quarta-feira, 16 de abril de 2014

-O MOTO CLUBE DE LISBOA. A POUSADA DE ALFEIZERÃO E SALAZAR. O ALCOBACENSE XICO PÁSCOA-

 
-O MOTO CLUBE DE LISBOA.
A POUSADA DE ALFEIZERÃO E SALAZAR.
O ALCOBACENSE XICO PÁSCOA-

Fleming de Oliveira


O Moto Clube de Lisboa foi fundado no ano de 1955 por um grupo de entusiastas, inicialmente utilizando as instalações do Club dos 100 à Hora. Tratou-se de uma coletividade inscrita na Federação Portuguesa de Motociclismo, que tinha como objetivo, associar os motociclistas amadores do País, incluídos os scooteristas e os velomotoristas, através da prática desportiva e do turismo, relevando ao mesmo tempo o interesse do motociclismo, como meio utilitário de transporte.
A vida do Moto Clube de Lisboa foi relativamente curta, mas teve tempo suficiente para levar a cabo algumas iniciativas interessantes, com destaque para o Circuito de Velocidade de Monsanto, o Motocross de Cascais, o Rally a Alenquer e o Rally a Leiria (que teve como vencedor, na classe de scooters, o alcobacense Filipe Ramos, gerente de Abadia de Alcobaça). Também organizou o Grande Rally a Lisboa, com partida de várias capitais de Distrito (como Leiria e passagem por Alcobaça), com um percurso comum e obrigatório para todos os concorrentes de 75 km, de Santarém a Lisboa.
O Grande Rally a Lisboa, também denominado Rally do I Centenário da Associação Naval de Lisboa, realizou-se com entusiasmo nos dias 21 e 22 de abril de 1956, em homenagem àquela coletividade desportiva, considerada como a mais antiga da Península Ibérica.
Revelou-se um bom pretexto para fomentar o interesse pela modalidade. Foi uma prova aberta a motos e scooters, para condutor e pendura, que teve como patrocinadores a Fundação Nacional Para a Alegria no Trabalho, a Câmara Municipal de Lisboa, a Emissora Nacional, o Club dos 100 à Hora, concessionários de marcas, revendedores de combustíveis e óleos (com destaque para a Shell), as Pousadas de Portugal e alguns jornais diários. Os prémios eram taças de prata, medalhas e dinheiro, numa proporção das quantias recebidas a título de inscrição. A prova tinha vários percursos, facultativos e obrigatórios, um dos quais incluído no itinerário Coimbra/Santarém, passava por Alcobaça, aonde se efetuava um controlo em frente ao Mosteiro (que teve muito público a assistir), sob a superintendência do Ginásio Clube de Alcobaça e de Francisco (Xico) Páscoa.
Falando de motos e deste Rally a Lisboa, referi um dos seus patrocinadores, as Pousadas de Portugal, aonde se inseria a recentemente inaugurada Pousada de Alfeizerão (ou de S. Martinho do  Porto, como também era conhecida).

Em 1939, como Diretor do Secretariado da Propaganda Nacional (SPN), António Ferro recebera as atribuições do Conselho Nacional de Turismo, vindo a incentivar a criação das Pousadas de Portugal. As Pousadas, inspiradas no modelo espanhol dos Paradores, em meados dos anos cinquenta eram ainda uma novidade. Tinham-se começado a construir, inseridas no plano das Comemorações do Duplo Centenário da Fundação de Portugal e da Restauração e foram decoradas por diversos artistas plásticos, destacando temas e motivos portugueses, tentando conciliar a ideia do bom gosto e do moderno, sem deixar de ser alegadamente nacional. Inicialmente eram sete mas, em breve, o seu número cresceu para dez. Situaram-se em várias zonas do País, ocupando do norte a sul lugares privilegiados, de amplos panoramas e à beira-mar (como era o caso da Pousada de Alfeizerão, com meia dúzia de quartos) ou no alto de serranias, junto a estradas movimentadas, embora a preços não especialmente acessíveis. Privilegiavam a cozinha regional. No caso da Pousada de Alfeizerão, uma das suas especialidades era a perdiz na púcara prato, que em tempo de vacas magras, encontrou o sucedâneo no popular frango na púcara. O vinho servido em jarro, era o branco do Vimeiro e o tinto dos Montes ou da Castanheira. Conta-se (será provavelmente lenda), que no início dos anos cinquenta, Oliveira Salazar regressando de carro a Lisboa, ao iniciar a descida para Alfeizerão (tendo como pano de fundo a baía de S. Martinho do Porto), ficou maravilhado com a paisagem, saiu depois de mandar parar o motorista. Quando chegou a Lisboa, deu ordens para se construir naquele local, uma Pousada de Portugal.

Por essa altura, as Pousadas de Portugal integravam-se numa política de apropriação simbólica do turismo para a edificação e consolidação da imagem exterior do regime. Não se repudiava a associação com o turismo de motocicleta, para dar mais vida às Pousadas e rentabilizá-las. Há 50 anos, o preço de uma diária por casal na Pousada de Alfeizerão, em quarto com casa de banho, podia atingir 175$00, enquanto que uma dormida e pequeno almoço, com banho incluído, para duas pessoas, se ficava por um máximo de 87$00. Embora desativada da rede das Pousadas de Portugal, a antiga Pousada de Alfeizerão, tem funcionado como Pousada de Juventude.

Francisco da Silva Páscoa (Xico Páscoa), por razões profissionais e não só, foi desde novo um entusiasta do motociclismo, dos carros antigos, bem como dos desportos motorizados.
Como seu representante em Alcobaça, devidamente credenciado, colaborou de forma  ativa em atividades do Moto Clube de Lisboa, fazendo inscrições e cobrando quotas. No rescaldo da II Guerra e das restrições que se prolongaram, muita gente possuía motos, que utilizava como usual meio de transporte. Pela sua oficina de Alcobaça, passaram todas as motas e scooters da zona, tendo ao longo dos tempos chegado a afinar ou reparar, segundo calcula, mais de setenta marcas diferentes.
Era grande animador da mensagem pertencer ao Moto Club de Lisboa é uma honra e o dever de todo o motociclista.
Em 1951, como pendura de Carlos Cordeiro, participou na 1a. Volta a Portugal Para Motos, organizada pelo Benfica, numa AJS 350, com o n° 10 de chapa, não tendo passado de Lagos pois, em Rogil, ele e o condutor embateram num ciclista que atravessara imprevidentemente a estrada, o que os obrigou a desistir.
Não havia em Alcobaça e redondezas prova, gincana ou concentração de motos que não participasse, concorrendo ou fazendo parte da organização. Tem histórias interessantes para contar, recordando o amigo que fazia do farol da moto o esconderijo da correspondência extra-conjugal, até a mulher o descobrir.
NOTA-cfr. o nosso, NO TEMPO DE SALAZAR, CAETANO E OUTROS



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