Maria
de Lurdes Costa Ribeiro.
-O
ARCO DA MEMÓRIA (VIDAIS).
Fleming
de Oliveira
Maria
de Lurdes Costa Ribeiro, de Turquel, é mulher que se destacou, pela vitalidade,
vontade de servir e elevada noção do valor do serviço comunitário.
Foi a
primeira Presidente de Junta de Freguesia do Concelho de Alcobaça, para cujo
lugar, em Turquel foi eleita, em 1979.
Depois
de ter estado emigrada com o marido vários anos na Alemanha, regressou a
Portugal em 1973, pouco depois deste ter falecido e com um filho de 18, tendo
sido sócia da Solancis, até 1992.
A
família do marido fazia pressão para que voltassem a Portugal, trabalhar na
empresa, em franco crescimento que já era, como ainda é, uma referência, não só
no Concelho de Alcobaça, mas no País, na área da exploração da pedra da Ataíja
e Moleanos, bem como do vidraço, cuja produção em grande parte se destina à
exportação.
Em 1992 a Solancis, que
integrava duas empresas, dividiu-se ficando Lurdes Costa e o filho com a que se
dedica à Construção Civil.
Em
julho de 1975, um conhecido e antigo fornecedor de componentes de máquinas para
corte de pedra, estabelecido no Alentejo, na zona de Borba, foi à Solancis
saber das necessidades, mas apresentando-se com um braço ao peito, engessado, e
alguns hematomas faciais.
Contactando
com Lurdes Costa, esta perguntou-lhe que acidente é que tinha sofrido, ao que
respondeu que ao passar em Rio Maior, e o pessoal sabendo que era alentejano,
mas desconhecendo os seus princípios e propósitos, provocou-o e agrediu-o, com
tal violência, de que resultou a fratura de um braço e os hematomas.
Todavia,
este alentejano nada tinha de comunista ou simpatizante e até dizia que se dava
muito bem com os “fascistas”, pois
eram quem lhe pagavam a tempo e horas e o ajudavam a viver a vida, com decência. Ossos do “ofício”.
Na
empresa de Lurdes Costa Ribeiro, salvo um pequeno incidente, rapidamente sanado
com o despedimento célere de alguns contestatários que reivindicavam de forma
abusiva e exagerada aumento de salários e diminuição das horas de trabalho, não
houve mais nenhuma contestação laboral e os sindicatos não tiveram oportunidade
de intervirem.
Relativamente
à Solancis, é justo trazer ao conhecimento geral que os seus verdadeiros pais,
foram os antepassados dos atuais sócios que iniciaram a exploração da pedra na
Serra dos Candeeiros, numa pedreira denominada Vale da Louceira, sendo o seu
primeiro exportador José Oliveira Delgado, na década de 1900. A exploração
consistia no arranque da pedra e sua transformação, em pias, no próprio local.
Essas pias, além de outras utilizações, tinham como função principal guardar o
azeite, da azeitona que o lavrador apanhava e mandava transformar. Serviam as
pias ainda para guardar e salgar porco, que se matava pela altura dos Santos e
era governo para o ano inteiro. Do equipamento inicial constavam apenas
alavancas e serrotes e especialmente a força do braço de dois trabalhadores,
que ganhavam 7$50 por dia.
Pias e
cantarias abasteciam as terras limítrofes de Alvorninha, Santa Catarina,
Vimeiro, Cela, Alfeizerão, Bárrio, Famalicão e Nazaré, sendo o transporte feito
por carro de bois. O serviço era moroso, necessitando de um dia para percorrer
30km. A partir de 1920, Silvino Oliveira Delgado, após herdar desenvolveu a
atividade do pai, e já munido com macaca e mais tarde com compressor,
dedicou-se ao trabalho de fazer cantarias e campas para cemitérios. A herança
passaria doravante de pais para filhos, já que desde cedo o pai, os ia
iniciando na arte e desenvolvendo o gosto pelo trabalho da pedra.
