CDS E ALCOBAÇA
Fleming de Oliveira
Manuel Ferreira Castelhano, da Benedita, foi um ativista
do CDS, muito ligado ao processo democrático no pós 25 de Abril em Alcobaça.
Foi candidato a deputado pelo CDS às eleições
legislativas de 1976, mas não veio a ser eleito. Para essas eleições, o CDS
anunciava que ”foi geralmente bem
acolhida a candidatura de Manuel Ferreira Castelhano que é o representante do
concelho de Alcobaça na lista do CDS pelo círculo de Leiria. O nosso candidato reside na Benedita e é
gerente industrial. Conta 36 anos e é, desde há vários anos, o presidente da
direção do Instituto Nossa Senhora da Encarnação, estabelecimento cooperativo
de ensino, onde são ministrados o ensino secundário e o ciclo preparatório
oficial. Desde muito novo tem
colaborado em organismos católicos e laicos beneditenses, e é pessoa muito
estimada tanto naquela freguesia, como em Alcobaça onde exerce a maior parte da
sua atividade profissional. A lista
dos candidatos do CDS pelo círculo de Leiria é encabeçada pelo Dr. Francisco de
Oliveira Dias, Dr. Rui Pena, Eng. Abel Santiago, Dr. João Korrodi, Manuel
Ferreira Castelhano e inclui um retornado de Angola”.
M. Castelhano logo a seguir ao 11 de março,
encontrava-se num sábado à tarde, a dirigir os trabalhos que a empresa, de que
era gerente, a “Carpintaria e Serração
Mecânica da Benedita, Ldª”, realizava nas antigas instalações da Caixa
Geral de Depósitos, na Praça 25 de Abril-Alcobaça.
Com a finalidade de durante as obras tomar conta das
instalações fora das horas normais de funcionamento da Agência, inclusivamente
o acesso ao cofre, havia alguns funcionários como To Zé Nabais, José Martins,
Carvalho ou Paquim. Entre estes e os trabalhadores da obra, as relações eram
boas, sem crispação ou tensão, a ponto de haver pausas para comer uma bucha,
beber um copo ou conversar.
Nessa tarde de sábado, para acelerar os trabalhos que se
realizavam mesmo aos domingos, feriados e à noite, pois a Agência não podia
deixar de ter durante o dia as portas abertas, Castelhano teve necessidade de
ir à Benedita buscar materiais à sua empresa. Sabia que, em certos pontos de
Alcobaça, grupos ativistas, haviam montado barricadas populares, para controlar
as entradas e saídas da vila de alegados reacionários, se não mesmo bombistas.
Dado nada ter a recear, não foi isso que o impediu de ir
à Benedita.
Ao chegar junto da antiga Escola Técnica de Alcobaça,
deparou com umas barricadas, montadas por uns populares, de ar não muito
amistoso e barbudo. Parou o automóvel, de modo a impedir os inevitáveis e “democráticos” furos, com os pregos
colocados nas grades das barricadas.
“Abri (contou-me) o
vidro e perguntei a um que se aproximou, se podia passar, pois ia em trabalho”.
Entre esses populares, encontrava-se a muito aguerrida e
irrequieta Gabriela André Trindade, que se assumia com a líder, a qual depois
de reconhecer Castelhano, disse para os seus companheiros que “este conheço eu, pode
passar, não faz mal a ninguém, vai em trabalho”.
Com a caução da líder de não ser bombista, ainda que tão
só um “mero e simples reacionário”,
as barricadas foram levantadas e recolhidas as grades com pregos para a berma.
Cerca de uma hora depois, estava de volta a Alcobaça,
com necessidade de passar pelo mesmo local, pelo que os vigilantes ao
reconhecer o veículo, fizeram sinal para passar, sem necessidade de novas
explicações da líder.
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