quinta-feira, 24 de abril de 2014

TEMPOS DE BRASA DESTITUIÇÃO DA CA DA CÂMARA MUNICIPAL DE ALCOBAÇA E ASSALTO À SEDE DO PARTIDO COMUNISTA (julho de 1975). FRANCO, COM UMA VERSÃO PORVENTURA EXAGERADA DOS ACONTECIMENTOS. UMA NOIVA ESCOLTADA ATÉ AO CASAMENTO POR UMA CHAIMITE DO MFA. UM TENENTE QUE FOI O ÚLTIMO A SABER… UMA LÁPIDE FUNERÁRIA EM CASA. O PAÍS EM EFERVESCÊNCIA




TEMPOS DE BRASA
DESTITUIÇÃO DA CA DA CÂMARA MUNICIPAL DE ALCOBAÇA E ASSALTO À SEDE DO PARTIDO COMUNISTA (julho de 1975).
FRANCO, COM UMA VERSÃO PORVENTURA EXAGERADA DOS ACONTECIMENTOS.
UMA NOIVA ESCOLTADA ATÉ AO CASAMENTO POR UMA CHAIMITE DO MFA.
UM TENENTE QUE FOI O ÚLTIMO A SABER…
UMA LÁPIDE FUNERÁRIA EM CASA.
O PAÍS EM EFERVESCÊNCIA



Fleming de Oliveira


A CA da Câmara Municipal de Alcobaça, presidida por José Pinto Júnior, militante do PC, resultou de demoradas e pouco pacíficas negociações no Governo Civil de Leiria.
Aquando da sua concorrida tomada de posse no Governo Civil de Leiria, a 6 de maio de 1975, Fleming de Oliveira, mandatado pela Comissão Concelhia de Alcobaça do PPD, pediu a palavra para contestar a Presidência, com o argumento que o lugar iria ser ocupado pelo indigitado por um partido minoritário, não representativo em face dos recentes resultados eleitorais para a Assembleia Constituinte.
Rocha e Silva, Governador Civil, à falta de melhor argumento e confrontado com a contestação popular à CA de José Pinto, disse numa entrevista de  Mário Vazão para O ALCOA que “o Sr. Pinto está na Câmara por comum acordo dos partidos políticos. Houve aqui, depois da saída do Eng. Silvestre, muitas sessões para se formar a Câmara de Alcobaça. Se apareceu como está, foi de comum acordo com os partidos políticos, eles é que representam a vontade de povo. Se o Sr. Pinto é filiado no PC não interessa, pois o PPD e o PS não apresentaram candidatos, pelo menos à altura”.
Pinto não era propriamente um ingénuo, além do que não tinha qualquer preparação, nem currículo para o lugar, como era público e notório, além de ser um fiel ortodoxo militante do PC. Pouco tempo depois de ter tomado posse como Presidente da CA, desabafou a Mário Vazão que precisavam de alguém para o lugar, para queimar. “Eu nada tenho a perder e prontifiquei-me”.

A muitos alcobacenses, Pinto sempre deu a ideia, que gostava muito do lugar e estava disposto a continuar, a “vender a alma ao diabo”, apesar da falta de qualificação, de apoio popular e dos acontecimentos de ocupação da Câmara. Segundo ainda Mário Vazão, Pinto contou que o Governador Civil de Leiria, insistiu para que não se demitisse, “mas pus-lhe condições, como seja a remodelação dos meus auxiliares. Pelo menos dois não concordo que continuem”.
Pinto ao falar assim parecia um Primeiro Ministro a falar dos Secretários de Estado…

O Engº Costa e Sousa (chefe dos Serviços Técnicos da CMA) contou-me que à saída da última reunião presidida por José Pinto, pouco antes dos acontecimentos que vieram a culminar com o assalto à Câmara e a destituição da CA, um dos elementos desta, ligado ao PS, avisou-o que um dia destes ia haver barulho, porque o pessoal da Benedita vinha sobre Alcobaça e a Câmara. Nessa época, uma das grandes reivindicações da Benedita era a falta de água, pois havia dias em que nenhuma saía das torneiras. Costa e Sousa supôs que essa era a razão da observação e, portanto, da reclamação dos beneditenses, que aliás encontravam-se em grande número em frente aos Paços do Concelho. Estava enganado, o que é tanto mais de admirar já que ninguém melhor do que ele sabia o que se passava no Concelho.

