PROFESSORES NA ESCOLA NO TEMPO DO PREC.
Histórias em Alcobaça (prof. António Ventura) e
Alenquer.
Fleming de Oliveira
O Prof. António Ventura, de Alcobaça, diz que é por
natureza e formação um idealista que entrou com entusiasmo para o ensino, ainda
antes do 25 de Abril.
Sendo a sua área, a Filosofia e esta intrínseca da
liberdade, o 25 de Abril no se dizer surgiu-lhe como um rasgar de horizontes,
sentindo que podia daí em diante transmitir aos alunos, valores que trouxera
aprisionados.
Com o passar dos meses, esse entusiasmo foi arrefecendo,
pois viu entrar na escola, “não uma
lufada de ar puro, mas uma tendência para o facilitismo, o desprezo pela
disciplina e exigência”. Os professores eram incentivados a explicar os
quarenta anos da governação salazarista, “ditadura
fascista”, e a necessidade de acabar com o capitalismo, explorador das
massas e especialmente do operariado.
Sentia ódio no ar.
Apesar de permitir, nas aulas, liberdade de expressão,
António Ventura não condescendia com a falta de respeito ou indisciplina, e
punha na rua quem as quisesse perturbar.
“Os meus alunos (contou-me) aprendiam
que, juntamente com a liberdade, tem que existir o respeito e que não há
liberdade sem esse respeito mútuo”.
Um aluno que é hoje o Dr. António Valério Maduro, muito
entusiasmado com o programa político do MRPP um dia, na aula, pediu a palavra.
António Ventura deixou-o falar, valorizou a intervenção
e soube, mais tarde, que ele ficou tão satisfeito com a atitude que, em casa,
falou do professor, em termos bastante
elogiosos.
“E foi a sua mãe que
um dia contou à minha mulher as suas palavras: O professor é um gajo porreiro;
ele é das direitas, mas ouve-nos a todos muito bem. A nossa amizade nasceu aí.”
A propósito do preconceito anticapitalismo, Ventura
recordou-me que, “pouco tempo após abril
apareceram os delegados sindicais por todo o lado e também nas escolas. Eu
possuía então na Cruz da Légua uma olaria de barro vermelho, com 5
trabalhadores e produzíamos louça doméstica. Geria o negócio a minha mulher”.
Pois o delegado sindical veio ter consigo, dizendo do
alto da sua arrogância:
“Olha, Ventura, como
sabes o capitalismo vai acabar e por isso tu vais ter de escolher”.
A resposta foi pronta e clara, “amigo, não sejas parvo. Não sou capitalista, nem o capitalismo vai
acabar. Não me aborreças”.
Aqueles eram, mesmo, tempos de utópicas esperanças.
Na Escola Secundária de Alcobaça, tal como outras
congéneres do País e até mesmo no Ensino Universitário, depois do 25 de Abril,
passou a ser considerado desajustado/impróprio que os professores, que chegando
pontualmente às aulas, exigissem que os alunos fizessem o mesmo, se levantassem
quando entrassem ou descobrissem a cabeça. Luís Marinho de Matos, ao tempo
aluno e hoje da Comissão de Pais, considera que “isto é apenas uma questão de respeito e educação”.
Em Alenquer, o prof. Joaquim Franco, quando dava a sua
aula de apresentação anunciava, para que não houvesse dúvidas “sou de esquerda, com as quotas em dia e no
pleno uso dos direitos de militante do PC e do Benfica”.
Em certa ocasião, ele que por vezes, fumava um cigarrito
na aula, o que era proibido, surpreendeu os colegas, ao trautear na sala de
professores, o refrão de “A Internacional”.
Explicou que era uma música de que muito lhe dizia e
fazia parte da sua formação familiar e social.
Com um professor da Escola Secundária de Alenquer,
ocorreu no início do ano de 1975, um acontecimento que, na altura, deu azo a
muita galhofa. Um caniche denunciou a
infidelidade de um marido e acarretou um divórcio.
Como assim?
Ele encontrava-se envolvido, num “tête-à-tête”, num café/pastelaria, tendo deixado o animal à porta,
preso a um candeeiro ou uma árvore. Aconteceu, porém, que por ali passou perto
a esposa e um filho pequeno. A ladrar, cheio de alegria, o cão chamou-lhes a
atenção e indicou onde estava o dono, que foi apanhado em flagrante e não fora
a presença de outras pessoas que os apartaram, teria também havido uma cena
onde, para além de mimos verbais, também ocorreriam alguns físicos.
Os alunos da Escola Secundária de Alcobaça, no dia 25 de
fevereiro de 1975, entraram em greve de zelo, por discordarem das disposições
do MEC quanto às novas regras de classificação/limite para a dispensa de
exames.
Entretanto, fora eleita e homologada a Comissão Diretiva
da Escola, que substituiu a precária comissão de gestão.
Do elenco da nova equipa de esquerda, faziam ainda
parte, Carlos Maldonado, Mário Sá, Manuel Frade, Hermínia Salgueiro Marques e
José António da Silva. Os alunos foram representados por António Matias, Luís
Cândido, Venâncio Bernardes e Salvador Inácio. O pessoal menor (expressão que se utilizava sem conteúdo
pejorativo), estava representado por João Augusto Coelho.
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