quarta-feira, 16 de abril de 2014

-Jornalismo político e panfletário (Pe. José Agostinho de Macedo, SEC.XVIII) INJÚRIAS CÚPIDAS E PERSONALIZADAS-

 
-Jornalismo político e panfletário
  (Pe. José Agostinho de Macedo, SEC.XVIII)
 INJÚRIAS CÚPIDAS E PERSONALIZADAS-

Fleming de Oliveira


Ao falar de jornalismo político e panfletário, é impossível esquecer, o exemplo do Pe. José Agostinho de Macedo, talvez o mais incontrolado e sabido caceteiro da pena que houve em Portugal, que viveu no virar do século XVIII (um dos mestres de Frei Fortunato de S. Boaventura), que fundou jornais e folhetos de que se chegaram a tirar quatro mil exemplares!!!
Frade, veio a ser expulso alegadamente por devassidão da sua congregação.
Segundo regista a pequena história, apresentava-se em público de batina desabotoada, de ventas largas cheias de rapé, munido de um bordão que gostava de desandar (apesar do seu físico ossudo e grande), dava murros violentos no balcão gorduroso da taberna e agitava Lisboa com a fama de vida boémia e desbragada. Vivia (amancebado assim se dizia antigamente) com uma freira de Odivelas.
Depois de provocar e empanturrar Bocage (que também andava perdido), com um indigesto amontoado de vulgaridades panfletárias, este respondeu-lhe (…) Epístolas, Sonetos//Odes, Canções, Metamorfoses…//Na frente põe o teu nome, e estou vingado.
Quando morreu em 1831, deixou saudades, pois o Povo sentiu pelos seus nervos, falou pela sua boca. O povo, reconhecia-se retratado na sua figura de padre a arrastar-se pelas portarias de conventos, casas senhoriais ou vielas mal frequentadas de Lisboa, ébrio de cólera e muitas vezes de vinho.
E o povo, não obstante esse comportamento tido por licencioso, encontrou nele a franqueza e desinteresse (salvo talvez a cobiça da popularidade), dos que não tendo vergonha, têm o mundo por si.
Viveu como mendigo. Nas suas arremetidas havia ódios, fruto de antagonismos antigos, fundados e viscerais. Os papéis, folhetos e jornais que produziu, não se inseriam numa comédia pretensamente civilizada, como as de hoje para prazer de um público de camarote ou de TV. As injúrias e as ofensas, pagavam-se com bengaladas, facadas ou tiros.
Posso dizer que se existe algum paralelismo entre o espírito panfletário de o Voz de Alcobaça (no tempo do Estado Novo até ser encerrado) e o Pe. Agostinho de Macedo, reside tão só no facto de as injúrias inflamantes, os epítetos obscenos de Mário Sá, e as verduras de Vasco da Gama Fernandes ou Lameiras de Figueiredo, dirigirem-se preferencialmente a instituições, como a Igreja ou a Monarquia, ou ao poder anti república. Hoje, são personalizadas cupidamente em A ou B, pessoas eventualmente incómodas, mas com quem nos cruzamos na rua e nos sentamos em mesas contíguas do café.

NOTA-cfr. o nosso, NO TEMPO DE SALAZAR, CAETANO E OUTROS


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