ERA UMA VEZ O TEMPO EM QUE…
(antigamente nos Montes-Alcobaça)
Fleming de Oliveira
Por
fotografias que nos chegam, por memórias pessoais ou transmitidas por
familiares, poderemos recordar casas, ruas, pessoas e cenas do quotidiano rural
de um lugar como Montes, um espaço integrador e com poder afetivo.
Era um
mundo de trabalho, aonde se impunha a par de pequenos prazeres a cultura da
vinha, pois estava ainda longe o tempo dos grandes pomares, não havia indústria
nem serviços (aliás como agora), salvo o café ou as bombas de gasolina. As
histórias da vida contavam-se na taberna, entre dois de branco ou tinto, nos
mexericos das comadres à porta ou à janela, na saída da missa ou nas
festividades religiosas.
Era um
ambiente de mosto em outubro, fumos de lareira a preparar os enchidos depois da
matança do porco.
Era um
tempo em que havia miúdos a correr despreocupadamente na rua aonde só
transitavam carros de bois e bicicletas, o que justificava um olhar desconfiado
sempre que aparecia um estranho.
Era um
tempo em que em fins de agosto (ano longínquo e quente), as uvas estavam
bonitas, e assim parecia que se podia começar a vindimar. O pai do Ti Manel da
Costa, então com uns cinco ou seis anos, tirou um bago do cacho que este
acabara de colher, deu-lhe a provar. Trincou e logo cuspiu, era azedo. Assim, o
Ti Manel começou aos poucos a perceber que tudo tem o seu tempo, obedece a
regras, lei suprema quer para a Natureza, quer para a sociedade, que é outra
forma da Natureza. Quem não respeita as regras é desordeiro. Mas quem sempre as
põe em causa e delas troça, é ateu a
infetar os que estão por perto.
Era um
mundo onde não estava arredado um sentido de hospitalidade, para com os de
fora.
Era um
mundo onde se citava de vez em quando o provérbio, tal como nos recordou Manuel
Carlos que, sol que nasce cedo, mulher
que sabe latim e padre que ama o bom vinho, nunca terão bom fim…
NOTA-cfr. o nosso, NO TEMPO DE
SALAZAR, CAETANO E OUTROS
A PSP
teve durante muito tempo as suas instalações no edifício dos Paços do Concelho,
onde foi instalada, sendo Presidente Júlio Guimarães Biel (16 de janeiro de 1950). Na altura foram
consideradas as instalações, se não modelares pelo menos boas, dispondo de
gabinetes, quartos, camaratas, casa de banho, refeitório, cozinha e calabouço, e
onde se manteve até ao 25 de abril, quando passou para as traseiras do Tribunal
da Comarca. O novo edifício teve de ser adaptado à PSP e GNR, pois inicialmente
o projeto previa que ali fosse instalada a Cadeia Comarcã. A transferência da
PSP e GNR, (esta também em muito más dependências), para as atuais
instalações, ocorreu sendo a Câmara presidida por Miguel Guerra, onde Fleming
de Oliveira (o autor destas notas), era o Substituto legal, Vice-Presidente e
foi coordenada pelo Engº. Costa e Sousa (Chefe dos Serviços Técnicos).
Na
Espanha franquista, mantinha-se o Alcalde.
O regime português, alegadamente, pretendia aliar a conveniência de uma ação
rápida, desenvolvida por uma entidade responsável e de confiança, dentro de um
conjunto coordenado e harmónico. Ora não foi o que aconteceu em Alcobaça.
Para
grande surpresa e escândalo do País e da terra, o Conselho Municipal de
Alcobaça, escolheu vereadores da oposição. Para obviar este percalço e péssimo exemplo (que poderia alastrar
pelo País), o Governo, ao fim de um ano, demitiu o Presidente e Vice Presidente, forçando uma nova escolha para a
vereação, desta vez a coberto de surpresas.
O Dr.
