecedor dos pesqueiros no mar da Nazaré.

Mas os caçadores também são mentirosos ou exagerados. Altino contou-me um diálogo entre dois seus velhos amigos, o Antunes e o Bernardes.
-Ontem, matei dez coelhos e dez perdizes.
-Eu tive também na Nazaré uma sorte muito boa. Pesquei seis robalos e três chernes.
-Também és pescador? Não sabia…
-Não. Também sou mentiroso.

Gozar a brisa do mar e a paisagem, ver o tempo passar, falar sozinho ou com os colegas, comer uma bucha e beber um trago, eis o que motivava um apaixonado pescador como Altino Ribeiro, num ritual comum a todos os da pesca desportiva.
Durante a pesca tenho momentos de lazer, descanso, reflexão e sinto-me mais próximo da natureza, contou-me Altino Ribeiro que nunca se preocupou com grandes filosofias, nem em apanhar peixes grandes ou raros.

Altino é pessoa com mais de cinco décadas muito dedicadas a pesca desportiva sempre e só de barco (nunca pescou em água doce), tem boas histórias para contar, aliás como de caça.
Mas, a contrariar a crença popular de pescador aldrabão, as suas histórias não são normalmente exageradas. Mais do que a quantidade ou o tamanho dos peixes que apanhou ou os temporais que o assolaram, como aquele em que no chamado Mar entre Pedras, a ondulação ficou de repente tão grande que não se via terra e se encontrava sozinho no barco, o que por elas perpassa é a preocupação com a preservação ambiental, pois sabe bem que a degradação do meio ambiente e a pesca predatória, afastaram os peixe, antigamente não faltava pescado, onde antes eram encontrados com abundância. Além dessa preocupação, as suas histórias revelam a paixão, que fez com que o que para si era apenas um desporto ou mera diversão (a sua profissão foi sempre a indústria de cerâmica, por conta de outrem e própria), ganhasse um espaço, como que sagrado (se fosse religioso, o que não é o seu caso).
Altino é ferozmente contra os covos, gaiolas com grades que se colocam na água, e onde os peixes ou polvos entram engodados, e dos quais não saiem mais. Antigamente os covos tinham que ser levantados até 1 de setembro, sob pena de pesada multa, eventualmente até prisão. Hoje em dia encontram-se impunemente durante todo o ano.
NOTA-cfr. o nosso, NO TEMPO DE SALAZAR, CAETANO E OUTROS




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