terça-feira, 29 de abril de 2014

PALMA CARLOS E O 25 DE ABRIL

Fleming de Oliveira


Foi a um prestigiado advogado de ideias democratas e liberais, o Professor Doutor Adelino Palma Carlos a quem o Gen. Spínola, recorreu para chefiar o primeiro governo saído da Revolução.
O I Governo Provisório de Portugal tomou posse a 17 de maio de 1974, sucedendo nas funções governativas à Junta de Salvação Nacional, formada no dia da revolução, e teve ministros como Mário Soares e Sá Carneiro, com quem Palma Carlos tinha uma relação de empatia e cordialidade.
Com ligações a grupos económicos e insuspeito de simpatias com a extrema-esquerda, grão-mestre do Grande Oriente Lusitano, Palma Carlos tinha o perfil para garantir a respeitabilidade do novo governo nos meios conservadores e internacionais. Mas numa conjuntura política em que a balança se inclinava decididamente para a esquerda, a sua tarefa não seria fácil.
Em vão, procurou o Presidente da República criar uma forte corrente de opinião civil e militar que reforçasse a sua posição política, através de deslocações pelo país e apelos ao povo português. O Conselho do MFA viria a recusar as suas propostas de concentração do poder nas instâncias presidencial e governamental através de um referendo constitucional.
Em consequência, Palma Carlos pediu a demissão, levando à queda do I Governo Provisório de Portugal a 18 de julho de 1974, apenas 56 dias após a posse.
Adelino da Palma Carlos, não teve capacidade ou condições para aguentar a situação, pelo que ao fim de pouco tempo, pediu a demissão ”dizendo que se se sentia um passarinho a sair da gaiola”.

Logo a seguir, tomou posse o II Governo Provisório chefiado pelo cor. Vasco Gonçalves e do qual também fizeram parte, Mário Soares, Sá Carneiro, Álvaro Cunhal e Freitas do Amaral.
Mas, as tensões internas não paravam de aumentar e o Presidente da República encorajou a realização de uma manifestação da “Maioria Silenciosa”, que mais não seria que um braço de ferro entre a direita e a esquerda.
A manifestação não chegou a acontecer e o acontecimento foi entendido como uma tentativa de golpe de estado, motivo pelo qual o Gen. Spínola foi levado a demitir-se, prevendo um período de crise e caos substituído pelo general Costa Gomes, que, por seu turno, confirmou, nas funções, o governo de Vasco Gonçalves. “Maioria Silenciosa” foi a designação pela qual ficou conhecida a iniciativa política de alguns setores da sociedade portuguesa, civil e militar, que, em 28 de setembro de 1974, decidiram organizar uma manifestação de apoio ao General Spínola, visando o reforço da sua posição política.

Otelo Saraiva de Carvalho do COPCON e o Ministro da Defesa Firmino Miguel reagiram. O Ministro da Comunicação Social, leu um comunicado do Governo Provisório na EN, emitido de meia em meia hora. A manifestação foi proibida pelo MFA. Os partidos políticos de esquerda distribuíram comunicados apelando à vigilância popular e denunciaram as tentativas contra revolucionárias dessa “Minoria Tenebrosa”. Foram levantadas barricadas populares nos acessos a Lisboa e noutras localidades. Durante a noite, grupos de militares tomaram o lugar dos ativistas civis. Foram detidas várias figuras políticas afetas ao antigo regime, quadros da Legião Portuguesa e alguns manifestantes.
António de Spínola tentou reforçar o poder da Junta de Salvação Nacional, que comandava, e estabelecer o Estado de Sítio. Em consequência, a Comissão Coordenadora do MFA, impôs a demissão dos três generais mais “conservadores” do grupo, Galvão de Melo, Diogo Neto e Silvino Silvério Marques. Derrotado, Spínola demitiu-se a 30 de setembro, sendo substituído por Costa Gomes. No seu discurso de renúncia, Spínola denunciou certas políticas do governo e prenunciou o caos, a anarquia e novas formas de escravatura.
Com a derrota da direita civil, fechou-se o que seria considerado o primeiro ciclo do PREC.



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