José Nascimento e Sousa, em maio de 1946, imperturbável a tudo isto, na
qualidade de Presidente da Câmara, e em nome da Comissão Concelhia da União
Nacional de Alcobaça, fez a afirmação pública (…) da nossa inquebrantável fé nas doutrinas da Pátria, conduzida pelo
Governo que tem à frente esse grande português cujo prestígio há muito
ultrapassou as fronteiras do País e o impõe ao respeito e consideração do
mundo: o Dr. Oliveira Salazar (…), e pessoal de que o (…) meu indefectível nacionalismo se enraíza e
fortalece no muito amor que tenho à minha terra. (…) O povo do meu Concelho que hoje e sempre, com o entusiasmo que lhe dá a
sua inquebrantável Fé, levanta-se e diz: Viva Portugal! Viva Carmona! Viva
Salazar!
Mas
isso não o livrou de ser substituído, não reconduzido, o que lhe causou alguma
mágoa.
Foi o
Dr. Júlio Frederico de Guimarães Biel quem o veio a substituir.
Nascido em Alcobaça, o Dr. José Nascimento e
Sousa dedicou grande parte da sua vida à medicina, em que se licenciara em
Coimbra. A sua identificação com o Estado Novo, levou-o, em 1942, a assumir a
Presidência da Comissão Concelhia de Alcobaça da União Nacional e, quatro anos
mais tarde, a Presidência da Câmara Municipal.
Durante
o seu mandato, em si pouco relevante, assistiu-se todavia a um importante
acontecimento na história da industrialização do concelho, o lançamento da
primeira pedra da fábrica de cimento branco, em Pataias. Deu-se início à eletrificação,
(quase inexistente), começando a construir-se a cabine elétrica de Aljubarrota,
foi inaugurada a iluminação elétrica em Alfeizerão sem prejuízo da iluminação a
petróleo, que continuava na vila de Pataias. Na vertente viária, iniciaram-se
os trabalhos de alteração do traçado da estrada de Alcobaça-Aljubarrota,
enquanto na escolar, projetou-se a construção de edifícios em Évora de
Alcobaça, Carris, Acipreste, Gaio e Póvoa. Assistiu-se ainda no seu mandato, ao
início das obras na Escola Primária de Casais de Santa Teresa.
Nacionalista
e monárquico (a bandeira do Ginásio Clube de Alcobaça por si proposta, foi
desde o início azul e branca, com o emblema desenhado por José Carolino,
funcionário da casa Magalhães, e o equipamento calção branco, camisola azul com
o emblema do lado esquerdo a partir da A. G., de14 de janeiro de 1948, a substituir o
inicial calção preto), recebeu ao longo do seu mandato, membros de várias casas
reais como o Conde de Barcelona, (herdeiro do trono espanhol, filho de Afonso
XIII e pai do atual rei de Espanha), a Família Real Italiana (exilada em
Cascais, após referendo que aboliu a monarquia), o Príncipe Guilherme da Suécia
e a Infanta D. Maria Teresa (irmã do então Duque de Bragança, D. Duarte Nuno,
pai de D. Duarte Pio, o atual pretendente).
A
peregrinação da Imagem de Nossa Senhora de Fátima (acontecimento que reuniu
cerca de quinze mil fieis), os Jogos Florais da E.N. (a que me referi, com um
apontamento de Albino Serrano, realizados no Mosteiro de Alcobaça, com a
presença de António Ferro), e a visita do Cardeal Legado do Papa, foram mais
alguns momentos marcantes do mandato. O seu mandato de um ano, foi curto,
talvez o mais curto de que há registo em Alcobaça, devido ao facto de a Vereação
ser composta por figuras da oposição, ser a demissão do Presidente da Câmara a
forma eficaz e rápida que o governo encontrou para ultrapassar a situação
inédita, e a não recondução do
Presidente, o meio para lhe manifestar veemente censura.
O
Ginásio Clube de Alcobaça foi fundado em 1 de junho de 1946, graças ao empenho
de Nascimento e Sousa e ao longo dos seus anos de história, não obstante os
altos e baixos, tem vindo a levar o nome de Alcobaça a muitos sítios, graças às
participações desportivas ao nível do futebol, com destaque para a época em que
militou na Primeira Divisão, o que se revelou catastrófico, pois que nunca mais
recuperou.
NOTA-cfr. o nosso, NO TEMPO DE
SALAZAR, CAETANO E OUTROS
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