O
filho mais velho, Manuel Costa Oliveira Delgado, em 1951, e com 17 anos de
idade, assumiu a responsabilidade de fornecer à firma Marques da Cruz, de
Leiria, o trabalho de pedra, para o Estádio da Luz. O entusiasmo e ritmo
adquiridos levaram a Solancis a comprar um terreno no Casal do
Carvalho-Benedita, para montar uma oficina e assim se constituiu em 1969, a “Solancis-Sociedade Exportadora de Pedreiras,
Ldª”, dada a necessidade de satisfazer a procura de lancis e cantarias de
calcário, vidraços e semirrijos da Ataíja e Moleanos.
Inicialmente
as suas pedreiras tinham estrutura produtiva insatisfatória, que se suspendia
nos períodos de maior atividade agrícola. Por outro lado, eram manifestas as
carências de equipamentos. Os blocos eram arrastados com alavancas, macacas e
crapoud.
No
curriculum da empresa consta o trabalho de reconstrução de um “Arco da Memória”, em 1981 (Vidais).
O
projeto foi do arquiteto Joaquim Pereira. A iniciativa do restauro, pois
encontrava-se em ruínas, ficou a dever-se ao padre Manuel Vitorino da Silva
Fernandes, Pároco de Vidais. Nos trabalhos, foram aplicadas cerca de 90
toneladas de blocos cortados e emparelhados na Solancis.
No
cimo da Serra dos Candeeiros, existe um outro arco de volta perfeita que foi
construído pelos Frades de Alcobaça para assinalar a divisão administrativa dos
coutos.
Segundo
alguns autores, o arco data do século XVI e serviu para o Mosteiro definir os
limites das suas terras. Há quem defenda que terá sido mandado erguer por Frei
Bernardo de Brito.
Esse
arco veio a ficar conhecido por “Arco da
Memória” e está localizado no limite dos Concelhos de Alcobaça e Porto de
Mós, mais precisamente, numa subárea da freguesia do Arrimal, chamada
Memória.
Conforme
uma conhecida lenda, D. Afonso Henriques, quando ia a caminho de Santarém, em
1147, jurou, do alto da Serra de Albardos-Serra dos Candeeiros, que caso a
conseguisse conquistar, doaria a Bernardo de Claraval, os terrenos avistados na
direção do mar. O lugar onde o rei teria feito esse juramento é onde se
encontra o “Arco da Memória”.
De
acordo com alguns autores, menos esclarecidos, no topo do “Arco da Memória” havia uma estátua, representando D. Afonso
Henriques, ladeada por duas pirâmides.
Mas, creio
que estão a fazer confusão com outro arco, um pouco maior nas suas dimensões,
também chamado “Arco da Memória” e
que fica situado numa povoação chamada Arco da
Memória, pertencente à freguesia de Vidais, no Concelho de Caldas da
Rainha.
Os
habitantes da freguesia de Vidais chamavam ao seu arco, “O Rei da Memória”, porque a meio do cano constavam os seguintes
dizeres: “O Santo Rei D. Afonso
Henriques, fundador de Alcobaça”.
Não
devemos esquecer, mais uma vez, que a lenda diz que D. Afonso Henriques terá
prometido mandar erguer um mosteiro em homenagem a Santa Maria, nas terras
concedidas a Bernardo de Claraval, caso conseguisse conquistar Santarém aos
mouros.
No
local da promessa feita pelo rei, ao cimo da Rua de Cister, da atual povoação
designada por “Arco da Memória”, foi
levantada uma estátua de D. Afonso Henriques e mais tarde um arco, “o Arco da Memória”.
No
cimo aplanado, foi colocada a estátua do nosso primeiro rei. Assim, o “Arco da Memória” permaneceu até aos
dias em que a fúria republicana, destruiu o monumento, a 12 de janeiro de 1911. A destruição do Arco da Memória, encimado com estátua de
D. Afonso Henriques, coincidiu com a construção da estrada municipal que liga a
Benedita a Caldas da Rainha, via Alvorninha, pelo que quase todas as pedras do
monumento que se encontravam espalhadas encosta abaixo foram partidas pelos
cantoneiros e utilizadas para a construção da estrada. A estátua de D. Afonso
Henriques fora vandalizada e ficou ao abandono. Mais tarde, foi salva por um
habitante local, Joaquim Martins, que a guardou, enterrou e participou o feito
às autoridades das Caldas da Rainha. Esse morador, mais tarde, foi encarregado
de transportar a estátua para Caldas da Rainha. Ao chegar à cidade , o homem
foi multado pois, ia no seu carro de bois, sentado em cima da estátua, o que
foi considerado falta de respeito por um símbolo nacional. Diz-se que o homem
pagou pela multa, três vezes superior ao que veio a receber do frete.
