terça-feira, 29 de abril de 2014

COMÍCIOS DE ONTEM, ARRUADAS DE HOJE.




 

COMÍCIOS DE ONTEM, ARRUADAS DE HOJE.

Fleming de Oliveira



A forma como os comícios são, atualmente, organizados é bem diferente dos tempos do PREC e mesmo de alguns anos depois.
O improviso, do pós-25 de abril, deu lugar a uma profissionalização e a custos significativos. À volta do líder existe uma super produção teatral, que inclui, se necessário, mais que um palco, uma caravana e pessoal de apoio, inclusive de imagem.
Hoje em dia, os comícios são concebidos como um espetáculo mediático. Por isso, a cenografia é um dos elementos dominantes, para que o show decorra de forma adequada a ser transmitido nas televisões, em horário nobre.
Antes da campanha são visitados os locais onde vão ter lugar. Por vezes, é trabalho feito com grande antecedência. A partir desse levantamento é concebida a cenografia do palco, a iluminação, a colocação dos materiais, a entrada e a saída do líder, o púlpito, a posição das câmaras, a disposição da audiência e a maneira de evitar espaços vazios, a música, etc.. O mesmo se passa com o acompanhamento dos media, especialmente na altura em que está a ter lugar o comício.

Um dos alegados indícios do crescente desinteresse pela política partidária portuguesa (diz-se que entre a juventude, mas não só), é a imagem dos comícios cada vez mais vazios e sem alma, com uns cromos arrebanhados pelas secções locais, normalmente à mistura de cantoria e comida, febras, bacalhau com natas…, pois a sardinha assada e copos de plástico passaram de moda.

Os comícios foram sendo trocados pelas arruadas, pelos jantar-comício, em que o pessoal afeto e já convencido comparece a troco de um repasto barato, para ir ouvir os candidatos da sua preferência.

Hoje em dia as campanhas eleitorais saiem caras.
É um dos custos de democracia. Ninguém espera que a política, feita principalmente de comunicação, se possa executar sem sacrifícios. Mas ninguém pode utilizar o argumento de país pobre, campanha pobre.




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