terça-feira, 29 de abril de 2014

Álvaro Cunhal e Oriana Fallaci Não vai haver democracia de estilo ocidental.

Álvaro Cunhal e Oriana Fallaci
Não vai haver democracia de estilo ocidental.

Fleming de Oliveira

Álvaro Cunhal, à jornalista italiana Oriana Fallaci assegurou que em Portugal nunca haveria possibilidade de ter um parlamento ou democracia de estilo ocidental.
Tempos depois, a jornalista escreveu que Cunhal  é simpático, quase fascinante, acredita que é um revolucionário e não entende que é apenas um conformista desatualizado. Sobre a polémica afirmação de não poder haver um Parlamento em Portugal, reafirmou a sua fidedignidade e esclareceu que quem a desmentiu não foi o próprio Cunhal, mas outrossim o PC.
Após as eleições, assistiu-se a um esforço do PC, MDP/CDE e extrema-esquerda para reduzir a importância daquela expressão de consulta popular, defendendo a natureza meramente constituinte da Assembleia. Os antagonismos e os ressentimentos populares da rua e da sociedade eram transpostos para S. Bento. Em breve, viriam os confrontos do 1º de maio de 1975 e mais manifestações, nas ruas e praças do País, sejam eles de apoio aos resultados eleitorais ou de contestação ao Governo de Vasco Gonçalves, à defesa das nacionalizações e à ocupação de terras na zona da Reforma Agrária. Pode-se dizer que, por esta altura muito pouca gente se sentia segura em casa ou no local de trabalho. Em Alcobaça, o ambiente era tenso e de suspeições, o que levava a provocações, insultos e ameaças, nem sempre de forma velada. Mas verdade seja dita não muito mais que isso.
Ao saudar os deputados constituintes, Costa Gomes no discurso inaugural, avisou-os do risco que corriam ao elaborar uma Constituição que fosse ultrapassada pelos acontecimentos, pelo que chamou a atenção para a necessidade da existência de maiorias adequadas ao ambiente revolucionário que se vivia. Esse risco tentou colmatar-se numa pressão constante, que permite compreender como o PPD, a que não foi alheia a intenção, não confessada, de sobrevivência política, foi levado a votar algumas disposições constitucionais e o texto final global.
A Assembleia Constituinte era composta por deputados de elevado mérito intelectual e profissional, embora na sua maioria sem experiência política. Dentre eles e fora do grupo do PPD, Fleming de Oliveira seguia com particular interesse a ação do advogado de Aveiro, Carlos Candal, do PS (1938-2009), de que fora um dos fundadores. Este fora presidente da Associação Académica de Coimbra, o primeiro afeto à esquerda após Salgado Zenha em fins do anos de 1940, algum tempo antes de Fleming de Oliveira ter ido para a Universidade e era uma referência. Dizia-se, no princípio dos anos de 1960 que ganhara as eleições para a AAC, utilizando uma técnica inovadora. Como o voto feminino começava a ter peso, fez campanha junto dos lares de freiras onde viviam muitas raparigas, numa época que não era possível aos rapazes entrarem para fazer sessões de esclarecimento.
Na Assembleia Constituinte, revelou a feição truculenta, frontal, bem falante com uma oratória colorida e adjetivada, sem receio de se envolver em polémicas com o PC. Fora do hemiciclo, reconhecia-se pelo ar de bon vivant, e o imprescindível charuto ao canto da boca.


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