Na segunda-feira, 21 de julho de 1975, quando Costa e Sousa chegou à Câmara, deparou no largo fronteiro com uma inusitada movimentação popular, talvez umas centenas de pessoas, que com o tempo foi aumentando, “com vista a varrer os comunistas”, como dizia Luís Tereso, de Turquel. Costa e Sousa só no momento em que entrou no edifício é que percebeu que este estava já ocupado por manifestantes, que exigiram a Pinto que lhes abrisse a Sala das Sessões, a porta do seu gabinete e entretanto o haviam aí detido (sem contudo o molestarem). No momento em que este tentava sair do gabinete, para se ir embora, trazia na mão uma pequena faca de cortar papel, sem qualquer intuito defensivo, muito menos ofensivo pelo que ao Voz de Alcobaça, declarou que “é falso que eu tenha puxado de uma faca para alguém, como qualquer testemunha consciente poderá comprovar”. No entanto, correu pela Vila o boato que José Pinto estava armado. Na mesma entrevista aquele jornal, ainda declarou que “já sabia, há uns três ou quatro dias que alguma coisa se estava a preparar. Por isso na segunda-feira fui para a Câmara ainda mais cedo que o costume. Pelas 10 horas o Governador Civil (Rocha e Silva) telefonou-me, mas apenas lhe pude comunicar o que já constava, que viriam protestar contra o Presidente e a Comissão Administrativa”. Mário Vazão, após ter acontecido a ocupação dos Paços do Concelho e, identificando-se como jornalista de O Alcoa, veio a lá entrar. Contou-me que se lembra que, quando subiu as escadas, era grande a confusão. No primeiro andar a mesma barafunda. Algumas, poucas, pessoas conhecidas. No gabinete do Presidente da Câmara, viu José Pinto cercado por um grupo de pessoas determinadas e de aspeto hostil, que se dispunham a incomodar o pobre homem, talvez até deitá-lo pela janela abaixo.
“Logo que entrei, o José Pinto olhou-me e fez uma cara que ainda recordo. Ficou com a sensação que estava salvo! O grupo envolvente afastou-se e ele juntou-se a mim, como tábua de salvação e disse: Diga a estes senhores que nada tenho feito de mal”.

Pinto louvava-se de ser o primeiro a entrar na CMA pelas 9h30m e de só sair quando nada mais houvesse que despachar. “Além de que nestes poucos meses já abati seis quilos”. Ao Voz de Alcobaça, José Pinto também declarou que, “quando tocou a sirene encontrava-me no gabinete com a vereadora Celeste Vilhena, cuja camaradagem aproveito para enaltecer. (…) Quiseram que abrisse a Sala das Sessões e acedi ao desejo. Antes de abrir, na entrada, pedi-lhes apenas que nada destruíssem. Se quisessem destruir, destruíssem-me a mim, os bens eram património de todos nós”.

Quando Hermínio Fortes e José Firmino Franco, que regressavam da Nazaré, aonde tinham ido buscar uma carrada de areia, para os Montes e pararam em Alcobaça, frente à Câmara, para verem o que se passava, aproximaram-se de um grupo de militares, alguns dos quais reconheceram este último, pelo facto de lhes ter dado recruta em Leiria.
Foi afetuoso o reencontro, com cumprimentos e abraços, pelo que estes os deixaram passar a barreira de segurança e dirigirem-se para a escadaria de acesso. No alto desta, encontravam-se outros dois militares, que não deixavam entrar ninguém. José Franco aproximou-se deles e como eram seus conhecidos e sabia que nada tinham de revolucionários, agarrou na arma de um, puxou a culatra e verificou que tinha uma bala pronta a disparar. De imediato, virou-se para o outro e obrigou-o a puxar a culatra, para retirar a bala. Com uma arma na mão, e não obstante estar vestido à civil, virou-se para os militares colocados em frente ao edifício, nada interessados em confrontos e sem qualquer comando, executou uma operação de ordem unida, como nos tempos de instrução na tropa. “Atenção p´lutão …irme, sen…, op… à vontade. Meus meninos toca a tirar o carregador, puxar a culatra atrás, culatra à frente, disparar. Voltem a colocar os carregadores e ai de quem voltar a meter bala na câmara”.
Nessa altura, vindo do interior do edifício, surgiu um alferes a querer saber o que se estava a passar. Franco vira-se para ele e com descaramento, “cala-te agora quem tem a bala na câmara sou eu”. O alferes indeciso, pouco motivado, e amedrontado, como os demais militares, que aliás tinham bala na câmara em posição de disparar, pediu calma a Franco e nada fez.
Franco, doravante totalmente confiante e sentindo-se senhor da situação, dirigiu-se aos dois militares que defendiam a entrada no edifício da Câmara e repetiu-lhes a ameaça “ai de vocês que voltem a meter a bala e agora vão me deixar entrar. Quietinhos”.
Em seguida, fez sinal a Hermínio Fortes, para o acompanhar e quando este se lhe juntou para entrar Franco ainda lhes disse “este veio comigo e vamos entrar. Arredem-se para lá e juizinho, que reconheço as vossas trombas mesmo às escuras”.
No interior, encontravam-se poucas pessoas, além de Pinto, que tremia de medo, agarrado a uma esferográfica (ou à tal faca?) e a vereadora Celeste, bem como jornalistas, alguns dos quais estrangeiros.
Um jornalista da inglesa ITV-Thames Television, abordou Franco para uma entrevista, que se realizou em inglês. Hermínio Fortes, que falava francês, deu uma entrevista para uma estação francesa. Perto, uma senhora dava, em voz muito alta, uma entrevista para a televisão francesa, reafirmando sucessivamente que, “em Alcobaça não queremos comunistas. Os comunistas e o Cunhal que vão para a Sibéria”. Mais tarde dois eufóricos alcobacenses, a trabalhar em Londres, telefonaram para a Rosa, namorada de Franco, dizendo que o tinham visto no noticiário da noite da BBC e gostado muito.

