segunda-feira, 28 de abril de 2014

UMA COMISSÃO DE MORADORES MUITO LEGALISTA E INOPERANTE (Vestiaria/Alcobaça, Agosto de 1975)



 
UMA COMISSÃO DE MORADORES MUITO LEGALISTA E INOPERANTE (Vestiaria/Alcobaça, Agosto de 1975)

Fleming de Oliveira




No dia 28 de agosto de 1975, cerca das 22h, na sede da Filarmónica Vestiariense Monsenhor José Cacela, reuniram-se 47 pessoas, que acorreram ao apelo de um panfleto “anónimo”, dias antes distribuído pela freguesia:

“Ao povo, da Freguesia da Vestiaria.

Convida-se toda a população desta Freguesia a participar numa reunião que terá lugar na sede da Filarmónica, no próximo dia 28, pelas 21h30, a fim de se eleger uma Comissão de Moradores, a qual terá por finalidade velar pelos interesses da nossa terra.
Vestiaria, 19 de agosto de 1975”.

Carlos Alberto Duarte (operário da COFTA), tomou a iniciativa de presidir à sessão, e convidou para a Mesa, Manuel José dos Santos Campos, José Fernando Cardoso, António Damásio de Campos e Joaquim Paulino de Sousa, dando início aos trabalhos.
Manuel José Campos foi o primeiro a usar da palavra, e como as coisas deveriam decorrer em profunda e inequívoca legalidade propôs que a Assembleia se pronunciasse sobre a legalidade do panfleto, que não estava assinado, nem continha referências sobre a origem…
Perante isto, Carlos Alberto Duarte, e antes de pôr o assunto à discussão ou mesmo deliberação, informou os presentes que a ideia do panfleto fora sua, e que o facto de o não ter assinado, se justificava apenas pela circunstância de não querer sobressair na iniciativa, perante os conterrâneos.
Mesmo assim, esta convocatória foi posta à votação, para se saber se haveria ou não de considerar-se legal, tendo sido aprovada por 27 votos a favor, contra 4, sendo os restantes de abstenção.
Manuel José Campos, salientando que a Mesa não fora eleita, nem a sua constituição aprovada pela Assembleia, propôs que se pusesse à discussão e à votação, se esta concordava com a composição, o que foi aprovado por unanimidade. O auto assumido Presidente da Mesa, depois de ouvir entre os presentes algumas observações sussurradas de que a Mesa haveria também de ser constituída por elementos femininos (agora estamos ou não em democracia?), convidou Ilda Casimira Marques, que aceitou juntar-se, o que a Assembleia ratificou muito alegre e democraticamente, por unanimidade e com palmas.
Carlos Alberto Duarte referiu que o número de presentes, 47, não era suficientemente representativo do querer dos residentes da Freguesia, não chegava nem de perto a 1/3 do seu total, pelo que requereu que se começasse por aí o debate.
Perante esta iniciativa, foi proposto constituir uma Pró-Comissão a fim de trabalhar para a realização de uma nova Assembleia representativa da população, (a realizar logo que possível no mesmo local), que ficou constituída pelos vestiarienses, Joaquim Paulino de Sousa, António Damásio de Campos, Carlos Alberto Duarte, Manuel José dos Santos Campos, José Fernando Cardoso e Ilda Casimira Marques, que decidiu fazer uma convocatória escrita distribuída pela freguesia, para a quarta-feira seguinte, dia 3 de setembro, pelas 21h30, na sede da Filarmónica.

Entretanto, também de forma anónima, mas cuja procedência desta vez nunca se apurou, foi distribuído pela Freguesia um panfleto em que “alguns residentes, nos casais da Vestiaria, comunicam a toda a população da Freguesia da Vestiaria, que não precisam de Comissão de Moradores, porque nós estamos todos unidos, e isso é um facto”.
A reunião, marcada para o dia 3 de setembro, não chegou a realizar-se, tendo possivelmente sido desmobilizador o segundo panfleto, dadas as conhecidas e antigas rivalidades entre os Casais e a Sede da Freguesia.

António Damásio Campos, que nunca foi um ativista politico, entendia a constituição de uma Comissão de Moradores da Vestiaria poderia ter tido real utilidade, de modo a suprir a falta de interesse e capacidade, frequentemente demonstrada, pelos sucessivos executivos da Freguesia da Vestiaria.







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