POLÉMICAS
NA CELA-ALCOBAÇA
FRANCISCO
LEONARDO EUSÉBIO (DE GESSO E COM CANADIANAS), UM TAL FERNANDES (1976) E ROGÉRIO
RAIMUNDO.
Fleming
de Oliveira
Francisco
Leonardo Eusébio, foi um dos autarcas mais carismáticos do Concelho de Alcobaça
e o seu decano.
Antes do 25 de Abril, foi tesoureiro da Junta de
Freguesia da Cela, sendo naquela data Regedor. Por muita gente, ainda é
considerado homem politicamente influente da Cela, embora reformado da vida
política. A sua palavra, por vezes exaltada e refletindo ideias simples e
propostas populares, tem normalmente peso. Há uns tempos disse-me que desde os dez anos de idade trabalho com a
maior dedicação para o povo da Cela, tendo começado em comissões de festas,
religiosas e populares.
Desde o 25 de Abril, salvo um pequeno interregno em
1983, até se reformar politicamente, foi eleito, sem grande esforço, Presidente
da Junta de Freguesia. Gostava do lugar que exerceu com carolice, pois aprecia
que as pessoas gostem dele. Na sua terra, muitos tratam-no afetuosamente por
Xico Sacristão, apelido que não
repudia, muito menos o envergonha. Apenas alguns, aliás sem grande reputação
social ou envergadura, o tem atacado publicamente e, nesse caso raramente de
forma frontal.
Apesar das campanhas e calúnias de que por vezes foi
alvo, nunca o conseguiram derrubar. Recordou-me que poucos dias depois da
Revolução de abril, um plenário popular realizado na oficina de Augusto
Figueiredo da Silva pretendeu substitui-lo, imediatamente, como Regedor, com o
pretexto de ser “regedor fascista”.
Estavam presentes umas trezentas pessoas, na maior parte residentes na Cela e
amigos, mas muitas também arregimentadas pelo MDP, de Alcobaça e associados,
onde pontificavam entre outros, o pai e filho Silvestre, José Pinto Júnior e
Gilberto Magalhães Coutinho, a família Lameiras de Figueiredo.
Um dos presentes, perante o impasse que se estava a
criar, decorrente da verdadeira falta de motivo para pôr em causa Francisco Eusébio ,
pediu a palavra e propôs “vamos eleger já
um Regedor, temos aqui um bom democrata, o Augusto Franco Gaspar”.
Se a proposta se referisse a Francisco Eusébio teria
sido ele, efetivamente, de novo escolhido. Não foi, nem ele o queria mais.
Assim, com a expressa “anuência” de
Francisco Eusébio, regedor demitido, foi escolhido o Gaspar.
Tempos depois, na sequência das primeiras eleições
autárquicas, em 1976, quando Eusébio de forma muito expressiva foi eleito
Presidente da Junta, numa lista do PPD, Gaspar veio apresentar-lhe a demissão.
Aliás os Regedores estavam a acabar.
Quem assumiu, sistemática política, social e
publicamente, uma oposição a Francisco Eusébio, embora com características
muito pessoais, foi um tal António Raimundo Fernandes, Presidente do CCC. Estes
dois protagonizaram um acontecimento picaresco, ainda hoje muitos anos
passados, lembrado entre amigos mais velhos e nas tertúlias do PSD de Alcobaça.
Durante a campanha para as eleições autárquicas de 1976,
os “populares democráticos” vieram fazer, um domingo à tarde, uma sessão de
esclarecimento, no CCC-Centro Cénico da Cela. Estas reuniões eram toleradas
pela Direção do Centro, embora esta diga que “nunca levantou qualquer tipo de reservas”. Porém, a Direção do CCC,
onde pontificava Rogério Raimundo, tudo fazia para criar um ambiente não
favorável ao PPD e ao seu candidato local, pois não queria nada com padres ou
com a Igreja.