Como Pinto continuava assustado, abandonado pelos amigos e sem reação, Hermínio Fortes ainda sugeriu ir buscar a sua camioneta, que se encontrava perto, mas carregada de areia, para o retirarem em segurança, o levarem a casa e entregarem à família. Mas não foi necessário.
Com a hora do almoço chegou o apetite e, como Pinto continuava detido sem que os populares o deixassem sair, as sandes que se mandaram buscar a um café próximo, tal como o tabaco, foram distribuídas equitativamente pelos presentes.

Ao princípio da tarde um megafone, junto ao largo da Câmara, anunciou que da sede do PC estavam a retirar armas. De súbito, a multidão que ocupava aquele largo, estimada em mais de 1500 pessoas, dirigiu-se para a Praça Afonso Henriques, tendo dado origem à movimentação que culminou com o assalto e destruição de parte da sede do PC e do seu recheio, que foi lançado à rua.
José Pinto continuava detido no seu gabinete na Câmara. Os seus correligionários tinham desaparecido, como ratos. Esta é, também, a opinião de Mário Vazão pois “José Pinto tinha sido abandonado à sua sorte pelos amigos políticos e se eu não tivesse lá aparecido, que não era da sua política, o homem seria bastante incomodado. De tal modo”, acrescentou Vazão que, “enquanto foi vivo o José Pinto quando me encontrava na rua sempre se mostrou reconhecido, embora eu não tivesse feito nada de especial. Foram as circunstâncias. Ainda recordo esse dia. Não vi quaisquer vereadores. Tinha tudo fugido, inclusivamente os seus mais próximos, como os do CDE”.
Segundo se diz os ratos se puderem abandonam o barco antes de ir ao fundo.

Gilberto Coutinho negou-me este facto, “nunca ouvi tal lamento da boca de José Pinto. É pena ele não estar vivo para assim repor os pontos nos ii’s, desfazendo todas as dúvidas”.
Embora tivesse pedido a exoneração ao Ministro da Administração Interna, um telefonema do Governo Civil de Leiria comunicou que ela não fora aceite, o que levou Pinto a comentar que, “têm de aceitar porque não fico cá mais tempo”.
Era já meia-noite quando foi decidido deixar José Pinto regressar a casa. Todavia, dado o estado de exaltação de alguns populares entendeu-se, e bem, que era um risco permitir que fosse sozinho.
Devia ser acompanhado pela PSP, pela tropa do MFA ou pelos populares? Pinto decidiu por si, argumentando, para estes, que “foram vocês que me detiveram, devem ser vocês a acompanhar-me”. Assim aconteceu, tendo saído com os populares/ocupantes, que o entregaram à família.
Gilberto Coutinho atesta que, “ao mesmo tempo que Câmara era assaltada, estava eu a receber ameaças de que o meu estabelecimento ia ser incendiado. Essas ameaças tinham já começado antes e prolongaram-se por todo o dia, feitas principalmente através de telefonemas. Por acaso sei quem foram os autores de alguns dos telefonemas, mas nunca o disse, nem usei de vingança contra eles”.

Para Basílio Martins, “bem opostos ao espírito de convivência democrática que animava os defensores do 25 de Abril, foram os acontecimentos ocorridos a 21 de julho de 1975. Primeiro a invasão dos Paços do Concelho, depois o assalto ao Centro de Trabalho do Partido Comunista Português, durante o qual foram infligidas graves agressões sobretudo a dois dos militantes que se encontravam no seu interior, Américo Areias e Rui Baltasar.”

Nesse mês de julho de 1975, o País estava em turbulência político-social pelo que, os acontecimentos de Alcobaça, têm de compreender-se e inserir-se na movimentação mais ampla que ocorria.
Havia assim factos insólitos, como aquele de um automóvel que conduzia uma jovem em trajos nupciais, ser escoltada por uma viatura blindada do MFA. Aconteceu no sábado de 19 de julho, na Bobadela, Moscavide, perante a surpresa de muita gente.
A noiva deslocava-se da sua residência de solteira para o casamento a realizar na Conservatória do Registo Civil. Entre a chegada e a partida levantaram-se barricadas populares que defendiam a cidade de Lisboa. Determinados a evitar que o atraso impedisse a cerimónia, militares que estavam a reforçar os piquetes de vigilância, escoltaram a noiva, com uma chaimite, até ao Registo Civil.

