UMA
COMISSÃO DE MORADORES MUITO LEGALISTA E INOPERANTE (Vestiaria/Alcobaça, Agosto
de 1975)
Fleming
de Oliveira
No dia
28 de agosto de 1975, cerca das 22h, na sede da Filarmónica Vestiariense
Monsenhor José Cacela, reuniram-se 47 pessoas, que acorreram ao apelo de um
panfleto “anónimo”, dias antes distribuído pela freguesia:
“Ao povo, da Freguesia da Vestiaria.
Convida-se toda a população desta Freguesia
a participar numa reunião que terá lugar na sede da Filarmónica, no próximo dia
28, pelas 21h30, a fim de se eleger uma Comissão de Moradores, a qual terá por
finalidade velar pelos interesses da nossa terra.
Vestiaria, 19 de agosto de 1975”.
Carlos
Alberto Duarte (operário da COFTA), tomou a iniciativa de presidir à sessão, e
convidou para a Mesa, Manuel José dos Santos Campos, José Fernando Cardoso,
António Damásio de Campos e Joaquim Paulino de Sousa, dando início aos
trabalhos.
Manuel
José Campos foi o primeiro a usar da palavra, e como as coisas deveriam
decorrer em profunda e inequívoca legalidade propôs que a Assembleia se
pronunciasse sobre a legalidade do panfleto, que não estava assinado, nem
continha referências sobre a origem…
Perante
isto, Carlos Alberto Duarte, e antes de pôr o assunto à discussão ou mesmo
deliberação, informou os presentes que a ideia do panfleto fora sua, e que o
facto de o não ter assinado, se justificava apenas pela circunstância de não
querer sobressair na iniciativa, perante os conterrâneos.
Mesmo
assim, esta convocatória foi posta à votação, para se saber se haveria ou não
de considerar-se legal, tendo sido
aprovada por 27 votos a favor, contra 4, sendo os restantes de abstenção.
Manuel
José Campos, salientando que a Mesa não fora eleita, nem a sua constituição
aprovada pela Assembleia, propôs que se pusesse à discussão e à votação, se
esta concordava com a composição, o que foi aprovado por unanimidade. O auto
assumido Presidente da Mesa, depois de ouvir entre os presentes algumas
observações sussurradas de que a Mesa haveria também de ser constituída por
elementos femininos (agora estamos ou não em democracia?), convidou Ilda
Casimira Marques, que aceitou juntar-se, o que a Assembleia ratificou muito
alegre e democraticamente, por unanimidade e com palmas.
Carlos
Alberto Duarte referiu que o número de presentes, 47, não era suficientemente
representativo do querer dos residentes da Freguesia, não chegava nem de perto
a 1/3 do seu total, pelo que requereu que se começasse por aí o debate.
Perante
esta iniciativa, foi proposto constituir uma Pró-Comissão a fim de trabalhar
para a realização de uma nova Assembleia representativa da população, (a
realizar logo que possível no mesmo local), que ficou constituída pelos
vestiarienses, Joaquim Paulino de Sousa, António Damásio de Campos, Carlos
Alberto Duarte, Manuel José dos Santos Campos, José Fernando Cardoso e Ilda
Casimira Marques, que decidiu fazer uma convocatória escrita distribuída pela
freguesia, para a quarta-feira seguinte, dia 3 de setembro, pelas 21h30, na
sede da Filarmónica.
Entretanto,
também de forma anónima, mas cuja procedência desta vez nunca se apurou, foi
distribuído pela Freguesia um panfleto em que “alguns residentes, nos casais da Vestiaria, comunicam a toda a
população da Freguesia da Vestiaria, que não precisam de Comissão de Moradores,
porque nós estamos todos unidos, e isso é um facto”.
A
reunião, marcada para o dia 3 de setembro, não chegou a realizar-se, tendo
possivelmente sido desmobilizador o segundo panfleto, dadas as conhecidas e
antigas rivalidades entre os Casais e a Sede da Freguesia.
António
Damásio Campos, que nunca foi um ativista politico, entendia a constituição de
uma Comissão de Moradores da Vestiaria poderia ter tido real utilidade, de modo
a suprir a falta de interesse e capacidade, frequentemente demonstrada, pelos
sucessivos executivos da Freguesia da Vestiaria.
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