segunda-feira, 28 de abril de 2014

EM LISBOA JÁ NÃO SE EXPLORAM TRABALHADORES COMO ANTES… ALTINO, PATRÃO ALCOBACENSE DE “GANCHO”.

 
EM LISBOA JÁ NÃO SE EXPLORAM TRABALHADORES COMO ANTES…
ALTINO, PATRÃO ALCOBACENSE DE “GANCHO”.

Fleming de Oliveira



Altino do Couto Ribeiro fazia a distribuição das encomendas da sua fábrica de louça em Alpedriz, em qualquer parte do País, de Norte a Sul e, muito especialmente em Lisboa, onde ia muitas vezes e tinha bons clientes, como Brás & Brás, dadas as cordiais relações com o dono, António Brás.
Por alturas de setembro de 1974, Altino deslocou-se numa tarde a Lisboa para entregar mercadoria a um novo cliente, com uma loja de decoração e artigos para casa, na Rua Forno do Tijolo. Ao chegar, foi recebido por alguém se apresentou como o dono, que muito democraticamente lhe referiu que, em Lisboa, “já não se exploram os trabalhadores como antes”, pelo que não compreendia como o patrão obrigava que o motorista fizesse a distribuição, sem ajudante.
Sem se desmanchar, Altino respondeu que o patrão da sua empresa, era um “gajo de gancho”, expressão que fez acompanhar, com o expressivo e popular gesto do dedo. Assim, o cliente afirmou que quando o viajante por lá passasse, haveria de lhe chamar a atenção para tal prepotência e dizer-lhe das boas e que transmitisse ao patrão.
Com a entrega da mercadoria, recebeu a gratificação de “10$00 para uma cerveja”, o que não rejeitou e intimamente divertido meteu no porta-moedas.
Dias depois, o viajante passou pelo estabelecimento, tendo-lhe sido feita a queixa anunciada.
O viajante esclareceu que, na fábrica de Altino, “a distribuição foi sempre feita pelo patrão, sem qualquer ajudante e nunca se deu mal com o processo”.

Mais tarde, Altino voltou à Rua Forno do Tijolo para entregar mercadoria, e no meio de risota, o cliente disse-lhe que “você saiu-me cá uma boa prenda”.
Com o tempo tornaram-se amigos e fizeram muitos negócios.

Em outubro ou novembro de 1974, Altino do Couto Ribeiro recebeu mais um aviso para se deslocar à Delegação do Ministério do Trabalho, em Leiria, “a fim de tratar de um assunto do seu interesse”.
Não foi a primeira, nem a última vez que recebeu “avisos”  semelhantes, pois não obstante ser pequeno empresário de louça, estava sob a mira atenta dos sindicatos, sem que estes se identificassem, propriamente, com os trabalhadores ao serviço da empresa.
O assunto que, afinal, tinha a tratar em Leiria era relativamente insignificante, pelo que a deslocação aborreceu-o muito mais que a importância. Todavia, sem que nada o justificasse, à falta de melhor argumento, um sindicalista do Valado de Frades, trabalhador da SPAL, com que não tinha de há muito boas relações, rotulou-o aí publicamente e em voz alta de “explorador dos trabalhadores”. Altino sentindo a injúria, irritou-se de imediato e tentou agarrar pelo colarinho o provocador, só não conseguindo o seu intento, porque este era bastante corpulento e foram separados pelo Delegado do Ministério do Trabalho.
Mas ao chegar à fábrica, resolveu telefonar ao Delegado do MT, para dar-lhe uma satisfação e pedir desculpa pela atitude. Ficou bastante reconfortado ao ouvir do outro lado assegurar-lhe que “compreendi muito bem a reação. Comigo não sei como reagiria”.


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