quarta-feira, 23 de abril de 2014

ROGÉRIO RAIMUNDO, POLÍTICO COMUNISTA DE ALCOBAÇA E DIRIGENTE ASSOCIATIVO (CCC).


 

ROGÉRIO RAIMUNDO, POLÍTICO COMUNISTA DE ALCOBAÇA E DIRIGENTE ASSOCIATIVO (CCC).
Fleming de Oliveira



“A política, para mim, começou em 1969 quando fui estudar Engenharia Mecânica para o Instituto Superior Técnico”.
Contou-me Rogério Raimundo que almoçava na cantina, quando o Presidente da Associação Académica, António Abreu, mais tarde vereador da Câmara Municipal de Lisboa e candidato “fantasma” pelo PC à Presidência da República, saltou para cima duma mesa e passou a palavra para uma manifestação surpresa. António Guterres, dirigente associativo, também saltou para cima da mesa, para se associar a agitar os estudantes.
Este tipo de agitação surpresa, acontecia aquando de jornadas contra a guerra colonial ou de solidariedade com a luta dos estudantes das outras Universidades, com as quais Raimundo se solidarizava.
“Só aderi ao PCP no final de 1977, pelo que o período após Revolução de abril, o designado PREC foi vivido como independente. Estive como professor cooperante em Moçambique nos anos de 1978 e 1979”.

Para o registo histórico de militante do PC, Raimundo invocou-me uma curiosidade.
Em Moçambique teve a primeira reunião de célula de partido, dirigida pelo camarada Mário Lino, que foi Ministro das Obras Públicas, no governo PS (2005/2009).
Quando regressou da cooperação “é que me meti a fundo na luta político-partidária no nosso concelho de Alcobaça. Ainda não parei e nunca tive qualquer cena complicada ao longo de 30 anos. Respeitei e fui respeitado”.
Em 1980, esteve no seu primeiro ato público de militante do PC, ao lado de Álvaro Cunhal, na presidência da mesa de um comício no Cineteatro de Alcobaça.
Foi então que se apercebeu que, enquanto outros camaradas discursavam, Álvaro Cunhal fazia um traço em cada vírgula, para destacar a sua pausa, quando fizesse a leitura.
Cunhal anos depois voltara a Alcobaça.“Desde a cena violentíssima do comício do PCP em Alcobaça, no Pavilhão Gimnodesportivo, com tiroteio, podemos dizer que, Alcobaça, passou a ser uma terra, que respeitou as diferenças partidárias”.

A primeira vez que concorreu a um cargo político foi nas autárquicas de 1980, sendo o primeiro da lista da Assembleia Municipal e eleito, com mais 2 camaradas. Em 1989, encabeçou a lista para a Câmara Municipal, tendo sido eleito, mantendo-se desde então como vereador.
Do seu primeiro mandato na Assembleia Municipal, cujo presidente era Tarcísio Trindade (que sucedeu a Fleming de Oliveira), destacou-me o que reputa de saboroso momento, quando se discutiu a questão de inspiração soviética e do Conselho Mundial da Paz, se Alcobaça também deveria ser Espaço Livre de Armas Nucleares. O deputado municipal, Firmino Henriques Franco, fez uma intervenção inesquecível pois, “não percebo para que é que estão a propor isso para Alcobaça. Essa bomba de neutrões não é aquela que escolhe quem mata?”
A confusão, onde se misturaram surpresa, gargalhadas e protestos foi tanta que, por essa ou outras, Tarcísio Trindade demitiu-se de Presidente da Assembleia Municipal, alegando que “não tinha sido eleito para isto”.
Aliás, nunca se sentiu confortável na respetiva cadeira…
A vida político-associativa de Rogério Raimundo, está indissoluvelmente ligada ao Centro Cénico da Cela, fundado em 1973, por um grupo de jovens, com destaque para a liderança de José Cândido e em que aquele teve participação importante. A sua disponibilidade coincidiu com a luta dos estudantes do IST-Instituto Superior Técnico, que fechou durante um semestre.
“Foi esse facto político que me levou à terra, à Cela, e a me ocupar no movimento que originou o CCC.. De julho a outubro de 1973 fizemos de tudo um pouco, ensaios da peça de teatro Médico à Força, excursão para unir o povo dos lugares com o da sede da Freguesia, futebol, ping-pong, atletismo. O teatro foi a estratégia que usámos para demonstrar o que éramos capazes de realizar”.

Rogério Raimundo, passava a maior parte do seu tempo livre na coletividade. Além de ser dirigente, e um dos principais animadores do teatro, estava no basquetebol, no ping-pong e alinhava como jogador da equipa de futebol.
Na Escola Secundária de Alcobaça, a atual Escola Secundária Dona Inês de Castro, onde Raimundo foi professor, o ano letivo 1974/1975 só começou verdadeiramente em 6 janeiro, durante o qual foi eleito Delegado Sindical, o que lhe causou incómodos mais de ordem pessoal que política. Nessa escola e nesse tempo muitos professores eram sindicalizados. O prof. Mário Sá, acumulava as funções de professor, com outras atividades no ensino privado, de onde retirava um complemento interessante. O sindicato, de que Raimundo era disciplinado e vigoroso delegado, propunha que os professores não podiam acumular, para se poderem criar mais empregos. Deste modo, Rogério Raimundo, defendeu, sem hesitar, uma posição que contrariava a do colega, que a teve obedientemente de acatar, embora a contragosto.

A luta dos estudantes da Escola Secundária, que chegou a passar por uma greve de zelo, teve a ousadia de se esconderem os Livros de Ponto. Foi decidido, estabelecer um diálogo com a Comissão de Luta dos Estudantes e Rogério Raimundo encarregado de liderar a Comissão por parte dos Professores, que conseguiu evitar os processos disciplinares aos alunos, possibilitar a recuperação dos Livros de Ponto e o respeito pelas lutas dos professores, dos alunos e dos trabalhadores não-docentes.
“Na Comissão Sindical da Escola, sempre alinhei com as posições do camarada do PCP Joaquim Oliveira”, enquanto que o social de Alcobaça, Timóteo de Matos, militante do PC, foi pessoa que lhe suscitava simpatia.



“Toda essa campanha só acabou muito mais tarde (esclarece Rogério Raimundo) quando o saudoso Padre Inácio Antunes, que tem um histórico extraordinário na Benedita, onde lhe atribuíram o nome na Avenida da Igreja, chegou à Cela foi convidado a visitar o CCC e almoçar com os utentes do Centro de Dia. Logo na primeira homilia, na Igreja de St. André, da Cela, disse que, na Cela vocês já têm o céu: é o Centro Cénico da Cela.


Os três sócios acabaram por ser reintegrados no CCC e as feridas acabaram sanadas, quando em 1995 houve a inauguração do edifício social.


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