Por essa altura, preparando a sessão do PPD na Cela, um
comunicado distribuído profusamente pela freguesia e atribuído conjuntamente ao
PS, FEPU, antecessora da APU e CDU, GDVC e independentes, atacava Francisco
Eusébio e o partido com argumentos, aliás muito mal alinhavados:
“(…) Nós sabemos
que a direita (todos aqueles que querem regressar ao passado, que aqui são
conservadores, que têm medo do que é novo) integram-se no PPD (exemplo
flagrante Francisco Leonardo Eusébio). (…) Outra campanha não sabem fazer. O boato, a mentira e a calúnia foram as
suas armas antes e depois do 25 de Abril. E pelas mudanças tão radicais de um
defensor do fascismo e ativista da ANP, depois do CDS e agora do PPD, que
podemos esperar de um homem que em tão pouco tempo mudou tantas vezes o forro à
casaca? (…)”
Na sessão desse domingo à tarde no CCC, com o salão
repleto, depois de terem falado Fleming de Oliveira, Silva Carvalho, Gonçalves
Sapinho e Francisco Eusébio, deu-se início ao período de intervenção do
público, como era habitual. O dito
Fernandes, que ao longo da tarde já dera nas vistas, pois andava muito
desassossegado e a falar alto sempre que encontrava alguém, pediu para usar da
palavra e sendo tanta a vontade de publicamente enxovalhar o seu conterrâneo,
que o acusou grosseira e falsamente de ter recebido dinheiro que não deu
entrada nos cofres da Junta e que guardava para despesas com viagens para irem
a Lisboa receber os governantes.
Convém esclarecer que Francisco Eusébio tinha há pouco
tempo sofrido um acidente e partido uma perna, pelo que andava com gesso e
canadianas. A sua indignação perante esta calúnia foi tal, que se levantou da
cadeira onde estava no palco, como impulsionado por uma mola e, no meio de
aplausos entusiásticos e com a voz embargada, tentou tirar desforço físico do
caluniador, o que só não conseguiu por ter sido impedido por dois amigos
matulões.
Nunca a vitória do PPD ou de Francisco Eusébio estiveram
em dúvida na Cela, e o Fernandes, tal como a FEPU, foram alguns dos
responsáveis pelos resultados retumbantes que Francisco Eusébio e o PPD sempre
ali obtiveram doravante.
Sobre este incidente, Rogério Raimundo tem uma opinião
conciliatória, muito “soft” mesmo.
“Para as eleições
autárquicas de dezembro de 1976, realizou-se um comício do PPD, no salão do
Centro Cénico da Cela. Seria tudo normal, se o cidadão António
Raimundo Fernandes, ao acusar o candidato Francisco Leonardo Eusébio, de
irregularidades, não fosse o Presidente da Direção do CCC. Poucos conseguiram
separar as águas…”
Mais tarde, numas eleições autárquicas intercalares na
Cela (1983),conta Rogério Raimundo “o
Avante fez uma entrevista aos primeiros da lista da Aliança Povo Unido, onde
estava o Presidente (do CCC) António
Raimundo Fernandes, como primeiro da lista. Esse facto foi explorado com o
argumento que no CCC, estão a ensinar o
comunismo às crianças”.
Como não houve uma autocrítica
estalinista, Rui Soares Paulino,
Francisco Eusébio e José Vieira, foram expulsos, em Assembleia Geral ,
pelo que o CCC passou a ser acusado, mais uma vez, como sendo o Centro dos
Comunistas.
“Toda essa campanha
só acabou muito mais tarde (esclarece Rogério
Raimundo) quando o saudoso Padre Inácio
Antunes, que tem um histórico extraordinário na Benedita, onde lhe atribuíram o
nome na Avenida da Igreja, chegou à Cela foi convidado a visitar o CCC e
almoçar com os utentes do Centro de Dia. Logo na primeira homilia, na Igreja de
St. André, da Cela, disse que, na Cela vocês já têm o céu: é o Centro Cénico da
Cela. “
Os três sócios acabaram por ser reintegrados no CCC e as
feridas acabaram sanadas, quando em 1995 houve a inauguração do edifício
social.
Sem comentários:
Enviar um comentário