REPERCUSSÕES
EM AMARANTE DE INCIDENTES EM ALCOBAÇA COM ÁLVARO CUNHAL (agosto de 1975).
Fleming
de Oliveira
António
Rainho nesse verão de 1975 foi com a família dar uma volta pelo norte do País,
tendo pernoitado uma vez em Amarante.
De
manhã, depois de organizada a mala (deixou a mulher a arrumar a fraldas do
filho mais velho) saiu à rua, para tomar o pequeno almoço e procurar uma loja
de jornais.
Ao
entrar no café, teve um momento de sobressalto, de orgulho e espanto pois, ao
canto, um homem que tomava o café e passava a vista pelo jornal, afirmou firme
e em voz alta “eh pá, esta gente de
Alcobaça é que põe o gajo na ordem. O tipo teve de fugir, se não teria sido
linchado ali mesmo no local do comício.
Estava mesmo a pedi-las. E se não se tem pirado, como um cachorro com o rabo
entre as pernas…”
Rainho
percebeu que se estava a referir a Álvaro Cunhal, pelo que disse, também, em
voz alta, “eu sou de Alcobaça, o que é
que se passou?”
O
outro, esclareceu que “ontem, no comício
do PC, em Alcobaça, atacaram o local onde o Álvaro Cunhal fazia um comício e
teve de fugir porque atacaram o local com pedras e tiros e o homem teve de ser
defendido e levado pelas traseiras das instalações, onde decorria o comício”.
Claro
que Rainho logo comprou o jornal (para saborear as notícias acompanhadas do inevitável galão e uma torrada) e
comprovar a fascinante afirmação.
“Escusado será dizer todos os presentes
ficaram de cabeça erguida e a tentar saber mais da faceta das minhas gentes
alcobacenses. Não me foi difícil verificar que quantos
estavam por ali, comungavam da satisfação do indivíduo que me anunciou o facto
até então inédito, se não mesmo impensável”.
Foi no
dia seguinte que regressou com a família a casa, mas entretanto telefonou
ansiosamente, para saber as primeiras dicas de origem local e fonte fidedigna.
“O comício tinha decorrido no Pavilhão
Gimnodesportivo, com boa assistência por deslocações de vários locais,
nomeadamente Marinha Grande e Lisboa. Parece que o pavilhão estava cheio e
quando caíram pedras sobre o telhado de lusalite, tiveram um efeito assustador
sobre os que ali assistiam ao discurso do Álvaro Cunhal, que, devidamente
escoltado, fugiu pelas traseiras do pavilhão e foi conduzido pelo dono da casa
onde pernoitou, um tal “pobre homem”, que de pobre não tinha nada (…). Essa casa
estava localizada na ladeira que leva até à Palmeira-Bemposta, a pouco mais de
cinquenta metros do local do comício”.
Sem comentários:
Enviar um comentário