terça-feira, 22 de abril de 2014

ARMAS EM PATAIAS (O 70 ). O PPD APRESENTA-SE EM PATAIAS E PICASSINOS. O PC “SEMPRE ”.


 



ARMAS EM PATAIAS (O 70 ).
O PPD APRESENTA-SE EM PATAIAS E PICASSINOS.
O PC “SEMPRE ”.

Fleming de Oliveira




Na tarde de sábado, dia 1 de fevereiro de 1975, o Oficial de Dia, do Quartel de Caldas da Rainha, recebeu uma chamada telefónica denunciando a existência de armas escondidas em Pataias.
Assim, nessa noite, um piquete de 24 homens, em dois UNIMOG, um deles conduzido pelo 70 (na altura a cumprir serviço militar, atualmente residente na Póvoa, mas natural de Montes), comandado por um aspirante, procedeu em Pataias a uma busca nas instalações de duas fábricas, há anos desativadas, A Distribuidora de Garrafas e Garrafões e A Empresa Vidreira de Pataias. Segundo correu na sede do PPD, em Alcobaça, de acordo com dados fornecidos por um militante de Alpedriz, houve uma denúncia anónima de que naquelas dependências estavam guardadas armas e munições furtadas ao exército. O certo é que, apesar das buscas aturadas, nada foi encontrado. Só havia muito lixo, pó e dois bidões com gasóleo e nenhum vestígio de presença humana recente.
Terá sido para desviar a atenção de outras em boas mãos? Talvez, e o 70 que conhecia bem a zona e, por isso, foi escalado para conduzir uma viatura, também diz que nunca acreditou na veracidade da denúncia.
Quem é o 70, de quem voltaremos a falar mais vezes?
António Cerqueira Moiteiro, mais conhecido pelo 70, tem esta alcunha que vem do tempo de seu pai, António da Silva Moiteiro, que, nos anos sessenta, ia com um rancho de mais de trinta homens e mulheres da zona de Alpedriz, para a colheita da azeitona na Quinta das Paulinas-Santarém, aonde ficavam a trabalhar por um período de dois a três meses. Esta propriedade possuía um dos maiores olivais da zona centro. Para animar o numeroso pessoal da colheita em serões e bailes, aparecia um indivíduo que tocava sanfona a troco de um copo e uma bucha e era muito apreciado, conhecido pelo 70, cuja origem da alcunha, nunca se apurou. Acontece que o 70 faleceu entretanto e, o António da Silva Moiteiro, que também tocava sanfona, herdou o lugar de músico junto dos trabalhadores da apanha, bem como a alcunha, que veio a transmitir aos descendentes, que hoje em dia não são conhecidos de outra maneira, estejam onde estiverem, e que a não repudiam.
Hoje em dia, vive na Póvoa, mas tem interesses e prédios nos Montes.
O 70, em meados de 1975 foi colocado no Quartel de Caldas da Rainha, e graças a alguns conhecimentos e a sua especialidade de condutor-auto foi colocado ao serviço do Conselho Administrativo. Foi então que conheceu o Cap. Novo, cujas principais funções consistiam na ação de Dinamização Cultural, inseridas nas diretrizes da 5ª Divisão do EMFA e de Ramiro Correia, que seguia zelosamente e à risca. Com o Cap. Gonçalves Novo saiu em várias sessões de dinamização pela região de intervenção do Quartel, que se realizavam em associações recreativas e desportivas. Essas sessões eram integradas por quatro elementos de palco chefiados Cap. Novo, um dos quais era um muito útil e atlético Alf. Soeiro, possuidor de conhecimentos e prática de artes marciais. Na verdade, em mais que uma sessão, a presença do Alf. Soeiro, impediu que o Cap. Novo e demais camaradas, fossem molestados em termos físicos, após discursos que não agradaram aos irritados e exaltados assistentes. O 70 aquando de uma sessão de dinamização do MFA na Usseira, ficou no jeep que, aliás, nunca deveria abandonar se não desligar, para sair imediatamente e depressa, se o ambiente aquecesse, como aconteceu, mesmo antes do previsto.

