segunda-feira, 28 de abril de 2014

CDS E ALCOBAÇA

CDS E ALCOBAÇA 
Fleming de Oliveira 

Manuel Ferreira Castelhano, da Benedita, foi um ativista do CDS, muito ligado ao processo democrático no pós 25 de Abril em Alcobaça.
Foi candidato a deputado pelo CDS às eleições legislativas de 1976, mas não veio a ser eleito. Para essas eleições, o CDS anunciava que ”foi geralmente bem acolhida a candidatura de Manuel Ferreira Castelhano que é o representante do concelho de Alcobaça na lista do CDS pelo círculo de Leiria. O nosso candidato reside na Benedita e é gerente industrial. Conta 36 anos e é, desde há vários anos, o presidente da direção do Instituto Nossa Senhora da Encarnação, estabelecimento cooperativo de ensino, onde são ministrados o ensino secundário e o ciclo preparatório oficial. Desde muito novo tem colaborado em organismos católicos e laicos beneditenses, e é pessoa muito estimada tanto naquela freguesia, como em Alcobaça onde exerce a maior parte da sua atividade profissional. A lista dos candidatos do CDS pelo círculo de Leiria é encabeçada pelo Dr. Francisco de Oliveira Dias, Dr. Rui Pena, Eng. Abel Santiago, Dr. João Korrodi, Manuel Ferreira Castelhano e inclui um retornado de Angola”.

M. Castelhano logo a seguir ao 11 de março, encontrava-se num sábado à tarde, a dirigir os trabalhos que a empresa, de que era gerente, a “Carpintaria e Serração Mecânica da Benedita, Ldª”, realizava nas antigas instalações da Caixa Geral de Depósitos, na Praça 25 de Abril-Alcobaça.
Com a finalidade de durante as obras tomar conta das instalações fora das horas normais de funcionamento da Agência, inclusivamente o acesso ao cofre, havia alguns funcionários como To Zé Nabais, José Martins, Carvalho ou Paquim. Entre estes e os trabalhadores da obra, as relações eram boas, sem crispação ou tensão, a ponto de haver pausas para comer uma bucha, beber um copo ou conversar.
Nessa tarde de sábado, para acelerar os trabalhos que se realizavam mesmo aos domingos, feriados e à noite, pois a Agência não podia deixar de ter durante o dia as portas abertas, Castelhano teve necessidade de ir à Benedita buscar materiais à sua empresa. Sabia que, em certos pontos de Alcobaça, grupos ativistas, haviam montado barricadas populares, para controlar as entradas e saídas da vila de alegados reacionários, se não mesmo bombistas.
Dado nada ter a recear, não foi isso que o impediu de ir à Benedita.
Ao chegar junto da antiga Escola Técnica de Alcobaça, deparou com umas barricadas, montadas por uns populares, de ar não muito amistoso e barbudo. Parou o automóvel, de modo a impedir os inevitáveis e “democráticos” furos, com os pregos colocados nas grades das barricadas.
“Abri (contou-me) o vidro e perguntei a um que se aproximou, se podia passar, pois ia em trabalho”.
Entre esses populares, encontrava-se a muito aguerrida e irrequieta Gabriela André Trindade, que se assumia com a líder, a qual depois de reconhecer Castelhano, disse para os seus companheiros que “este conheço eu, pode passar, não faz mal a ninguém, vai em trabalho”.
Com a caução da líder de não ser bombista, ainda que tão só um “mero e simples reacionário”, as barricadas foram levantadas e recolhidas as grades com pregos para a berma.
Cerca de uma hora depois, estava de volta a Alcobaça, com necessidade de passar pelo mesmo local, pelo que os vigilantes ao reconhecer o veículo, fizeram sinal para passar, sem necessidade de novas explicações da líder.


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