COMÍCIOS DE ONTEM, ARRUADAS DE HOJE.
Fleming de Oliveira
A forma como os comícios são, atualmente, organizados é
bem diferente dos tempos do PREC e mesmo de alguns anos depois.
O improviso, do pós-25 de abril, deu lugar a uma
profissionalização e a custos significativos. À volta do líder existe uma super
produção teatral, que inclui, se necessário, mais que um palco, uma caravana e
pessoal de apoio, inclusive de imagem.
Hoje em dia, os comícios são concebidos como um
espetáculo mediático. Por isso, a cenografia é um dos elementos dominantes,
para que o show decorra de forma adequada a ser transmitido nas televisões, em
horário nobre.
Antes da campanha são visitados os locais onde vão ter
lugar. Por vezes, é trabalho feito com grande antecedência. A partir desse
levantamento é concebida a cenografia do palco, a iluminação, a colocação dos
materiais, a entrada e a saída do líder, o púlpito, a posição das câmaras, a
disposição da audiência e a maneira de evitar espaços vazios, a música, etc.. O mesmo se passa com o acompanhamento
dos media, especialmente na altura em
que está a ter lugar o comício.
Um dos alegados indícios do crescente desinteresse pela
política partidária portuguesa (diz-se que entre a juventude, mas não só), é a
imagem dos comícios cada vez mais vazios e sem alma, com uns cromos arrebanhados pelas secções
locais, normalmente à mistura de cantoria e comida, febras, bacalhau com
natas…, pois a sardinha assada e copos de plástico passaram de moda.
Os comícios foram sendo trocados pelas arruadas, pelos
jantar-comício, em que o pessoal afeto e já convencido comparece a troco de um
repasto barato, para ir ouvir os candidatos da sua preferência.
Hoje em dia as campanhas eleitorais saiem caras.
É um dos custos de democracia. Ninguém espera que a
política, feita principalmente de comunicação, se possa executar sem
sacrifícios. Mas ninguém pode utilizar o argumento de país pobre, campanha
pobre.
Sem comentários:
Enviar um comentário