segunda-feira, 28 de abril de 2014

VIGILANTES DA REVOLUÇÃO EM S. MARTINHO DO PORTO. AFINAL AS ARMAS ESCONDIDAS ERAM GARFOS E FACAS DE COZINHA


 
VIGILANTES DA REVOLUÇÃO EM S. MARTINHO DO PORTO.
AFINAL AS ARMAS ESCONDIDAS ERAM GARFOS E FACAS DE COZINHA


Fleming de Oliveira


Em S. Martinho do Porto criou-se um grupo que se intitulou “Vigilantes da Revolução” (supostamente numa linha cubano-castrista), que, entre o mais, ia à noite para o Facho ver se detetava alguma embarcação que transportasse homens e os desembarcasse com armamento, em apoio da contrarrevolução “fascista”.
Este grupo terá estado em contacto direto com o famigerado Cap. Gonçalves Novo, do Quartel das Caldas da Rainha.
Pelo menos assim fazia constar para intimidar, dado este estar conotado com a ala mais radical do MFA. O Cap. Gonçalves Novo era conterrâneo (Sabugal) e parente de Gonçalves Sapinho. “Uma dia” contou-me este, “convidou-me para ir almoçar à Messe de Oficiais. Avisei-o de que não necessitava de correr riscos, por eu ser do PPD. Insistiu e fui almoçar. Cumprimentei alguns oficiais, mas vi noutros um ambiente gélido, pois o PPD não era bem visto por alguns”.
Sapinho veio a admitir-me que foi algo com significado, com mais coragem pelo lado daquele que pelo seu, embora isso lhe pareça agora irrelevante, mas “a mim antes não me pareceu”.

O mesmo grupo dito de Vigilantes, comunicou em fins de 1974, ao Quartel de Caldas da Rainha , a “suspeita” que na cave de determinada casa da rua Conde de Avelar/S. Martinho do Porto (que se encontrava alugada ao ano), havia armamento guardado e pronto a ser usado.
Os militares vieram pressurosamente a S. Martinho do Porto, arrebentaram as portas, invadiram a casa e nada encontraram, salvo uns beliches de crianças, mobílias de quarto, sala e utensílios domésticos. As perigosas armas eram, afinal, tão só garfos e facas de cozinha.

O Quartel de Caldas da Rainha, participava com frequência e “gostosamente” neste tipo de operações e controlos de estrada, umas vezes por iniciativa própria, outras por denúncias exteriores, ainda que anónimas e que alegadamente eram para detetar armas e munições em “más mãos”.
Nessas operações, a que por vezes se aliavam populares, montavam-se barreiras cada qual com 4 militares armados de G3 ou metralhadoras ligeiras e espaçadas, entre si, por cerca de 200m.

Uma operação montada na Matoeira, onde participou o sempre disponível e dinâmico soldado Moiteiro( o 70 ) terminou de forma trágica.
Em determinado momento, surgiu um Mini, que não tendo respeitado o sinal de Stop, acelerou, quase atropelando um militar, para fugir.
Por isso, e sem hesitação foi prontamente disparada uma rajada de tiros sobre o automóvel, um dos quais feriu mortalmente o condutor e gravemente a namorada na zona dos rins. Depois, apurou-se que se tratava apenas de um casalinho de namorados, cujo condutor não tinha carta de condução e usava o automóvel do pai, com o seu desconhecimento.

Se houvesse conhecimento de agitação na sua zona de intervenção específica entrava em regime de prevenção.
A tropa de Caldas da Rainha em 11 de março de 1974 rumou até Lisboa com dois piquetes em apoio ao Ralis, indo o soldado Moiteiro, o 70, a conduzir um dos veículos.



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