Por esta altura (inícios de 1975), o PPD numa noite chuvosa de sexta-feira, fez uma sessão de esclarecimento em Pataias, na Associação.
De Alcobaça, deslocaram-se uns três ou quatro automóveis com os oradores de serviço Fleming de Oliveira e Silva Carvalho, entre outros, bem como alguns militantes para ajudar a compor a sala enorme e fazer ambiente, que era de esperar fosse hostil. Pataias vivia, em termos sociais e políticos, na órbita da Marinha Grande, pelo que o PPD teve ao tempo grande dificuldade em ali penetrar e fazer campanha. E assim mais uma vez aconteceu, perante uma assistência reduzida para os padrões usuais, pouco afeta ao PPD e composta, principalmente por metalúrgicos e vidreiros, comprometidos com o PC. Na fase do debate com o público, que se seguia à exposição inicial, como era habitual, pediu a palavra um homem dos seus 40 anos, bem vestido e circunspecto, que discordou com firmeza e correção da análise, incidental, que Fleming de Oliveira havia feito a propósito da primavera de Praga. Apurou-se, entretanto, que se tratava de um ativo delegado sindical na IVIMA, pelo que, sem ilusões, Fleming de Oliveira lhe perguntou de que lado estaria se a União Soviética ocupasse Portugal, para ajudar a consolidar a Revolução.
Estava ao lado do PC, respondeu de pronto e pleno de certeza.
Ninguém da assistência reagiu. Estávamos entendidos… Não se esquecia nas intervenções do PPD, a invocação das imagens assustadoras da URSS e Breznev, a invasão da Checoslováquia em agosto de 1968 ou, mais remotamente, a da Hungria em 1956. O PC, utilizando uma linguagem muito ao gosto da época, e boa para num comício rural sacar palmas era, na perspetiva do PPD, pior que o míldio, o pedrado da maçã ou a pinta negra da batata. Aquele militante comunista seria como outros, que ao chegar a determinada idade, por razões de saúde entenderam ser necessário ter cuidado com vinho?
Assim trocaram o vinho pela vodka.

Ocorrida no Concelho da Marinha Grande, tem interesse lembrar uma sessão de esclarecimento em Picassinos, em que participaram Silva Carvalho, Oliveira Dias e outros, no auge da exaltação revolucionária de 1975.
No estrado, ao fundo de uma espaçosa sala quase cheia, foram instaladas uma mesa e cadeiras, onde tomaram assento seis oradores. A primeira fila estava por sua vez ocupada, inteiramente, por indivíduos bem trajados, de aspeto grave e firme e alguns operários, sempre de boné. Quando interveio o primeiro orador, empresário da região, ouviram-se de imediato gritos fascistas p’rá rua.
Silva Carvalho recorda-me que quase nem conseguiu intervir no meio de tanto alarido, o que seguramente foi caso raro pois, como se dizia na altura, ele sabia como começar mas não como acabar, pelo que passou logo que pode a palavra ao dirigente local e empresário, José Manuel Burnay. Estava este a falar, quando entrou de rompante na sala um grupo de homens a gritar está lá fora um carro a arder, ao que Burnay, impavidamente e sem parar o discurso, respondeu deve ser o meu, deixa arder. Foi de facto o seu carro que ardeu! Fogo posto, atentado?
Foi então que, pelas coxias laterais, entraram filas de agitadores, dirigindo-se para o estrado onde nos encontrávamos. Do nosso lado, à frente de uma fila, vinha um barrigudo de meia idade, que certamente se me dirigia. Então eu disse para o António Zúquete, eh pá, quando aquele gajo se aproximar, você agarra-ma a cadeira que eu enfio-lhe os pés na barriga. Na verdade, estávamos todos a pressentir a luta desigual que iríamos ter que travar, mas nada disso aconteceu, por uma razão só. É que a tal fila da frente, na plateia, era constituída por tropa comunista regular do PC que ali, certamente entre outras, tinha a missão de controlo, com prévio conhecimento do que estava previsto acontecer.
Mas quando esses agitadores avançaram, foram impedidos pelos PC da primeira fila de chegar ao palco e de estabelecer o confronto físico. Ao que se soube depois, esses provocadores pertenciam às Brigadas Revolucionárias e o PC considerava que não era a hora, nem o local adequados.
Acabada a sessão, saímos em quase perfeita tranquilidade. Cá fora, um grupo, entre eles vários dos agitadores do barulho em perfeita calma, interpelaram-nos e então discutimos em cordial camaradagem e aí cavaqueamos até altas horas. Foi uma completa surpresa. Não pareciam nada ser os mesmos da bagunça. O que eles não queriam era que a assistência na sala nos ouvisse.

O PPD sabia o que era o boicote aos seus comícios. Um morto e cerca de 25 feridos, foi o saldo do confronto em Setúbal a 7 de março de 1975, entre as forças de segurança e um grupo de manifestantes hostis, à realização de um comício do PPD. O MAI, emitiu um comunicado em que destacava que cabendo às forças de segurança a salvaguarda do direito de reunião, que estava em exercício, atuaram aquelas forças em conformidade tendo havido necessidade de recorrer ao apoio das forças armadas. (…) O governo para alem do inquérito em curso, que devera concluir sobre a identificação e responsabilidade dos intervenientes, condena em absoluto os procedimentos havidos ou outros do mesmo tipo (…).

Por sua vez, o Presidente da Republica, Costa Gomes, manifestou ao PPD a sua (…) preocupação pela escalada de violência a que, nos últimos tempos, se tem assistido e mostrou-se recetivo à ideia de os partidos elaborarem um pacto definindo comportamentos democráticos para o período eleitoral. (…)



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