-O
MOTO CLUBE DE LISBOA.
A
POUSADA DE ALFEIZERÃO E SALAZAR.
O
ALCOBACENSE XICO PÁSCOA-
Fleming de Oliveira
O Moto Clube de Lisboa foi fundado no ano de 1955 por um grupo de entusiastas,
inicialmente utilizando as instalações do Club
dos 100 à Hora. Tratou-se
de uma coletividade inscrita na Federação
Portuguesa de Motociclismo, que tinha como objetivo,
associar os motociclistas amadores do País, incluídos os scooteristas
e os velomotoristas, através da prática desportiva e do turismo,
relevando ao mesmo tempo o interesse do motociclismo, como meio utilitário de transporte.
A vida do Moto Clube de Lisboa foi relativamente curta, mas teve
tempo suficiente para levar a cabo algumas
iniciativas interessantes, com destaque para o Circuito de Velocidade de Monsanto, o Motocross
de Cascais, o Rally a Alenquer e o Rally
a Leiria (que teve como vencedor, na classe de scooters, o alcobacense
Filipe Ramos, gerente de Abadia de Alcobaça). Também organizou o Grande Rally a Lisboa, com partida de várias capitais de Distrito (como
Leiria e passagem por Alcobaça), com
um percurso comum e obrigatório para todos os concorrentes de 75 km, de Santarém a Lisboa.
O Grande Rally a Lisboa, também denominado Rally do I Centenário da Associação Naval de Lisboa, realizou-se com entusiasmo nos dias 21 e 22 de abril de 1956, em homenagem àquela coletividade
desportiva, considerada como a mais antiga da Península Ibérica.
Revelou-se um bom pretexto para fomentar o interesse
pela modalidade. Foi uma prova aberta a motos e scooters, para condutor e pendura, que teve como patrocinadores a Fundação
Nacional Para a Alegria no Trabalho, a Câmara Municipal de Lisboa, a Emissora Nacional, o Club dos 100 à Hora, concessionários de marcas, revendedores de combustíveis e óleos (com destaque para a Shell), as Pousadas de Portugal e alguns jornais diários. Os prémios eram taças
de prata, medalhas e dinheiro, numa
proporção das quantias recebidas a
título de inscrição. A prova tinha vários percursos, facultativos e
obrigatórios, um dos quais incluído no itinerário Coimbra/Santarém, passava por
Alcobaça, aonde se efetuava um controlo em frente ao Mosteiro (que teve muito
público a assistir), sob a superintendência do Ginásio Clube de Alcobaça e de Francisco (Xico) Páscoa.
Falando de motos e deste Rally a
Lisboa, referi
um dos seus patrocinadores, as Pousadas de Portugal, aonde se inseria a recentemente inaugurada Pousada de Alfeizerão (ou de S. Martinho do Porto, como também era conhecida).
Em 1939, como Diretor do
Secretariado da Propaganda
Nacional (SPN), António Ferro recebera as atribuições do Conselho Nacional de Turismo, vindo a
incentivar a criação das
Pousadas de Portugal. As Pousadas,
inspiradas no modelo espanhol dos Paradores, em meados dos anos cinquenta
eram ainda uma novidade.
Tinham-se começado a construir, inseridas
no plano das Comemorações do Duplo Centenário da Fundação de Portugal e da Restauração e foram
decoradas por diversos artistas plásticos, destacando temas e motivos
portugueses, tentando conciliar a ideia do bom gosto e do moderno, sem deixar de ser alegadamente
nacional. Inicialmente eram sete mas, em breve, o seu número cresceu para dez.
Situaram-se em várias zonas
do País, ocupando do norte a sul lugares privilegiados, de amplos panoramas e à beira-mar (como era o
caso da Pousada de Alfeizerão, com meia dúzia de quartos) ou no
alto de serranias, junto a estradas
movimentadas, embora a preços não especialmente acessíveis. Privilegiavam a cozinha regional. No
caso da Pousada de Alfeizerão, uma das suas especialidades era
a perdiz na púcara prato, que
em tempo de vacas magras, encontrou o sucedâneo no popular frango na púcara. O vinho servido em
jarro, era o branco do Vimeiro
e o tinto dos Montes ou da Castanheira. Conta-se (será provavelmente lenda),
que no início
dos anos cinquenta, Oliveira Salazar regressando de carro a Lisboa, ao iniciar a descida para
Alfeizerão (tendo como pano de fundo a baía de S. Martinho do Porto), ficou
maravilhado com a paisagem, saiu depois de mandar parar o motorista. Quando chegou a Lisboa,
deu ordens para se construir naquele
local, uma Pousada de Portugal.
Por essa altura, as Pousadas de Portugal integravam-se numa
política de apropriação
simbólica do turismo para a edificação e consolidação da imagem exterior do regime. Não se
repudiava
a associação com o turismo de motocicleta, para dar mais vida às Pousadas e rentabilizá-las. Há 50 anos,
o preço de uma diária por casal
na Pousada de Alfeizerão, em quarto
com casa de banho, podia
atingir 175$00, enquanto que uma dormida e pequeno almoço, com banho incluído, para duas pessoas,
se ficava por um máximo de 87$00. Embora desativada da rede das Pousadas de Portugal, a
antiga Pousada de
Alfeizerão, tem funcionado como Pousada
de Juventude.
Francisco da Silva Páscoa (Xico Páscoa), por razões profissionais e não só, foi desde novo um entusiasta do motociclismo, dos
carros antigos, bem como dos
desportos motorizados.
Como seu representante em Alcobaça,
devidamente credenciado, colaborou de forma
ativa
em atividades do Moto Clube de Lisboa,
fazendo inscrições
e cobrando quotas. No rescaldo
da II Guerra e das restrições que se prolongaram, muita gente possuía motos, que
utilizava como usual meio de transporte. Pela sua oficina
de Alcobaça, passaram todas as motas e scooters da zona, tendo ao longo dos tempos chegado a
afinar ou reparar, segundo calcula, mais de setenta marcas diferentes.
Era grande animador da mensagem pertencer
ao Moto Club de Lisboa é uma honra e o dever de todo o motociclista.
Em 1951, como pendura de Carlos
Cordeiro, participou na 1a. Volta a Portugal Para Motos, organizada pelo Benfica,
numa AJS 350, com
o n° 10 de chapa, não tendo passado de Lagos pois, em Rogil, ele e o condutor embateram num
ciclista que atravessara imprevidentemente a estrada, o que os obrigou a desistir.
Não havia em Alcobaça e redondezas prova, gincana ou concentração de
motos que não participasse,
concorrendo ou fazendo parte da organização. Tem histórias interessantes para contar, recordando o amigo que fazia do farol da moto
o esconderijo da correspondência
extra-conjugal, até a mulher o descobrir.
NOTA-cfr. o nosso, NO TEMPO DE
SALAZAR, CAETANO E OUTROS
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