E o caso do tenente do exército Manuel Fernandes, parente do cap. Fernandes que veio a estar envolvido no desvio de cerca de 1.000 G3 do Depósito de Beirolas, que saiu de casa pelas 8h da manhã, deixando a mulher ainda na cama?
Para remediar um esquecimento, voltou a casa e apercebeu-se da presença de um intruso, que conseguiu fechar numa sala. Convencido que era um assaltante, telefonou para a Polícia Militar, mas quando os militares chegaram, verificaram que afinal era um colega da unidade.
Este tenente foi mesmo o último a saber, como é da praxe….
Na Câmara de Alcobaça, segundo me contou Costa e Sousa, um dia foi recebido um pedido insólito, não de ajuda financeira ou de emprego, como era vulgar. Uma senhora dos seus setenta anos, embora rija e de boa saúde, já havia encomendado a sua lápide funerária, num canteiro em S. Jorge.
Como a tinha em casa, pretendia que a Câmara lhe arranjasse um lote a devido tempo no cemitério. A Câmara entendeu que não lhe devia negar esta “justa” pretensão, pelo que lhe vendeu o terreno.

O PC assegura que nunca distribuiu armas aos seus militantes.
Alguns factos ocorridos durante o PREC, desmentem esta afirmação, que não é apenas fruto de “vox populi”.
Vejamos um acontecimento ocorrido nos Montes, onde os nomes dos intervenientes, não serão referidos, mas para bom entendedor…, aquando dos incidentes com a sede do PC e outros.
Numa daquelas noites quentes do verão de 1975, cerca das três horas da manhã, M (…), residente nos Montes, ao chegar próximo de casa do pai, ouviu vozes vindas do interior duma adega próxima. Aproximou-se e escondeu-se numa travessa lateral, ficando à escuta. Apercebeu-se que dentro estavam umas quatro pessoas, reconhecendo pela voz, dois de Montes, L (…) e R (…), conhecidos ativistas muito ligados ao PC e apenas um de Alcobaça, o “controleiro” C (…).
No desenrolar da conversa (num tom de sussurro), constatou que se tratava duma entrega de armas por parte dos indivíduos de Alcobaça aos de Montes, ao que estes diziam que “(…) cinco chegam, não são necessárias mais, com cinco tomamos conta da situação, dá para controlar isto. Eles não valem nada.”
M (…) que estava à escuta do lado de fora, esperou que o grupo se se separasse e fosse embora e pensou para si que, “tenho que ver que armas são essas, que estão em tão boas mãos”.
Por acaso, como conhecia bem os cantos à casa, neste caso à adega, por se dar bem com o dono L (…), resolveu entrar. Acontece que apesar de existir uma pequena porta lateral, com truque, mas o qual o próprio dono lhe tinha ensinado, o principal problema era o cão, que se encontrava ali preso e que não parava de ladrar. M (…) abriu a porta, entrou sorrateiramente e como reconhecia o interior, mesmo às escuras, julgou saber que as armas estariam escondidas debaixo de uns tonéis. Pé ante pé, para não acordar ninguém, nem excitar o cão, que aliás o conhecia, apalpou e não se enganou, lá se encontrava um embrulho de pano com as armas de guerra. Como tinha sido recentemente militar, percebeu que se tratavam de espingardas G3, de facto as cinco. O seu primeiro pensamento foi de levar as armas, mas pensou melhor e refletindo achou que isso seria imprudente. Conhecendo as armas como a palma da mão, decidiu, desmontar uma a uma e mesmo às escuras, retirou-lhes o percutor. Voltou a montar as armas, colocou-as no embrulho, meteu os percutores no bolso e saiu sem fazer barulho, apenas o cão deu por ele com um ou dois latidos de despedida. Estas armas nunca foram utilizadas, e os percutores ainda hoje se encontram na posse de M (…), que se ri do golpe de mestre que executou e que as vítimas possivelmente nunca perceberam.

“Eu próprio testemunhei (contou-me o vendedor de uma casa comercial de Coimbra, Aniceto Barbosa), que num café de estrada, ao lado da EN 1, depois da Batalha e antes de chegar a S. Jorge, um cliente assomou ao balcão, pediu uma cerveja e uma sande mista e meteu conversa com o empregado, perguntando se a sede do PC, em Alcobaça, ainda estava inteira.
Como o empregado lhe respondesse que supunha que sim, o cliente disse que vivia em Lisboa, mas era natural de Aljubarrota, pelo que achava que era uma vergonha ainda nada ter sido feito, pelo que o empregado lá teve que retorquir que supunha que em Alcobaça já estavam a pensar no assunto. E estavam.

A cronologia dos acontecimentos da segunda-feira, dia 21 de julho de 1975, em Alcobaça, tem sido descrita por vários intervenientes de ambos os lados da barricada, aliás de maneira diversa e por Mário Vazão, numa reportagem que O Alcoa publicou e que ainda serve de modelo. Vazão sobre este assunto disse-me que “esse dia longínquo marcou qualquer um e no caso do jornalista, mesmo amador, são coisas que não se esquecem. Sentimos que estávamos a presenciar a História e a escreve-la para as gerações vindouras”.

