BRUXEDOS EM OLIVEIRA DE AZEMEIS E BURINHOSA
Fleming de Oliveira
Lembro-me
de ouvir, nos tempos de menino, nos anos cinquenta, os caseiros da casa minha
Avo em Oliveira de Azeméis (o senhor António e mulher D. Maria) defender junto do
filho de vinte e tal anos, com tropa feita, como era eficaz para conquistar o
coração de uma mulher, escrever o nome dela numa peça de roupa íntima.
Depois,
amarrava-se a peça numa garrafa de vidro colorido que se enterrava, de forma
que ninguém a encontrasse.
No dia
em que o rapaz perceber que a pequena passou a olhá-lo com outros olhos, iria
desenterrar a peça e partir à conquista direta.
Foi
também por altura do mês de setembro que ocorreu um acontecimento que perturbou
a comunidade da zona.
Uma
galinha morta sobre a fotografia da casa de um ricaço, um pano vermelho,
garrafas de aguardente meio vazias, cravos vermelhos e pontas de cigarro, tudo
disposto em círculo. Os restos destes rituais, ditos de bruxaria, foram
encontrados no cemitério de uma povoação vizinha de Oliveira de Azeméis. Noutro
local do mesmo cemitério, deparou-se um quadro idêntico, mas em vez da galinha,
havia um prato metálico cheio de restos de comida.
A
população quando soube do achado incomodou-se. O coveiro, que nunca teve receio
do convívio com os mortos e que por vezes ia lá a casa dos meus avós fazer uns
biscates, passou a dizer que dava consigo a olhar em volta, com a sensação de
estar a ser observado.
Foi de
manhã que uma senhora encontrou os vestígios desses estranhos rituais, tendo
alertado a Junta de Freguesia que, juntamente com a GNR, fez o levantamento dos
objetos. O cemitério fica afastado da aldeia e havia dias em que não ia lá
ninguém. O coveiro, que por vezes também fazia serviços de agricultura lá em
casa, só comparecia no cemitério para fazer limpezas, quando era necessário
abrir algum coval ou proceder a uma exumação.
Recordo-me
que o coveiro, homem duro, mas um pouco dado a certo tipo de enredos como
vimos, comentou que as pessoas que
fizeram este serviço não podem ter sido de muito longe, porque sabiam que o
portão está apenas no trinco.
Na
realidade, o portão ficava fechado apenas no trinco. Antigamente, terá havido
umas duas ou três chaves que ficavam à guarda de determinadas pessoas, entre as
quais o dono da taberna próxima. Quando era necessário, as visitas iam-nas
buscar. Só que depois esqueciam-se de as entregar e quando eram necessárias não
se encontravam. Numa altura, foi preciso rebentar o cadeado para se fazer um
funeral e daí para cá o portão ficava apenas no trinco.
Mas o
bruxedo era bom, por vezes, para causar prejuízos.
Foi o
que aconteceu num pinhal da Burinhosa, pertencente a Luís Ribeiro Santos, algum
tempo depois da II Guerra. O caso aconteceu no mês de julho de 1948, e foi
investigado pela polícia florestal, com resultado inconclusivo. Dias antes terá
havido uma situação idêntica, mas que não teve consequências tão graves, como
recorda o neto António Manuel Santos Baptista.
No
local onde começou o incêndio, foram encontrados objetos usualmente ligados à
prática de magia negra e bruxaria. Velas brancas e pretas, bonecas com
alfinetes espetados, carne que se julga ser de aves e garrafas. Os vizinhos e o
proprietário, suspeitaram que o incêndio tenha sido provocado pelas velas que
foram deixadas a arder no pinhal e terão pegado à vegetação.
É o
medo do desconhecido aliado à insegurança da vida que geram nos homens crenças
e supersticões. As superstições têm origem no início da civilização e só com
ela deverão finar-se.
Fazem
parte da essência intelectual e não há momento na história do mundo em que elas
não estejam presentes.
Fazem
parte de muitos atos da vida do homem, seja do mais rude ao mais instruído, o
cientista, o escritor, o artista ou mesmo o padre. São geralmente de carácter
defensivo, para evitar um mal ou algo não desejado. Os amuletos, transformados
em adornos e joias, são sinais exteriores das superstições. São objetos de
defesa, ao qual se atribui a virtude de afastar malefícios e trazer boa sorte,
como a figa, um olho, um búzio ou um trevo. O talismã tem a mesma finalidade do
amuleto, mas é feito especialmente para determinada pessoa, e só a ela irá
defender.
NOTA-cfr. o nosso, NO TEMPO DE
SALAZAR, CAETANO E OUTROS
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