VIRGÍLIO TEIXEIRA E UM SÓSIA ALCOBACENSE (José Tempero)
Fleming de Oliveira
Virgílio
Teixeira nasceu no Funchal, em 1917.
Galã
português do cinema nos anos 40, 50 e 60,
conseguiu ultrapassar as fronteiras geográficas da sétima arte nacional.
Numa altura em que o mundo vivia um período bastante conturbado, como a II
Guerra, havia a vontade de mudar. É neste contexto que surge Virgílio Teixeira,
um jovem madeirense que decide, em 1940, deixar para trás a ilha e partir para
Lisboa, levando na bagagem muitos sonhos e a vontade de ser ator.
Estava
dado o que seria o passo mais importante na sua vida. Do anonimato para as
luzes da ribalta foi um pequeno instante.
Em
Espanha, Virgílio Teixeira viveu 12 anos e participou em cerca de 50 filmes,
pelo que ainda há quem pensam que o ator é espanhol e não português.
O
regime do Gen. Franco, chegou a conceder-lhe os mesmos direitos que os atores
espanhóis, facto que adiou a sua vinda para Portugal.
A
razão pela qual a Espanha se tinha tornado num atrativo destino para as grandes
produtoras de cinema, devia-se às facilidades concedidas com vista à procura do
reconhecimento político e ao facto das produtoras de Hollywood obterem
mão-de-obra e cenários baratos.
Com
papéis de maior ou menor importância, o nome do ator madeirense passou a
figurar em elencos de luxo.
O meu
amigo José Ferreira Tempero, contou-me que havia pessoas que o confundiam com
Virgílio Teixeira, nomeadamente no Funchal, aonde ia por vezes em trabalho.
Tempero
viajante por conta de um armazém de mercearias de Caldas da Rainha, foi uma
tarde à Nazaré visitar o cliente António da Silva Pereira, que tinha uma
empregada com os seus dezasseis ou dezassete anos.
A
partir de certa altura, a miúda que não tirava os olhos de José Tempero,
aproveitando o facto de o patrão se ter de deslocar ao escritório,
perguntou-lhe tímida, corada e emocionadamente, ouça lá, meu senhor, vomecê não é o Virgílio Teixeira?
A
pergunta ou o comentário, não eram nada originais para J. Tempero que
respondeu, brincalhonamente (como era nele habitual), sim sou eu, mas não diga nada a ninguém, muito menos às p’rigas da
Nazaré, porque senão elas abeiram-se de mim e eu vou ter dificuldade em
continuar a trabalhar, porque nas horas vagas quando não tenho filmes para
fazer em Espanha, trabalho como viajante.
Quando
o comerciante, regressou ao balcão, a Clara (assim se chamava a rapariga),
pediu-lhe autorização para ir a casa dos pais, que era ali perto, beber uma
pinga de café...
O
Silva Pereira, embora contrafeito, mas para não fazer má figura diante de
Tempero, respondeu que sim podes ir,
vocês só sabem beber café e fazer chichi... .
Passado
um quarto de hora, a mercearia começou a ter um movimento inusitado de
raparigas e mulheres, que entravam e saíam ser fazer quaisquer compras, pelo
que o Silva Pereira ainda sem perceber nada desabafou ah p’rigas, isto aqui parece que pariu a galega (a empregada fora
anunciar nas redondezas que na loja estava o
célebre Virgílio Teixeira).
Só
passados alguns dias, é que a Clara, quando José Tempero lá voltou, é que
percebeu que tinha sido vítima de um ingénuo embuste.
NOTA-cfr. o nosso NO TEMPO DE SALAZAR, CAETANO E
OUTROS
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