Posteriormente,
a estátua foi levada para Leiria pelo Eng. Afonso Zúquete, que dirigia as obras
de solidificação do Castelo. Atualmente, a estátua está situada no mirante da
Avenida Ernesto Korrodi, no sopé do monte onde assenta o Castelo de Leiria. Inicialmente esteve no claustro do edifício dos
antigos Paços Episcopais, na ocasião quartel do RAL 4, onde se aloja a PSP, até
ser transferida para o local em que se encontra.
No dia
28 de junho de 1981, foi inaugurada a reconstrução do Arco com o contributo da
população e de várias entidades públicas e privadas, como a Solancis. Desde
essa altura, tem havido esforço para que a estátua de D. Afonso Henriques volte
a ocupar o seu lugar, no cimo do “Arco da
Memória”, na Freguesia de Vidais.
O “Arco da Memória”, sito na Serra dos
Candeeiros, serviu como marco assinalando o limite dos coutos, a entrada de
quem vinha fazer os seus negócios ou mesmo de quem vinha à procura de refúgio
nas terras dos frades. Sobre este assunto, no meu NO TEMPO DE SALAZAR, CAETANO E OUTROS. Alcobaça e Portugal, escrevi
a propósito de uma visita de D. Miguel a Alcobaça, que a maior parte dessa
viagem à Região do Oeste, em agosto de 1830, decorreu nos coutos de Alcobaça,
que continuavam a ser palco de conflitos acesos entre os frades e os aldeões,
por razão do pagamento dos direitos senhoriais. O Marquês de Fronteira,
recordou nas suas memórias que, em 1824 os rendeiros dos frades tinham-se
rebelado, largando “fogo às medas de
trigo que pertenciam à comunidade” e que o Abade Geral do Mosteiro se vira
obrigado a chamar a tropa que estava em Leiria.
No
caso de Aljubarrota, o conflito traduzia-se na questão dos limites da doação de
D. Afonso Henriques e arrastou-se desde os finais da Idade Média. Terá sido
depois do jantar, durante uma conversa havida na varanda do seu quarto, que a
questão foi apresentada ao Rei. O Esmoler-Mor, Frei António da Silva que fora
Abade Geral dos Coutos de Alcobaça, durante o vintismo, aproveitou a ocasião
para dizer ao Rei que nessa época “os
povos dos coutos, principalmente os de Aljubarrota, aproveitando-se da rebelião
que as Cortes causaram, tinham arruinado o Arco Memória, onde fez voto o Sr. D.
Afonso I, e que pedia a S.M. o mandasse reedificar”.
Ora
(independentemente da data de construção), o “Arco da Memória” assinalava o limite norte dos Coutos e era o
símbolo material dos poderes do Mosteiro, cuja contestação o Abade
circunscrevia ao período liberal. D. Miguel terá concordado com a sugestão,
propondo que no Arco a reconstruir, se fizesse uma inscrição que o ligaria física
e simbolicamente a Afonso Henriques: “El
Rei D. Afonso I o mandou fazer e D. Miguel I reedificar”.
O “Arco da Memória”, na freguesia de
Vidais, tem o mesmo efeito no imaginário do povo local, leva-o a ouvir falar de
lendas e de sérios registos históricos do seu passado.
Mas,
além de ser o lugar que assinalava os territórios do Mosteiro de Alcobaça, de
ser o sítio onde os republicanos mostraram o seu repúdio para com os símbolos
da monarquia, de ser o ponto que transporta os habitantes locais para o mundo
das lendas e para o mundo dos factos históricos, marca ainda a legítima vontade
de um povo querer ter junto a si o património que lhe pertence e com o qual ele
fortemente se identifica.
Este “Arco da Memória” é um dos marcos limites
dos coutos do Mosteiro de Alcobaça, alinhando a Norte com o Arco da Memória
existente na Serra dos Candeeiros e a Poente com a foz do rio Vau, em Salir do
Porto.
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