A sirene dos Bombeiros Voluntários de Alcobaça tocou numa espécie de senha às 11h40m.
Isto tinha sido debatido em várias reuniões, nomeadamente no Casal Velho, e noutra realizada na sede de Alcobaça do PPD. Estiveram presentes nesta, entre outros, Firmino Franco, Lino Catarino, Miguel Damásio, Casimiro Guerra, Fleming de Oliveira, Carvalho Lino, este que fazia parte da CA da Câmara. A iniciativa não foi do PPD, mas algumas pessoas do partido estavam ao corrente do que se passava. Silva Carvalho, membro da Comissão Política, sobre este assunto não tinha informação, ao contrário de Sapinho que estava ao corrente, mas que como Constituinte, salvaguardou-se, não participou em reuniões e no dia ausentou-se, “prudentemente” (segundo alguns), ao que se disse, para o Sabugal.
Depois do almoço, no centro da Vila, na Praça D. Afonso Henriques e arredores, estava uma multidão contida de mais de duas mil pessoas, que só ainda não tomara de assalto a sede do PC, por estar guardada por militares, que foram chamados de Leiria para a defender. Alguns populares de Montes e Alfeizerão subiram para cima de alguns carros militares. Havia receio das consequências de uma ação pois, no rés do chão, encontrava-se instalada a Farmácia Campeão, aonde havia produtos inflamáveis ou até explosivos. Houve pessoas que garantiram, como Piedade Neto(mais tarde jornalista da Rádio Cister), que foram vistas armas a entrar no prédio, passando por cima do telhado, embrulhadas em panos, apesar de as coronhas terem ficado à mostra. Esta afirmação veio mais tarde a ser expressamente e publicamente desmentida por Rui Baltasar, num programa da Rádio Cister.

O propósito de assaltar a sede do PC não era especialmente novo, original nem resultou de um impulso de momento. Na opinião de Vazão que me transmitiu, pouco coincidente com outras, apenas ocorreu no Salão Nobre da Câmara “já depois de eu lá estar e com o José Pinto junto a mim como se eu fosse um super-homem. Um elemento do PS disse mais ou menos isto: consta que na sede do PC têm armas. Vamos assaltá-la para se saber se é verdade”.
Dois rapazotes conseguiram, a meio da tarde e socorrendo-se de uma corda, trepar pelas traseiras do prédio, a partir da Praça da República e retiraram a bandeira da foice e do martelo, perante aplausos vibrantes. Um militar que entretanto entrou na sede do PC, veio à janela mostrar duas armas e dizer que, “com esta, são cinco as já apreendidas”.
“Zé Póvoa”, Firmino Franco e António Malhó, deslocaram-se dos Montes para Alcobaça, onde já tinham estado de manhã frente à Câmara, quando souberam que estava eminente o ataque à sede do PC. Ao chegarem, encontraram muitos manifestantes a ladear a sede, pelo que foram abrindo caminho com dificuldade, até chegaram perto da porta. Entre eles encontrava-se Armindo de Sousa, que trabalhava numa fábrica de rações, com os seus trinta anos, e viera de Leiria com dois amigos, à procura de emoção mas que, por via de dúvidas, não esquecera uma pistola que pertencia ao pai. O local estava a ser guardado por militares, não permitindo a entrada a ninguém. O cerco à sede do PC manteve-se persistente e sem desarmar, até que uns amedrontados comunistas, que se encontravam dentro do edifício, cerca das 19h30m, saíram escoltados por militares, entraram para uma Berliet descapotável. Muitas pessoas que assistiam aos acontecimentos, comentavam à boca cheia que, “eles estão mesmo a pedi-las, e esses malandros, esses filhos da p…  ou eu muito me engano ainda vão te-las hoje forte e feio. Aqueles que saíram já se safaram. Vê como vão aliviados. E se lá ainda ficou alguém, não queria estar na sua pele”.

