quarta-feira, 30 de abril de 2014

OTELO, ”O CAVALO DO PODER” E OUTRAS TIRADAS “EXEMPLARES”.

 


OTELO, ”O CAVALO DO PODER” E OUTRAS TIRADAS “EXEMPLARES”.

Fleming de Oliveira


Otelo, para a pequena história e anedotário político-nacional, assumiu comportamentos e expressões que lhe ficaram indelevelmente associados.
Numa manifestação da FUR, que exigia a desocupação da RTP e emissoras de rádios, Otelo foi apelidado de “social-democrata” e “fascista”, o que muito o irritou.
”Fascista” eu?
Em resposta assegurou que não tinha ambição de poder, pois que “se tivesse conhecimentos livrescos e estrutura política, podia ser um Fidel Castro da Europa”. Para reforçar o seu desapego pelo poder  “que pertencia ao povo”, afirmou ainda, mais tarde, que “o cavalo do poder lhe tinha passado ao pé, mas que ele não o tinha querido montar”.
Esta tirada ridícula teve repercussão no PPD de Alcobaça e, assim, de aí em diante quando alguém se candidatava ou ia ocupar um lugar político, perguntava-se-lhe se ia montar o cavalo…

O cap. Álvaro Fernandes, parente do tenente “traído” (de quem já tratei noutro local), com a colaboração de militares ligados ao CPCON, aonde estava colocado, numa entrevista para a rádio, assumiu a 24 de setembro de 1975 o desvio de mais de 1000 G3, do Depósito Geral do Material de Guerra, em Beirolas, pois “o que tive de fazer não é mais que um passo lógico e consequente de um oficial que esteja realmente interessado em fazer avançar o processo”.
Este oficial encontrava-se ausente sem licença, pelo que foram dadas ordens para ser preso, caso não se apresentasse, até ao dia seguinte, em qualquer unidade militar, sendo pois considerado desertor.

Regressado da Suécia e confrontado no aeroporto com esta situação , Otelo disse aos jornalistas que o “desvio foi um erro, mas estava tranquilo, pois as amas estavam à esquerda, em boas mãos”.

Dizia-se que “Portugal parecia um parque de diversões, pois a política e os acontecimentos, tal como numa roda gigante, andavam à procura do nunca que ninguém sabia o que era ou onde era”.

As eleições para a Assembleia Constituinte tiveram um significado político ímpar (não é demais sublinhar), simbolizaram a vitória de valores da democracia sobre o processo revolucionário de cariz autoritário e arbitrário, se não mesmo totalitário.
Ao darem a palavra ao Povo, os Capitães de abril, acabariam por resistir, pelo menos nesse aspeto, aos cantos de sereia de umas franjas que os queriam empurrar para as mais imprevisíveis aventuras.
A mobilização cívica levada a cabo pelo PPD e outras forças democráticas como o PS e o CDS durante meses pelo País fora, e concretamente no Concelho de Alcobaça, assentava no reconhecimento do significado do momento que se vivia, a afirmação dos direitos de cidadania face aos que aceitavam conquistar o poder por quaisquer meios.
O verão Quente, assumiu-se como o corolário lógico das eleições para a Assembleia Constituinte, que pareciam pouco ter mudado.
Pela primeira vez, em 50 anos, homens e mulheres, mais ou menos letrados, com mais ou menos posses, em Alcobaça, como em qualquer ponto do País, sentiram com orgulho que podiam influenciar os destinos nacionais e, portanto, uma parte não irrelevante do seu destino.
Sobre este assunto, Otelo também opinava com desenvoltura pois “perante o Povo Português, a responsabilidade que o MFA assumiu em 25 de abril, mantém e não pretende alienar, implica necessariamente uma vigilância atenta e uma participação ativa em tudo quanto disser respeito à Democracia que tem de defender e ajudar a construir. É neste contexto que o problema da Constituinte deve ser encarado; falta apenas definir a forma pela qual essa vigilância deverá ser exercida uma vez que a vontade política do Movimento é inabalável quanto à defesa dos interesses democráticos. Entretanto, aguardamos latada ainda que a decisão suba das bases do MFA até à CCP, como aliás tem vindo sempre a ser feito desde que a ideia da Revolução nasceu”.


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