O PPD/PSD/ALCOBAÇA EM SESSÕES DE ESCLARECIMENTO DE
ALFEIZERÃO, CASAL DO AMARO, VIMEIRO E TURQUEL (1975).
ZARAGATA EM PATAIAS.
Fleming de Oliveira
Nos tempos do PREC, as sessões de esclarecimento do PPD
em Alfeizerão eram de sobremaneira agitadas, o que não impedia, antes pelo
contrário, que fossem concorridas.
Numa freguesia aonde o PPD sempre obteve, excelentes
resultados eleitorais, a sede da freguesia destoava dos casais vizinhos (Casal
Pardo, Casal Velho, Sapeiros, Casal de Stª Quitéria, etc.), graças a um
pequeno, mas ativo, grupo esquerdista local, pouco politizado, mas supostamente
alinhado com o MRPP ou LCI (não se sabia ao certo), a que se juntava Rui
Perdigoto, estudante, provocador, barulhento e pouco esclarecido.
Na campanha para a eleição da Assembleia Constituinte em
1975, apesar de ser previsível perturbação no decorrer da sessão que o PPD
marcara para uma sexta-feira à noite no Salão Paroquial, nem por isso o Prior
de Alfeizerão sugeriu que fosse cancelada.
No palco, foram instaladas várias cadeiras e uma mesa
coberta com as bandeiras do PPD e a nacional para os oradores da noite, Silva
Carvalho, Fleming de Oliveira e Gonçalves Sapinho.
Aberta a sessão com Silva Carvalho, a que se seguiu
Fleming de Oliveira, os discursos avançaram cautelosamente sobre os vícios do
processo em curso e do que, em alternativa, se queria para Portugal. A agitação
na plateia crescia aos poucos, polarizada em torno de uns dois ou três pequenos
grupos, colocados estrategicamente, um dos quais alegadamente do MRPP-Maria Rita Pum-Pum ou LCI.
Silva Carvalho, recordou-me num desses grupos um homem
de pulover de gola alta dobrada, que se destacava dos demais e lhe disseram ser
um exaltado barbeiro. Os “piropos” da
assistência visavam boicotar a sessão, através da perturbação dos discursos.
Entretanto, subiu ao palco Gonçalves Sapinho, acabado de
chegar de Lisboa de uma reunião na sede do PPD, possuído de grande ansiedade,
entusiasmo e fervor partidário pelo que, quando interveio na fase do diálogo
com a assistência, foi uma grande confusão. Ao mesmo tempo, na plateia, um
rapaz incitava à agitação, de modo que, quando chegou de novo a vez de Silva
Carvalho já não conseguiu mais que tentar conter a temperatura do ambiente,
embora sem o conseguir.
O tumulto na assistência, entre os apoiantes e
contestatários, excedeu o previsto, tendo a sessão acabado definitivamente,
entre ameaças e insultos do género “fascistas
e bandidos para a rua”.
G. Sapinho e Fleming de Oliveira saíram da sala, sem
problemas de maior pelas traseiras do palco, enquanto Silva Carvalho teve
necessidade de ser escoltado por uns encorpados e fiéis amigos do Casal Velho e
Casal Pardo que, com destaque para o Armando
“Maneta”, evitaram que lhe roubassem o guarda-chuva ou o agarrassem pela
perna.
As sessões do PPD no Concelho de Alcobaça, faziam-se
durante a semana, também aos sábados, domingos e feriados, ou seja, em qualquer
dia e quando havia disponibilidade ou interesse.
Num Domingo à tarde de março ou abril de 1975, houve uma
pequena reunião de propaganda eleitoral do PPD, no Casal do Amaro, junto a um
frigorífico de fruta e, quando tudo decorria normalmente, apareceu na rua uma
caravana automóvel com as bandeiras do MDP/CDE desfraldadas, buzinando
fortemente. De imediato, alguns “populares-democráticos”,
sentido na pele a provocação, saíram à rua para escorraçar os intrusos.
Terá valido a estes o pedido de calma e moderação por
parte dos responsáveis pelo PPD de Alcobaça presentes, pelo que os MDP se
afastaram rapidamente, no meio de grande pateada sarcástica e assobios.
Numa sessão que teve lugar no Salão Paroquial, do
Vimeiro, num Domingo de manhã, após a missa, com grande surpresa da mesa e da
assistência, dois esquerdistas, aliás conhecidos localmente, quiseram intervir
no debate, debitando um discurso linear e provocatório.
Obviamente que acabaram por se calar, já que ninguém os
queria ouvir. De resto, a assistência era toda, ao fim e ao cabo, composta de
bons amigos, com destaque para os Fragosos, os Peraltas e o José Ribeiro
(Presidente da Junta em 1976 e que segundo se dizia viabilizou a eleição de
Vasco da Gama Fernandes, como primeiro Presidente da Assembleia Municipal, em
detrimento de Gonçalves Sapinho, para agradar a Miguel Guerra). Seja como for,
pouco depois era motorista na Câmara, aonde ficou vários anos.
A propósito das sessões no Vimeiro, que eram para o PPD
como estar em casa, Silva Carvalho lembra uma, com a presença de um militante
da primeira hora e da Marinha Grande, o Pastor Evangélico Dr. Santos Martins
que abordou, com eloquência, a ética marxista, perante uma assistência
inicialmente atenta mas, verdade seja dita, nem sempre a compreender a erudita
intervenção.
Pelo humor que se revestiu, Mário Amaral (PS) recorda um
episódio ocorrido também, por essa altura, no Vimeiro.
Numa sessão de propaganda do PS, um dos presentes
perguntou-lhe, ingenuamente, qual a sua filiação partidária.
-Sou do PS,
respondeu Amaral.
-Eh! Meu querido amigo, eu também sou do CDS.
De pronto deu-lhe um forte abraço e um beijo, perante a gargalhada
dos que perceberam a confusão.
Em Turquel, o ambiente sempre foi favorável ao PPD, onde
havia amigos como o Luís Tinta Galinha, Lurdes Costa Ribeiro e outros.
Numa sessão, a preparar as eleições para a Assembleia
Constituinte, num Domingo ao fim da tarde, com a sala bem composta, entrou pela
coxia central um indivíduo já bebido, que pretendia dirigir-se à mesa. Acontece
que tropeçou e caiu, provocando fortes gargalhadas entre os assistentes. Mas
não se desmanchou pelo que, recomposto, disse com a voz um pouco presa:
-O que é que tem?
Em democracia, só caio no PPD.
E aquela cena de pancadaria em Pataias, entre dois
cunhados?
Em Pataias, dois cunhados, um apoiante do PPD e o outro
do PC, envolveram-se numa briga, a porta do café, por causa de uma dívida,
proveniente da compra de uma sepultura familiar. Constava que o do PPD, aliás
mal de dinheiro, não pagou a sepultura e o outro, incitado pela sogra, enervado
depois de a ter reclamado por várias vezes, deu-lhe um valente murro, que lhe
fraturou um dente, o que o obrigou a ir tratar-se ao Hospital da Nazaré. Mas em
breve estavam feitas as tréguas, até à campanha para a Assembleia Constituinte
onde ambos se envolveram em disputa, mas desta vez só verbal.
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