José Vinagre conta que estes militares eram desajeitados, mesmo mal preparados, pois que até dispararam sob as arcadas da Praça D. Afonso Henriques, o que se revelou perigosíssimo pois, as balas, faziam ricochete e uma delas atingiu um assistente num braço que de imediato começou a sangrar. Cerca das 22h decidiu-se finalmente iniciar, o assalto à sede do PC. Desde há algum tempo, os populares vinham ganhando terreno, avançando, tendo conseguido forçar a porta que dava acesso ao primeiro andar. O primeiro, irrompeu pela escada de madeira de pinho encerado e gasto pelos anos, composta por um só lance e que dava acesso ao piso superior. Neste, existia uma porta em frente e uma outra para a direita que dava acesso à sala principal. Quando estava sensivelmente a meio da subida, a porta em frente abriu-se e daí vieram um ou dois tiros, o que o obrigou a recuar, tropeçando nos degraus. Os que se encontravam na rua, junto à entrada, foram surpreendidos pelo tiroteio, pois supunham que lá já não se encontrava ninguém. De facto, dois militantes comunistas Rui Baltazar e Américo Areias não saíram com os restantes na primeira oportunidade, ficando com dignidade a guardar a sede. Entre os sitiantes, os ânimos exaltaram-se mais, pelo que voltaram a fazer uma investida, desta vez, com vários voluntários, que foram de igual modo recebidos a tiro. Na sequência desta segunda investida, um individuo de grande estatura, residente na zona de São Jorge, encetou uma corrida pelas escadas acima, mandou um pontapé à porta em frente, onde se encontrava o atirador, e avançou dentro. José Acácio dos Santos, contou ao filho que o atirador, talvez por já não ter mais balas tentou apunhalar o intruso, com uma facada. Um outro que o precedia, ao perceber o que estava para acontecer alertou: “cuidado com o filho da p…, o gajo tem uma faca”. O aviso foi mesmo a tempo de se virar, agarrar o braço e desarmar o agressor. Não contendo a sua raiva, agarrou nele e atirou-o pelas escadas, entretanto já ocupadas por populares, que entre socos e pontapés, o enxotaram até à rua, onde ainda foi agredido a pontapé e arrastado até perto da montra da antiga TeleRio. Afinal, na sede do PC havia armas, ainda que só caçadeiras, pois os atacantes foram recebidos a tiro, sofrendo cinco feridos, um dos quais foi levado para o hospital. Como os militares tinham ido embora, a partir daí deixou de haver controlo da situação, pois que os gases lacrimogéneos não foram dissuasores e o recheio, começou a vir rapidamente para a rua. Duas equipas estrangeiras de televisão, uma americana e outra inglesa, filmaram os acontecimentos, cujas imagens os portugueses nunca viram. Américo Areias e Rui Baltazar que tinham ficado na sede enquanto os outros fugiram mal puderam, tiveram de ser assistidos no Hospital, pois ficaram feridos, o que justificou o seu agradecimento público no Voz de Alcobaça, aos camaradas e “verdadeiros democratas”, esperando voltarem breve ao seu convívio. Américo Malhó, contou-me que havendo um militante do PC no solo, que parecia morto, alguém saiu do meio da multidão, ajoelhou-se ao seu lado e pediu com veemência “ele é meu, deixem-me acabar com ele à dentada...”

Na tarde desse dia, José Vinagre, encontrava-se na Benedita a trabalhar no seu estabelecimento comercial, mas ouvindo na rádio, que estavam a ocorrer graves incidentes em Alcobaça, ali se deslocou, cheio de curiosidade. Tendo familiares e amigos nos Estados Unidos, recebeu alguns preocupados telefonemas a inquirir o que se passava. Mais vez, os emigrantes e estrangeiros sabiam o que se passava em Portugal, primeiro que os portugueses, como “no tempo da outra senhora”.
De madrugada, o povo alcobacense que ocupava o edifício da sua CMA, já sem a presença de José Pinto, cuja romântica intenção, no seu dizer linear, “era ver todos os alcobacenses unidos, em prol do progresso da nossa terra”, distribuiu um comunicado em que se destacava o propósito de destituir imediatamente a CA da Câmara maioritariamente, realizar plenários com a presença de um representante do MFA e das freguesias, para eleger um presidente e um vice-presidente, até se realizarem eleições para as autarquias locais. Este propósito, apesar de alguns desenvolvimentos a curto prazo, não teve efeitos, porque a demissão de Pinto não foi aceite e este aceitou, muito gostosamente, voltar ao lugar, de onde fora expulso pelos seus conterrâneos, como se nada de especial tivesse ocorrido… Ele gostava muito do lugar.

No dia seguinte, de manhã, apesar da insistência do encarregado Henrique Pimenta, o pessoal da Câmara sob as suas ordens, responsável pela limpeza das ruas, não queria proceder à remoção do recheio da sede do PC, deitado à rua. De facto, na véspera tinham sido atiradas granadas de gás lacrimogéneo para dispersar a multidão, cujos efeitos ainda se faziam sentir, na medida em que ficara retido nos destroços húmidos pela água utilizada para apagar os pequenos focos de incêndio.
Sabia-se junto dos manifestantes, numa versão diferente da que parece resultar do que conta Vazão, que a senha para a ocupação da Câmara Municipal, era o toque da sirene dos Bombeiros Voluntários de Alcobaça, pelas 11h40. Assim aconteceu.
Estes, pressionados pelos acontecimentos, vieram a emitir um comunicado em que se refere que (…) “no dia 21 de julho, cerca das 11h40 da manhã, foi recebido no quartel um telefonema avisando que havia um incêndio numa casa, perto da Escola do Vimeiro. Como é hábito, a pessoa que atendeu (o motorista) pediu o número do telefone donde provinha o aviso, ligando para lá de seguida, a fim de obter a confirmação. Deste número ninguém atendeu. Perante a dúvida, o motorista contactou telefonicamente o Comandante (Carlos Leão da Silva, vulgo “Caranquejo”) para expor o caso e saber se devia ou não tocar a sirene e este, após ligação ao Vimeiro, donde lhe foi comunicado que não sabiam se efetivamente havia incêndio, mas que os sinos tinham tocado a rebate. Viria a saber-se, mais tarde que, à mesma hora, na Gafa, um grupo de pessoas começava a avançar para a Câmara (…)”.

