-PESCADORES E CAÇADORES.
ALTINO (alcobacense), PESCADOR
DESPORTIVO E INDUSTRIAL DE
CERÂMICA
Fleming de Oliveira
Quem
não tem um tio, cunhado, parente ou amigo metido a pescador, que chega cheio de historias
fantásticas e inacreditáveis, que estava
à beira-rio ou no mar, ficou horas e horas a lutar com o bicho, mas na hora em
que o foi tirar da água, acabou por partir a linha ou o deixar escapar com o
anzol, e assim não foi possível trazer para casa o maior peixe da sua vida. Nunca mais vi um
igual !!!
Assim,
começam muitas vezes os pescadores, antes de contar algo em que só eles
acreditam, Manel eu vou contar-te uma
coisa, em que não vais acreditar. Como o velhote Altino Ribeiro e o ditado
dizem, é tudo história de pescador,
pois que muitas das histórias são temperadas com uma boa dose de exagero.
Existe normalmente um detalhe na procura de condimentar
o peixe, aumentar seu comprimento ou valorizar o esforço desenvolvido durante a
captura, no dizer de Altino. O único pescador de confiança que conheceu, como
não mentiroso, foi o amigo Salvador, da Castanheira, seu companheiro em muitas
pescarias e bom conhecedor dos pesqueiros no mar da Nazaré.
Mas os
caçadores também são mentirosos ou exagerados. Altino contou-me um diálogo
entre dois seus velhos amigos, o Antunes e o Bernardes.
-Ontem, matei dez coelhos e dez perdizes.
-Eu tive também na Nazaré uma sorte muito
boa. Pesquei seis robalos e três chernes.
-Também és pescador? Não sabia…
-Não. Também sou mentiroso.
Gozar
a brisa do mar e a paisagem, ver o tempo passar, falar sozinho ou com os
colegas, comer uma bucha e beber um trago, eis o que motivava um apaixonado
pescador como Altino Ribeiro, num ritual comum a todos os da pesca desportiva.
Durante a pesca tenho momentos de lazer,
descanso, reflexão e sinto-me mais próximo da natureza, contou-me Altino Ribeiro que nunca se preocupou com
grandes filosofias, nem em apanhar peixes grandes ou raros.
Altino
é pessoa com mais de cinco décadas muito dedicadas a pesca desportiva sempre e
só de barco (nunca pescou em água doce), tem boas histórias para contar, aliás
como de caça.
Mas, a
contrariar a crença popular de pescador aldrabão, as suas histórias não são normalmente exageradas. Mais do que a
quantidade ou o tamanho dos peixes que apanhou ou os temporais que o assolaram,
como aquele em que no chamado Mar entre Pedras, a ondulação ficou de repente
tão grande que não se via terra e se encontrava sozinho no barco, o que por
elas perpassa é a preocupação com a preservação ambiental, pois sabe bem que a
degradação do meio ambiente e a pesca predatória, afastaram os peixe, antigamente não faltava pescado, onde
antes eram encontrados com abundância. Além dessa preocupação, as suas
histórias revelam a paixão, que fez com que o que para si era apenas um
desporto ou mera diversão (a sua profissão foi sempre a indústria de cerâmica,
por conta de outrem e própria), ganhasse um espaço, como que sagrado (se fosse
religioso, o que não é o seu caso).
Altino
é ferozmente contra os covos, gaiolas
com grades que se colocam na água, e onde os peixes ou polvos entram engodados,
e dos quais não saiem mais. Antigamente os covos
tinham que ser levantados até 1 de setembro, sob pena de pesada multa,
eventualmente até prisão. Hoje em dia encontram-se impunemente durante todo o
ano.
NOTA-cfr. o nosso, NO TEMPO DE
SALAZAR, CAETANO E OUTROS
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