A POSSE DO ÚLTIMO REGEDOR NO CONCELHO DE ALCOBAÇA (Jan.
1975).
SESSÃO DO PPD NA BENEDITA.
LEGALIZAÇÃO DO PPD.
PC EM PATAIAS.
UNICIDADE SINDICAL.
Fleming de Oliveira
Nos primeiros dias de janeiro de 1975, a CA da Câmara de
Alcobaça ainda empossou um último regedor do Concelho, neste caso na Benedita,
na pessoa de José Félix Francisco, que substituiu Armando Ferreira Baltazar, a
quem pelo Presidente Silvestre foi desejado um
bom desempenho na sua missão cívica.
Uma das principais funções cometidas aos regedores
consistia no policiamento da freguesia. Para os auxiliarem, os regedores tinham
às suas ordens os cabos de polícia. A importância dos cabos de polícia foi também
diminuindo, à medida que se foram alargando as áreas de intervenção da PSP, nas
áreas urbanas e, mais tarde, da GNR, nas áreas rurais. A última regulamentação
dos regedores, foi definida pelos Códigos Administrativos de 1936 e de 1940. Os
regedores deixaram de ter o estatuto de magistrado administrativo, passando a
ser os representantes dos Presidentes
das Câmaras Municipais e nomeados por
estes, salvo nos concelhos de Lisboa e Porto, onde eram nomeados diretamente
pelos Governadores
Civis. Incumbia aos
regedores fazer cumprir as ordens, deliberações, posturas municipais e os
regulamentos de polícia, levantar autos de transgressão, auxiliar as
autoridades policiais e judiciais, agir de modo a garantir a ordem, a segurança
e a tranquilidade públicas, auxiliar as autoridades sanitárias, garantir os
regulamentos funerários, mobilizar a população em caso de incêndio e cumprir
outras ordens ou instruções emanadas do Presidente da Câmara Municipal. A
figura do regedor foi extinta na sequência da entrada em vigor da CRP, de 1976.
As movimentações político-sociais ao longo do concelho
de Alcobaça eram grandes, com danos nas paredes e muros, de que o PPD e PS
também eram responsáveis, mas especialmente os esquerdistas novatos
(filhos-família), que todos os dias apareciam emporcalhados com tinta e
cartazes. Apareceram novos meios de comunicação, os jornais de parede, com mensagens
e até ameaças.
O PPD fez em 15 de janeiro a sua apresentação na
Benedita (terra que o MDP/CDE reputava de fascista)
com a presença de Silva Carvalho, Gonçalves Sapinho, Rafael Serralheiro, José
Vinagre, Fleming de Oliveira e outros, e em 7 de fevereiro no Cineteatro de
Alcobaça, cheio e com boa e animada presença da JSD, apesar da campanha
eleitoral se iniciar oficialmente apenas em 4 de março. Usaram da palavra
Oliveira Dias e Ferreira Junior, Gonçalves Sapinho, Firmino Franco, Silva
Carvalho e Fleming de Oliveira,
No dia 14, o PC convocou uma manifestação em defesa da
unicidade sindical e em comunicado, o CC do PC, escrevia que a unicidade sindical foi amplamente
discutida pelas massas trabalhadoras. Ninguém de boa fé pode contestar a
esmagadora aprovação que lhe foi dada. Esta aprovação e as novas adesões que a
todo o momento se vão registando da parte do movimento popular fazem da
consagração da unicidade sindical a expressão de uma vontade do povo
democraticamente manifestada. A manifestação que hoje tem lugar em Lisboa deve
ser olhada como uma inequívoca afirmação da vontade dos trabalhadores de que a
unicidade sindical seja inscrita na lei.
A manifestação convocada pelo PC encheu as ruas de
Lisboa. Em resposta, a 16 de janeiro, num comício do PS, para onde foram alguns
socialistas alcobacenses em carros particulares e um autocarro gatruito, que se
juntaram em frente ao Mosteiro, Salgado Zenha, não se atemorizou e enfrentou a
rua, afrontando a unicidade sindical, a qual não foi consagrada na lei.
O PS está na rua, o
PS não tem medo. Todos ao Pavilhão dos Desportos. Unidade, sim, unicidade, não.
Em Alcobaça e no País, o PPD estava solidário, mas tinha
menor capacidade de mobilização que o PS, que não se deixou intimidar, porque
acreditou na palavra de ordem lançada por Mário Soares: Só é vencido quem desiste de lutar.
Naqueles dias, dizia Manuel Alegre, que não se pode tapar os ouvidos aos protestos.
Começa-se pela
unicidade sindical, segue-se a unicidade ideológica, acaba-se no partido único, assegurava por sua vez Salgado Zenha, então Ministro
da Justiça demissionário.
Em meados de fevereiro de 1975, foi anunciado que o
Comité local do PC pretendia organizar um Centro de Trabalho na Freguesia de
Pataias, estando apenas à espera que lhe seja cedida uma sala no antigo
edifício escolar, a qual se encontra vaga e
foi pedida à CA da CMA, que a tal anuiu de imediato.
A ideia que estava na base da organização deste Centro
de Trabalho decorria, entre o mais, da necessidade de instruir os elementos comunistas da freguesia de Pataias, no
conhecimento, no marxismo-leninismo indispensável à ação revolucionária..
Em 7 de fevereiro o PPD, tornou-se o terceiro partido
político português a obter a legalização, para poder concorrer às eleições de
abril para a Assembleia Constituinte.
Foram recolhidas e reconhecidas notarialmente 6.300
assinaturas de cidadãos eleitores de todo o País, entregues com a demais
documentação no Supremo Tribunal de Justiça. Em Alcobaça, a Secção Concelhia
colaborou ativamente neste processo de recolha de assinaturas por todo o
concelho, tendo obtido cerca de 100, que deixou em Leiria.
A entrega do processo de legalização do PPD no
STJ-Supremo Tribunal de Justiça, foi feita por uma delegação chefiada por Sá
Carneiro, na qual se integravam Rui Machete, Henrique dos Santos Sá Borges,
Júlio Castro Caldas, Alexandre Bettencourt e Pinto Balsemão. António Rebelo de
Sousa estava presente, em representação da JSD.
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