Basílio Martins, que fazia já parte do Corpo dos Bombeiros Voluntários de Alcobaça, desconhecia obviamente a existência de qualquer senha, tomou como bom o toque da sirene e contou-me que depois, em Alcobaça, dizia-se que “já não percebo nada disto. Quando toca a sirene, costumamos ver pessoas a caminho do quartel, para saberem o que se passa; agora, vai gente a correr para a Câmara”.
Efetivamente, “no tristemente célebre dia 21 de julho de 1975, um dos sinais para o começo da invasão da Câmara Municipal foi dado, pelas 11 horas e 40 minutos, através do toque da sirene dos bombeiros. Segundo a chamada telefónica recebida no quartel, tratar-se-ia dum incêndio numa casa, perto da escola do Vimeiro. Como elemento do Corpo Ativo, fiz parte da guarnição da viatura para o local, onde verificámos ter sido falso alarme”.
Após o regresso do Vimeiro a Alcobaça, tomando conhecimento do que na realidade, se estava a passar, dirigiu-se aos Paços do Concelho, para observar os acontecimentos.
“Mal cheguei ao primeiro andar do edifício, fui reconhecido como ativista do Movimento Democrático e logo hostilizado por vários manifestantes”.
Apercebendo-se do facto, e no intuito de evitar novos pretextos de conflito, alguns agentes da PSP insistiram para que subisse ao Posto, que então funcionava no terceiro andar.
“Lá permaneci até a situação acalmar. Retido, não detido, num ambiente de estima e cordialidade que não esqueço e que até chegou ao ponto de o chefe fazer o favor de partilhar comigo o seu almoço.”

Sobre estes acontecimentos, Artur Faria Borda escreveu (com a veemência habitual), no Voz de Alcobaça, de 1 de agosto que “(…), atos repulsivos, perpetrados por pessoas ignorantes ou mal intencionadas, instigadas por outras de espírito sectário e reacionário, todas, no conjunto, dementadas pela paixão, perante a ineficiência das forças militares encarregadas de manter a ordem. (…) Não tenhamos ilusões. Dias difíceis nos esperam, pelo que se impõe a unidade de todos os portugueses, verdadeiramente interessados no progresso da nossa querida Pátria. Não é com um clima de guerra civil, que se podem superar as dificuldades. (…) Mostremos ao mundo que somos dignos de nós próprios e que saberemos construir um Portugal renovado e radioso”.

Rogério Raimundo, tem uma opinião, não coincidente com a dos “reacionários”.
A versão em que acredita e me deu, vem dos seus camaradas Américo Areias e Rui Baltazar que “resistiram e sofreram a pancadaria dos assaltantes arruaceiros e dos agitadores contrarrevolucionários que percorreram o país, bem pagos, para fomentar esta desordem, numa onda anticomunista e para instalarem o medo juntos dos que lutavam pelos ideais da Revolução de abril”.
Já há alguns dias, havia permanência de comunistas na sede, dia e noite, para a defenderem. De acordo com Rogério Raimundo, perto da hora de almoço, o militar que comandava a defesa do Centro de Trabalho, conseguiu convencer 28 dos 30 que lá estavam, a serem evacuados numa chaimite, apesar de afirmar que nunca permitiria que alguém invadisse a sede do PCP, “só por cima do meu cadáver”. Afinal não houve cadáver nenhum.
“O pior só se passou quando este grupo de militares foi substituído, pois o novo comandante das tropas destacado chegou, abandonou a zona de proteção e foi o descalabro”.
Rui Baltazar, assume que houve alcobacenses que ocupavam lugares em instituições de Alcobaça, que “foram com os agitadores até ao 2º. andar e se comportaram como energúmenos”.
Quer Américo Areias, quer Rui Baltazar, dizem que naqueles momentos ouviram gritar, “deixem-nos morrer para aí. É o que merecem”.
Américo Areias ficou ferido e teve de ser transportado ao Hospital por Carlos Carmo, atual membro da PJ. Rui Baltazar, que chegou a ser considerado como morto (mas recuperou), é empresário de panificação em Valado de Frades.

Só quando acabou o treino no Centro Cénico da Cela (onde era diretor), é que Rogério Raimundo se deslocou a Alcobaça e viu a fogueira com os móveis e papéis da sede do PC na rua.
No dia seguinte, militantes da UDP e outros marxistas como por exemplo o MRPP, entendiam que o PC era o único culpado de ter sido atacado. Américo Areias esteve três semanas hospitalizado, tendo alta no dia do comício no Gimnodesportivo, com a presença de Álvaro Cunhal e que adiante abordaremos.
Em ar de brincadeira, Rui Baltazar dizia que feitas bem as contas “tínhamos ganho 3-2, pois houve 3 feridos do lado dos arruaceiros e 2 do PCP”.
Mas as contas, talvez, não estejam certas.

