quarta-feira, 16 de abril de 2014

BRUXEDOS EM OLIVEIRA DE AZEMEIS E BURINHOSA

BRUXEDOS EM OLIVEIRA DE AZEMEIS E BURINHOSA

Fleming de Oliveira


Lembro-me de ouvir, nos tempos de menino, nos anos cinquenta, os caseiros da casa minha Avo em Oliveira de Azeméis (o senhor António e mulher D. Maria) defender junto do filho de vinte e tal anos, com tropa feita, como era eficaz para conquistar o coração de uma mulher, escrever o nome dela numa peça de roupa íntima.
Depois, amarrava-se a peça numa garrafa de vidro colorido que se enterrava, de forma que ninguém a encontrasse.
No dia em que o rapaz perceber que a pequena passou a olhá-lo com outros olhos, iria desenterrar a peça e partir à conquista direta.

Foi também por altura do mês de setembro que ocorreu um acontecimento que perturbou a comunidade da zona.
Uma galinha morta sobre a fotografia da casa de um ricaço, um pano vermelho, garrafas de aguardente meio vazias, cravos vermelhos e pontas de cigarro, tudo disposto em círculo. Os restos destes rituais, ditos de bruxaria, foram encontrados no cemitério de uma povoação vizinha de Oliveira de Azeméis. Noutro local do mesmo cemitério, deparou-se um quadro idêntico, mas em vez da galinha, havia um prato metálico cheio de restos de comida.
A população quando soube do achado incomodou-se. O coveiro, que nunca teve receio do convívio com os mortos e que por vezes ia lá a casa dos meus avós fazer uns biscates, passou a dizer que dava consigo a olhar em volta, com a sensação de estar a ser observado.
Foi de manhã que uma senhora encontrou os vestígios desses estranhos rituais, tendo alertado a Junta de Freguesia que, juntamente com a GNR, fez o levantamento dos objetos. O cemitério fica afastado da aldeia e havia dias em que não ia lá ninguém. O coveiro, que por vezes também fazia serviços de agricultura lá em casa, só comparecia no cemitério para fazer limpezas, quando era necessário abrir algum coval ou proceder a uma exumação.
Recordo-me que o coveiro, homem duro, mas um pouco dado a certo tipo de enredos como vimos, comentou que as pessoas que fizeram este serviço não podem ter sido de muito longe, porque sabiam que o portão está apenas no trinco.
Na realidade, o portão ficava fechado apenas no trinco. Antigamente, terá havido umas duas ou três chaves que ficavam à guarda de determinadas pessoas, entre as quais o dono da taberna próxima. Quando era necessário, as visitas iam-nas buscar. Só que depois esqueciam-se de as entregar e quando eram necessárias não se encontravam. Numa altura, foi preciso rebentar o cadeado para se fazer um funeral e daí para cá o portão ficava apenas no trinco.

Mas o bruxedo era bom, por vezes, para causar prejuízos.
Foi o que aconteceu num pinhal da Burinhosa, pertencente a Luís Ribeiro Santos, algum tempo depois da II Guerra. O caso aconteceu no mês de julho de 1948, e foi investigado pela polícia florestal, com resultado inconclusivo. Dias antes terá havido uma situação idêntica, mas que não teve consequências tão graves, como recorda o neto António Manuel Santos Baptista.
No local onde começou o incêndio, foram encontrados objetos usualmente ligados à prática de magia negra e bruxaria. Velas brancas e pretas, bonecas com alfinetes espetados, carne que se julga ser de aves e garrafas. Os vizinhos e o proprietário, suspeitaram que o incêndio tenha sido provocado pelas velas que foram deixadas a arder no pinhal e terão pegado à vegetação.

É o medo do desconhecido aliado à insegurança da vida que geram nos homens crenças e supersticões. As superstições têm origem no início da civilização e só com ela deverão finar-se.
Fazem parte da essência intelectual e não há momento na história do mundo em que elas não estejam presentes.
Fazem parte de muitos atos da vida do homem, seja do mais rude ao mais instruído, o cientista, o escritor, o artista ou mesmo o padre. São geralmente de carácter defensivo, para evitar um mal ou algo não desejado. Os amuletos, transformados em adornos e joias, são sinais exteriores das superstições. São objetos de defesa, ao qual se atribui a virtude de afastar malefícios e trazer boa sorte, como a figa, um olho, um búzio ou um trevo. O talismã tem a mesma finalidade do amuleto, mas é feito especialmente para determinada pessoa, e só a ela irá defender.
NOTA-cfr. o nosso, NO TEMPO DE SALAZAR, CAETANO E OUTROS


Sem comentários: