quarta-feira, 16 de abril de 2014

ERA UMA VEZ O TEMPO EM QUE… (antigamente nos Montes-Alcobaça)

ERA UMA VEZ O TEMPO EM QUE…
(antigamente nos Montes-Alcobaça)

Fleming de Oliveira

Por fotografias que nos chegam, por memórias pessoais ou transmitidas por familiares, poderemos recordar casas, ruas, pessoas e cenas do quotidiano rural de um lugar como Montes, um espaço integrador e com poder afetivo.

Era um mundo de trabalho, aonde se impunha a par de pequenos prazeres a cultura da vinha, pois estava ainda longe o tempo dos grandes pomares, não havia indústria nem serviços (aliás como agora), salvo o café ou as bombas de gasolina. As histórias da vida contavam-se na taberna, entre dois de branco ou tinto, nos mexericos das comadres à porta ou à janela, na saída da missa ou nas festividades religiosas.
Era um ambiente de mosto em outubro, fumos de lareira a preparar os enchidos depois da matança do porco.
Era um tempo em que havia miúdos a correr despreocupadamente na rua aonde só transitavam carros de bois e bicicletas, o que justificava um olhar desconfiado sempre que aparecia um estranho.
Era um tempo em que em fins de agosto (ano longínquo e quente), as uvas estavam bonitas, e assim parecia que se podia começar a vindimar. O pai do Ti Manel da Costa, então com uns cinco ou seis anos, tirou um bago do cacho que este acabara de colher, deu-lhe a provar. Trincou e logo cuspiu, era azedo. Assim, o Ti Manel começou aos poucos a perceber que tudo tem o seu tempo, obedece a regras, lei suprema quer para a Natureza, quer para a sociedade, que é outra forma da Natureza. Quem não respeita as regras é desordeiro. Mas quem sempre as põe em causa e delas troça, é ateu a infetar os que estão por perto.
Era um mundo onde não estava arredado um sentido de hospitalidade, para com os de fora.
Era um mundo onde se citava de vez em quando o provérbio, tal como nos recordou Manuel Carlos que, sol que nasce cedo, mulher que sabe latim e padre que ama o bom vinho, nunca terão bom fim…
NOTA-cfr. o nosso, NO TEMPO DE SALAZAR, CAETANO E OUTROS

pio e � � � (v � o. A razão desta forma de organização político-administrativa, segundo Marcelo Caetano, inseria-se na boa tradição da nossa administração municipalista, bem como na prática também seguida com sucesso em países de regime democrático, como o Maire, em França, o Podestà, em Itália e o Burgomestre, na Alemanha. O Presidente da Câmara era também autoridade policial em Alcobaça, visto o comando local da PSP desta vila não estar cometido a oficial do Exército.

A PSP teve durante muito tempo as suas instalações no edifício dos Paços do Concelho, onde foi instalada, sendo Presidente Júlio Guimarães Biel  (16 de janeiro de 1950). Na altura foram consideradas as instalações, se não modelares pelo menos boas, dispondo de gabinetes, quartos, camaratas, casa de banho, refeitório, cozinha e calabouço, e onde se manteve até ao 25 de abril, quando passou para as traseiras do Tribunal da Comarca. O novo edifício teve de ser adaptado à PSP e GNR, pois inicialmente o projeto previa que ali fosse instalada a Cadeia Comarcã. A transferência da PSP e GNR, (esta também em muito más dependências), para as atuais instalações, ocorreu sendo a Câmara presidida por Miguel Guerra, onde Fleming de Oliveira (o autor destas notas), era o Substituto legal, Vice-Presidente e foi coordenada pelo Engº. Costa e Sousa (Chefe dos Serviços Técnicos).
Na Espanha franquista, mantinha-se o Alcalde. O regime português, alegadamente, pretendia aliar a conveniência de uma ação rápida, desenvolvida por uma entidade responsável e de confiança, dentro de um conjunto coordenado e harmónico. Ora não foi o que aconteceu em Alcobaça.
Para grande surpresa e escândalo do País e da terra, o Conselho Municipal de Alcobaça, escolheu vereadores da oposição. Para obviar este percalço e péssimo exemplo (que poderia alastrar pelo País), o Governo, ao fim de um ano, demitiu o Presidente e Vice Presidente, forçando uma nova escolha para a vereação, desta vez a coberto de surpresas.

O Dr. José Nascimento e Sousa, em maio de 1946, imperturbável a tudo isto, na qualidade de Presidente da Câmara, e em nome da Comissão Concelhia da União Nacional de Alcobaça, fez a afirmação pública (…) da nossa inquebrantável fé nas doutrinas da Pátria, conduzida pelo Governo que tem à frente esse grande português cujo prestígio há muito ultrapassou as fronteiras do País e o impõe ao respeito e consideração do mundo: o Dr. Oliveira Salazar (…), e pessoal de que o (…) meu indefectível nacionalismo se enraíza e fortalece no muito amor que tenho à minha terra. (…) O povo do meu Concelho que hoje e sempre, com o entusiasmo que lhe dá a sua inquebrantável Fé, levanta-se e diz: Viva Portugal! Viva Carmona! Viva Salazar!
Mas isso não o livrou de ser substituído, não reconduzido, o que lhe causou alguma mágoa.
Foi o Dr. Júlio Frederico de Guimarães Biel quem o veio a substituir.

Nascido em Alcobaça, o Dr. José Nascimento e Sousa dedicou grande parte da sua vida à medicina, em que se licenciara em Coimbra. A sua identificação com o Estado Novo, levou-o, em 1942, a assumir a Presidência da Comissão Concelhia de Alcobaça da União Nacional e, quatro anos mais tarde, a Presidência da Câmara Municipal.
Durante o seu mandato, em si pouco relevante, assistiu-se todavia a um importante acontecimento na história da industrialização do concelho, o lançamento da primeira pedra da fábrica de cimento branco, em Pataias. Deu-se início à eletrificação, (quase inexistente), começando a construir-se a cabine elétrica de Aljubarrota, foi inaugurada a iluminação elétrica em Alfeizerão sem prejuízo da iluminação a petróleo, que continuava na vila de Pataias. Na vertente viária, iniciaram-se os trabalhos de alteração do traçado da estrada de Alcobaça-Aljubarrota, enquanto na escolar, projetou-se a construção de edifícios em Évora de Alcobaça, Carris, Acipreste, Gaio e Póvoa. Assistiu-se ainda no seu mandato, ao início das obras na Escola Primária de Casais de Santa Teresa.
Nacionalista e monárquico (a bandeira do Ginásio Clube de Alcobaça por si proposta, foi desde o início azul e branca, com o emblema desenhado por José Carolino, funcionário da casa Magalhães, e o equipamento calção branco, camisola azul com o emblema do lado esquerdo a partir da A. G., de14 de janeiro de 1948, a substituir o inicial calção preto), recebeu ao longo do seu mandato, membros de várias casas reais como o Conde de Barcelona, (herdeiro do trono espanhol, filho de Afonso XIII e pai do atual rei de Espanha), a Família Real Italiana (exilada em Cascais, após referendo que aboliu a monarquia), o Príncipe Guilherme da Suécia e a Infanta D. Maria Teresa (irmã do então Duque de Bragança, D. Duarte Nuno, pai de D. Duarte Pio, o atual pretendente).
A peregrinação da Imagem de Nossa Senhora de Fátima (acontecimento que reuniu cerca de quinze mil fieis), os Jogos Florais da E.N. (a que me referi, com um apontamento de Albino Serrano, realizados no Mosteiro de Alcobaça, com a presença de António Ferro), e a visita do Cardeal Legado do Papa, foram mais alguns momentos marcantes do mandato. O seu mandato de um ano, foi curto, talvez o mais curto de que há registo em Alcobaça, devido ao facto de a Vereação ser composta por figuras da oposição, ser a demissão do Presidente da Câmara a forma eficaz e rápida que o governo encontrou para ultrapassar a situação inédita, e a não recondução do Presidente, o meio para lhe manifestar veemente censura.
O Ginásio Clube de Alcobaça foi fundado em 1 de junho de 1946, graças ao empenho de Nascimento e Sousa e ao longo dos seus anos de história, não obstante os altos e baixos, tem vindo a levar o nome de Alcobaça a muitos sítios, graças às participações desportivas ao nível do futebol, com destaque para a época em que militou na Primeira Divisão, o que se revelou catastrófico, pois que nunca mais recuperou.
NOTA-cfr. o nosso, NO TEMPO DE SALAZAR, CAETANO E OUTROS


Sem comentários: