quinta-feira, 24 de abril de 2014

A JUNTA DE FREGUESIA DE ALCOBAÇA (maio de 1975) COM OS PARTIDOS MENOS VOTADOS (PC E MDO) A CHEFIÁ-LA E INTEGRÁ-LA.


 

A JUNTA DE FREGUESIA DE ALCOBAÇA (maio de 1975) COM OS PARTIDOS MENOS VOTADOS (PC E MDP) A CHEFIÁ-LA E INTEGRÁ-LA.

Fleming de Oliveira


O PPD celebrou o seu primeiro aniversário, a 12 de maio de 1975, com um comício no Estádio 1º. de maio, com Sá Carneiro ainda doente e ausente em Londres, onde se gritam palavras de ordem como “PPD é do Povo, não é de Moscovo”, “Intersindical é um Tacho de Cunhal” e “Cunhal para a Sibéria”.
Sá Carneiro enviou uma mensagem que foi lida e de onde se destacava a sua confiança na via “social-democrática” para construção de uma sociedade socialista, respeitando as garantias fundamentais de todos os indivíduos.

Apesar das eleições de 25 de Abril e de se saber com razoável margem de certeza o que o Povo não queria para o País, nem por isso o PC e seus satélites deixaram de viciar as regras democráticas, com a escolha dos elementos para integrar a nova CA da Junta de Freguesia de Alcobaça.
Assim, perante o manifesto descontentamento político e social, veio a tomar posse na Câmara pelas 21h do dia 27 de maio, perante José Pinto Júnior, secretariado por José Pires Nunes, uma nova CA da Junta de Freguesia constituída por Amílcar Salgueiro Antunes (bancário, MDP/CDE), Floripo Coelho (comerciante, PS), Georgina da Silva Freitas (secretária, funcionária do Posto de Turismo, PCP), e António Carvalho Rainho (tesoureiro, técnico de contas, PPD), nomeados por portaria do MAI, datada de 25 de maio, que entrou imediatamente em exercício de funções.
Em termos práticos, Carvalho Rainho nunca colaborou com esta equipa que pediu a demissão em bloco no dia 22 de julho de 1975, no seguimento dos incidentes da Câmara, mas que se manteve a assegurar a gestão corrente até às 18h do dia 3 de maio de 1976, altura em que foi substituída por uma outra presidida por Floripo Coelho, e empossada já por Miguel Guerra, na qualidade de Presidente da CA da CMA, que havia substituído o muito contestado José Pinto Júnior.
Da nova equipa faziam parte José dos Santos Lourenço (tesoureiro, empregado de escritório, João José Ribas Peralta (secretário, bancário), Adriano Pedro da Silva (vogal, empregado de escritório) e José Veríssimo dos Santos (vogal, empregado comercial).
Em eleições livres, sem dúvida que pessoas como Amílcar Salgueiro Antunes ou Georgina de Freitas nunca teriam acedido ao lugar, assistindo-se ao insólito de pertencerem aos dois partidos políticos menos representativos do Concelho. Mas a ânsia de poder, protagonismo e fanatismo tudo relevava nos próprios.

Gilberto Coutinho, por mim confrontado sobre a nomeação da CA para a Junta de Freguesia de Alcobaça, presidida por Amílcar Salgueiro, bem como a manutenção da CA da Câmara Municipal, de que aliás fazia parte, apesar dos resultados verificados na eleição para a Assembleia Constituinte, defendeu que “os resultados poderiam servir de indicação, mas não era certo que, se se tivesse realizado ao mesmo tempo eleições autárquicas, os resultados de uma e outra fossem idênticos”.
Nesta linha de pensamento, Gilberto Coutinho acrescentou-me que “nesse tempo a situação era complexa, estava-se numa fase de construção da democracia, muita coisa continuava por definir”. Político que, durante anos até falecer, fez principalmente a sua intervenção no quadro do PC/CDU, e sem avançar para além de uma grande linearidade de argumentação, acrescentou-me que “não seria correto para o funcionamento dos órgãos autárquicos andar a modificar a sua composição ao ritmo das frequentes alterações à correlação de forças políticas a nível nacional e não só”.
Esta argumentação, não seria muito original, pois desde logo houve por parte do MFA e grupos afetos como o PC, o propósito de reduzir ou desvalorizar as eleições para a Assembleia Constituinte.

Nas reuniões que à sexta-feira à noite se faziam na sede do PPD em Alcobaça, bem como nas “sessões de esclarecimento” pelo Concelho fora, Fleming de Oliveira, Silva Carvalho, Firmino Franco, Carvalho Lino, António Rainho, Joaquim Carneiro, Gonçalves Sapinho, Rui Coelho e outros, tinham a árdua tarefa de rebater ideias como aquelas expressas pelo MFA, na linha de que “não deverão as atuais forças políticas atribuir às eleições para a Constituinte um significado diferente do que elas têm, ou as eleições não vão encontrar as soluções para os grandes problemas nacionais, essas soluções poderão encontrar-se pela verdadeira inserção das forças políticas progressistas no processo revolucionário e pela colaboração franca e aberta com o MFA em todas as medidas de caráter revolucionário que seja necessário tomar”.

Miguel Damásio uma vez propôs-se falar sobre problemas de educação numa sessão de esclarecimento.
Mas a ideia não vingou...

Basílio Martins entende, como me disse que, “como não podia deixar de ser, aqui, em Alcobaça, repercutiam-se também os ecos da transformação que se ia vivendo um pouco por todo o País. Com as eleições para a Assembleia Constituinte no horizonte (25 de Abril de 1975), acelerava-se o trabalho das comissões de recenseamento, para as quais se procurava a colaboração de cidadãos credenciados, uns sem filiação partidária, outros indicados pelos partidos. Em Alcobaça, a Comissão era presidida por José Maria Cascão, funcionário judicial”.
Por sua vez, o leque das forças concorrentes às eleições para a Assembleia Constituinte abrangia muitos emblemas, com representação local variável.
Assim “cada um tentava conquistar a simpatia do eleitorado, multiplicando-se as ações de esclarecimento e propaganda. E, no período de campanha, não era raro, os militantes cruzarem-se nas operações de colagem de cartazes”.

Mas à medida que se acentuava o extremar de posições a nível nacional, começou a tornar-se mais notório um clima de tensão entre os saudosistas do regime deposto, os partidos de direita e os que entendiam que a Revolução deveria avançar mais no campo económico e social, não se quedando por uma democracia limitada ao formalismo o voto periódico.
“Chegaram a circular panfletos de cunho mais calunioso que político e até a frequência de alguns cafés traduzia uma demarcação direita e esquerda”. Outros, porém, como o de Luís, na Piçarra, hoje Tertúlia, e o Paris, “mantiveram a sua característica de sítios de agradável reunião, onde conviviam militantes e simpatizantes de todas as ideias.”




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