OTELO, ”O CAVALO DO PODER” E OUTRAS TIRADAS
“EXEMPLARES”.
Fleming de Oliveira
Otelo, para a pequena história e anedotário
político-nacional, assumiu comportamentos e expressões que lhe ficaram
indelevelmente associados.
Numa manifestação da FUR, que exigia a desocupação da
RTP e emissoras de rádios, Otelo foi apelidado de “social-democrata” e “fascista”, o que muito o irritou.
”Fascista” eu?
Em resposta assegurou que não tinha ambição de poder,
pois que “se tivesse conhecimentos
livrescos e estrutura política, podia ser um Fidel Castro da Europa”. Para
reforçar o seu desapego pelo poder “que pertencia ao povo”, afirmou ainda,
mais tarde, que “o cavalo do poder lhe
tinha passado ao pé, mas que ele não
o tinha querido montar”.
Esta tirada ridícula teve repercussão no PPD de Alcobaça
e, assim, de aí em diante quando alguém se candidatava ou ia ocupar um lugar
político, perguntava-se-lhe se ia montar o cavalo…
O cap. Álvaro Fernandes, parente do tenente “traído” (de
quem já tratei noutro local), com a colaboração de militares ligados ao CPCON,
aonde estava colocado, numa entrevista para a rádio, assumiu a 24 de setembro
de 1975 o desvio de mais de 1000 G3, do Depósito Geral do Material de Guerra,
em Beirolas, pois “o que tive de fazer
não é mais que um passo lógico e consequente de um oficial que esteja realmente
interessado em fazer avançar o processo”.
Este oficial encontrava-se ausente sem licença, pelo que
foram dadas ordens para ser preso, caso não se apresentasse, até ao dia
seguinte, em qualquer unidade militar, sendo pois considerado desertor.
Regressado da Suécia e confrontado no aeroporto com esta
situação , Otelo disse aos jornalistas que o “desvio foi um erro, mas estava tranquilo, pois as amas estavam à esquerda, em boas mãos”.
Dizia-se que “Portugal
parecia um parque de diversões, pois a política e os acontecimentos, tal como
numa roda gigante, andavam à procura do nunca que ninguém sabia o que era ou
onde era”.
As eleições para a Assembleia Constituinte tiveram um
significado político ímpar (não é demais sublinhar), simbolizaram a vitória de
valores da democracia sobre o processo revolucionário de cariz autoritário e
arbitrário, se não mesmo totalitário.
Ao darem a palavra ao Povo, os Capitães de abril,
acabariam por resistir, pelo menos nesse aspeto, aos cantos de sereia de umas
franjas que os queriam empurrar para as mais imprevisíveis aventuras.
A mobilização cívica levada a cabo pelo PPD e outras
forças democráticas como o PS e o CDS durante meses pelo País fora, e concretamente
no Concelho de Alcobaça, assentava no reconhecimento do significado do momento
que se vivia, a afirmação dos direitos de cidadania face aos que aceitavam
conquistar o poder por quaisquer meios.
O verão Quente, assumiu-se como o corolário lógico das
eleições para a Assembleia Constituinte, que pareciam pouco ter mudado.
Pela primeira vez, em 50 anos, homens e mulheres, mais
ou menos letrados, com mais ou menos posses, em Alcobaça, como em qualquer
ponto do País, sentiram com orgulho que podiam influenciar os destinos
nacionais e, portanto, uma parte não irrelevante do seu destino.
Sobre este assunto, Otelo também opinava com
desenvoltura pois “perante o Povo
Português, a responsabilidade que o MFA assumiu em 25 de abril, mantém e não
pretende alienar, implica necessariamente uma vigilância atenta e uma
participação ativa em tudo quanto disser respeito à Democracia que tem de
defender e ajudar a construir. É neste contexto que o problema da Constituinte
deve ser encarado; falta apenas definir a forma pela qual essa vigilância
deverá ser exercida uma vez que a vontade política do Movimento é inabalável
quanto à defesa dos interesses democráticos. Entretanto, aguardamos latada
ainda que a decisão suba das bases do MFA até à CCP, como aliás tem vindo sempre
a ser feito desde que a ideia da Revolução nasceu”.
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