E o que pensa sobre estes incidentes, Timóteo de Matos, que hoje (solicitador reformado) nada tem de comum, com o seu irrequieto tempo juvenil de 1974/1975, em que ainda não usava gravata?
Desde o 1º. de maio de 1975, tanto em Alcobaça como a nível nacional, extremaram-se, cada vez mais, as posições e iniciaram-se provocações verbais ou escritas e nalguns casos seguidas de agressões. É então que, no Norte se iniciou “a moda os assaltos aos Centros de Trabalho do PC e quando chegou a vez de Alcobaça, já não foram necessárias lições, nem mão de obra alheias”.
Aqui dou-lhe razão. Reuniões discretas prepararam o ataque que foi marcado para uma segunda-feira, dia 21 de julho. Embora fosse de esperar, a verdade é que o à-vontade era tanto, que “só faltou ter sido publicada uma convocatória nos jornais, pois não havia pessoa que desconhecesse a data e os pormenores2. Também tem razão.
“Nesse dia, quando cheguei a Alcobaça, foi já depois do almoço. Um razoável grupo de pessoas amontoava-se em frente à sede do PCP. Por ali andei durante toda a tarde, apesar de alguns amigos, temendo o pior, me terem tentado afastar do local. Queridos e grandes amigos! Enquanto isso, lá dentro da sede, um numeroso grupo de militantes recusava-se a sair. Mas já chegava a tropa, vinda não me recordo de onde. Onde chegava a tropa, a sede ardia. E claro, os “briosos” militares conseguiram retirar da sede os seus defensores, juntamente com uma ou outra caçadeira e, de seguida só faltou abrirem a porta aos arruaceiros”. Terá sido assim mesmo?
Dois militantes recusaram-se a abandonar, a sede do Partido. Dois heróis, como os classifica a história do PC, o Américo Areias e o “Rui Baltazar que ainda conseguiu esconder uma velha arma dos olhos dos “aplicados e cuidadosos” militares que vasculharam toda a sede!”
Retiradas as defesas, os militares lançaram uma ou duas granadas de gás lacrimogéneo e fizeram meia dúzia de disparos para o ar, para justificar a presença.
Deram, então, os militares a guerra por ganha e ala para o quartel que se faz tarde “e quem cá ficar que se avenha, pelo que os arruaceiros viram o campo livre e toca de avançar. Daí a arrombarem a porta e subirem a escadaria foi um passo. Tentou travá-los o digno Baltazar, mas a arma encravou. Depois, a turba multa deu asas à sua ira. O Américo e o Rui foram descidos a murro, a pontapé e à cacetada e desta maneira “passeados” pela Rua Alexandre Herculano e abandonados quase mortos. Foram depois levados ao hospital por almas caridosas. O Américo ainda hoje sofre de mazelas desse tempo”, o que lastimo democraticamente.
Há anos Américo Areias publicou um livro de histórias para crianças.
“Fartos de “molhar a sopa” nos dois desgraçados, os heroicos assaltantes voltaram a subir as escadas e, metodicamente, peça a peça, fizeram descer mobiliário e restante recheio, pelas janelas, até ao solo. Cá em baixo, outros não menos “heroicos energúmenos” fizeram a fogueira e dançaram em volta. Não sei quem foram os verdadeiros e maiores heróis desta história: se os bravos militares, se os corajosos salteadores”.

Manuel Campos, que estava na rua a assistir aos acontecimentos, notou que o automóvel de Bertilde (…), um Peugeot quase novo, encontrava-se estacionado ao lado do Café Portugal, isto é, muito próximo da sede do PC. Esta era uma conhecida ativista do PC, ao qual se dedicava com alma e coração, pelo que tendo receado que o veículo viesse a ser vandalizado, foi à procura do cunhado João Fragata, e ambos o retiraram, colocando-o a recato.
Na Vestiaria, perto da residência de Campo, vivia uma família, cujo filho era conhecido pela sua intensa militância no PC, enquanto que os pais não revelavam a inclinação. Como nesse dia o rapaz estivesse bastante atrasado em termos de hora de entrada em casa, a mãe sabendo da existência de problemas em Alcobaça e receando por ele, muniu-se de uma grande faca de cozinha e saiu à sua procura, disposta a fazer justiça pelas suas mãos, caso lhe tivesse acontecido algum coisa de mal.
Alcobaça, na sua quase totalidade, consentiu tacitamente na operação e em grande parte ainda se congratulo, aplaudiu-a.

Após o assalto, alguns militantes do PC saíram das suas terras e mantiveram-se noutras localidades, para evitarem vinganças e perseguições. A Comissão Concelhia passou a reunir em Valado de Frades, até à reabertura da sede, vários meses depois. “Por mim, conclui Timóteo de Matos, achei que tinha o dever de continuar, dadas as circunstâncias, e assim o fiz”.
Mas sempre reservando se ao direito de criticar e discordar. Afinal, estamos num País livre…

António Maduro, cristão e militante do PS, proferiu um depoimento de solidariedade em O Alcoa, eivado dos melhores e mais nobres princípios, salientando que “foi com profunda tristeza que vivi os últimos acontecimentos de Alcobaça. Sim, com muita tristeza pois vi no rosto de irmãos o ódio, o desejo de destruir, de matar. Como é possível, Deus meu, a nossa boa gente cristã deixar-se conduzir por processos tão violentos? (…)”.







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