VIGILANTES
DA REVOLUÇÃO EM S. MARTINHO DO PORTO.
AFINAL
AS ARMAS ESCONDIDAS ERAM GARFOS E FACAS DE COZINHA
Fleming
de Oliveira
Em S.
Martinho do Porto criou-se um grupo que se intitulou “Vigilantes da Revolução” (supostamente numa linha
cubano-castrista), que, entre o mais, ia à noite para o Facho ver se detetava
alguma embarcação que transportasse homens e os desembarcasse com armamento, em
apoio da contrarrevolução “fascista”.
Este
grupo terá estado em contacto direto com o famigerado Cap. Gonçalves Novo, do
Quartel das Caldas da Rainha.
Pelo
menos assim fazia constar para intimidar, dado este estar conotado com a ala
mais radical do MFA. O Cap. Gonçalves Novo era conterrâneo (Sabugal) e parente
de Gonçalves Sapinho. “Uma dia”
contou-me este, “convidou-me para ir
almoçar à Messe de Oficiais. Avisei-o de que não necessitava de correr riscos,
por eu ser do PPD. Insistiu e fui almoçar. Cumprimentei alguns oficiais, mas vi
noutros um ambiente gélido, pois o PPD não era bem visto por alguns”.
Sapinho veio a admitir-me que foi algo com
significado, com mais coragem pelo lado daquele que pelo seu, embora isso lhe
pareça agora irrelevante, mas “a mim
antes não me pareceu”.
O
mesmo grupo dito de Vigilantes, comunicou em fins de 1974, ao Quartel de Caldas
da Rainha , a “suspeita” que na cave de determinada casa da rua Conde de
Avelar/S. Martinho do Porto (que se encontrava alugada ao ano), havia armamento
guardado e pronto a ser usado.
Os
militares vieram pressurosamente a S. Martinho do Porto, arrebentaram as
portas, invadiram a casa e nada encontraram, salvo uns beliches de crianças,
mobílias de quarto, sala e utensílios domésticos. As perigosas armas eram,
afinal, tão só garfos e facas de cozinha.
O Quartel
de Caldas da Rainha, participava com frequência e “gostosamente” neste tipo de operações e controlos de estrada, umas
vezes por iniciativa própria, outras por denúncias exteriores, ainda que
anónimas e que alegadamente eram para detetar armas e munições em “más
mãos”.
Nessas
operações, a que por vezes se aliavam populares, montavam-se barreiras cada
qual com 4 militares armados de G3 ou metralhadoras ligeiras e espaçadas, entre
si, por cerca de 200m.
Uma
operação montada na Matoeira, onde participou o sempre disponível e dinâmico
soldado Moiteiro( o 70 ) terminou de
forma trágica.
Em
determinado momento, surgiu um Mini, que não tendo respeitado o sinal de Stop,
acelerou, quase atropelando um militar, para fugir.
Por
isso, e sem hesitação foi prontamente disparada uma rajada de tiros sobre o
automóvel, um dos quais feriu mortalmente o condutor e gravemente a namorada na
zona dos rins. Depois, apurou-se que se tratava apenas de um casalinho de
namorados, cujo condutor não tinha carta de condução e usava o automóvel do
pai, com o seu desconhecimento.
Se
houvesse conhecimento de agitação na sua zona de intervenção específica entrava
em regime de prevenção.
A
tropa de Caldas da Rainha em 11 de março de 1974 rumou até Lisboa com dois
piquetes em apoio ao Ralis, indo o soldado Moiteiro, o 70, a
conduzir um dos veículos.
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