quarta-feira, 23 de abril de 2014

O PPD/PSD/ALCOBAÇA EM SESSÕES DE ESCLARECIMENTO DE ALFEIZERÃO, CASAL DO AMARO, VIMEIRO E TURQUEL (1975). ZARAGATA EM PATAIAS.

 


O PPD/PSD/ALCOBAÇA EM SESSÕES DE ESCLARECIMENTO DE ALFEIZERÃO, CASAL DO AMARO, VIMEIRO E TURQUEL (1975).
ZARAGATA EM PATAIAS.

Fleming de Oliveira


Nos tempos do PREC, as sessões de esclarecimento do PPD em Alfeizerão eram de sobremaneira agitadas, o que não impedia, antes pelo contrário, que fossem concorridas.
Numa freguesia aonde o PPD sempre obteve, excelentes resultados eleitorais, a sede da freguesia destoava dos casais vizinhos (Casal Pardo, Casal Velho, Sapeiros, Casal de Stª Quitéria, etc.), graças a um pequeno, mas ativo, grupo esquerdista local, pouco politizado, mas supostamente alinhado com o MRPP ou LCI (não se sabia ao certo), a que se juntava Rui Perdigoto, estudante, provocador, barulhento e pouco esclarecido.

Na campanha para a eleição da Assembleia Constituinte em 1975, apesar de ser previsível perturbação no decorrer da sessão que o PPD marcara para uma sexta-feira à noite no Salão Paroquial, nem por isso o Prior de Alfeizerão sugeriu que fosse cancelada.
No palco, foram instaladas várias cadeiras e uma mesa coberta com as bandeiras do PPD e a nacional para os oradores da noite, Silva Carvalho, Fleming de Oliveira e Gonçalves Sapinho.
Aberta a sessão com Silva Carvalho, a que se seguiu Fleming de Oliveira, os discursos avançaram cautelosamente sobre os vícios do processo em curso e do que, em alternativa, se queria para Portugal. A agitação na plateia crescia aos poucos, polarizada em torno de uns dois ou três pequenos grupos, colocados estrategicamente, um dos quais alegadamente do MRPP-Maria Rita Pum-Pum ou LCI.
Silva Carvalho, recordou-me num desses grupos um homem de pulover de gola alta dobrada, que se destacava dos demais e lhe disseram ser um exaltado barbeiro. Os “piropos” da assistência visavam boicotar a sessão, através da perturbação dos discursos.
Entretanto, subiu ao palco Gonçalves Sapinho, acabado de chegar de Lisboa de uma reunião na sede do PPD, possuído de grande ansiedade, entusiasmo e fervor partidário pelo que, quando interveio na fase do diálogo com a assistência, foi uma grande confusão. Ao mesmo tempo, na plateia, um rapaz incitava à agitação, de modo que, quando chegou de novo a vez de Silva Carvalho já não conseguiu mais que tentar conter a temperatura do ambiente, embora sem o conseguir.
O tumulto na assistência, entre os apoiantes e contestatários, excedeu o previsto, tendo a sessão acabado definitivamente, entre ameaças e insultos do género “fascistas e bandidos para a rua”.

G. Sapinho e Fleming de Oliveira saíram da sala, sem problemas de maior pelas traseiras do palco, enquanto Silva Carvalho teve necessidade de ser escoltado por uns encorpados e fiéis amigos do Casal Velho e Casal Pardo que, com destaque para o Armando “Maneta”, evitaram que lhe roubassem o guarda-chuva ou o agarrassem pela perna.

As sessões do PPD no Concelho de Alcobaça, faziam-se durante a semana, também aos sábados, domingos e feriados, ou seja, em qualquer dia e quando havia disponibilidade ou interesse.
Num Domingo à tarde de março ou abril de 1975, houve uma pequena reunião de propaganda eleitoral do PPD, no Casal do Amaro, junto a um frigorífico de fruta e, quando tudo decorria normalmente, apareceu na rua uma caravana automóvel com as bandeiras do MDP/CDE desfraldadas, buzinando fortemente. De imediato, alguns “populares-democráticos”, sentido na pele a provocação, saíram à rua para escorraçar os intrusos.
Terá valido a estes o pedido de calma e moderação por parte dos responsáveis pelo PPD de Alcobaça presentes, pelo que os MDP se afastaram rapidamente, no meio de grande pateada sarcástica e assobios.

Numa sessão que teve lugar no Salão Paroquial, do Vimeiro, num Domingo de manhã, após a missa, com grande surpresa da mesa e da assistência, dois esquerdistas, aliás conhecidos localmente, quiseram intervir no debate, debitando um discurso linear e provocatório.
Obviamente que acabaram por se calar, já que ninguém os queria ouvir. De resto, a assistência era toda, ao fim e ao cabo, composta de bons amigos, com destaque para os Fragosos, os Peraltas e o José Ribeiro (Presidente da Junta em 1976 e que segundo se dizia viabilizou a eleição de Vasco da Gama Fernandes, como primeiro Presidente da Assembleia Municipal, em detrimento de Gonçalves Sapinho, para agradar a Miguel Guerra). Seja como for, pouco depois era motorista na Câmara, aonde ficou vários anos.
A propósito das sessões no Vimeiro, que eram para o PPD como estar em casa, Silva Carvalho lembra uma, com a presença de um militante da primeira hora e da Marinha Grande, o Pastor Evangélico Dr. Santos Martins que abordou, com eloquência, a ética marxista, perante uma assistência inicialmente atenta mas, verdade seja dita, nem sempre a compreender a erudita intervenção.

Pelo humor que se revestiu, Mário Amaral (PS) recorda um episódio ocorrido também, por essa altura, no Vimeiro.
Numa sessão de propaganda do PS, um dos presentes perguntou-lhe, ingenuamente, qual a sua filiação partidária.
-Sou do PS, respondeu Amaral.
-Eh! Meu querido amigo, eu também sou do CDS.
De pronto deu-lhe um forte abraço e um beijo, perante a gargalhada dos que perceberam a confusão.

Em Turquel, o ambiente sempre foi favorável ao PPD, onde havia amigos como o Luís Tinta Galinha, Lurdes Costa Ribeiro e outros.
Numa sessão, a preparar as eleições para a Assembleia Constituinte, num Domingo ao fim da tarde, com a sala bem composta, entrou pela coxia central um indivíduo já bebido, que pretendia dirigir-se à mesa. Acontece que tropeçou e caiu, provocando fortes gargalhadas entre os assistentes. Mas não se desmanchou pelo que, recomposto, disse com a voz um pouco presa:
-O que é que tem? Em democracia, só caio no PPD.

E aquela cena de pancadaria em Pataias, entre dois cunhados?
Em Pataias, dois cunhados, um apoiante do PPD e o outro do PC, envolveram-se numa briga, a porta do café, por causa de uma dívida, proveniente da compra de uma sepultura familiar. Constava que o do PPD, aliás mal de dinheiro, não pagou a sepultura e o outro, incitado pela sogra, enervado depois de a ter reclamado por várias vezes, deu-lhe um valente murro, que lhe fraturou um dente, o que o obrigou a ir tratar-se ao Hospital da Nazaré. Mas em breve estavam feitas as tréguas, até à campanha para a Assembleia Constituinte onde ambos se envolveram em disputa, mas desta vez só verbal.



Sem comentários: