segunda-feira, 28 de abril de 2014

REPERCUSSÕES EM AMARANTE DE INCIDENTES EM ALCOBAÇA COM ÁLVARO CUNHAL (agosto de 1975).

 
REPERCUSSÕES EM AMARANTE DE INCIDENTES EM ALCOBAÇA COM ÁLVARO CUNHAL (agosto de 1975).

Fleming de Oliveira


António Rainho nesse verão de 1975 foi com a família dar uma volta pelo norte do País, tendo pernoitado uma vez em Amarante.
De manhã, depois de organizada a mala (deixou a mulher a arrumar a fraldas do filho mais velho) saiu à rua, para tomar o pequeno almoço e procurar uma loja de jornais.
Ao entrar no café, teve um momento de sobressalto, de orgulho e espanto pois, ao canto, um homem que tomava o café e passava a vista pelo jornal, afirmou firme e em voz alta “eh pá, esta gente de Alcobaça é que põe o gajo na ordem. O tipo teve de fugir, se não teria sido linchado ali mesmo no local do comício. Estava mesmo a pedi-las. E se não se tem pirado, como um cachorro com o rabo entre as pernas…”
Rainho percebeu que se estava a referir a Álvaro Cunhal, pelo que disse, também, em voz alta, “eu sou de Alcobaça, o que é que se passou?”
O outro, esclareceu que “ontem, no comício do PC, em Alcobaça, atacaram o local onde o Álvaro Cunhal fazia um comício e teve de fugir porque atacaram o local com pedras e tiros e o homem teve de ser defendido e levado pelas traseiras das instalações, onde decorria o comício”.

Claro que Rainho logo comprou o jornal (para saborear as notícias acompanhadas do inevitável galão e uma torrada) e comprovar a fascinante afirmação.
“Escusado será dizer todos os presentes ficaram de cabeça erguida e a tentar saber mais da faceta das minhas gentes alcobacenses. Não me foi difícil verificar que quantos estavam por ali, comungavam da satisfação do indivíduo que me anunciou o facto até então inédito, se não mesmo impensável”.
Foi no dia seguinte que regressou com a família a casa, mas entretanto telefonou ansiosamente, para saber as primeiras dicas de origem local e fonte fidedigna.
“O comício tinha decorrido no Pavilhão Gimnodesportivo, com boa assistência por deslocações de vários locais, nomeadamente Marinha Grande e Lisboa. Parece que o pavilhão estava cheio e quando caíram pedras sobre o telhado de lusalite, tiveram um efeito assustador sobre os que ali assistiam ao discurso do Álvaro Cunhal, que, devidamente escoltado, fugiu pelas traseiras do pavilhão e foi conduzido pelo dono da casa onde pernoitou, um tal “pobre homem”, que de pobre não tinha nada (…). Essa casa estava localizada na ladeira que leva até à Palmeira-Bemposta, a pouco mais de cinquenta metros do local do comício”.



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